Na passada Terça Feira dia 27 de Dezembro de 2011, recebi através de um grupo de discussão em língua espanhola, uma informação que a ser verdade, seria uma prenda de fim de ano absolutamente extraordinária.
A Nuance, que para os mais desatentos é a empresa que produz o leitor de ecrã para telemóveis talks, chegou a acordo com a nokia, o que permitiria que a partir de 2012, todos os nokia compatíveis venham equipados com o talks instalado de origem.
Segundo a notícia, esta medida tinha como objectivo concorrer com a Apple, que como sabem já inclui o leitor de ecrã voiceover, instalado em todos os iphones.
Por momentos, acreditei que os deficientes visuais finalmente iriam ter a oportunidade de utilizar um Nokia com acessibilidade sem terem de pagar mais por isso.
Para desgosto meu, vim a descobrir que em Espanha o dia 27 é também dia das mentiras, e esta notícia não passava de uma brincadeira.
Infelizmente, ainda não foi desta vez que se aboliu mais esta injustiça escandalosa que são vítimas os deficientes visuais, que em Portugal tem de pagar 180 euros para usarem em condições um nokia, valor esse que muitas vezes ultrapassa o custo do próprio equipamento. Uma vergonha!
É um facto que tanto a Vodafone como a Tmn oferecem a instalação gratuita do talks.
Mesmo assim, temos muitos deficientes visuais que não podem usufruir desta benesse, por várias razões, entre as quais:
Ainda não possuem a certidão multiuso, (documento exigido por ambas as operadoras), são Clientes da Optimus ou de um operador internacional, querem usar o smartphone sem cartão sim, ou por outra qualquer razão. Os próprios operadores podem aliás deixar de oferecer o talks, porque objectivamente não são obrigados a fazê-lo, e também porque as licenças custam dinheiro e era mais fácil para a nokia negociar um volume elevado de licenças, do que cada operador negociar individualmente meia dúzia delas.
E a Nokia, já à muito deveria ter resolvido este problema, e creio que não seria difícil chegar a acordo com a Nuance, e por uma razão muito simples: é que o talks só funciona em nokias. Logo, a empresa tinha todo o interesse em vender milhões de licenças à nokia, e estes por sua vez não pagariam uma quantia muito avultada porque estamos a falar de um número elevadíssimo de licenças, o que daria um custo absolutamente irrisório em cada telemóvel comercializado.
É um facto que a nokia já traz alguma acessibilidade. Permite-nos ouvir sms em voz alta, identificar o número chamador, e pouco mais.
Mas se pensa que isto se deve à boa vontade da nokia, engana-se redondamente! As leis em vigor nos Estados Unidos, obrigam a que estes equipamentos contemplem alguma acessibilidade.
Infelizmente, a legislação fica muito aquém daquilo que é desejável, mas é melhor que nada! E neste particular os americanos estão um pouco mais à frente do que nós europeus.
O facto de esta ser uma imposição e não uma real preocupação da Nokia pelos seus clientes com deficiência visual, já é altamente criticável, mas neste particular há um outro aspecto bastante mais perverso, revoltante, inadmissível e inaceitável.
É que a Nokia, para garantir esta amostra de acessibilidade, comprou software a empresas que produzem leitores de ecrã, que apenas venderam uma parte da tecnologia.
Eu não sei se estão a ver bem a dimensão desta barbaridade.
A nokia, que podia comprar um leitor de ecrã completo, adquire apenas uma pequeníssima parte. Por outro lado, a empresa que produz esse leitor de ecrã, vai encaixar milhões de euros com a venda que realizou à nokia, mas como o deficiente visual, não vai ficar satisfeito com a pouquíssima acessibilidade oferecida, vai digamos assim ter de adquirir o resto do programa.
Não seria muito mais ético, mais justo e mais digno venderem o programa todo, e resolverem o problema dos deficientes visuais?
Não seria melhor incluírem por exemplo 20 ou 30 cêntimos em cada uma das milhões de licenças vendidas?
Não compreendo porque é que a Nokia continua insensível a este problema, e pior do que isso, faz um acordo perfeitamente patético, que apenas serve para garantir os serviços mínimos, quando com o poder negocial que a marca tem, conseguia facilmente atingir os máximos.
- Partilhe no Facebook
- no Twitter
- 3437 leituras