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Ser deficiente não é o fim do mundo - blog de Gato Silvestre

Apaguem as luzes e vamos a isto!

por Gato Silvestre

Agora virou moda fazer bandeira despregada de que os cegos vivem na escuridão e vai daí meia dúzia de carolas iluminadas resolveram fazer um novo desporto radical.

Bora lá malta fazer de ceguinhos e ver se conseguimos papar qualquer coisa de luz apagada e com os olhos tapados!

É moda agora jantar às escuras e imaginem que até a conservadora Igreja católica já vai na nova forma de fazer subir a adrenalina e vai daí bora lá fazer uma missa radicalmente escura!

Isto faz lembrar o tempo em que a malta brincava ao quarto escuro mas aí o objectivo já era menos santo que a santa Missa onde se brinca à igreja escura.

Ai se a moda pega é ver nos jornais convites a brincadeiras ao quarto escuro para imaginar como os cegos fazem outras coisas além de comer e rezar… Valha-nos santa Luzia que é a santinha que protege os olhinhos…

Ai pensamento pecaminoso dirão alguns, este gajo que por acaso até é cego e não desgosta de uma boa brincadeira ao quarto escuro está para aqui a ter…

Pensava eu que no Algarve só se fazia turismo com as cenas que aqui existem para atrair os camones mas parece que a radicalidade das escuras também chegou a esta santa terrinha que cada vez menos vai sendo de brandos costumes se é que alguma vez o foi já que os Árabes e depois os portugueses também fizeram aqui das boas…

Vá malta toca a apagar a luz e fazer cenas radicais e tal e coiso já agora de luz bem apagadinha…
pode ser que não se vejam outras coisas que essas sim até um cego por vezes consegue ver e são tão feiinhas coitadinhas…

Já agora se embarcarem na cena radical vejam bem onde colocam a mãozinha… não sejam malandrões porque os ceguinhos não fazem dessas coisas… se querem brincar aos ceguinhos façam-no com jeitinho e com juizinho como diz a música do Emanuel.

Comentários

Olá querida Maria!

É um prazer falar consigo! Vejo que tenho uma pessoa muito determinada à minha frente, com garra e frontalidade. Realmente a Maria encara as coisas de frente e parece não desistir quando é convicta. Por mim, sinto que é uma pessoa muito convicta e que nunca perde uma oportunidade para tentar. Acertei?

Oh Maria, para se aguentar o mundo académico e o mestrado não é obrigatório ser-se sobredotado ou um menino índigo. Mas fico curioso desde já sobre o que é um menino índigo? Sobredotado isso eu sei que não sou, porque se formos a ver bem, sempre fui um aluno médio e às vezes brilhante, mas isso era muito raro. Ganhei prémios de literatura, é verdade, um foi o Concurso de Texto Inclusivo Assis Milton 2007, e outro foi o Ensaio Braille Onkyo também em 2007, e o último foi de escola.

Pode crer Maria, tive de ser muito persistente e aguentar o stress e as frustrações perante as inacessibilidades. Não me resigno e quero, ou melhor exijo, que se faça alguma coisa, porque o conformismo que hoje se vive no ensino superior e fora dele é grande.

Até não era má ideia fundarmos uma associação ou uma cooperativa!

Beijinhos

Boa noite,
Meu querido Marco, sou fiel ás minhas convicções, e, quando acredito nelas, nada , nem ninguém me faz demover delas, até que me provem do contrário. Luto com unhas e dentes, por tudo aquilo que acho justo, pelos direitos fundamentais dos cidadãos, e , não tenho papas na língua, quando tenho que dizer ou fazer algo. Sou pela justiça, pela imparcialidade, pela honestidade, frontalidade e acima de tudo pela valorização humana, sou contra as criticas negativas, quando nada se faz, ou se mostra , que ajude a melhorar o erro que se fez. Eu sei o quanto é difícil o mundo académico, é , salve-se quem puder! Já frequentei a faculdade, e tenho alguns amigos que dão aulas, já no meu tempo haviam muito poucas ajudas, e apoio por parte dos docentes ás vezes é quase nulo. É pena que tanto o ensino privado como o publico, não tenha em pelo Sec XXI ,apoios a nível de material para as pessoas com deficiência, nem infra-estruturas adaptadas. Algumas faculdades do Algarve, não têm acessos nem para cadeiras de rodas, é ridículo, se tiverem um discente de cadeira de rodas, pura e simplesmente não frequenta as aulas, porque não existem formas da pessoa de mover para o 1, ou 2º andar.
O querido Marco então você teve tantos prémios e diz que não é sobredotado! Não é qualquer pessoa que ganha esses prémios!
Muitos parabens Marco. Cada vez mais o admiro, pela sua vivência e partilha de sabedoria.

Os meninos Índigo vieram para trabalhar a humanidade. É um projecto do céu. Trazem uma programação interna capaz de ensinar qualquer adulto. Vão provocar inversão total de valores. Só entende a linguagem de amor, amor que vem directamente do coração. Não se deixam enganar, nem se desviam do seu caminho. Resistem aos padrões de educação tradicional, eles é que vieram para educar. Estão a nascer em todas as casas. Dão nas vistas pelo seu comportamento. Devem ser acompanhados e nunca desviados da sua missão. Se o adulto mostrar ter uma mente aberta e receptiva, este “pequeno adulto” vai mostra-lhe os caminhos São capazes de uma antevisão clara e objectiva das questões. Vem para colocar o dedo na ferida da humanidade e incentivar à mudança. Identificam o erro, oferecem pistas e dão soluções. Vão incomodar muita gente, pois obrigam a uma revisão total de valores, de tudo o que está estabelecido e que o homem confortavelmente não quer mudar. Querem ver alterados padrões de comportamento, de sociedade e da pedagogia. Tem um sorrir aberto, olhos grandes e um à vontade que parece dar a entender que o conhece desde sempre. Sem cerimónia, diz-lhe na cara o que menos espera ouvir, mesmo que o tenha conhecido faz poucas horas.
Esta é a definição de uma criança indigo.
Beijinhos querido Marco

Olá Querida Maria!

Sabe Maria, eu fico sempre fascinado com pessoas com uma grande determinação seja no que dizem seja no que fazem. São pessoas que têm bem definidos os seus princípios e valores pelos quais lutam com lealdade e frontalidade. A Maria é advogada e isso faz jus com a sua personalidade e com as suas convicções, lol! Eu escolhi a Psicologia por necessidade de encontrar respostas para as minhas dúvidas e porque a minha personalidade está voltada para as questões da existência e da felicidade. Tanto eu como a Maria temos profissões que contribuem para uma sociedade melhor, em que as pessoas vêem reconhecidos os seus direitos e se auto-realizam com plenitude.

Oh Maria para se ser sobredotado é necessário além de se ser inteligente numa determinada área do saber, muitíssimo persistente e criativo. Eu estudei a sobredotação e talvez nas letras eu tenha uma capacidade que me permite destacar-me do resto dos colegas, e que a minha motivação seja mais intrinseca do que a busca de reconhecimento, mas nunca fiz nada de inovador nem tive ideias divergentes. Mas acontece que algumas crianças com essa capacidade de sobredotação se conformem com o sistema escolar tradicional e ninguém repare nelas. Além disso, sou péssimo a Matemática, nunca evidenciei sinais de precocidade na linguagem ou noutros aspectos...

Está a ver como sou um jovem talentoso e não sobredotado? Há quem faça confusão com talento, sobredotação e QI elevado. Louis Braille era sobredotado, Homero, Helen Keller, Milton... Pode-se ser sobredotado em qualquer área do conhecimento desde que haja inovação e ôs sujeitos tenham um grande destaque pelo seu brilhantismo.
Obrigado pela definição de menino indigo. Quem me dera ser um menino que transporta dentro de si a mudança e que não está nada satisfeito com os valores inquestionáveis e o adormecimento da sociedade. São meninos que querem algo de novo e que está por se fazer mas que o emtorpecimento da alma constitui um obstáculo à mudança. Serão crianças com uma missão que não deve ser impedida pois essa missão é para toda a humanidade poder evoluir cada vez melhor.

Não sei o que sou Maria, confesso-lhe que tenho um bocadinho de cada coisa mas que não me considero especial apesar de os outros acharem que sim, que tenho uma força de vontade admirável, um sentir as coisas muito intenso e original, um jeito fantástico para a poesia, um sorriso muito natural que me aflora aos lábios sem eu conseguir impedi-lo, que escuto o meu coração a toda a hora e sei como ele se sente e o que me diz que faça. E porque será que Deus não quis que eu morresse no acidente? Porque queria Ele que eu sofresse tudo com coragem e ainda por cima era uma criança com apenas 8 anos?

Este é um mistério muito grande e olhe Maria sou uma pessoa feliz e tenho o sinal de uma folha de amoreira por cima do coração. É mesmo uma folha que quando a minha mãe estava grávida trabalhava na escola primária e sem o notar uma folha de amoreira foi-lhe cair no peito em cheio no coração!

Beijinhos e já é muito tarde, lol! Vou dormir

Agora disseste tudo! Antes de se dedicarem a desportos radicais e a julgar a auto-estima dos outros olhem para os exemplos como o que sitaste. mal resolvidas são as mentalidades destas pessoas que se refugiam em supostas sensibilizações quando o verdadeiro lixo se encarregam de o esconder embaixo do tapete. mais uma vez estou completamente ao teu lado.
Gato Silvestre

Gato Silvestre

Olá Gato Silvestre! Fiquei satisfeito por ter notícias tuas!

Olha, quero pedir-te desculpa pela minha atitude precipitada e idiota em achar que não se pode criticar nada neste país, e nos deixarmos ficar quietinhos e que sejam os outros a fazer o que acham melhor para nós... Espero que futuramente pense duas vezes antes de criticar alguém, pois estive a ler todos os comentários até agora e acho que quem tem mais bom senso é o Filipe Azevedo, que adoraria conhecer pessoalmente.

É horrível ser-se arrogante com os outros e tratá-los com inferioridade. Isso é porque as pessoas não querem admitir que erraram, que têm defeitos como todos, e que as críticas dos outros estão sempre erradas. Deus me livre de ser assim!

Olha, já nem quero saber do que a Srª Maria Dias diz, porque não há como fazê-la ver que isso dos jantares e missas às escuras não sensibilizam para os verdadeiros proble,as das pessoas com deficiência visual. Foi com a minha família que ouvimos a tal reportagem sobre o jantar às escuras, mas parece que quem está no lugar dos espectadores está a léguas de sentir na pele a realidade. Depois quem organiza os eventos são pessoas normovisuais que ignoram grande parte das nossas necessidades mais prementes e as experiências às escuras são feitas por curiosidade ou por uma brincadeira que é brincar aos cegos...

Como disse, sou surdocego e muita pouca coisa ainda se tem feito na reabilitação dessas pessoas. Sou membro de uma Associação de Surdocegos que está em lento crescimento mas que será uma possibilidade para que a sociedade, sem traumas, saiba integrar plenamente estas pessoas, que nem sequer se lhes reconhecesse legalmente a deficiência como única.

Obrigado por estares no meu lado e apoiares esta causa, pois se queres a minha opinião sincera a sociedade quer ser ela a fazer as coisas como acha melhor para os que são portadores de deficiência e já me quiseram limitar as escolhas como se eu não pudesse ter as mesmas coisas que os ditos normais. Tenho tantos exemplos, até mesmo na minha entrada para a universidade, a descrença dos outros, a falta de apoios, a acessibilidade na cidade era uma merda, os automóveis em cima do passeio de propósito para eu ter um acidente, a instituição de surdocegos que me acolheu a ganhar os louros e a fazer publicidade á minha custa. As muitas vezes que eu quando ia de bengala na rua sabia que me olhavam e falavam com compaixão ou admiração ... E porquê toda esta discussão das missas e dos jantares??? Quando é que nós nos unimos e lutamos por uma sociedade de todos sem discriminação...??? É um asurdo defender mais os jantares e as missas às escuras que são bens menores e que muito provavelmente reforçam o estigma da cegueira. É preciso fazer as coisas
as claras e não no escuros (é uma metáfora).

Também te apoio Gato Silvestre e não nos calaremos até terem compreendido que somos tão somente seres humanos que querem o nosso melhor e o dos outros, e que essas coisas das incapacidades todos têm e é uma completa estupidez tratar os outros como diferentes e que precisam do assistencialismo dos ditos normais.

Olá Marco !

Ena pá, parabéns, excelentes notas sim sr .... ! loool
Continua assim, e quando te sentires mais em baixo lembra-te dos nossos testemunhos e luta como um guerreiro .... ! loool

Eu, na Faculdade de Ciências do Porto, de 1995 a 2000, quando tirava um 10 já ficava mto contente .... ! loool
O curso era puxado pra caramba .... mas valeu a pena, e vale sempre a pena .... ! loool

Quanto à públicação do livro, tens o meu apoio, e calma pessoal q os livros chegam pra todos !! loool
Abraços,
Filipe

Meu bom Filipe:

Também te dou os parabéns pelas tuas notas que, pessoalmente, são sempre boas no superior!
Vou-te contar uma coisa gira... Criei o meu blog no lerparaver em Janeiro deste ano e foi fantástico! Fiz amigos, li artigos e testemunhos que me abriram muitas janelas e me fizeram sentir menos só para partilhar com os outros as mesmas dificuldades e experiências. E que eu saiba neste site só conheço dois surdocegos: o José Pedro Amaral e o Tiago Duarte. Se estivesses comigo também terias de conhecer os meus meios de comunicação - língua gestual e escrita na palma da mão - caso eu tirasse o meu implante coclear e deixasse de te ouvir. Mas ias gostar de aprender a conviver com pessoas com outras potencialidades.
Olha, vou preparar o meu livro de poemas e dar-lhe um título. Agora que tenho todo o tempo do mundo posso fazer isso, mas acho que fiz bem em recolher as vossas opiniões aqui no lerparaver. Foram sem dúvida um incentivo!
Abraços

Viva amigos façam assim convidem as pessoas a irem para a rua com os olhos vendados e convidem para um jantar aver qual dos dois desafios eles aceitam primeiro......

Narciel

maciel

Boa tarde

Peço desculpa por me intrometer nesta conversa que não é minha. Não sou portadora de deficiência e venho de vez em quando a este site porque o acho interessante. Quero dar a minha opinião simples e singela sobre algumas coisas que aqui tenho lido e que me fazem confusão, algumas vezes, e outras me deixam profundamente chocada.

Em primeiro lugar: não compreendo a discriminação. Não sei porque se há-de de duvidar da competência de um professor cego, de rejeitar alguém por ser cego ou ter outra deficiência.

Não compreendo aqueles que não compreendem as limitações que um mundo feito a pensar nos normovisuais cria para quem não vê.

Compreendo ainda menos aqueles que não fazem uma tentativa para tentar compreender. Noutro dia fui incapaz de acertar com o carregador do telemóvel na ranhura do telemóvel para o pôr a carregar, simplesmente porque estava de luz apagada. Em coisas tão pequenas e simples, não é precisa muita imaginação para imaginar o resto.

Quanto à iniciativa de comer às escuras, achei interessante e sinceramente gostava de experimentar. Quanto a andar na rua de olhos vendados...não contem comigo.

O Gato Silvestre parece-me alguém com coragem, nada auto-comiserador. São estas pessoas assim, com coragem, que dão força aos outros para seguir em frente. Há deficiências piores que as visuais, acreditem.

Felicidades
Joana C.

Boa tarde,
Caro Sr.António,não tenho qualquer sombra de duvida, que se alguem tiver a iniciativa de efectuar um percurso a pé de olhos vendades, que os cidadãos não participem. Estou certa 100% que será uma adesão em pleno. Basta alguem ter essa iniciativa! O convinte para os jantares só vai quem tem dinheiro para jantar fora, pois como sabe os jantares não são gratis, são pagos pelo proprio bolso do participante!
Nunca pensei que estas iniciativas incomodassem tanta gente!
É bom sinal!
Risos

Boa tarde Sr. Marciel!

Mais uma vez concordo consigo e quem não gostou da ideia do artigo que não o leia ou espalhe aos 4 ventos que é um insulto aos que não têm um humor fácil.

Quanto a isso de retirar o artigo, o sr. Marciel deixou-me a pensar e achei que se o sr. Gato Silvestre quisesse já teria alterado o seu artigo. É que eu não suporto críticas como as que já li a alguns textos como este de pessoas que levam muito a mal as nossas ideias e atitudes mesmo que façam parte do nosso crescimento e que as vamos reconhecendo como a revolta que ainda temos dentro de nós por algumas pessoas com visão funcional nos fazerem sentir inferiores. E que nos pode acontecer expressarmos essa revolta num blog como eu às vezes faço e critico as pessoas normovisuais por elas não compreenderem o que ser tratado como alguém diferente.
Mas fiquei chocado com as críticas que fizeram ao sr. Gato Silvestre que não conheço e que agora me arrependo de ter julgado alguém que nem conheço e que nem sei que dificuldades tem, porque confesso a todos vocês que também sou imaturo e por vezes irrito-me por as pessoas normovisuais não serem naturais comigo e darem mais importância â minha deficiência que consideram um problema quando, na realidade, elas próprias têm problemas e limitações.
O "quarto escuro" é-me familiar, já quando era miúdo brincava ao quarto escuro e era giro, todos andávamos à procura uns dos outros, tínhamos de identificar os nossos amigos pelo toque ou pela voz, de identificar os objectos. Tudo era um treino sensorial e também podíamos fazer as coisas sem luz, o que era sempre uma surpresa divertida quando descobriamos o que nunca pensámos descobrir sem a luz.
Então que o artigo fique como está, que quem não gostar que não o leia e se ponha a apregoar aos 4 ventos para ninguém o ler.
Cordialmente

Olá boa noite Caro Marco!
Gosto de conversar consigo! Conseguimos ambos debater as nossas opiniões saudavelmente. Eu não vim fazer comentários para criar inimizades, nem raivas, nem rancores, simplesmente vim debater algo que me incomodou! Não sou inimiga de ninguém, e detesto dialogar com pessoas de mente fechada, que só olham para o umbigo delas. Somos todos iguais e todos diferentes, cada um com os seus defeitos e as suas qualidades. Antes de dizermos ou fazermos algo, temos que pensar que hoje somos nós a fazer aos outros, amanha serão os outros a nos fazerem.
Gosto de conhecer as pessoas pela sua transparência, sinceridade, honestidade, sem medos ou preconceitos. Detesto pessoas mesquinhas, hipócritas, que não têm coragem de nos encarar olhos nos olhos , e dizerem errei, desculpa….não tenho paciência para pessoas imaturas e mal resolvidas .
Quando tenho algo para dizer , faço no momento e não enfio a cabeça na areia.
Caro Marco, desejo-lhe tudo de bom, força pela sua força e coragem, o seu testemunho só mostra que é de uma sabedoria enorme.
Um bem haja e continuaçao de um bom fim de semana
Um abraço cheio de muita Luz!

Ok...obrigada pela resposta.
Um bem haja para si Antonio

Olá António!
Estou cem por cento de acordo consigo quando diz que um cego comer com ou sem luz é igual. Dou o meu testemunho que como tão bem como antes de cegar e que a diferença é pequenina demais! Sei encher o meu copo e os copos dos outros, cortar a carne quando não tem muito osso, e adoro rapar tudinho e de resto sou asseado e fico satisfeito por não ter qualquer problema em comer.
Não sei lá muito bem qual o sentido pedagógico de as pessoas ditas normovisuais experimentarem comer sem ver, porque é preciso ser desenrascado e os cegos são pessoas acima de tudo! Não há que pensar que a escuridão existe, porque se existe é a nossa própria alma que está cega!

Infelizmente, vivemos num país onde se faz inúmeras críticas, sobre tudo o que se faz. Se faz-se um jantar ás escuras, acham mal ,porque agora pegou moda, porque isto…porque aquilo, se alguém faz uma missa ás escuras criticam, porque bla…bla…bla…
Pergunto eu, de todas as criticas efectuadas sobre as pessoas que tiveram as ideias, dos jantares e das missas, algum de vós já fez alguma coisa para sensibilizar as pessoas para os vossos problemas?
Algum de vocês já organizou alguma coisa para sensibilizar as dificuldades sentidas no vosso dia a dia?
Desde passeios obstruídos e sem qualquer sinalização, semáforos desligados, caixas de multibanco sem voz áudio, que nos dificulta imenso nos levantamentos.
Estarem nas paragens dos autocarros e os motoristas não pararem?
Irem a um restaurante e o empregado de mesa vos dar o menu para as mãos e não vos ler a ementa,?
Entre muitas outras situações, que poderíamos encher paginas e paginas de relatos do dia a dia de cada umDde nós, já alguém fez alguma reclamação juntos dos órgãos competentes da vossa cidade ou vila, acerca das dificuldades que encontram e que ás vezes são tão simples dos governantes resolverem e que para nós uma pequena mudança faz uma grande diferença ???
Pois é!...certamente muitos de vós, nunca o fizeram, mas de certo que criticarem os que têm ideias de jantares, missas…etc já sabem criticar e acham ridículo!!!
POIS EU SOU UMA LUTADORA DOS DIREITOS HUMANOS, E RECLAMO QUANDO TENHO QUE RECLAMAR NEM QUE TENHA QUE IR AO FIM DO MUNDO, RECLAMO DE COISAS QUE ACHO QUE NÃO TÊM PÉZ NEM CABEÇA, RECLAMO PARA TER UMA QUALIDADE DE VIDA BOA DENTRO DAS MINHAS LIMITAÇÕES, RECLAMO AOS GOVERNATES DESTE PAÍS, MAS NUNCA RECLAMO DE QUEM TEM INICIATIVAS ,DAQUELES QUE LUTAM POR MOSTRAR AOS OUTROS AQUILO QUE ACHAM QUE ESTÁ INCORRECTO. EM VEZ DE CRITICARMOS TUDO O QUE OS OUTROS FAZEM, PORQUE NÃO NOS JUNTARMOS E DESMISTIFICARMOS O QUE É A CEGUEIRA, AS DIFICULDADES QUE UM CEGO OU AMBLIOPE TEM, OS MATERIAIS QUE SÃO UTILIZADOS QUER NO DIA A DIA QUER A NIVEL ESCOLAR, OS APOIOS TECNICOS QUE DEVIAMOS DE TER E NÃO TEMOS, A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E A COLOCAÇÃO EM EMPRESAS QUE O ESTADO DEVIA DE DAR E NÃO DÁ..ETC…ETC…ETC.POIS É CAROS AMIGOS,CRITICAR É MUITO FACIL, FAZER É QUE É MAIS DIFICIL!!!!
VIVA A CRITICA SAUDAVEL E CONSTRUTIVA!

Olá, amigos.
O problema dos jantares e das missas às escuras, e dos passeios com olhos vendados, deve ser visto sob o prisma da sensibilização dos problemas que os cegos enfrentam.
Assim, se considerarmos que o objectivo destas iniciativas passa por sensibilizar a sociedade civil, deixo uma pergunta no ar. Será que esse é o melhor caminho?
No meu ponto de vista não. Regra geral os normovisuais que participam nelas, e que tomam contacto assim a frio com a cegueira , ficam com a sensação que ser cego é algo de absolutamente monstruoso e limitativo.
E como todos sabem, uma pessoa cega reabilitada, executa na perfeição as tarefas que os normovisuais são convidados a executar neste tipo de encontros às escuras.
Se assim é, faço outra pergunta. Para quê este tipo de realizações? Para dar uma ideia sinistra da cegueira? É o que estamos a fazer!
Qual é o feedback que temos deste tipo de iniciativas? Os normovisuais que se vestem de cegos, não conseguem colocar líquido no copo, não conseguem partir a carne, não sabem muito bem como comer, por vezes não identificam nem os talheres nem o parceiro do lado. E agora, os cegos são todos assim? Os cegos diários não conseguem pôr as bebidas nos copos? Não conseguem identificar o colega do lado pela voz? É um sinal evidente que esses convidados mascarados de cegos não ficam a conhecer nem de longe nem de perto a realidade da vivência de uma pessoa cega.
E depois, que sensibilização estamos a querer fazer? Estamos a dizer às pessoas para fazerem a papinha toda aos deficientes visuais?
A verdade é que estas iniciativas podem ser mediáticas por estarem na moda, mas não trazem resultados palpáveis.
Penso que o esclarecimento passa por mostrar à sociedade questões práticas do dia a dia, mas em que os intervenientes sejam os próprios cegos. De uma vez por todas temos de fazer com que sejamos e estejamos integrados na plenitude. No meu vocabulário não existem os cegos e os outros, temos seres humanos e ponto final!
Se este texto humorístico servir para despertar as consciências, e nos ajudar a reflectir sobre o melhor caminho para valorizar a imagem das pessoas cegas junto da sociedade civil, então bem-dito seja ele.
Não embarco neste enxurro de críticas pejorativas ao texto. Concordo com a sua essência, porque na verdade se nós cegos não ganharmos juízo, ainda vamos ter um aventureiro a propor que se faça algo mais intimo assim às escuras, para que os normovisuais saibam partes da vida íntima dos cegos.
Olhem que isto daria uma boa capa de revista cor de rosa, e não iriam faltar curiosos a quererem saber como é que os cegos fazem certas coisas, sem verem!
Compreendo o argumento dos amigos que defendem que é preciso sensibilizar os normovisuais. Mas dessa forma não serve. Há Muitas formas e metodologias bem mais eficazes de podermos levar a carta a Garcia.

Um abraço para todos.
Filipe.

+Filipe Azevedo

Olá Filipe !

De Filipe pra Filipe ! looool

Achei a tua reflexão mto boa, e bastante impertinente, no sentido exclarecedor .... !
Se calhar refeições ... às escuras, não é melhor caminho pra sensibilizar, pois os normovisuais podem ficar com uma ideia errada dos cegos .... !
Sensibilizações sim, mas há q escolher estratégias q valorizem os DVs .... !
E q tal um campo / colónia de férias com cegos ? Eu acho genial ! lool

Vou-vos contar uma pequena história real ....
Uma vez eu fui pra um campo de férias, e a coordenadora disse-me q eu iria ficar no quarto com o Tiago Duarte, que é cego e surdo .... !
Xiiiii, eu a pensar, como é q me vou safar desta ? lool
E à noite quando ele tirava os aparelhos dos ouvidos, acabou, eu falava, falava, e ele tava a zeros, nem me respondia .... a princípio senti-me mal .... !
Mas depois, ao longo dos 8 dias, começamos a conhecermo-nos melhor, ele explicava quando eu tinha dúvidas acerca da deficiência dele, começamos a sermos bons amigos ... !
E eu começei a entender o mundo dele ... !
E hoje somos grandes amigos, amigos verdadeiros ... !
Foi graças a ele, que me incentivou a entrar no lerparaver e no querersaber .... !

Tiago, onde quer q estejas, desejo q estejas bem, e um grande abraço ... !
Mas, é mesmo disto q a sociedade precisa, q é conviver com os cegos, para conhecer o seu mundo, as suas potencialidades, ....

Abraços,
Filipe

Boa tarde,
No meu ponto de vista não. Regra geral os normovisuais que participam nelas, e que tomam contacto assim a frio com a cegueira , ficam com a sensação que ser cego é algo de absolutamente monstruoso e limitativo…---------quanto a este comentário só pensa assim quem não tem a maturidade suficiente para ver as coisas noutro prisma, porque quem realmente tem a maturidade suficiente sabe muito bem que ser cego, nada tem haver com limitado ou monstruoso. Se um normovisual partir uma perna, passa a ter uma limitação, então vamos definir como monstruosa e limitada a deficiência dele ,embora por um tempo limitado?!!!!
Qual é o feedback que temos deste tipo de iniciativas? Os normovisuais que se vestem de cegos, não conseguem colocar líquido no copo, não conseguem partir a carne, não sabem muito bem como comer, por vezes não identificam nem os talheres nem o parceiro do lado. E agora, os cegos são todos assim?..Alguem disse que os cegos são assim??...alguma vez alguém colocou isso em causa????!!!..não me parece!!! O feedback destas iniciativas é esse mesmo, os normovisuais perceberem o quanto é difícil, todas as adaptações que um cego ou Ambliope tem que fazer ao longo da sua caminhada, e só passando por essa experiencia nem que seja 1 minuto na vida, percebe-se muita coisa!!
Eu continuo a frisar que pessoas que não aceitam estas iniciativas, são pessoas na minha opinião, que das duas uma, ou ainda lidam muito mal com o facto de serem cegas ou Ambliopes, que ainda não conseguiram integrar que têm uma limitação, e então acham que qualquer forma de sensibilização é uma forma de rebaixar ou inferiorizar as pessoas cegas ou Ambliopes. A questão aqui não passa por rebaixar ninguém, nem fazer do cego coitadinho, por amor de DEUS!! As sensibilizações passam sim, por começarmos a mudar a mente de algumas pessoas, que ainda acham que ter uma deficiência é factor de descriminação quer a nível profissional quer a nível social!
Mal de um cego ou Ambliope que não conseguisse comer! Era sinal que não tinha mãos, mas mesmo assim iria arranjar uma forma de utilizar outros meios para comer,
A verdade é que estas iniciativas podem ser mediáticas por estarem na moda, mas não trazem resultados palpáveis .— os resultados só podem ser palpáveis quando a mente humana mudar, enquanto a mente humano for medíocre ai nada se pode fazer , cai-se no ridículo e não se evolui espiritualmente!!!
Não embarco neste enxurro de críticas pejorativas ao texto. Concordo com a sua essência, porque na verdade se nós cegos não ganharmos juízo, ainda vamos ter um aventureiro a propor que se faça algo mais intimo assim às escuras, para que os normovisuais saibam partes da vida íntima dos cegos.
Olhem que isto daria uma boa capa de revista cor de rosa, e não iriam faltar curiosos a quererem saber como é que os cegos fazem certas coisas, sem verem!.....Sem comentários!!!! Nada se pode comentar acerca disto…ou então até se podia….
Há Muitas formas e metodologias bem mais eficazes de podermos levar a carta a Garcia. Fiquei curiosa….podia me explicar que forma e metodologias bem mais eficazes se pode levar a cabo??? Já agora é sempre bom ficar a conhecer que os que estão contra estas forma de sensibilização têm outros métodos que podem ser implantados, assim ao partilharem junto daqueles que desconhecem, podem enriquecer a sua essência!

Porque não aceita que possam existir opiniões diferentes das suas e insiste em achar que todos os que discordam de si são burros e nnão entendem nada?
Eu pessoalmente acho que uns passeios às escuras seriam bem mais produtivos, mas confesso que té gostava de participar num jantar desses. Era uma boa forma de encher o bandulho, pois adoro comer, mas também era uma bela forma de ir roubando qualquer coisinha do prato do parceiro, pois afinal ele nem ia notar. Continuo a recomendar a leitura do "Ensaio sobre a cegueira" do nosso falecido Saramago..
Um passeio às escuras com uma bengalinha na mão, pelas movimentadas ruas das nossas cidades, eis o que se devia fazer.
Confesso que me sentiria horrorizado com a simples ideia de me fazer de surdo-cego, nem que fosse por 5 minutos. No entanto tivemos o belo exemplo de Helen Keller que nunca deixou de lutar por aquilo em que acreditava.
Já reparou, Maria, que muitos de nós discordamos de si e concordamos e entendemos o posissionamento crítico e irónico do Gato? Será que não é o momento de a Maria refletir e pensar que as pessoas apenas pensam de forma diferente em vez de sair por aí a destratar e a ofender quem não vai à sua missa?
Conheço bem o Filipe e tenho a certeza que a Maria ficaria chocada com a forma como ele brinca com a cegueira. Mas devo dizer-lhe que, a prova de que aceitamos as nossas limitações, é quando sabemos brincar com elas.
E por favor, não passe o tempo a chamar de imaturos e mal resolvidos todos aqueles que discordam de si, pois o argumento ad Homini revela uma grande falta de maturidade.
Tadeu

Tadeu eu aceito opiniões contrárias ás minhas, posso é não concordar com elas! Agora pelos vistos, muitos aqui não concordam com as minhas, nem as aceitam o que é bem diferente! Ninguém chamou ninguém de burro, agora se alguns se consideram isso nada tenho a opinar! Eu, não chamei ninguém de burro, e só se ofende com as coisas que não se sente bem!
Era uma boa forma de encher o bandulho, pois adoro comer, mas também era uma bela forma de ir roubando qualquer coisinha do prato do parceiro, pois afinal ele nem ia notar…olhe Tadeu, eu jamais seria incapaz de roubar comida, do prato seja de quem quer que ele fosse, cega, Ambliope ou normovisual.mas, sei que estava a ironizar!
Um passeio às escuras com uma bengalinha na mão, pelas movimentadas ruas das nossas cidades, eis o que se devia fazer….Tadeu tome a iniciativa e organize um passeio desses, quem sabe se os normovisuais não participam!!! Nada como se tentar…temos que começar por algum lado, agora ficarmos de braços cruzados não vamos a lado nenhuma!!
Confesso que me sentiria horrorizado com a simples ideia de me fazer de surdo-cego, nem que fosse por 5 minutos. No entanto tivemos o belo exemplo de Helen Keller que nunca deixou de lutar por aquilo em que acreditava :Tal o Tadeu diz e bem…sentir-se-ia horrorizado com a simples ideia de se fazer de surdo-cego, pois algumas das pessoas que participaram no jantar, tiveram essa experiencia, porque o simples facto de estarem de olhos vendados, a audição deles não estava preparada, e gerou-se alguma confusão a nível de sons, percepção do espaço, equilíbrio.. etc…etc…etc.. Cada um é livre de defender o que acha certo ou errado, o Tadeu , todos podem defender o Gato, a Maria, o Manuel etc…etc…etc…somos todos livres de nos expressarmos como queremos! Nada a nível da deficiência me choca, nada, já vi muito, e já passei por muito! Nem sempre o facto de brincarmos com a nossa deficiência é sinónimo de a aceitar-mos, por vezes é uma mascara de protecção! Não estou a dizer que seja o caso do Filipe, nem do Joaquim, atenção
Cumprimentos,

Cara Maria.

Veja que no diálogo comigo volta a içar a bandeira da maturidade.
Recuso isso terminantemente. Apesar de a Maria não me conhecer, deixe-me dizer-lhe que a minha amiga não é mais matura do que eu no que à consciencialização da cegueira diz respeito. Felizmente muitos à que pensam como eu, e devo dizer que mesmo que fosse eu o único a pensar dessa forma não influenciava nada a minha posição.
Imagino que a Maria Dias não é cega congénita, já pensou que o problema pode estar em si? Um cego congénito, que sempre fez a sua vida como cego, que sempre trabalhou no meio de normovisuais, e até já liderou grupos constituídos única exclusivamente por normovisuais é imaturo?
Se a Maria soubesse o quanto eu brinco com a cegueira ficaria altamente escandalizada. E digo isto porque os meus amigos normovisuais escandalizam-se bem mais da forma como eu abordo a cegueira do que os meus amigos cegos.
Recentrando a discussão no essencial. Já viu se agora começássemos todos a fazer passeios de cadeiras de rodas, a tentar perceber o que sentem na pele os nossos irmãos paraplégicos?
Imagina-se numa actividade onde todos fôssemos convidados a desempenhar o papel de surdos?
E creia que para os nossos políticos uma viagem de cadeira de rodas era bem mais produtiva do que um jantar às escuras.
Porque eles iriam ter de ir para os seus locais de trabalho, dar de caras com as viaturas nos passeios a obstruir a marcha da cadeira, ter de entrar em locais inacessíveis, e afinal terem de ficar à porta que o acesso é feito só por escadas, e muitas outras dificuldades.
E essas privações tanto sente um cadeirante reabilitado como um curioso que está a brincar aos paraplégicos.
Porque não se faz isso? Porque já se fizeram passeios de olhos vendados, e nunca se fizeram passeios de cadeiras de rodas?
Eventualmente, a Maria poderá pensar nisso se quiser.
Eu não digo que o objectivo de quem participa e promove estas iniciativas é rebaixar as pessoas cegas. O que eu digo é que essas actividades não trazem resultados práticos porque ninguém fica com a ideia do que é ser cego, e das dificuldades que um cego experimenta no dia a dia, e na pior das hipóteses fomenta nas pessoas normovisuais que participam nas iniciativas, sentimentos de comiseração e piedade.
Eu bem sei as limitações que tenho. Ninguém melhor do que eu me conhece, infelizmente para mim tenho outras limitações para além da cegueira, como sucede com todos. Mas limitações todos temos, e eu prefiro valorizar e potenciar as qualidades nas pessoas do que me centrar nas suas deficiências.
Tudo o que não seja tratar toda a gente de igual forma independentemente da sua deficiência ou da sua limitação é uma mentalidade medíocre e pré-histórica.
Deixe-me dizer-lhe que eu tenho amigos e amigas cegas que já por várias vezes foram abordadas na rua, onde lhes foi perguntado como davam um beijo à namorada, ou como praticavam relações sexuais. Infelizmente ainda temos gente em que cujo as suas preocupações andam por aí por esses campos.
Saiba também que já se tentaram fazer estudos, e dar-lhes uma importância quase que científica sobre as relações amorosas dos cegos. Já muitos artigos se escreveram sobre isso em revistas conceituadas.
Como se os casos e relacionamentos amorosos dos cegos fossem diferentes dos outros!
Olhe que o que eu disse na minha primeira postagem, que se nós cegos não ganharmos juízo, ainda vamos ter um aventureiro a propor que se faça algo mais intimo assim às escuras, para que os normovisuais saibam partes da vida íntima dos cegos, não está assim tão descabido. Experimente dar uma entrevista a um jornal ou revista sobre a sua vida pessoal e se deixar a conversa correr, há-de dizer-me para onde ela vai acabar por resvalar.
Finalmente. Quer uma ideia muito mais produtiva do que os jantares às escuras?
Fazer uma caminhada com pessoas cegas, que dominem as técnicas da mobilidade, pela baixa de uma cidade, e levar atrás, vestidos nos seus uniformes os engenheiros da respectiva câmara municipal responsáveis pelo planeamento urbanístico.

Cumprimentos.
Filipe.

+Filipe Azevedo

Olá, Maria.

Afirma que só pessoas mal resolvidas são capazes de rejeitar a sensibilização.
A Maria está a confundir tudo. Acha que algum de nós está contra que se sensibilize a sociedade civil?
A questão é, a forma como se faz.
Já lhe dei um exemplo que no meu ponto de vista seria muito mais produtivo, porque ia sensibilizar aqueles que têm responsabilidade no ordenamento das nossas cidades.
A Maria é capaz de acolher esta ideia? Que acha dela?
Também não me importaria de fazer de surdo, desde que fosse apenas por uns breves instantes! Lol. Mas eu que já estou consciente de algumas dificuldades vividas pelos meus irmãos surdos, não vejo nenhum proveito em fazer de propósito para ficar sem ouvir.
Desejo é que a moda não pegue, porque se começamos a brincar às deficiências, vamos ter muitos jantares para fazer, e como bem sabe isto anda em crise, não se pode ir a um jantar desses todos os dias!
Relativamente à minha analogia, o que eu disse é que um passeio de cadeira de rodas ia permitir aos participantes sentirem na pele as dificuldades dos cadeirantes. Quererem aceder a uma repartição pública e não poderem por causa das escadas, quererem caminhar num passeio e terem de ir para a estrada porque o mesmo se encontra obstruído, quererem ir à missa e muitas vezes as igrejas não terem rampas, e muito mais.
Repare, Maria, que essas dificuldades são bem reais e os nossos amigos paraplégicos, mesmo que se encontrem devidamente reabilitados e que aceitem a sua deficiência não as podem vencer.
Isso ao menos daria para que os políticos quando aprovassem os projectos, pensassem, que, bom, não podemos aprovar isto porque se não uma pessoa de cadeira de rodas aqui não entra!
Agora neste caso do jantar, o que é que as pessoas ficaram a saber. A diferença é que enquanto no caso dos paraplégicos, eles mesmo que queiram não conseguem fazer as coisas, por causa da incúria do poder político, mas os cegos conseguem colocar as bebidas no copo, conseguem comer, identificar os talheres etc.
O que eu queria ver por exemplo, era um desses participantes no jantar a preencher o livro de reclamações do restaurante! Pois mas isso eles não fizeram. Era giro que o fizessem, não era?
Ainda queria ver como é que alguém que tivesse responsabilidades, ia usar o livro amarelo.
Por isso refuto a acusação de estar a rebaixar os cadeirantes, muito longe disso. Esses sim é que precisavam que os políticos dessem uma voltinha na sua cadeira, a ver se ganhavam juízo.
Espero que tenha entendido a minha ideia. Devemos é sensibilizar para questões práticas.
A Maria tem um discurso estranho. E fundamento esta minha observação no facto de ter dito que quem está bem com o seu ego, nada importa, se foi efectuada missa ou jantar, ou se foi efectuada qualquer outra forma de sensibilizar quem quer que seja.
Quer dizer que agora, nós por ser cegos temos de concordar e aceitar todo o tipo de iniciativas.
Não podemos ter opinião, não nos podemos posicionar contra o que quer que seja, temos de adoptar uma atitude subserviente e submissa, e acatar aquilo que os outros pretenderem fazer por nós.
Saiba que infelizmente esse discurso foi apanágio de muitos sectores da sociedade civil.
Apesar de nos dias de hoje ser em menor escala, ainda não nos conseguimos libertar totalmente daqueles que não entendem nada da cegueira e que pensam que sabem o que é melhor para nós.
Imagine se a ordem dos advogados não fosse única exclusivamente gerida por advogados? Se a ordem dos médicos não fosse exclusivamente gerida por médicos, etc.
Parece que os cegos é que acham que não conseguem dar conta do recado, e imploram para que a solução venha de fora! Isso cara Maria está muito longe de fazer parte de uma mentalidade contemporânea, isso é voltar ao passado e ressuscitar velhos hábitos que eu imaginei estarem definitivamente postos na gaveta.
Saiba que, podemos ter opiniões divergentes, mesmo que eventualmente sejamos cegos inseridos na sociedade, de bem com a nossa vida, e com maturidade suficiente para abordar e encarar a cegueira de uma forma construtiva.
Esta argumentação que a Maria me sugeriu nesta sua mensagem, é a mais viva encarnação da tal mentalidade retrógrada que a minha amiga aludiu.
E já que estou com a mão na massa, pretendo esclarecer um possível mal entendido.
Quando manifestei a minha discordância por este tipo de iniciativas, não me inspirei obviamente na iniciativa do Algarve. Já me posicionei contra noutras ocasiões.
É muito salutar que as pessoas queiram sensibilizar, mas eu como cidadão com opinião e vontade própria, digo que ficava muito feliz se o caminho passasse por organizar outras iniciativas diferentes. Que fique claro que o meu objectivo não é destruir, mas ajudar a que futuramente se possam fazer outro tipo de eventos, esses sim para sensibilizar verdadeiramente o público alvo.
Nada tenho contra quem organizou esta iniciativa. Desejo que possam ter energia, motivação e vontade para abarcarem outro tipo de realizações mais profícuas.
Mas à outra passagem nesta mensagem da Maria que me deixa sinceramente tão ou mais preocupado.
A Maria diz que só se sentem sentimentos de comiseração e piedade, quem não tem a sua auto-estima bem trabalhada, porque quem tem jamais poderá sentir esse tipo de sentimentos! E volto a frisar pessoas imaturas é que vêm nos outros pensamentos que eles próprios sentem e tentam culpabilizar quem não os sente!
A Maria anda todos os dias na rua? Nunca presenciou aquele discurso lamechas do Ceguinho, do coitadinho, do Deus tira uma coisa mas dá outra, do era melhor morrer do que ser cego, como amigos meus já vivenciaram?
Bom realmente começo a pensar que a Maria vive mesmo noutro planeta!
Ou será que não é uma tentativa de mascarar a realidade? É que o problema é mesmo esse. O que nos torna realmente bons ou maus são sobre tudo as nossas práticas, porque se as palavras não baterem certo com as atitudes, estamos perante uma palavra vã.
Eu não tenho a mania da perseguição. Constato factos que qualquer cego que ande todos os dias na rua já viveu. Depois à um super proteccionismo mais refinado, mas o que eu raramente encontro é um tratamento em radical igualdade com os restantes concidadãos, e esse é em última instância o meu grande desejo e objectivo que pretendo que juntos possamos atingir.

Cumprimentos.
Filipe.

+Filipe Azevedo

Bom dia caro Filipe,
Se vocês discordam da forma como todos os outros fizeram ou tentaram de certo modo apelar a sensibilização, azar, cada uma faz o que acha que deve ser feito. Se vocês acham que se deve fazer de outra forma óptimo! Façam para que os outros vejam, e que possam participar, a minha opinião é esta e ponto final, Tal como a vossa opinião é a que adoptaram! E como tal a vossa e a minha tem que ser respeitada, quer concordemos ou não uns dos outros! Como frisei, todos somos muito bons a criticar, mas a realizar somos muito péssimos. É tudo muito giro na teoria porque na pratica, não vejo nada. Ando todos os dias na rua, vou para o trabalho sozinha, ao café, ao banco, ao supermercado, apanho táxi, apanho transportes públicos, faço a minha vida diária normal, como qualquer normovisual , dentro das minhas limitações. Quanto aos comentários vindos dos outros, do coitadinho do ceguinho , não , nunca ouvi esse comentário, se o fizeram só nas minhas costas, porque presencialmente nunca senti nem ouvi qualquer comentário. Nem no meu local de trabalho, nem no meu leque de amigos, nem na rua. Mas mesmo que o façam…qual o problema…eu não me considero de coitadinha! Estou bem comigo própria, agora se não estiver se calhar começo mesmo a pensar que sou uma coitadinha, uma invalida…bla…bla..bla… isso é o mesmo que entre normovisuais dizerem uns para ou outros, epá tas gordo! Se ele estiver bem com a sua gordura…vai ficar ofendido por isso??!..Não, ele vai ignorar, agora se estiver mal..assim certamente vai –se achar a pior pessoa do mundo, vai ficar a pensar fogo…pá sou gordo ninguém me quer…!bla…bla…bla..

Quererem aceder a uma repartição pública e não poderem por causa das escadas, quererem caminhar num passeio e terem de ir para a estrada porque o mesmo se encontra obstruído, quererem ir à missa e muitas vezes as igrejas não terem rampas, e muito mais.
Repare, Maria, que essas dificuldades são bem reais e os nossos amigos paraplégicos, mesmo que se encontrem devidamente reabilitados e que aceitem a sua deficiência não as podem vencer.Isso ao menos daria para que os políticos quando aprovassem os projectos, pensassem, que, bom, não podemos aprovar isto porque se não uma pessoa de cadeira de rodas aqui não entra! Agora neste caso do jantar, o que é que as pessoas ficaram a saber. A diferença é que enquanto no caso dos paraplégicos, eles mesmo que queiram não conseguem fazer as coisas, por causa da incúria do poder político, mas os cegos conseguem colocar as bebidas no copo, conseguem comer, identificar os talheres etc.
Diga me uma coisa, você enquanto cidadão, já fez junto dos órgãos competentes uma reclamação acerca dos carros nos passeios, a falta de acessibilidade aos edifícios públicos e privados entre outros? Pois eu já fiz e muitas, e continuarei a faze-las sempre que achar necessários, quando podia escrever, eu própria escrevia nos livros de reclamação com a minha mão, como actualmente não posso, peço a quem o faça e assino por baixo, não cruzo os braços á espera que as coisas mudem sozinhas, sem tentar fazer algo primeiro. Como disse anteriormente, nós somos sempre muito bons a criticar todos e todos, mas ter o papel principal de fazer algo e tentar mudar alguma coisa, assim já é mais difícil!!

+Filipe Azevedo
Olá, Maria.
Não se trata de fazer críticas negativas. Simplesmente de dizer que este caminho não serve, é preciso encontrar outro.
Como sabe, os deficientes visuais ainda são encarados como uma classe. É algo que eu repudio com todas as minhas forças, mas actualmente a realidade que temos é essa.
Quando uma pessoa cega se porta mal no trabalho, a entidade patronal, se estiver perante a primeira experiência de integração, vai pensar que todos os outros cegos também são maus trabalhadores, e numa grande parte das situações já não repete a ideia de integrar um colaborador com deficiência visual.
O problema do livro amarelo é que nós não o podemos preencher com os nossos próprios meios.
E as soluções que a Maria preconiza podem ser postas em prática, desde que tenhamos alguém da nossa confiança que esteja do nosso lado. E como sabe hoje à cada vez mais cegos que andam sozinhos, vão a jantares sem a presença de normovisuais, fazem compras nas mesmas circunstâncias, e neste ponto de vista são claramente prejudicados.
Este problema tem sido discutido, e até ver ainda ninguém conseguiu encontrar uma alternativa que fosse justa, mas creio que ela irá aparecer à medida que formos reflectindo.
A solução do livro em Braille tem um grave problema. Regra geral não andamos com apetrechos para escrever em Braille, e depois temos o problema da descodificação. Como é que as autoridades iam decifrar a queixa do cego. Teria de se encontrar uma alternativa para escrever em Braille e a negro, mas isso ainda implica usar mais apetrechos do que escrever só em Braille.
O facto de ainda não se ter encontrado uma alternativa, não implicava que um cego que participou no tal jantar pretendesse reclamar, embora que essa intenção fosse meramente simbólica. Ao menos podia fazer com que mais gente ficasse sensibilizada para o problema, e pudessem encontrar uma outra alternativa que eu pelo menos não esteja a vislumbrar.
Finalmente, quero dizer que vale sempre apena debater e reflectir à cerca das actividades, ou pelo menos do tipo de actividades que devem ser realizadas. Precisamente por haver pouco debate, e por não haver uma ideia clara da forma como se pretende sensibilizar a sociedade civil, é que as pessoas vão actuando de uma forma desgarrada. E seria bem melhor que houvesse uma ideia nítida do tipo de actividades que deviam ser promovidas, para que aqueles que queiram, e que se sintam com vontade de fazer algo, possam ter uma base para saberem como proceder.
E isso repito não são críticas destrutivas, mas sim concluir de que forma podemos atingir o nosso principal objectivo.
E a ideia que deve ser sempre tida em conta, é usar os próprios cegos para sensibilizar as pessoas, nunca utilizar os nornovisuais, porque por muita bondade que aja na realização da iniciativa, eles nunca vão ficar a conhecer verdadeiramente as dificuldades de um cego.

Um abraço.
Filipe.

+Filipe Azevedo

Caro Filipe

Tenho estado a ler as suas opiniões e como deficiente visual e auditivo estou de acordo com o que afirma e que de certo modo nos faz reflectir nas nossas dificuldades diárias.

Para começar, eu procuro como o Filipe soluções mais práticas do que os jantares e as missas às escuras. Estes eventos não abrangem as dificuldades reais sentidas pelas pessoas deficientes visuais, não são de facto as soluções para os nossos problemas. Sensibilizar parece-me em todos os projectos muito bonito na teoria mas quem os põe em prática não são as verdadeiras pessoas que enfrentam a realidade... Eu já fui a alguns seminários e as pessoas que realmente sabiam do que estavam a falar tinham uma deficiência. Os que eram ditos normais pareciam que estavam a falar de temas que nem na prática sabem o que são.

Portanto, eu estou do lado do Filipe Azevedo

Cumprimentos

oi , olá.
adorei este texto.
faz muito tempo que não ouvia um texto tão radical e divertido .
de facto é isto mesmo o mundo de quem vê, e não vê..
continua sempre a escrever com esta disposição. adorei e fez me rir muito. abraço.

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