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Opinando - Blog de Filipe Azevedo - blog de Filipecanelas

prioridade numa repartição pública

por Filipecanelas

Esta história passou-se comigo à vários meses, mas não quis deixar de a partilhar convosco.
Como tinha de resolver um problema pessoal, aproveitei a minha hora de almoço e desloquei-me à loja do cidadão.
Uma vez chegado à repartição pretendida, abordou-me uma funcionária muito solícita que disse que me ia atender porque eu tinha prioridade.
Uma outra senhora que estava ao lado não aceitou e começou a dizer que eu não devia passar à frente das pessoas, porque como tinha tempo, teria de aguardar pela minha vez.
Imediatamente gerou-se um pequeno burburinho, porque como sucede nestas situações, todos gostam de dar o seu palpite!
Como nunca tinha passado por algo semelhante, acabei por ter uma reacção espontânea que até a mim me surpreendeu.
Encarei a senhora e disse-lhe de uma forma muito natural que eu até tinha ali um pequeno Canivete, se ela quisesse eu furava-lhe os olhos, e assim começava também a ter prioridade.
Não me lembro de alguma vez ter exigido passar à frente de ninguém, adopto uma atitude mais defensiva. Se a pessoa que está no balcão disser que me atende tudo bem, se quiser atender quem está à minha frente, tudo bem na mesma.
Mas a verdade é que a prioridade para quem tem mobilidade reduzida é inteiramente justificada. No meu caso, eu até conhecia bem o percurso que tinha de fazer, ando relativamente rápido, mas se eu fosse a um local desconhecido que me obrigasse a caminhar mais de vagar, provavelmente iria perder a minha hora de almoço toda, e corria sérios riscos de chegar tarde ao meu trabalho.
Nesta situação, faz sentido que adoptemos a chamada diferenciação positiva, porque à uma clara desvantagem, entre aquele que apresenta mobilidade condicionada e demora mais para fazer a mesma coisa que uma pessoa com mobilidade normal realiza num espaço de tempo mais reduzido.
Como em quase todos os casos a melhor lei é a do bom senso. Mas por muitas vezes faltar esse valor, é que se torna necessário fazer leis como estas.

Comentários

Filipe "no seu melhor"

Estou mesmo a ver o Filipe de canivete na mão, investir na direcção dos olhos da Senhora, e acertar-lhe; se calhar como ele tem prioridade, a vitima - condescendente - guia a mão do agressor. Vai dar uma belíssima reportagem - versão "Filipesca" do ensaio sobre a cegueira!

Caro (a) anónimo (a)
É como diz. Se a senhora de facto pretendesse começar a ter prioridade em todas as repartições públicas que fosse, a cena teria de ser mais ou menos como você a descreveu.
Mas como ela achou que o melhor seria mesmo deixar os seus olhos intactos, lá se convenceu que uma pessoa cega realmente tinha prioridade.
E eu fiquei todo satisfeito, porque não iria ter coragem de lhe furar os olhos, mesmo que ela dissesse que queria, para começar a ter atendimento prioritário. Ainda bem que ela disse que não quis, se não eu ia ficar mal.

+Filipe Azevedo

Sou a Cecília Valentina Torres Fernandes, normovisual e filha de uma pessoa com baixa visão.

Estou registada no Portal, mas não tenho controle sobre o e-mail com que me registei.

O meu e-mail identificou-me perante o Filipe.

Podia ter-me registado novamente – Não quis. Perante o Filipe estava devidamente identificada.

Uma vez mais, evasivo e a enterrar-se! Não podia esperar algo diferente, Filipe!
Nota: Não adianta ser você ou outros a escreverem, está escrito, lançado na WEB, e todos os que buscarem no google, ou outro motor de busca, irão encontrar a sua infeliz “postagem” de uma história que o Filipe afirma ter acontecido, e ao fim de alguns meses (do hipotético acontecimento) resolve "partilhar" no portal da visão diferente.

Só espero que os inter nautas compreendam e entendam que o António e o Daniel, cegos dos olhos, mas não do Cérbero, não são responsáveis pelo que cada um coloca.
Mais, nem todos os cegos são como o Filipe.

Fico particularmente satisfeita por a Senhora ter recusado a sua oferta de lhe furar os olhos, pelo menos ela tinha consciência das palavras que proferiu!

Filipe, cada vez mais enrolado na “sua história”; graças a Deus, a Acapo está pejada de advogados, inclusive nos órgãos… ah, lembrei-me, o Filipe é actualmente Dirigente em Braga, e sai sempre ileso do que faz!
Alguns sócios da Acapo são licenciados em psicologia.
Os sócios têm “consultas e acompanhamento” gratuito, por normovisuais ao serviço da Acapo e pagos com os nossos impostos.

E os jornalistas adoram “histórias” documentadas! E também sabem esconder a verdade...

Namastê!
Cecília

Filipe para ti tem que te dar os meus elogios porque eu no teu lugar faria o mesmo.
Porque se não nós os deficientes visuais seremos sempre uns coitadinhos!
Espero que haja muitas pessoas como tu ou será que uma pessoa exigir os nossos direitos está a pecar ou a fazer algum crime!
Gostaria de ver pessoas a criticar mas com críticas construtivas e não a contrariar porque já é um dom que nasceu com elas!
Toda a gente conhece aquele ditado que diz, cego não e aquele que não vê mas sim aquele que não quer ver!
Para terminar gostaria que me informasse se os esquizofrénicos têm o mesmo direito de prioridade como os deficientes visuais.
Todos unidos erguemos a bandeira porque se não só alguns filhos de Papás é que continuarão a chupar chicletes e a ser sempre do contra para satisfazer os seus caprichos!

Olá, Cecília Valentina.

Agradeço a importância que deu a esta história que eu fiz. Vêsse que está sempre atenta aos meus escritos, é reconfortante.
Pena é que não tivesse absorvido a profundidade da mensagem, e partisse para uma interpretação puramente literal.
É daquelas coisas em que os olhos que tem na cara não lhe servem para nada. Melhor fora que tivesse os olhos da mente bem abertos, para que então sim pudesse vir comentar esta história no plano que ela merece ser analisada.
Evidentemente estamos a falar num sentido meramente metafórico. Uma senhora que não percebe que uma pessoa cega tem direito à prioridade no atendimento numa repartição pública, e à alguém que lhe tenta transmitir que se a senhora eventualmente acha que o facto de a pessoa cega ter prioridade é um benefício assim tão extraordinário, tem uma alternativa simples. Fica sem ver, e já passa a ter também prioridade.
Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso interpretaria a história desta forma.
Quem só consegue ver o que está à frente dos olhos que tem na face, é que poderia imaginar que um sujeito puxou de canivete, que armou uma desordem descomunal, e já agora, falta mencionar que se chamou a polícia e que o sujeito foi condenado por ter exibido uma arma branca na via pública.
Esta sua interpretação é do mais fundamentalista que pode haver.
Com franqueza. Abramos os olhos da mente!
O próprio Jesus usou centenas de metáforas para fazer passar a sua mensagem. Por isso a esse respeito, estou muito longe de ser original.
Para ilustrar aquilo que acabo de escrever, colo aqui uma passagem do livro de Mateus, capítulo 5, versículos 29 e 30.
29 Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti;
pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o
teu corpo lançado no inferno.
30 E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti;
pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu
corpo para o inferno.
Fim de citação.
Já viu o quan radical é esta mensagem?
Aqui, só quem for fundamentalista, achará que a ideia de quem escreveu este texto, passa por incentivar as pessoas a cortarem os seus membros.
Também quero dizer-lhe que não tenho culpa de não ter mencionado o seu nome na primeira postagem que fez.
Como é natural não ia evocar o nome de alguém que publicamente não se quis identificar.
O facto de não estar registada no portal é absolutamente irrelevante. Bastaria colocar o seu nome no final da postagem.
Também já sou Internauta à muitos anos, sei que felizmente o conteúdo do lerparaver é facilmente indexado por qualquer motor de busca. É para isso que as pessoas fazem os sites e portais, e também é para isso que os bloggers fazem as suas postagens e as tornam públicas, precisamente para serem lidas!
Quando criei o blog, tive o cuidado de ler a informação que os autores do Lerparaver colocaram no site a esse respeito, e quem tiver feito o mesmo que eu, sabe que sendo um blog pessoal, a responsabilidade dos textos que lá são colocados é do respectivo autor do blog.
De forma que esta overdose de explicações que deu não me interessam para nada, queira desculpar a sinceridade.
Diz a Cecília Valentina que nem todos os cegos são como eu. Por maioria de razões direi que nem todos os normovisuais são como a Cecília Valentina. Graças a Deus!
A grande virtude do ser humano reside no facto de cada um de nós ser único e irrepetível. Se assim não fosse, não passávamos de robots.
E para mim não existem os cegos e os outros. Para mim temos homens e mulheres e ponto final. Não faço diferenciação, porque isso podia dar a ideia que estava a dividir grupos de pessoas, catalogados em função da sua deficiência. Seria de certa forma um apartheid deficiente!
Finalmente, quero dizer a todos os visitantes deste meu cantinho, que este blog é pessoal, e que nada tem haver com qualquer associação de e para deficientes.
Não posso deixar de repudiar a ligação que a Cecília Valentina fez à maior associação de cegos de Portugal, porque felizmente eu tenho vida própria, e como gosto de estar activo, tenho a felicidade de estar ligado a muitas coisas. Mas da mesma forma posso ser cidadão de pleno direito, com tudo que isso implica, designadamente a liberdade de escrever, de opinar, de contraditar, no fundo de participar civicamente em tudo que eu achar por conveniente.
Ainda por cima a Cecília Valentina nem sequer é sócia, e mesmo assim não se coíbe de dar palpites infelizes sobre a vida da associação.
E Já agora, saiba que eu também pago impostos, e felizmente estão em dia.

Filipe Azevedo

+Filipe Azevedo

Caro Filipe, tal como de costume pensei um pouco antes de comentar e espero que surja efeito.
Como o Filipe sabe os primeiros a contrariar a ignorância das pessoas relativamente à deficiência visual, somos nós que partilhamos essa condição.
No entanto, da mesma forma que queremos que sejam compreensivos conosco, devemos ser compreensivos com quem ignora. Deste modo não me parece que metáforas infelizes, justificadas nas bíblias, sejam a melhor forma de educar a Sociedade para asnossas dificuldades.
Estou seguro que quem assistiu à cena não ficou minimamente esclarecido sobre a razão de ter direito a prioridade, nem sequer com vontade de a aceitar novamente.
Prefiro atitudes pedagógicas com classe e se possível, com um sorriso no rosto. Sempre se evita a imagem do !revoltadinho"!
Não há nada de pessoal.
Cumprimentos

Prezado Rogério.

Também sou apologista de uma atitude pedagógica e se possível com um sorriso no rosto.
Não concordo nada com a imagem do revoltado.
Porém em determinadas situações, impor a razão é particularmente complicado, sobre tudo quando a outra parte mostra uma ignorância crassa, que chega ao extremo de dizer que um cego tem todo o tempo do mundo para ser atendido, deixando transparecer que para ela os cegos nem sequer trabalham.
Aí, para evitarmos altear a voz, originando uma discussão inútil e estéril, um dos caminhos possíveis é utilizar frases que de certa forma apelem à racionalidade.
Eu tenho a sensação que para certo tipo de pessoas, isso entra melhor do que uma argumentação bem construída.
Para além de que, seria preciso que a outra parte estivesse receptiva aos nossos argumentos, e nós próprios também com disponibilidade mental e de tempo para lhe os dar.
A mim já me aconteceu muitas vezes ir de pé no comboio, agarrado a um ferro perto de um banco reservado a pessoas com mobilidade reduzida. Nunca por minha iniciativa dirigi-me a quem lá estava sentado, pedindo para sair, porque aquele era um lugar reservado.
Por vezes o próprio revisor é que pede à pessoa para sair. Mas se numa situação hipotética, o revisor pedisse ao passageiro para desocupar o banco, e este alteasse a voz, seria altamente desconfortável para qualquer um de nós, que não tínhamos pedido nada, e vereamo-nos ali metido no meio sem nada fazer por isso.
Claro que a pedagogia é sempre o caminho mais sensato, desde que como digo a outra pessoa esteja disposta a aceitar a racionalidade e não adopte uma postura fundamentalista.
De qualquer forma respeito o seu ponto de vista.
Um abraço.
Filipe.

+Filipe Azevedo