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Blog de Sofia Santos

Namoro entre cegos e entre um cego e um normovisual: Quais as diferenças?

por Sofia Santos

Bom, hoje senti vontade de pegar neste tema pois é algo que me faz pensar bastante e que acho ser é algo bom de ser discutido. Não quero pôr-me a falar de mim mas sim falar num caso geral mas claro, vou ter sempre de falar do que eu penso pois não fiz nenhum inquérito sobre isto. Lol.
Se repararmos, a maioria das pessoas com deficiência visual têm, na maior parte, relações amorosas com uma pessoa em igualdade de circunstâncias. Isto é algo que se pode verificar com facilidade. Penso que isto se possa dever ao facto de estarmos em igualdade de circunstâncias e, ao mesmo tempo, sentimo-nos mais seguros. No entanto, por vezes temos a desvantagem de não podermos estar tão independentes, principalmente na fase da adolescência, ou seja, muitas vezes acabamos por ficar em casa de algum de nós a namorar, (a não ser que estejamos na mesma escola, por exemplo) e, para além disso, muitas vezes estamos dependentes de alguém, o que por vezes se torna bastante chato.
No caso de relações amorosas entre uma pessoa deficiente visual e uma pessoa normovisual, essa dependência diminui bastante mas, de certeza que levanta alguns receios tais como: “será que ele não tem vergonha de mim?”, “será que não preferia estar com uma pessoa normovisual?”. Bom, talvez sejam perguntas absurdas pois, se o sentimento for realmente verdadeiro, não há razão para vergonhas.
Verifica-se que, muitas vezes, somos discriminados perante pessoas normovisuais no que toca a este tipo de assuntos. Essa discriminação normalmente não é feita directamente mas há muita gente que não consegue sequer imaginar-se com uma pessoa com deficiência. Fiquei um bocado desiludida com este tipo de pensamentos, com os quais tive contacto. Tentei sempre fazer os possíveis por pensar que não existe discriminação mas apenas uma não correspondência mas, a verdade é que, infelizmente, nem sempre é assim.
Nunca namorei com nenhum normovisual e por vezes sinto uma espécie de curiosidade. Isto pode parecer uma opinião absurda mas acho que preferia mais tarde vir a juntar-me ou a casar-me (não sei lol) com uma pessoa normovisual mas claro, também não vou andar a fugir de algum rapaz que eu goste só por ser cego, nada disso. Lol.
Não estou aqui a discriminar as pessoas com deficiência. Em tudo o que fazemos existem vantagens e desvantagens. Apenas quis reflectir sobre este assunto. Ninguém é igual a ninguém. Por isso, acho que era fantástico se essa discriminação não existisse, nem no amor, nem noutras quaisquer situações. Todos nós temos sentimentos que deverão sempre ser respeitados.
Bom, acho que este assunto dá muito que falar mas vou ficar-me por aqui e claro, fico sempre à espera das vossas opiniões pois acho que tudo, ou pelo menos quase tudo, deve ser discutido pois isso ajuda-nos bastante a reflectir.

Comentários

Sérgio GonçalvesOlá Sofia
Sou casado com uma pessoa normovisual, e digo-te que as coisas não são assim tão benéficas como possam parecer.
Ha ideia da grande maioria dos cegos que ter-se uma relação com uma pessoa que vê traz vantagens, mas isso não pode ser considerado assim tão certo.
Se é verdade que estarmos com quem vê nos pode trazer alguma maior autonomia nomiadamente em casos que tu já inumeraste, mas por outro lado temos de perceber que também estamos em desvantagem em relação aos normovisuais.
Não me refiro ao facto das pessoas que vêem possam discriminar os invisuais, mas muitas vezes por desleixo, por esquecimento, e muitas outras coisas, que mesmo sem intenção, acabam por nos colocar em desvantagens em relação a eles.
Terei mais coisas para dizer, mas vou deixar outras pessoas também falarem sobre este assunto, que é no meu ponto de vista super importante, e como disse acima, muitas vezes analizado não da melhor forma por todos.
Beijinhos para ti, e uma boa semana.
Sérgio

Sérgio Gonçalves

Ana RochaOlá Sofia e todos, eu na minha opinião concordo que não deveria existir descriminação entre ambas as pessoas sejam cegas ou normovisuais... eu no meu caso tenho um namorado ambliope e por acaso so usamos a bengala quando nos sentimos mesmo perdidos ou em estadas perigosas. Posso partilhar aqui a experiência de eu ser totalmente cega mas ter sido muito bem aceite pelos pais dele principalmente e depois pela família. Embora eu saiba que no geral ha muitas pessoas que não aceitem esse tipo de relações...

Ana Rocha

parabens pelos comentarios na minha opni]ao o amor ea base de tudo sem ele é manifestado o nada portanto vidente ou não vidente está en segundo plano...

Olá Sofia!
Gostaria muito de conhecer uma garota com deficiencia visual e poder conhecer melhor pois tambem tenho um deficiencia mais é fisica mais admiro pessoas portadoras de deficiencia,talvez precisem de amor e carinho como eu.
bju.
Gostaria de conhece-la.
este é meu email. luiz669966@hotmail.com

Sérgio e Sofia,
Subscrevo integralmente tudo quanto foi dito pela Sofia e mais não digo!
Sérgio, sobre o que referes, tomo a liberdade de dizer do meu ponto de vista, que a importância que se atribui a uma dada situação é que pode condicionar imenso o que dali possa sair e atrapalhar...
Enquanto normovisual vivi uma experiência com um cego recente (já o conheci como tal) e guardo essa "aventura" com gratidão e ternura no coração! Se não resultou foi porque andámos em timings algo desfazados e no "ponto óptimo" ele optou por levantar voo... Sofri como bem podes imaginar, mas o que importa extrair daqui é que aprendi muito com esta relação, a vários níveis, conheci-me melhor, mas também percebi que tinha o apoio incondicional da minha família e dos meus amigos que, inicialmente, se surpreenderam com o facto mas logo disseram que não duvidavam que alguém do género pudesse ser a pessoa certa para mim, sabendo o quanto eu sou uma pessoa altamente sensível e solidária e com facilidade em deixar-me cativar por quem mereça conhecer o meu lado mais especial.
Ao falares em desleixo só me ocorre pensar, neste momento, num desleixo que tive nessa relação, sempre que agia como se ele não fosse cego, o que sucedia muitas vezes, na medida em que eu procurava vê-lo da mesma forma que supostamente ele me devia ter visto... com os olhos da alma! Podia desleixar-me ao apontar para uma cor e dizer que gostava daquela cor, sem que ele a visse e pudesse saber qual era, até eu corrigir a minha gafe, ou desleixava-me algumas vezes (no início) quando não descrevia o tipo de pergio de que devia ter em atenção em dado sítio, eventualmente para não apanhar com um arbusto no rosto. Porém, não o deixava aos papeis como se costuma dizer, se a isso te referes, quando acompanhada de mais gente, antes pelo contrário, certificava-me de que se enquadrava e se sentisse logo integrado Também era o primeiro a ser servido, na minha companhia e não esquecia de deitar um olhar para me certificar de tudo estaria em ordem ou precisaria de alguma ajuda discreta, naturalmente... Descrevia o mais que podia as imagens e situações que visse em filmes ou de passagem em algum lugar, para não lhe faltarem registos a considerar na percepção que tinha das coisas e dos filmes. Se no hall de entrada do meu prédio o percebia desorientado, antes de apanhar o elevador para vir ao meu encontro, eu mesma já me antecipava no caminho do seu encontro e enquanto não chegava dava imediatamente conta da minha presença através da voz, para evitar o prolongar de quaisquer sensações de desorientação e vazio pontual que a mim, pessoalmente, incomodavam na sensibilidade da alma...
Em suma, como a Sara dizia e muitíssimo bem em TUDO, destaco novamente que a regra nas relações entre normovisuais e cegos é o Amor incondiconal, a aceitação e entendimento recíprocos, a confiança e o respeito mútuos e o diálogo constante para não gerar fossos e maus entendidos, mas deixar margem de manobra para que ambos possam saber como corresponder, tanto quanto o possível, às expectativas um do outro. É indispensável a compreensão!
Teoricamente, ninguém se apaixona por ninguém por telecomando e como tal, não deve olhar ao facto de ter alguma deficiência seja ela física, motora ou emocional. Na prática, do meu ponto de vista, sucede o aumento da tendência talvez do subconsciente estar de tal ordem programado para se deixar atrair e reagir em favor de quem lhe seja mais "igual" do que com o que lhe seja diferente, daí cegos com cegos (por melhor se compreenderem) e normovisuais com normovisuais. Felizmente que nem sempre é assim, como demosntram aqueles casos como o da Sara, em que o amor fala mais alto e não se limita por condicionalismo algum, mas reforça ainda mais a relação! Pode haver casos, em que o útil se junta ao agradável, numa relação em que tudo se torna mais fácil de gerir com um normovisual por perto... ajudando na indecisão de se apaixonar por um parceiro cego ou antes um normovisual, se o esquema mental for chamado a dar a sua opinião. No entanto, segundo pude perceber a parti de alguns registos aqui e ali, que inclusivamente li algures, uma relação desse tipo pode condenar, em certa medida, o cego a uma insegurança maior (aí vejo a desvantagem) quanto aos aspectos que não vê e não percebe, logo não domina, na reacção do seu parceiro, que inadvertidamente possa esconder através da voz, para se defender ou o proteger, ou não o incomodar, etc... Quanto a casais eventualmente ciumentos, só posso imaginar que a falta de visão possa ser um calvário para quem não confie no seu parceiro, mas uma benção para quem nele confia inteiramente. No fundo, acho que a cabeça de cada um é o seu principal inimigo, isso sim!!!
Em virtude do envolvimento com uma pessoa cega eu pude conhecer em maior profundidade as minhas qualidades e os meu defeitos, apreciei melhor o alcance das minhas emoções e reacções, descobri e valorizei muito mais a minha pessoa e a minha relação com os demais. Por seu intermédio aprendi a conhecer-vos melhor, bem como as belíssimas qualidades dos cães-guia, valorizando imenso o potencial e a coragem de ambos no que define a especificidade do seu Ser em acção e, para terminar, apenas posso acrescentar que me agrada bastante o conforto que sinto na vossa companhia. Isso não chega? Não pensem demais...
Um abraço e sejam felizes, sempre um bocado em cada dia,
Ana

Olá Ana

Percebi que te referias a mim, e como compreendo o que dizes....

Se, como sente o Sérgio, os deficientes visuais se podem sentir desconfortáveis em relações de desigualdade visual, também não será fácil para os normovisuais gerirem uma relação deste tipo.

Eu por mim falo, tenho por opinião que as pessoas com deficiência visual, pelos mais variados motivos, por vezes carecem de uma atenção especial. Uns mais que outros, por motivos físicos ou psicológicos, sociais ou de personalidade, etc. Claro que isto se aplica a todas as pessoas, com qualquer tipo de problema, mas especificamente falando dos deficientes visuais, poderá ser mais evidente.

Eu não sou muito exigente no que toca á descrição de um lugar, objecto ou circunstância. Uso das minhas próprias capacidades de apreensão da realidade para elaborar uma idéia mental da situação em causa, pedindo apenas alguns dados chave para dalí obter alguns pontos de referência. No entanto, conheço algumas pessoas que, exaustivamente, solicitam atenção, descrições detalhadas, ajudas permanentes, apoios constantes.

Ora, se a pessoa cega não deseja ser dependente do outro não deverá apoiar-se apenas nas capacidades do parceiro mas contar também com as suas próprias; se não deseja ser um peso não deverá subcarregar o parceiro pois ele também tem os seus limites; se não deseja transformar-se num fardo, deverá perceber quando o limite de ambos se aproxima.

Somos todos humanos e isso diz tudo. Todos temos qualidades e defeitos. Ocorre que nem sempre respeitamos os defeitos e preservamos as qualidades. Ou seja, se o parceiro é distraído, acusa-mo-lo de desleixo, se é prestável, abusamos dos seus préstimos. Numa relação em que um tem deficiência visual e o outro não, isto pode culminar em saturação. Claro que nem sempre agimos de forma consciente, aliás, penso que tudo flui sem que ambos se apercebam imediatamente. Quando a relação dá sinais de instabilidade, já mal se sabe o que a provocou.

Ana, sei o que sentes quandodescreves o modo como agias para com esse ex-parceiro, o meu marido também faz o possível para corresponder aos meus anseios. No princípio, por não nos conhecer-mos tão bem, era mais difícil prever as necessidades do outro. Agora, depois de muito passar, não é preciso dizer, agimos em sintonia mental e corporal. Sei exactamente quando ele me vai dar um beijo, quando me indica um degrau, ou quando me olha com admiração ou reprovação; ele sabe quando estou perdida no espaço, quando fico insegura num ambiente social, ou quando lhe transmito um sinal. Comunicamos por vibração corporal, olhares e palavras.

Claro que, como refere o Sérgio, por vezes tropessamos um no outro. Somos seres imperfeitos. Por desconhecimento, distracção, cansaço, ou qualquer outro estado de espírito, cometemos falhas involuntárias que podem causar danos físicos ou morais. Mas não é assim com todos os seres vivos?
Há que saber compreender as circunstâncias em que tais danos ocorrem. As falhas involuntárias não carecem de perdão pois não foram conscientes. Carecem sim de compreensão de ambas as partes. Em conjunto, em diálogo, o casal deverá perceber os pontos sensíveis que carecem de polimento. Nada melhor que uma boa conversa para partilhar gostos e desgostos....

Claro que nem sempre se chega ao entendimento pleno. Tal como já disse antes, a vida é cheia de encontros e desencontros. Se não conseguimos ultrapassar certas dificuldades é porque somos seres humanos. Dotados de muitas capacidades mas também muitas incapacidades. Insistir em manter algo que , por qualquer motivo, não podemos suportar, é condenar tudo ao insucesso.

Sofia, agora para ti também, quando fiquei cega não deixei de ser abordada por indivíduos normovisuais. Se senti que alguns não tinham a mínima disponibilidade para lidar com relações diferentes, senti que outros estariam dispostos a um envolvimento emocional. Claro que, sendo comprometida, não dei oportunidade a qualquer outro envolvimento. Tenho, ainda assim, a convicção que o facto de ser cega não teria sido impedimento a um envolvimento emocional.

Não me agrada pensar que é discriminação o desprezo amoroso de normovisuais para com deficientes visuais. Prefiro pensar que a capacidade de amar, esta ou aquela pessoa, depende do grau de compatibilidade que estas possuem entre si. Tal como tenho vindo defendendo, não somos perfeitos, não podemos obrigar alguém a ter capacidade de compreender, aceitar e saber lidar com realidades diferentes da sua. Se a sintonia, a compatibilidade, a harmonia acontece, por diferentes que sejam, as pessoas encontram o equilíbrio de que precisam para viver. Se, pelo contrário, não adianta, mais vale não magoar nem ser magoado.

Estou a falar de questões abstractas mas que considero pertinentes ao tema que a sofia apresentou. Claro que na prática, e talvez seja essa a sua maior curiosidade, muito poderia contar. Poderia responder a questões concretas, mas confesso que tenho uma atitude de normalidade na minha relação. Ou seja, tento desvalorizar a presença da minha cegueira, dando-lhe importância apenas quando ela é realmente um problema. O meu marido esquece que eu não vejo e lida comigo naturalmente. Eu percebo quando ele age em conformidade, ou quando se acomoda à minha condição para tomar partido ou ter vantagens sobre mim, (facto que me parece nunca ter ocorrido).

Volto a frisar, a auto-confiança, o respeito mútuo e alguma humildade...

E já agora, não ter vergonha de ser como se é, mas orgulho de conseguir ser como se é.

LDias

Sérgio GonçalvesOlá.
Quero dizer que concordo com o que aqui foi escrito pela Ana e pela L Dias.
O meu anterior comentário foi feito atendendo ao facto da Sofia dar a intender que uma relação entre duas pessoas cegas pode ser menos independente, o que não é bem assim!
O amor é que faz toda a diferença, e sem ele sejam pessoas cegas ou pessoas normovisuais, não haverá nada que resulte se este não for sólido ou se for duvidoso.
´Cumprimentos,
Sérgio

Sérgio Gonçalves

Caríssima,
Gostei imenso de ler as suas mensagens, senti muita empatia consigo e usando uma linguagem algo figurada, ouso dizer que me parece ser uma pessoa que erradia uma imensa luz interior que dá vontade de conhecer melhor e continuar a ouvir falar, depois de começar! (sorriso rasgado)
Digamos que poucas vezes me foram pedidas descrições, mas de um modo geral, mesmo com outros amigos cegos eu gosto de me antecipar, como se me sentisse impelida a fazê-lo, para bem lidar com a minha consciência e sentir o coração em paz. Se posso preencher o potencial vacuo da "caixa negra" de algum cego qualquer que ele seja, com ferramentas úteis às suas projecções mentais, faço-o de bom grado e por achar que o devo fazer, simplesmente! Porquê privar alguém de ver aquilo que me agrada à vista, se não lhe transmitir o que vejo e a forma como me enternece? Como isto... tudo o resto! Sinto-me tão grata pela forma como compreende o que digo ou penso, pela sua experiência e embora sinta pena de não ter chegado a usufruir em pleno dessa harmonia tão boa que qualquer casal busca numa relação, reconheço não se ter tratado da tampa da minha panela e isso diz tudo.
Felicito-a por ter uma relação tão querida e harmonioso que dá gosto testemunhar, mesmo estando de fora e desejo-lhe continuação das maiores felicidades!!
Ana

Olá Ana

Obrigada pelas felicitações. sim, tenho uma bonita relação com o meu marido, ele sempre me diz que foi enviado para ser o meu anjo da guarda. Eu, por mim, acredito que Deus me permitiu encontrar a minha alma gémea.

E é isso, a felicidade, que não é terrena, pode ser experimentada nesta nossa vida quando almas gémeas se juntam. No meu caso, não sou plenamente feliz, pelos motivos evidentes, mas tenho a sorte de experimentar a felicidade nas doses que Deus nos permite, neste plano terrestre.

No seu caso, não sucedeu ainda esse encontro, a sua alma gémea ainda anda por aí, espero que a possa vir a encontrar.

Continue a ser assim, generosa, partilhando com os outros aquilo que é seu: seja as suas capacidades físicas, que aos outros faltam; seja os seus sentimentos. Esta simplicidade de partilha, esta espontaniedade de dar, são características em via de extinção no carácter humano. As pessoas relacionam-se com espectativas que, quando falhadas, causam frustração. E são espectativas egoístas, pois procuram satisfazer o seu próprio ego.

É de pessoas "simples", usando a sua expressão, que "simplesmente" se dão aos outros, que o mundo deveria estar cheio. Assim seríamos muito mais generosos, solidários e menos exigentes. O mundo seria bem melhor e as relações muito mais puras.

LDias

LDias,

Gostei muito do seu comentário, para variar e só posso sorrir de contentamento pela sua felicidade com essa alma gémea que Deus lhe enviou, mas também por me fazer recordar um comentário significativo que há pouco tempo atrás ouvi de alguém que diz conhecer muita gente com características muito especiais, incluindo os "Indigo" e diz nunca ter conhecido ninguém com o brilho do meu olhar, nem com um coração igual ao meu e a única coisa que lhe ocorria dizer-me em dado momento foi "não sei como defenir-te mas só te posso comparar a um anjo na terra". A minha alma foi tomada de assalto por uma nova amiga, esta com um dote extra sensorial e nem um sorriso consegui esboçar, mas facto é que me senti muito grata depois de digerir aquela palavra, com profunda humildade, do mesmo modo que acolho as suas palavras agora, extremamente compensadoras...
Acredite que se ao longo da minha vida sempre assim fui, embora menos "atirada" não será doravante que irei mudar, depois das bençãos que recebi do Pai do Céu. Sempre me inquietei demasiado com os problemas do mundo e muita coisa me abalava a sensibilidade impelindo-me a agir mas sem saber como. Hoje que sei como o fazer, em parte através da escrita, corro o risco de ser mal interpretada o que me dá pena. Mas não é por falta de compeensão da minoria que deixarei de ser como sou. Isso ainda me dará mais força para prosseguir este caminho, sem esquecer o ideal que tenho como destino, à semelhança daqueles que ainda nos dias de hoje se lançam ao caminho, com o intuito de evangelizar as doutrinas das suas Igrejas, apesar de toda e qualquer contrariedade que possam encontrar no seu caminho.
Como diz e bem, o mundo podia ser muito melhor, se não fossem apenas estas "pessoas simples" ou mais especiais a voltar o seu olhar piedoso para as situações que o merecem, ou a dar uma beliscadura sem acanhamento em momento oportuno, quando tal se impõe, sem se deixar corromper! Independentemente do ideal que cada um possa ter, devia haver um denominador comum em todos nós, que marcaria toda a diferença, bastando que cada um tivesse a sensibilidade mínima necessária para não meter o pé na argola nas alturas menos próprias, vamos dizer assim...
Lá dizia Saint Exupery: "És eternamente responsável por aquilo que cativas", que é como quem diz, por aquilo que fazes de bem ou de mal a ti próprio e aos demais! Infelizmente a satisfação do ego e o orgulho falam mais alto nas várias camadas da sociedade, impedindo o Ser humano de vislumbrar o que sem esforço é possível ver quando se é dado a sentir/ver com os olhos da alma... e aí se chega à essencia da felicidade!
Na minha humilde opinião, faz muita falta a muita gente alguns instantes de reflexão sobre aquilo que lê, aquilo que ouve e até aquilo que possa ver, pois a introspecção é um nutriente importantíssimo para a alma, precisamente, até porque ajuda imenso a polir as suas arestas! (sorriso rasgado)
Com o contributo daqueles um pouco mais sensíveis do que os demais ainda se cria um viveiro para evitar a extinção da espécie e quem sabe, com jeitinho, ainda se propague um bocadinho!!! rsrs
Que eu possa contribuir, de algum modo, para carregar o alforge de quem cruza o meu caminho no dia-a-dia, seja em que lugar for e seja eu capaz de aprender até morrer, o que me falta descobrir e não darei por perdida a minha vinda a este mundo!

Um abraço,
Ana

Ana:

Neste mundo competitivo, selvagem e descrente, vivemos numa sociedade demasiadamente desligada dos valores essenciais ao progresso da humanidade. Quando os "enviados de Deus" se manifestam, seja por acções especiais que cometem em prol dos seus semelhantes, seja por subjogados ao desmando da falta de escrúpulos, seja pela dôr de uma doença ou deficiência, os demais seus semelhantes preferem ignorar, desviar o olhar, lamentar mas com a distância necessária para não ser incomodado.

Sim, porque acredito que todos aqueles que sofrem são "enviados de Deus" que desviam a cortina, mostram o caminho, revelam a luz que está para lá da neblina. A sua missão, carregada de dôr e sofrimento, é uma só: revelar a essência da vida.

Mortais, cegos de espírito, somos ignorantes, surdos de alma. não reconhecemos na esmola de um pobre, a partilha; não compreendemos na dôr dos aflitos, a compaixão; não entendemos nas lágrimas do oprimido, a entreajuda , não respondemos ao cego com a voz da solidariedade e gritamos ao surdo com a esteria dos importunados...

E caminhamos assim, por séculos de história, cheios de tudo, que é nada, pois somos nada: nascemos nus e a morte é nossa por certeza....

Alguns de nós, por rasgos de lucidez, conseguem alcançar raios dessa luz suprema e reparadora. Ainda há esperança.... pois esses "enviados de Deus" lá vão conseguindo rasgar o véu que enturpece as mentes eos corações, embora lenta e esforçadamente.

Que os "anjos na terra" não desfaleçam as asas, que os "enviados de Deus se alentem.... que esta missão nos alveje e nos converta ao amor, para salvação do mundo....

Desculpe esta minha dramática dicertação, quase em tom de oração biática, mas nada mais é que um desabafo revelador do desalento que nutro pela actual condição humana: insensível, egoísta, materialista e fraca. Apesar de invocar o "amor", sei que este está despojado, ignorado e enturpecido pela ilusão do desejo e da vontade.
Quero ter esperança, até porque ainda me restam exemplares desse "artigo" raro para não me desanimar de vez.

Coragem, abraços

LDias

Estou certa de que muita gente partilhará desse seu desabafo em forma de dicertação. Do meu ponto de vista, apenas veio promover mais um bom momento introspectivo, necessário para cada um procurar fazer o que possa estar ao seu alcance para vislumbrar e usufruir de alguma daquela luz da que mais falta faz para que o mundo não seja tão duro para alguns...
Felizmente, também na minha vida há bons exemplares desse "artigo", que tão bem a temperam!
Coragem todos temos, uns mais do que outros, mas a esperança, essa nunca pode morrer, nem se pode deixar que adormeça! Então, que essa coragem se transforme numa chama libertadora para afastar desânimos e pensamentos derrotistas. Quem nasce com algum "Q" de especial tem uma relíquia em si mesmo que só tem de saber valorizar e não deixar que lhe deitem areia para os olhos!Abraços,
Ana

Olá, eu discordo de algumas opiniões, as quais li nos comentários, pois uma pessoa deficiente visual pode sim namorar alguém que não porte nenhuma deficiência, pois meu namorado é deficiente visual, e a deficiência nunca foi nenhum impecilho em nosso relacionamento, somos todos iguais independente de cor, raça, ou classe social.
Li em um comentário acima que só uma mulher muito feia namoraria um deficeinte visual, discordo, pois me considero uma mulher bonita, nunca tive problemas em arrumar namorados, ou ficantes.
No amor não existe deficiência!

Olá,
Concordo inteiramente consigo! Só tenho pena que muita gente não pense dessa forma. Há muitos normovisuais que não se imaginam com uma pessoa cega, o que para mim é uma parvoisse ou até ignorância e discriminação.
Na minha opinião, todos os cegos que digam que é impossível uma pessoa normovisual namorar om eles, acabam por estar a regeitar a sua própria cegueira, tal como eu fiz há uns anos atrás, quando tinha mais ou menos 12 anos. Devido à regeição da minha cegueira acabei por pôr na cabeça que um rapaz de quem eu gostava na altura não gostava de mim pelo facto de eu ser cega. Essa fase já passou mas infelizmente a verdade é que há gente assim, só não podemos pensar que isso é um mal geral e que por esse motivo nenhum normovisual se possa apaixonar por uma pessoa cega.
Cumprimentos

Sofia Santos

Sim, de facto é verdade. Eu até hoje nunca fui abordada por nenhum normovisual no sentido de querer ter algum tipo de relaclacionamento para além de uma amizade mas claro, acredito que nem todos sejam assim. Já passei por uma fase em que pensei que o rapaz de quem eu gostava na altura não gostava de mim por eu ser cega mas eu própria estava a regeitar a minha própria cegueira. Isso já passou. Já não penso de igual forma mas é certo que essa discriminação existe mas claro, não em todosos casos.
Beijinhos.

Sofia Santos

Olá Ana,
Referindo-me aos desleixes, posso izer-te que isso é algo absolutamente normal e até certo ponto acho que é saudável. Digo isto porque, por exemplo, sou a única pessoa cega na minha família e por vezes até eles se esquecem que sou cega. Não vejo isso como um aspecto negativo pois é sinal deque aceitamos a pessoa tale qual como é a certo ponto de por vezes nos esquecermos da sua própria deficiência. Há que ver o lado positivo disso.

Sofia Santos

Olá Sofia

Tenho 37 anos e sou cega total. Nasci com Glaucoma e já passei por todas as etapas que possas imaginar:

Até aos 16 anos fiz uma vida normal. Nessa altura comecei a perder visão de forma lenta e gradual. Aos 18 anos, altura em que a perda de visão me começou a causar sérias dificuldades,iniciei um processo de reabilitação. Nessa altura conheci pessoas com o mesmo problema mas até aí não fazia ideia do que era ser deficiente. Os meus pais nunca tinham conversado comigo sobre o assunto, (talvez por também nunca ninguém lhes ter explicado), pelo que sofri muitas angústias. Nesse tempo era jovem e tinha a garra de quem luta pela sobrevivência. Queria viver e esforcei-me por ser independente. Era irreverente e inconformada, levantei as mãos e fui á luta.

Durante a minha adolescência e juventude, no tempo de namoro, não conhecia pessoas com problemas. A deficiência era assunto pouco falado. Sempre me relacionei e namorei com normovisuais, aliás, era assim que eu me considerava.

Aos 18 anos fui considerada deficiente visual, grande amblíope. Ainda não usava bengala, não lia braille e tinha muitas dúvidas. Tentei conhecer pessoas com os mesmos problemas para adquirir conhecimentos que me permitissem ultrapassar as dificuldades.

Nesse tempo, comecei a namorar com aquele que é hoje meu marido. Um rapaz normovisual de quem era amiga há muito tempo.

As minhas dificuldades visuais não foram um entrave pois nem sequer nos ocorriam tais preocupações. No entanto, e para evitar constrangimentos, usei de toda a honestidade e disse ao meu jovem namorado que sofria de uma doença que me poderia causar a cegueira. Não sabia quando ela iría ocorrer, se era certa mas era um perigo real. A sua resposta jamais esquecerei: "Amo-te como és".

De grande amblíope passei a visão reduzida e, depois dos 30anos fui considerada cega, primeiro com resíduo visual, e há poucos anos atrás, cega total.

O namoro, de 6 anos, com o meu agora marido foi muito feliz, saudável e emocionante. Trocamos promessas, cometemos loucuras e partilhamos sentimentos. Tudo o que qualquer namoro precisa para florescer. Agora estamos casados e já lá vão 13 anos.... o que achas? A nossa filha tem 6 anos e é fruto de um grande amor.

Ao longo deste tempo, nem tudo foi um mar de rosas, claro. a sua família não me aceitou como eu gostaria. Sofri muito com isso, acredita. Agora já me aceitam melhor mas graças ao meu esforço de nunca me autodesvalorizar. Aquele que realmente importa, o meu marido, nunca me abandonou: Nunca criticou as minhas falhas, nunca desprezou as minhas dificuldades, nunca exigiu mais do que eu poderia dar. Respeitou sempre as minhas incapacidades, apreciou sempre as minhas capacidades.

A discriminação é cruel. magoa, destrói, desanima. O amor é mais forte, dá coragem, alento e é fonte inspiradora. Qualquer relação passa por momentos bons e menos bons, mas se o amor está presente, como fonte de vida, alicerce de apoio, tendo como viga mestra o respeito, e a confiança e a solidariedade como betão, qualquer relação será sólida e duradoura.

As relações, sejam elas quais forem, sejam os intervenientes como forem, precisam de bases sólidas para que, quando abaladas, possam resistir. As feridas surgem mas é preciso saber como tratar delas. O diálogo,, tendo por base de sustentação a sinceridade e a confiança, é a melhor forma de auscultar o bater de uma relação. Acredito que muitas relações são afectadas por falta de sentimentos de união, ou de um projecto cumum, em que o egoísmo causa a cegueira da alma. Egoistas e cegos de espírito, não percebemos que algo está para além de nós e que não somos o centro do universo. Muito mais existe....

O amor salva as relações, aceita as diferenças, resolve as contradições. O amor é como as duas partes de um todo que se unem para que o todo se complete e sem as quais o todo não sobrevive. Se eu não consigo ver a luz, ele segura a minha mão e leva-me em segurança; se ele não consegue caminhar no escuro, eu seguro a sua mão e trago-o para porto seguro. Assim é o amor, uma comunhão de "dar", "receber" sem nada exigir, incondicional.

Com deficientes ou com normovisuais, acredito que ainda tenhas muito para viver. Assim, vive, pois viver é bom, apesar de não ser fácil. A vida é cheia de encontros e desencontros. As pessoas são complexas pois complexos são os sentimentos humanos. A pessoa certa para ti um dia chegará, estará alí, sem que sequer te apercebas. Ela terá um rosto, uma forma, uma alma e um coração. Saberás quem ela é, no momento certo e aceitala-ás tal como é. Só assim será essa a pessoa certa. Se isso não acontecer é certamente por não ser essa a pessoa do teu destino....

Auto-confiança, auto-valorisação, respeito por ti mesma e pelos que te rodeiam, coragem, força de vontade e alguma humildade, serão importantes armas de defesa nos momentos de desânimo..

Ldias

Olá,
Obrigada pelo seu comentário. Embora ainda seja jovem, concordo com a sua definição de amor.
Beijinhos

Sofia Santos

Respeitáveis usuários deste site.

Sinto-me impelido a comentar este post, visto que várias foram as testemunhas femininas, mas pouco foi dito a respeito do outro lado desta relação.
Primeiramente sou homem, apesar de muitos acharem o contrário devido ao apelido, e já sou cego a sete anos.

Desde que perdi a visão, venho procurando maneiras de me incluir, com todas as diferenças, ao mundo de diferentes. Isso implica em muitas coisas que escuso-me em comentar. Mas algo que se encaixa ao contexto, é quando desejei, diversas vezes, ter relacionamentos com figuras femininas e graciosas, mas não fui correspondido por estas verem um obstáculo nesta relação.
Não consigo entender, mas as “normovisuais” se aproximam apenas desejando amizade, e vendo-me como um arcano, que não possue malícias ou desejos. Isso quando não possuem algum interesse, mas os medos e receios são maiores, consequentemente sobrepujando o desejo inicial, mesmo porque já disseram várias vezes que devido ao que sou fisicamente, se não tivesse perdido a visão, teria sido um enamorador das mulheres...
Não podemos dizer que o mundo é visto com os óculos do amor, porque são poucos os que sabem o que realmente é o amor. Hoje é muito falado, mas pouco aplicado. As pessoas só ficam com aqueles que possuem uma aparência que condiz com o padrão; que não sejam gordos, que sejam dessa ou daquela forma, que enxergam... Isso por verem o amor de outra forma. Mas é porque eles vêem de outra forma que não é a forma adequada? Jamais saberemos, visto que para defini-lo e padronizá-lo, necessitamos utilizar a lógica, que é o extremo oposto do sentimento, nesse caso, o amor.

O fato é que não devemos discutir probabilidades de acontecimentos em milhões de Km2 expalhados pela crosta, e mais de seis bilhões de pessoas, com apenas uma dessas experiências, pois acho louvável o ponto de vista das garotas aqui presentes, mas quero dizer que não é o modo de ver a vida da maioria das pessoas. Deve-se deixar de discartar probabilidades e acontecimentos, mesmo porque os casos positivos acontecem, mas também há os negativos, que como eu descrevi aqui, fazem-se presentes.

Estrelas chocando-se com outras estrelas, podem se fundir, como podem gerar um buraco negro...

Abraços

Sidarta

Sim, parece que hoje em dia o mais importante é o físico e não a parte interior das pessoas. As pessoas só vêem se a outra pessoa é bonita ou feia, gorda ou magra, etc. mas não se interessam por conhecer os sentimentos e a personalidade dessa pessoa que, no meu ver, é o mais importante. E sim, claro, eu estou a generalizar porque há sempre excepções à regra.
No aspecto da aproximação, eu que sou rapariga posso dizer que também se passa o mesmo da parte dos rapazes se bem que, muitos deles, nem chegam a aproximar-se muito e, quando se aproximam mais, parece que nem lhes passa pela cabeça terem uma relação amorosa com uma rapariga cega. Muitas vezes a verdade é esta. Acho que seria muito bom se as pessoas normovisuais mudassem um bocado de mentalidade e pensassem que nós somos um ser humano como outro qualquer sejamos deficiêntes, gordos, magros, bonitos, feios e por aí adiante. Mas bem, a parte boa é que há sempre excepções à regra, há sempre alguém que não pense assim e que consiga olhar para nós sem vergonha. Não é bem esta palavra que eu quero dizer mas agora não me está a ocorrer mais nenhuma. Obrigada pelo seu comentário.
Beijinhos

Sofia Santos

Em resposta a um comentário da Sofia Santos (30-10-2009) e após ter lido alguns outros comentários, não posso deixar de tecer um comentário, provavelmente algo alongado, a reforçar o que venho dizendo desde há algum tempo, aqui e ali, na expectativa da desejada mudança de mentalidade, para o que seria quase necessária uma espécie de inversão de factores, do tipo, haver uma minoria de normovisuais no mundo, o que efectivamente não sucede. Mas não vamos tão longe!
Imaginem um qualquer evento social, por exemplo, não direccionado a cegos, mas onde estes se encontrassem em franca maioria, num daqueles convívios tão salutares... acreditem que os normovisuais presentes nesse mesmo encontro iriam reparar em vocês, é um facto, como reparam em qualquer normovisual que passa a seu lado na rua, mas nesse contexto em particular, iriam ter oportunidade de captar informações úteis para melhor vos conhecerem, quanto à vossa personalidade, ao modo de estar, ser e agir, etc. Mais cedo ou mais tarde iriam captar a vossa simpatia e iam acabar por se render às evidências do encanto da vossa diferença, como eu mesmo vi normovisuais em minoria render-se em vagãos de comboio, por exemplo, diante de uma bela tripulação de cegos e seus cães-guia que se dirigiam para aquele arraial habitual em Mortágua. Senti-me muito feliz por perceber que estava a decorrer ali uma aprendizagem, entre crianças e adultos, ou a farsa era muito grande! Acreditei que aquelas pessoas teriam ficado marcadas para sempre com excelentes registos de gente fantástica, súper divertida e brincalhona (cega), educada e capaz de se "desimerdar" sozinha (vamos dizer assim) com as suas bagagens e seus guias, ou até bengalas. Em outro vagão onde menos cegos seguiam, pude reparar em alguns olhares inicialmente constrangidos, talvez, mas que logo se deixaram "converter" e me passavam olhares de autêntica cumplicidade, que tão me faziam sentir... sintonizamos no ar o valor do encontro entre o mais e o menos comum como algo importante para desfazer maus entendidos, ou quaisquer imagens menos boas que cada um possa construir no seu imaginário e que impedem, por ventura, de se dar a conhecer e ter interesse em conhecer o outro e, posteriormente, com ele se relacionar de modo mais próximo.
Concretizando e exemplificando, se no súper mercado, no restaurante ou no café, no centro comercial, na discoteca, ou no cinema, ou em algum espectáculo musical, teatral, ou outro, se encontrar um número mais considerável de cegos, cruzando o caminho dos dos normovisuais, estou certa que deixariam de vos olhar de modo diferente com a tal pena e até vergonha, como alguém falou, mas com uma expressão do tipo "já conheço estes tipos e sei que são uns gajos porreiros. Sei do que são capazes de fazer, não há nada de novo neles, são como eu, por isso, não vou dar-me ao trabalho de perder tempo a contempla-los... para criticar o quê, depois?" Não sei se vos fiz passar bem a imagem, mas a essencia parece-me ser esta. Basicamente, ao deixar de ser o cego a minoria (ainda que continue sendo, ok, mas não de modo isolado), já não estaria tão escondido na sombra e menos exposto, as sensações do "desconhecido" no normovisual mudariam, favorecendo a natural mudança de mentalidade e de comportamento, posteriormente, para com os cegos em geral, quero acreditar! Naturalmente, que tal como eu mesma tive de aprender muitas coisas sobre vocês, há muita coisa que vocês têm a ensinar aos normovisuais de um modo geral e isso só é possívek em contexto real, dado que ninguém se vai inscrever em cursos de formação para o descobrir, a menso que seja familiar próximo de algum cego, imagino.
Ora, se o convívio com A, B e C não é capaz de promover comentários e interferir com mentalidades e gerar mudanças na sociedade, só importa gizar actitudes/ projectos arrojados para a promover...
O Aparthaide não ocorreu a partir de mentalidades inconformadas que desejaram lutar por um ideal que achavam justo conquistar? Foi suado, teve o seu mérito e por certo não gerou arrependimento em ninguém nos dias que correm! Não é para comparar, mas a essência dá para ver qual é.... Vale a pena o esforço e o desejo de tentar fazer algo para mudar o rumo das coisas na sociedade quando se percebe que as coisas podiam ter um rumo melhor se os próprios cegos se "impusessem" à sociedade normovisual. A melhor sensibilização, acreditem, é passível de surgir do "confronto massivo" para deixar marcas profundas em quem cruza o vosso caminho. além de melhor conseguir transmitir o vosso lado mais preservado quando vão sozinhos pela rua, mas bastante atraente para quem vos conhece no convívio diário, favorece um melhor conhecimento sobre a vossa personalidade nada coitadinha e ainda terão a chance de deixar que se encantem por alguns de vós e com o passar do tempo e a possibilidade de se relacionarem mais frequentemente com alguns normovisuais, quem sabe o romance não venha a pairar no ar... tudo vai do dar-se a conhecer, lembrem-se disso!
Promovam encontros/ actividades conjuntas aqui e ali (meros encontros banais de amigos com o propósito de marcar presença), de modo a contribuir para que vos conheçam melhor no dia-a-dia e vos saibam valorizar como deve ser. Não pelo A, pelo B ou pelo C, mas pelo conjunto dos cidadãos cegos, sobretudo daqueles que não saem de casa por se sentirem manietados pela falta de confiança neles, por parte de seus familiares tolhidos por vergonhas, medos e sei lá o que mais...
O Lerparaver é realmente uma porta aberta para uma interajuda fantástica na troca de impressões entre todos e para quem mais necessita de apoio moral conquistá-lo e não abrir mão dele! Não deixem de se apoiar mutuamente e aproveitem esta e outras janelas para gizar pequenos projectos, aparentemente banais, mas que se traduzirão em oportunidades para transmitir mensagens importantes em público, que vão além das actividades divertidas que se levam a cabo no Arraial de Mortágua! Dancem em grupo, como se ninguém estivesse a olhar, beijem, fumem mas não se droguem (faz mal lol), riam bastante das piadas que vos ocorrem na hora certa, com aquele humor que tantos de vós têm e divirtam-se, experimentando roupas e calçado e nem que cheguem ao fim a dizer que não gostam de nada para comprar, por este ou aquele motivo (sem mostrar arrogância ou indelicadeza, claro, para não passar ideias erradas!). Em suma, ocupem mais espaço em cada espaço da cidade onde moram (não nos mesmos sítios) e deixem que outros humildes desconhecidos vos conheçam, também, nem que seja de vista e sintam orgulho um dia, em se aperceber que foram capazes de mudar de mentalidade, a partir de algo que puderam observar no vosso comportamento ou atitude, por vocês se terem cruzado no seu caminho, até na paragem do autocarro e se deram ao luxo de meter conversa com alguém para mostrar o vosso lado simpático, mesmo no taxi ou seja lá onde for! Não entendam estas palavras como uma espécie de ida ao Zoo para ver os diferentes animaiszinhos, pois nada se assemelha a isso. Procurei transmitir-vos impressões que recolhi com os meus olhos e que após ter feito uma sessão de apresentação numa turma de formação, evocando o tema em causa, percebi as inúmeras dúvidas e desconhecimento de tanta coisa e vi o olhar de um certo espanto e simultânea valorização sobre o cego, depois e eu explicar uma série de coisas e mostar imagens ilucidativas de tantas outras coisas. Portanto, acredito que aquilo que vos disse rezume aquilo que me parece importante fazer, para dar um contributo a essa tão desejada mudança de mentalidades e possibilitar uma melhor compreensão e relação entre todos como iguais!
Boa sorte e no que puder ajudar, podem contar comigo...

Olá ana!

Parabéns por teres mandado este teu comentário, que reforça uma palavra tão falada mas ao mesmo tempo difícil de conseguir pelos mais diversos motivos: inclusão!

Beijinhos.

Tiago Duarte

Tiago Duarte

Olá,
Sim, concordo inteiramente com a sua opinião mas nem sempre é fácil. Há muita gente que fala de mim aos pais, por exemplo mas que, se vão na rua e passam por mim nem olá me dizem. Não consigo compreender isso.
Eu própria, em conjunto com os professores organizámos algo do género, ou seja, tentar criar um convívio entre cegos e normovisuais mas nem isso resultou com os meus colegas. Fui praticamente posta de parte e ainda me disseram na cara que, quando os professores faziam mais pressão para eles andarem comigo era quando menos lhes apetecia, nunca vou esquecer esta frase. Se ainda há discriminação a este nível, quanta haverá no amor... Claro, acredito que nem sempre seja assim, há sempre gente que consegue olhar para nós e ver-nos como outra pessoa qualquer, sem pensar que somos uns coitadinhos, etc. Acho que é necessário fazer algo para que esta sociedade deixe de olhar para nós com pena, constragimento e por aí adiante.
Beijinhos

Sofia Santos

Amiga,

O que é preciso é tentar, e não desistir... são breves palavras que aqui te deixo mas acredita, com boa intenção.

Beijinhos e coragem para enfrentar a vida.

Ah, se não conseguires conquistar o amor de uma pessoa que vê com os olhos, deixa-te contagiar por uma que vê com o coração, que tenho esperança que vais encontrar.

Tiago Duarte

Tiago Duarte

Quem disse que era fácil conviver com gente diferente de nós mesmos? Francamente, do meu ponto de vista, o ideal nem era tentar dar a mão a quem conhece mas a quem desconhece, ainda... Esses seus colegas demonstraram aquilo que são, pessoas sem a menor sensibilidade e capacidade para se confiar neles, logo pouco dignos da sua amizade, sequer. Portanto, passo a recordar uma frase que combata esse triste pensamento que não lhe sai da memória, por enquanto até insistir nisso: "O que vem de baixo não me atinge, nem eu deixe que suba". É um facto que não somos feitos de pedra, portanto há coisas que não nos são totalmente indiferentes, antes fossem, mas esta postura a adoptar tem de se tornar um hábito, a fim de impedir a crença estupida e até infundada, de que essas criaturas são superiores, quando é o oposto. Tanto assim é, que vocês conseguem dar a volta por cima e não lhes ter ódio, nem agir de modo vingativo, correcto? Então, tem de passar a dar menos cartão a essas situações e pensar que forma importantes na sua vida para a tornar uma pessoa mais forte e bonita por dentro, mas acima de tudo, pronta para novos desafios e marcar o seu lugar na história! A sua vinda a este mundo não pode ser em vão, nenhuma vida é em vão!
Mesmo sem marcar encontros com amigos normovisuais, pode encontar-se com amigos cegos, até mesmo das lista onde está inscrita e fazer algo divertido, com a maior normalidade do mundo e não passar despercebida, é um facto, pelo simples facto de haver sempre um olhar curioso algures, mas em bom português... "cague nisso". Divirta-se com cabeça, conheça novos amigos cegos que sejam e através deles até pode vir a conhecer outros normovisuais que valham bem mais a pena e estejam disponíveis para acolher a sua amizade e, quem sabe, a seu tempo, algo mais!
Está nas vossas mãos agitar estas águas e pescar algo melhor para a grande festa, depois... (ânimo)
Beijinhos.

Pois é sofia! Tenho muita pena que penses dessa maneira, sinceramente e sem estar a tentar desculpar-me de alguma maneira por vezes é complicado termos que fazer aquilo a que nos obrigam.
Até certo ponto eu entendo a tua parte, mas gostava que pelo menos o tivesses expressado na devida altura e não lamentar ou repreender-nos agora, pois já não resolve nada. Dizes que agora que estas na faculdade te dás muito melhor com os teus colegas e que a experiência que tiveste com a nossa turma de 12º ano foi horrível, compreendo e até te consigo explicar que é complicado por parte de adolescentes sermos obrigados a falar com uma pessoa que não conhecemos; até para ti.
Sabes bem que os professores faziam bastante pressão para que nós falássemos contigo desde o primeiro dia e estivéssemos contigo, e nós não o fazíamos só porque eles o pediam, fazíamos também porque achávamos isso normal pois é o que fazemos quando temos colegas novos na turma, mas o facto de nunca termos lidado com uma pessoa cega fez com que nós nos reprimíssemos e não soubéssemos como começar uma relação contigo, não por seres diferente, não por não veres, não! Porque nunca nos aconteceu!
Certamente conheces o sentimento de receio, teres ou quereres fazer uma coisa e não saberes como. Tal como tu referiste não sabes como começar uma conversa, és um pouco tímida, mas que a partir do momento em que começas a falar as palavras saem e o discurso flui, pois no nosso caso era a mesma coisa.
Dou te até um exemplo, se te obrigassem a namorar com alguém que não conhecias mas tivesses que o fazer, sentias o mesmo que nós, porque secalhar essa relação se fosse natural podia fluir e gerar frutos, uma amor, uma amizade mesmo que mais tarde acabasse, mas obrigando-te a faze-lo com certeza que não era a mesma coisa, não irias conseguir descobrir a outra pessoa ter uma relação normal, o que se cria é uma coisa que nem relação é e nem existe na realidade, é o fruto de uma exigência.
O facto de achares que te tratávamos como uma coitadinha é pela razão que ate tu própria não te devias sentir bem pelo facto de saberes que ao falarmos contigo seria so porque nos pressionavam para faze-lo, não como já expliquei não era so essa a razão.
Portanto, agora os teus novos colegas têm uma relação normal contigo, não foram obrigados a faze-lo, fizeram de livre vontade, não ouvem todos os dias os professores dizeres que não falam contigo, é pena que não tenha acontecido com a nossa turma…
Os professores também só nos sabem dizer o que é correcto nós fazermos, secalhar já passaram por uma experiencia semelhante, quem não passou e como tudo na vida a primeira vez é sempre um mundo por descobrir algo novo a alcançar, e quando as coisas não começam como gostaríamos, tornam-se diferentes e irreais.
Enfim, espero que essas tuas novas relações dêem resultado e que cries laços reais com essas pessoas! Boa sorte para o teu futuro e não guardes mágoa do teu ultimo ano de secundário, da minha parte nunca tive intenção de te magoar ou teres esses pensamentos por nós.
Francamente creio que tenhas agora entendido o porquê das nossas acções.

Soraia Custódio

Ok Soraia, eu tento entender-vos um bocado mas vocês também não fizeram com que eu me sentisse à vontade para falar grande coisa, eu sentia-me completamente posta de parte. Não sei se consegues entender qual é essa sensação. O que farias se estivesses ou se te sentisses excluida de uma turma? Que atitude tomarias? Eu sei que isto varia de pessoa para pessoa. Desculpa que te diga mas foi a pior turma que eu apanhei tirando uma ou outra pessoa.

Vou dar-te um conselho, a ti e a todos os normovisuais que lerem isto: se voltares a ter contacto com uma pessoa deficiente visual ou com qualquer outro tipo de deficiência, olha para ela de igual forma, ou seja, lida com essa pessoa como lidas com quem está à tua volta. Não fiques com receios pois nós não somos nenhuns seres estranhos. Somos humanos e podemos fazer tudo como qualquer pessoa.

Não guardo ódio de vocês, guardo apenas tristeza e talvez algum rancor.

Sofia Santos

Caramba! como a cegueira criou polemica entre vocês, sabe no meu ciclo de amizades nunca convivemos com uma pessoa cega, e de repente apareceu um jovem cego entre nós e ninguém refutou ele não! e ninguém deu ordens para falarmos com ele andarmos com ele. Foi tudo natural, na verdade ele era até assediado demais eu acho, não despertou nenhum tipo de timidez ou desprezo, somente curiosidade e amizade, era uma das pessoas mais populares no grupo. E olha que ele era timido!
A curiosidade sim acho que impossivel não surgir, sabem se voces estão todos tao preocupados em esclarecer as coisas isso significa que todos tinham dificuldades em criar uma relação, mas que apesar disso se respeitam porque não marcam um encontro pra conversar pessoalmente , relembrar as coisas boas, e esclarecer as duvidas, se voces tiverem boa vontade acho que vai ser um dia muito divertido e proveitoso! uma festinha hein? com um monte de brigadeiro ! hummmmmmmmmm
abraços sejam felizes

Viva Soraia,

Antes de mais, o meu comentário não tem como objectivo atingir/ofender/atacá-la, mas sim fazer com que veja as questões que colocou sob outro ponto de vista.

Para começar: sim, pode até ser meio aborrecido ter um professor, digamos assim, a chatear um bocadito.

Por outro lado, o facto de uma pessoa não se dar ou não se aproximar de outra com deficiência visual deveria ser algo independente disso. A meu ver, há uma diferença grande entre aquilo que um professor pede, e as relações que estabelecemos.

Por exemplo, aproximar-se-ia da Sofia se nenhum professor tivesse feito «pressão» para tal? Se quer que lhe dê a minha opinião sincera, eu acho que não faria isso, por causa de uma frase que disse:

«o facto de nunca termos lidado com uma pessoa cega fez com que nós nos reprimíssemos e não soubéssemos como começar uma relação contigo...»

Se não faziam ideia de como iniciar uma relação com uma pessoa cega, porque é que haveriam de passar a saber fazê-lo se um professor não fizesse «pressão» e/ou não desse incentivo de alguma forma?

Agora, faço-lhe uma pequena proposta:
Peço apenas que faça um pequeno esforço e tente inverter os papéis... Imagine que é cega, Soraia, e está numa turma onde muito poucos falam consigo. Ou melhor, imagine que quase ninguém fala consigo, e, quando o faz, é por um motivo mínimo, por exemplo, para perguntar se precisa de ajuda. Ou melhor ainda, imagine que nem para isso falam consigo. Como se sentiria?
Como se isso não bastasse, imagine que teria de passar o intervalo sozinha, sem ninguém da sua turma, sem ninguém para compartilhar uma pequena ideia sobre um determinado assunto, para tirar uma pequena dúvida ou até para estudar em conjunto, ou para fazer aquele trabalho de casa que ficou para o último intervalo antes da aula. Pessoalmente, para mim que já passei por isso, é algo que já me deixou absolutamente em baixo.

Em relação ao seu exemplo, de fazer com que uma pessoa namore com outra por obrigação, é algo completamente distinto do que estamos a discutir aqui... Num namoro, é preciso que haja compreensão, respeito, sinceridade de ambas as partes e, sobretudo, amor verdadeiro. Amor verdadeiro que, na minha modesta opinião, tudo ou quase tudo vence.

Mas ao tentar estabelecer contacto com uma pessoa cega, há que, primeiro, ter a consciência que está a falar com uma pessoa que, apesar de não ver, é igual a qualquer outro ser humano.

Sei que pode haver algum receio quando se conhece uma pessoa cega, Soraia, mas pense no seguinte: pode ter uma pessoa com a visão normal na sua turma, pode aproximar-se dela, mas ela pode não querer qualquer tipo de aproximação. Por isso, pedia-lhe que, quando conhecesse alguma pessoa cega e/ou com algum outro tipo de deficiência, fale com ela como falaria com qualquer pessoa que não tivesse nenhuma deficiência aparente, não tenha medo de dizer as coisas que, no seu ponto de vista, podem parecer erradas e/ou incorrectas.

Por exemplo, se estiver a falar com uma pessoa cega, pergunte sem receio «viste o programa x ontem?». E espere pela resposta, tal como faria com umapessoa normovisual, que pode ou não ter visto o tal programa em causa.

Para finalizar por agora, lembre-se:
Não se vê apenas com os olhos. Há diversas outras formas de se poder ver. E, tal como se pode ver sob diferentes aspectos, há coisas que também se sentem de diversas formas.

Elton Rocha

Elton Rocha

está muito bem expressa a ideia e eu só queria acrescentar uma coisinha de nada que é o seguinte: nunca tive stresses desses com a turma. só houve duas pessoas que não me topavam muito bem: o Joca, porque não gostava do barulho que a máquina de Braille fazia e até pediu a transferência de turma por causa disso; e o Bruno, porque eu fazia-lhe frente e não levava recados para casa... Ele não era o dono da escola! Mas, fora de brincadeira: os professores, nas suas boas intenções de integrar à força, caem nesse tipo de pressão: "vocês têm de falar com fulana, vocês têm que ajudar fulana", e isso assim deve ser chato. E também há aqueles setores que também tratam o aluno deficiente de forma diferente, o que também incomoda os outros, seja porque o aluno é tratado como um coitadinho, ou porque é supervalorizado em relação aos outros... ATÉ certo ponto, conheço um bocadinho do lado B da questão porque eu e umas miúdas da turma éramos muito amigas de uma pessoa que durante a adolescência desenvolveu uma patologia psiquiátrica grave, a saber, anorexia nervosa. Aquilo prolongou-se durante anos, até ela tar na faculdade, e ser enternada várias vezes por causa dessa cena e, entretanto, os prof.s andavam sempre em cima de nós, para tomarmos conta dela, para ela não ficar sem comer, para lhe guardarmos a senha do almoço, e sei lá eu que mais... depois desses enternamentos, chegamos quase ao desespero de ver uma pessoa definhar e nós a vermos... foi uma cena triste, mas aos poucos, em razão das mudanças que a vida ia tendo e devido a tanta pressão que o problema nos causou, fomo-nos afastando, sempre com a sensação que não sabíamos o que fazer...

Sofia, eu acredito no que referes acerca dos teus colegas, não porque eu tenha passado por isso, mas porque estamos a falar de pessoas em fase de final da adolescência e por causa disso, e por causa da mentalidade da sociedade em geral, é bem possível que isso suceda. Quando andava na escola, só os professores é que me lembravam que eu era cega, porque pelos colegas tal não acontecia, felizmente. Eu pedia para brincar com eles, dizendo até o que é que eu podia fazer no jogo. E cheguei a cair e partir dentes por causa disso mas eles também se espalhavam para lá... Mais tarde, se o pessoal com quem eu me dava melhor ia ao café, ao shopping ou assim, eu também ia naturalmente. Porque havia sempre alguém que dizia: "eu também vou", ou alguém me dizia: "anda também". Cheguei a ir ao futebol com a malta e nunca ninguém me perguntou o que é que eu ia lá fazer! Aquilo que eu procurava era interessar-me pelas coisas que interessavam ao pessoal, achando que isso também era do meu interesse: afinal eu também gostava das mesmíssimas coisas. Claro que o pessoa via os meus livros e a máquina de Braille, e por isso também queriam mexer e ver se eram capazes de perceber alguma coisa; também achavam graça ao meu computador; e cheguei a apresentar rapazes cegos a amigas minhas da escola e para elas eram rapazes como os outros: queriam era conhecê-los, tal como eu queria conhecer os amigos delas. Sofia, lá na tua turma não fazem trabalhos de grupo em casa uns dos outros? Se sim, podias falar com os teus pais e combinarem um trabalho em tua casa, e depois arranjavas-lhe um lanchinho simples. Parece uma coisa parva mas aí aquela meia dúzia de pessoas ia ver que tu és uma pessoa normal, que faz o mesmo que elas e que tens acções bondosas. Tudo leva tempo, mas há que começar por algum lado. bjs

Olá,
Bem, felismente este ano tenho uma turma fantástica. Entrei este ano para a faculdade e as coisas têm sido bem diferentes. Eu tive uma experiência horrível mas foi com a minha turma do ano passado, ou seja, no meu 12º ano.
Ao contrário da minha turma que eu tive no ano passado, este ano encontro-me perfeitamente integrada na minha turma. Dou-me bem com eles, sou tratada e penso que sou vista como uma pessoa qualquer e quando eles saem eu vou também! Quero eu dizer com isto que aqui já não sou posta de parte e também não sou tratada como uma coitadinha e sinto-me muito feliz por isso.
Em relação aos trabalhos de grupo, já não fazemos uns em casa dos outros mas, de qualquer forma, eu faço sempre os possíveis por mostrar que sou uma pessoa como outra qualquer, até porque é assim que eu me sinto. Não podemos aproveitar-nos da cegueira para chamar a atenção de outras pessoas pois assim seremos tratados como coitadinhos mas também não podemos ser arrogantes perante ninguém só para mostrarmos que somos autónomos. O melhor a fazer é agirmos como outra pessoa qualquer no nosso dia-a-dia. Claro, há sempre alturas em que precisamos de ajuda em coisas que se tornem demasiado complicadas devido à falta de visão mas, se virmos bem, toda a gente precisa de ajuda em algo.
Bem, espero não ter fugido muito ao assunto e não ter sido muito repetitiva.
Cumprimentos

Sofia Santos

Em tudo o que li aqui, há pontos em que todos têm razão porque a experiência é de cada um. Mas já reparei numa coisa: quando se trata de um casal de invisuais, acho que ambos são muito mais independentes no que diz respeito à realização das suas actividades diárias, quer dentro, quer fora de casa. Quando um deles é normovisual ou amblíope, há como que uma perda de competências, ou quebra no seu desenvolvimento, da parte do que tem falta de vista, porque pôe a sua vida nos olhos do outro. Claro que isso é muito cómodo, mas para o elemento que vê, há como que uma obrigação de fazer e ser e ir e estar... E se a pessoa se cansar? A pessoa cega vai-se ver privada dos olhos do outro, e nem sempre da pessoa que se foi... Quando são os 2 cegos, não há um que exija do outro coisas como partir a comida, tratar de papéis, ir às compras, tratar da casa e das roupas, etc. Ambos têm de se desenrascar e não deixam de viver por causa disso e de inclusivamente, partilhar tarefas, coisa que não se dá muito nos casos contrários, a meu ver, por 2 motivos estranhos: o normovisual gosta do cego, sim senhor, mas depois não confia na capacidade dele fazer as coisas, e daí protege-o ao máximo, tal como alguns pais e mães. E depois, o cego vai na onda e continua ou torna-se dependente do outro para não se aborrecer. Estas coisas minas as relações. Quanto maior for a autonomia de um cego, menor é a necessidade e/ou a inferiorização em relação aos normovisuais...

Viva,

Caro membro, fala muito bem em relação a isso, mas e se um dos elementos não souber tratar da roupa, limpar a casa, etc, etc.? Não acha que depende na mesma pessoa que costuma fazer isso com ele?

Continuo a dizer que, se houver paciência e partilha, quer o casal seja constituído por cegos ou em que um dos elementos seja normovisual, ambos se podem completar em relação ao outro.

Caro anônimo,
Não sei se entendi o seu ponto de vista. Sua tese é: “Dois cegos são mais independentes em suas atividades diárias do que o seriam se um dos cônjuges tivesse visão normal”. Invoca dois argumentos: o primeiro é que cegos tornam-se mais acomodados devido à visão do parceiro. O segundo é que o cônjuge vidente não confia em suas capacidades. Pergunto-me: isto é verdadeiro? Ora, depende de que casal estejamos a falar.
Se corretamente entendi, o que discordou a L. Dias é que você expôs o fato como verdade para todos os seres da Terra. Se o cego apóia-se efetivamente no fato de seu cônjuge ter visão, então, é claro que se tornará menos independente. Mas isto decorre de sua falta de visão ou de sua falta de atitude? Neste caso, teria de dar razão ao cônjuge vidente: por que confiar no cego se ele próprio renuncia à liberdade de ação?
E se fosse verdade que tal sucedesse devido à falta de visão, então, deveríamos não verificar o mesmo fenômeno em outros casais em que ambos enxergassem. Mas o que vemos é que, em muitos casais, há um que se apóia excessivamente na capacidade do outro em fazer algo para que não se julga capaz. E se não falamos em “excessos”, então, não se trata de muleta, mas de amor. Afinal, se tanto queremos alguém que nos complete, qual a razão de estarmos completos o tempo inteiro? Tenho conhecido cegos que, ansiosos por mostrar-se independentes, tem-se tornado desagradáveis porque levam tão a sério o seu propósito, que já não podem aceitar ajuda de quem quer que seja. E assim, passam a imagem de terem narizes empinados, de não quererem o contato com o outro, de considerar-se bons o bastante para fazer tudo. A autonomia é magnífica, mas como tudo, na dose certa.
Então luís: se, no passado, você tivesse se deparado com duas mulheres. A primeira, sua esposa; a segunda, outra que, em absolutamente todas as características, fosse a ela idêntica, quem você escolheria? Em outras palavras, se o único fator de diferenciação fosse a visão, quem você escolheria? Em primeiro lugar, digo que esta escolha é absurda e, se me deparasse com situação assim bizarra, mais provável é que, tomado pelo espanto do fenômeno, não escolhesse nenhuma delas e fugisse a galope. Mas se as coisas são-me assim postas, então, pois bem: escolheria a normovisual. Por quê? Porque assim posta a decisão é mais ou menos como comprar um automóvel: bem, este tem ar condicionado, este não tem; este possui reprodutor de MP3, este não possui; este tem tração nas quatro rodas, este não possui. Mas se escolher o nosso cônjuge não é como escolher um carro e se não há pessoas rigorosamente iguais, então, por que estarmos a falar que este modelo de relacionamento é melhor do que o outro se, nos relacionamentos reais, as pessoas não se repetem, as atitudes não se repetem, as vontades não se repetem na mesma intensidade, duração e direção? Se considerasse que a cegueira é a maior de todas as bênçãos, estaria a fazer campanha para que o benefício fosse estendido ao restante da humanidade. Mas o que lhe digo é que se este for o elemento de decisão, algo de muito errado está a suceder.
Não estejamos a falar que cegos são assim ou de outro modo. A única coisa que consigo afirmar para a generalidade dos cegos é que não enxergam. Tudo mais é inconstante. Haverá gente de toda sorte e, por isso, capaz de ter toda espécie de autonomia ou dependência. Nenhum insucesso particular infirma a proposição de que a autonomia, do modo como foi aqui exposta, depende menos da visão e mais da atitude. Mesmo que constássemos que a maioria não é autônoma, penso que a afirmação prosseguiria válida. Afinal, segue a depender de cada um a atitude para construir o seu próprio caminho mais autônomo ou menos autônomo.
Cegos são pessoas como outras quaisquer. Contudo, tenho ouvido gente insegura que, considerando-se diminuídos pela cegueira, procuram ressaltar as supercapacidades das pessoas cegas como a pôr um peso adicional no outro prato da balança. Então, ficam a dizer que cegos são mais sensíveis, ou mais inteligentes.. Confesso que sua frase soou-me como se estivesse a tentar demonstrar qualquer superioridade dos cegos no que tange a relacionarem-se com outros cegos. Mas também isso não é verdade. Não só porque alguns cegos são mais autônomos do que outros e, do mesmo modo, dá-se o “efeito muleta”, mas também porque muitos cegos, tentando demonstrar que são sumamente capazes, querem prová-lo relacionando-se com um normovisual. É algo mais ou menos como um troféu. “Vejam, olhem para mim, apesar de cego, tenho um cônjuge normovisual”. Eis que cegos acabam por rejeitar cônjuges cegos por serem cegos. É extraordinário desejarem mostrar-se capazes, considerando de pouco mérito todos os outros que lhes são iguais. Porque há muitos cegos relacionando-se com outros cegos, segue que a maioria das pessoas entendem que isso é o natural e que, de outro modo, não funcionaria. Mas não se atentam que, entre médicos, engenheiros, músicos, viajantes, boêmios, religiosos ou assassinos, freqüentemente há cônjuges da mesma classe? Ora, cegos estão a todo o momento freqüentando as mesmas atividades. Não é natural que a proximidade os una? E de novo, chegamos ao mesmo ponto. Cegos unem-se a cegos não porque se tornam mais ou menos autônomos, mas porque se conheceram e, assim, gostaram-se. Se este não foi o caso, então, não falamos de relacionamentos sadios.
A propósito, agradeço aos colegas pelas demonstrações de apreço e parabenizo a Sofia pelo tema extraodinário que escolheu.

quem é o casal de pessoas cegas que; individualmente, nunca foi questionado ou por amigos ou familiares com a célebre observação: porque é que não arraste uma pessoa que vê para te ajudar? O assunto estravasa os interesses dos cegos e devia ser alvo de um estudo sociológico profundo que só nos vinha confirmar a mentalidade do português comum. E quem é esse elemento colectivo? É o vizinho, é a nossa mãe, o nosso avô, o nosso colega de trabalho e é até aquele que viaja no mesmo transporte que nós mas que o mais certo é nem nos conhecer de lado nenhum.

Olá Luís,
Estou de acordo com o que disse até agora apesar de por vezes não me expressar da forma que eu queria nos comentários que faço.
Digo-lhe que estive muito indecisa em relação aà questão de escrever ou não este texto mas agora vejo que não tomei a decisão errada. Tudo isto também me tem ajudado a reflectir e a criar uma opinião mais consolidada. É muito bom aprendermos algo com os exemplos de outras pessoas, sejam eles bons ou maus e eu, apesar de muita gente me considerar mais madura do que a maior parte das pessoas da minha idade (tenho 19 anos), acredito que ainda tenho muita coisa para aprender. É muito bom saber que estão a gostar do tema.
Beijinhos.

Sofia Santos

Desculpe-me o duplo comentario... Problemas com internet

Sidarta

Olá

Considero interessante os seus pontos de vista a respeito do relacionamento conjugal colocando em pauta a falta de visão, e concordo com diversos apontamentos que foram feitos. O que não posso deixar de fazer, é retificar algo relativo ao que escreveu no último comentário. Utilizarei inclusive, uma parte da constituição federal do Brasil como fonte a se basear.

O senhor chegou a dizer que cegos engendravam comentários querendo transparecer algo que eles tivessem de melhor, como forma de compensar a perda da visão. Em partes, concordo com essa observação, mesmo porque utilizando da lógica básica, conseguimos chegar na conclusão de que realmente, muitas vezes são, e não por serem seres de outro mundo, frustrados, ou metidos. Mas porque a vida os impõessituações a serem transpostas, e que acabam exigindo do deficiente visual, um desenvolvimento que muitas pessoas não tem por simplismente ser cômodo ficarem como estão, ou por serem tão conspurcados pelo capitalismo e pelo mau uso da globalização, que ficam alienados a uma realidade que não exige algo a mais, fazendo com que a pessoa se acomode.

A constituição trata do conseito de isonomia, dizendo que o ideal para uma sociedade plural, é tratar os iguais com igualdade, e os desiguais com desigualdade. Nisso percebemos um conseito filosófioo muito profundo; O que é ser igual? Afinal, todos somos iguais ou desiguais? O que define a linha tênue que separa o nosso ser igual do ser desigual?

Tentamos, em uma tarefa perene, classificar as pessoas com pontos de cruzamento que padronise, de certa forma em partes, o ser humano. Fornecendo-lhes características quedevem seguir para serem incluídos em uma sociedade ilusoriamente igual. Com base nesse padrão, é que tantas pessoas ficam aturdidas quando se deparam com alguém que, contrariando aquela teoria bonita de que somos todos iguais, aparece com uma diferença que o distingue da sociedade de marfin, toda feita do mesmo material e da mesma forma.

Recuso a aceitar teorias bonitas e sonhadoras da vida, sem expor a outra face da moeda, que tange a teoria pessimista de forma geral, como Schopenhauer e afins, e que permeam a vida dos seres humanos sem eles ao menos perceber.

Amor? Amor?
Será?

Frasiando o Pascal:

"A maior fraqueza do homem é poder tão pouco por aqueles que ama."
(Blaise Pascal)

Sentimos profunda afeição pela pessoa, quando dissemos que morreríamos por ela, mas como a frase acima diz, podemos muito pouco por aqueles que amamos, e mal sabemos que não amamos a uma só pessoa, jamais, mesmo porque antes de amar outrem, precisamos amar a nós mesmos. Então até que ponto o amor se extende? Se doar por inteiro, significa ignorar o amor como ser onipotente que é, e dizemrque ele não habita em seu coração, mas no coração de outrem, gravado com suas letras. Ou mesmo quando morremos por alguém, sem saber se aquele “abandono” será profícuo, pois dará oportunidade daquela pessoa viver, ou ser avil, visto que ignorar que a outra pessoa também lhe ame, e fará com que ela sogra muito por sua ausência.

A! Sim... Sabemos tão pouco desse amor que ousamos em pronunciar ao sete ventos que somos possuidores, e ainda cometemos o ato estapafúrdio de esmiuçar algo que mal sabemos como é, quem dirá seus valores...

A minha opinião é que devemos viver com intencidade cada momento, sem nos ater a deficiências como barreira, mesmo porque há horas que são, mas não todas as vezes, e sem nos preocupar com algo que está fora das nossas capacidades atuais de definir, dado a complexidade do ser humano, e sua fase evolutiva. Isso claro, sem deixar nossa visão crítica das coisas, sabendo que existe a teoria da equivalência, que se baseia em que nada seria do bem sem o mau, da luz sem a escuridão, etc...

Abraços fraternais

Sidarta

Sidarta

Sidarta,

Não ponho em questão o fato de que muitos cegos desenvolveram capacidades extraordinárias e que estas tiveram ligação direta com suas respectivas deficiências. Foram estas supercapacidades de cegos que me precederam no mercado de trabalho a tornar o meu caminho mais fácil. E pelo fato de estas pessoas me deixarem conhecer os seus talentos, é que me senti capaz de imitá-las, segui-las e tentar algo para minha vida. Então, o que desejo é que cada um expresse o seu talento e faça mais fácil o caminho de outros. Observei o caráter, a força de espírito, a forma com que os mestres da classe lidaram com suas cegueiras. Olhar para o outro é excelente meio para melhorar-se.

Estes bons talentos que têm suas autoestimas bem tratadas, não merecem nossa preocupação. Em minha mensagem anterior, falava de outra ordem de fatos. Há gente que supervaloriza as capacidades do cegos com o intuito de tentar ofuscar alguma limitação que julgam intransponível. São os incoformados que verdadeiramente não acreditam no cego e ficam a criar a idéia de que cegos são um grupo uniformemente dotado de capacidades extraordinárias, conseqüências biológicas de uma compensação à cegueira. Há fatos que são verdadeiros, mas são exagerados a um ponto inaceitável. Ouvi gente a falar que cegos, porque mais sofridos, amadureciam com rapidez e tornavam-se pessoas mais preparadas; que a ausência da visão fazia-os olhar para dentro, sendo espiritualmente mais avançados, sem preconceitos, preparados para descartar as futilidades da vida. É muito provável que a cegueira tenha resultado em algo assim para algumas pessoas, mas não creio que isto seja verdadeiro para a décima parte dos cegos. Por isso, falei em "supervalorização". Caso muito diferente é aqueles em que encotramos cegos notavelmente bem sucedidos na escola, na família, no trabalho, na vida. Se estes estão a falar dos próprios méritos, sem dúvida, estão a dar-nos a oportunidade de compreender-lhes o método.
O que realmente temo é a generalização. Quando supervalorizamos os efeitos benéficos da cegueira ou quando fazemos o contrário, invocando argumentos generalizantes, estamos a fazer supor que cegos são um grupo tão uniforme que tudo quanto esteja a valer para um, valerá também para o outro.

E como disse, conheci gente que, no afã de mostrar-se infinitamente capaz, negava-se a oportunidade de relacionar-se com pessoas cegas já que, neste caso, em sua concepção absurda, estaria provado que não foi capaz de mostrar os supertalentos que tanto prezava em propalar.

Não estou a sugerir que estejamos a esconder os nossos tesouros. Há sempre receio de que nos mostremos bons em algo e sejamos tomados por presunçosos. Ora, ora, não há mal nenhum em gostar de si próprio. Ao contrário, isto é uma dádiva. E além do mais, mostrar-se extremamente humilde quando se sabe realizador de um grande feito, não é mais do que pronunciar uma mentira socialmente aceita, mas ainda assim, uma mentira. O que não podemos é estar a propagar toda sorte de sentenças generalizantes que apenas contribuem para que os outros olhem para nós mais como membros de uma classe do que indivíduos.

Caro anónimo, eu percebo a sua opinião mas penso que nenhum cego se deveria acomodar apenas por que tem ajuda de algum normovisual. Aliás, nenhum cego se deve acomodar para seu proveito. Não podemos estar dependentes de ninguém, a não ser naquelas coisas estritamente necessárias. Por isso, não penso que um cego se torne comodista apenas porque namora com alguém normovisual. Claro que há muitos que o fazem mas não penso que esse seja um motivo para se tornar preferível pessoas com deficiência namorarem com pessoas com igualdade de circunstâncias.
Cumprimentos

Sofia Santos

Caro Anónimo,

Não sei de onde retirou tais conclusões, mas permita que discorde, se não totalmente, em grande parte do que afirma.

Sou casada há 13 anos com um homem normovisual, de quem tenho uma filha, e possuo deficiência visual.

Quando casei ainda possuía visão suficiente para elaborar tarefas em que a visão é principal orientadora. Com a perda progressiva e total da visão, facto ocorrido após o nascimento da nossa filha, o sentido auxiliador foi substituído pelos outros. As tarefas continuaram a ser desempenhadas....

Tem razão quando diz que os cegos não se devem deixar acomodar ao apendice da visão do parceiro, com risco de contrairem dependência. Já tinha manifestado esta ideia em outro comentário. Qualquer pessoa que se acomode, aproveite, use, seja de que modo fôr, da boa vontade dos outros, corre o risco de se transformar num fardo. Mas daí a tomar isso como dado adquirido...., não.

Haverá, certamente, pessoas que incorrem nesse erro mas não todas. Numa relação de desigualdade visual não é necessariamente assim. Eu faço testemunho contrário para bom exemplo dos demais.

O meu marido deposita total confiança nas minhas capacidades domésticas. Confia-me os cuidados com a nossa menina, desde que esta é bebé. Afirma que o faço com toda a competência; Adora os meus cozinhados, elogia-os e solicita que lhe prepare aqueles manjares que só eu lhe sei presentiar; Delega em mim toda a confiança para cuidar da limpeza da casa e da roupa, ajudando por partilha e não por desconfiança, (e bem tenta escapar, bem á maneira masculina, na cumplicidade do sofá e da t.v, que lhe prestam solidariedade com notícias imperdíveis); Solicita-me ajuda para escolher as suas ropas confiando no meu bom gosto e selecção de qualidade.

O meu marido ajuda em casa, por partilha de tarefas, para facilitar o nosso dia-a-dia, tal como impõe a vida agitada que hoje temos. Por meu lado, não tenho empregada a dias, faço tudo em casa, desde a arrumação, limpeza, colinária, jardinagem, educação e ocupação dos tempos livres da nossa filha. nada deixei de fazer por falta de um sentido, sou até, segundo ele, demasiado perfeccionista.

Nunca preciso de ajuda? Sim, claro. Tarefas há que carecem da ajuda da visão certamente: limpar manchas de sujidade em paredes, pintar paredes desgastadas pelo tempo, matar algum insecto indesejável, reparar algum aparelho electrico, ler os livrinhos de histórias ou escolares da menina, verificar sinais de doença apenas visíveis na pele ou nos olhos da criança, colocar a quantidade certa de um medicamento que careça de dosagem, e outras tarefas que particularmente não me sinto capaz de fazer, ou não gosto ou carece de força física suplementar.

Tudo isso, e outras que possam ocorrer, são situações pontuais, que não refletem dependência, incompetência ou comodismo. Em qualquer casal, as capacidades e incapacidades são rentabilizadas, elaborando cada um o que melhor é capaz de desempenhar.

Isto falando, é claro, de casais cegos ou não, mas que se respeitam e amam, pois de contrário, o fracasso da relação é dado possível, senão adquirido.

LDias

Ldias,
Concordo plenamente com você. Minha mãe é cega total devido a um acidente de carro. Conheceu meu pai anos após ter sofrido o acidente, casaram, engravidaram... Bom, isso já faz 21 anos. Ela assume responsabilidades na casa, assim como eu e meu pai. Apesar de possuirmos empregada, fato comum a classe média brasileira, minha mãe não se isola de tomar a frente da arrumação, limpeza, compras, cozinha, roupas. Também possui uma profissão, é fisioterapeuta, e a exerce diariamente. Apesar de algumas restrições, é independente e autônoma. E falando em restrições, quem não as tem? Lógico, que pessoas cegas possuem algumas em comum, dada o déficit do sentido da visão, mas não é por eu ser normovisual que irei escalar o Everest ou me tornar uma campeã mundial de saltos ornamentais. Nós, seres humanos, somos distintos, cada qual com suas aptidões e suas restrições.
Quanto a minha educação, acredito que a deficiência da minha mãe não me tornou uma pessoa melhor ou pior. Com certeza havia ações que eram dificultadas pela deficiência, como conferir a lição do colégio, assistir a desenhos sem diálogos, ensinar andar de bicicleta dentre outras atividades. Atividades que desenvolvia com meu pai, mas minha mãe estava constantemente a nos acompanhar. Por outro lado, era minha mãe a quem procurava quando chorava ao cair da bicicleta, que me contava os contos das princesa que tanto gostava, que me colocava para dormir. Isso não é uma relação normal entre muitas famílias? Bom, para a minha era... Além do mais, a deficiência da minha mãe me fez compreender desde pequena a diversidade humana. Não é porque minha mãe é cega que ela é igual à mãe cega de algumas colegas. Aliás, quando criança esta idéia nunca passou pela minha cabeça. Tinha amigas filhas de amigas da minha mãe igualmente cegas, e nunca as achávamos iguais. Na verdade, quando pequena, as mães das nossas amigas tendem a serem muitos mais legais, sejam por ser mais liberais ou darem presentes em caso de boa nota na escola, enfim... Minha mãe era a minha mãe, única, independentes de possuir características que fossem rotuladas pelos demais.
Se a cegueira da minha mãe incomodava aos outros? Sim, a muitos! E o sentimento de piedade também era expresso por muitos: pobre, nunca viu a filha!; seu pai deve ser um santo, cuidar de você e da sua mãe!; que bom que ela tem uma filha, assim terá sempre alguém para ajudá-la! Essas opiniões machucam? Sim, como qualquer inferência negativa ou mentirosa que façam sobre nossos pais, independente de suas condições físicas. No entanto, o assunto da deficiência sempre foi debatido e conversado de forma clara na minha casa, e a idéias da estigmatização e do preconceito sempre foram me passado, o que facilitou minha compreensão do que era comentado por alguns. Afinal, nunca enxerguei minha mãe como uma vítima, uma incapaz subordinada aos desejos meus ou do meu pai. Não, ela era a quem eu pedia ajuda, a quem eu pedia permissão, quem eu pedia conselhos, quem me dava ou não o dinheiro da festa ou cinema. O papel de mãe, não era diferente por ela ser cega, apesar de todos que não conosco conviviam teimassem em acreditar.
Enfim, acredito que não haja limitações, além daquelas impostas pelo estigma e preconceito, em qualquer tipo de relação entre normovisuais e deficientes visuais. Nunca tive uma mãe normovisual, assim não posso dizer se minha mãe é ou não diferente por ser cega. Mas ela, como indivíduo que é, é sim distintas das demais mães, pois passou por distintas experiências pessoais, sociais e culturais que a definiu como o ser humano que é.
Somos uma família, nos respeitamos e tentamos entender os limites um dos outros, apesar de nem sempre isso ser possível. E isso, acredito, é independente a deficiência visual.

Olá Mariana

Comprendeu exactamente o que aqui testemunhei, talvez por viver uma realidade próxima á minha.

Espero que eu venha um dia ater o prazer de escutar da minha filha as bonitas palavras de reconhecimento que a Mariana aqui escreveu.

Qualquer mãe ficaria grata por ver que o seu empenho foi bem aplicado. E não duvide, Mariana, que não é fácil também para nós, mães, escutar tais comentários e descodificá-los de forma a serem compreendidos por crianças inocentes, para quem a sua realidade nada tem de estranho mas que, aos olhos dos outros, se lhes apresenta esquisita.

O esforço tem de ser ainda maior para transmitir á criança uma realidade saudável, sem camuflar as diferenças, sem negar as dificuldades, mas antes tentando ultrapassar as barreiras com transparência, verdade e realismo.

Também eu não consigo ler os livros que a minha filha me solicita. Essa tarefa eu reservo ao pai, mas em contrapartida sou eu que lhe conto as histórias mais fascinantes que jamais alguém ouviu, dando-lhe o previlégio de ser ela a escolher os protagonistas mais inacreditáveis.... Também sou eu que curo as suas feridas, que brinco as brincadeiras mais divertidas e que faço os penteados mais bonitos.

E o pai, como todos os pais, é o seu pai adorado, que anda de bicicleta, ajuda nos deveres escolares e e ajuda nas tarefas que a mãe não consegue ou não pode por qualquer motivo.

Assim somos uma família, feliz, com os nossos problemas, como tantas outras.

não é tudo maravilha, claro que não, não somos heróis nem heroínas, somos pessoas que apesar da vontade de acertar, por vezes também erramos.

Que Deus nos abençoe para que a nossa caminhada seja coroada de bons resultados.

LDias

Amiga: detesto mal-entendidos: não era minha intensão ferir a susceptibilidade de ninguém, tão pouco a sua em particular, e não afirmo a minha opinião em todos e todos os casos.

Simplesmente refiro-me ao que eu observo através das pessoas com quem lido e posso, até infelizmente dizer de coração aberto que verifico essa dependência na minha família e em pessoas amigas.

Mas também sou sincera neste caso: quando era adolescente eu só punha duas opções: ou não casar ou só querer uma pessoa normovisual, porque para cega, já bastava eu. Mas as coisas não são como eu pensava e casei com uma pessoa cega, que me aceita como eu sou e é claro que esse é o ponto-chave.

Mas hoje, a caminho dos 30, começo a achar que voltaria a fazer o mesmo porque gosto da pessoa e não me sinto diferente ou diminuida ao lado da pessoa, porque há situações que me foram apresentadas e que das quais resulta a minha maneira de pensar.

Ainda bem que a senhora pode apresentar a sua história desse modo e acredito que hajam mais casos assim, por isso senti-me na opbrigação de lhe pedir desculpa se ficou melindrada com o que eu comentei.

Tudo de bom!

Cara Anónima

Não me ofendeu, não carece de desculpas. Não tomei o seu comentário como uma ofensa pessoal mas antes como uma opinião, a qual me sentiimpelida a comentar com outra opinião. A sua opinião, baseada na sua experiência pessoal, é tão válida quanto a minha, também ela baseada na minha experiência pessoal.

Isto que aqui estamos a fazer é debate e não ataque. Todas as opiniões são dignas de respeito, a minha, a sua e a de todos os que assim desejarem manifestar também a sua.

Amizade, LDias

Olá!

Querida Sofia, de regresso aqui ao convívio do lerparaver depois de longa ausência motivada por problemas pessoais e com o computador, quero manifestar o meu apreço por trazeres este tema para este espaço.

Na minha opinião, se houver verdadeiro amor entre duas pessoas, que inclui, entre outras coisas, partilha e compreensão recíprocas, tanto faz que cegos tenham uma relação com pessoas normovisuais ou com pessoas com igual deficiência. O resto tudo se faz, e se há obstáculos colocados muitas vezes isso acontece por parte de familiares, o que não é nada agradável, e acaba, muitas vezes, por colocar entraves na auto-estima das pessoas

Separei-me há pouco tempo, e tive uma relação, durante 4 anos e meio, com uma pessoa que, tal como eu, tem deficiência visual, e, apesar de algumas limitações (e quem não as tem?), sempre tivemos uma vida normal. O que nos levou a separar foi, somente, o facto de não haver entendimento entre nós na questão dos feitios, e isso, obviamente, não aconteceu por sermos os dois cegos!<

Beijinhos!

Tiago Duarte

Tiago Duarte

olá pessoal, bom neste tipo de assuntos, no que toca a amores, paixões, atrações e tudo isso....posso dizer que tudo tem as suas vantagens, e desvantagens. independentemente de isto acontecer entre cegos, ou invisuais...ou entre invisuais e normovisuais. no amor existe duas coisas muinto inportantes...tem de existir o verdadeiro amor com o respectivo sentimento, e não uma coisa que se diga só da boca para fora, e tem de existir também respeito entre o casal em questão digamos assim...qualquer tipo de ser humano que não veja relações possíveis entre invisuais, ou normovisuais....não são humanos....são sim qualquer coisa parecida com pessoas sem sentimentos, sem conprienção etc. como eu custumo dizer: são muintos os que amam, mas poucos os que sabem amar!

Tiago Lopes
conprimentos

olá, bem este tema dá muito que falar, vou contar um pouco da minha história eu durante a adolescência era um rapaz normal, namorei como todos os sdolescentes tive desgostos amoross e tudo o que um rapaz normal tem.E quando via alguém cego podia ser rapaz ou rapariga olhava com pena, pois é verdade, não se deve fazer mas eu e as pessoas que estavam comigo nesse momento pensava da mesma maneira e havia sempre uma pessoa que dizia: é mesmo triste. se tivesse de ser deficientepreferia ser tudo mnos cego. E eu própio dizia-o, e agora que sou cego sei como nos olham e o que pensam de nó, e quanto ao ter uma namorada que vê, isso é praticamente impossívelporquêé muito raro encontrarmos um casal assim, elas querem é gajos normais que tenham carro ou moto, com bastante dinheiro, só se for uma mulher que esteja mesmo desesperada ou que seja mesmo feia e sque ninguém a queira. desculpem dizer isto mas é a verdade. cegos só casam com cegas, mudos só casam com mudas, surdos có casam com surdas, é assim a vida cruelpara quem é diferente,e não se ponham com sonhos que vão encontrar uma pessoa normal que queira ficar com alguém com algum tipo de deficiência , porqu isso só acontece em sonhos e em contos de fadas. por aqui me fico.

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