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Comentários efectuados por Luís Medina

  • Luís Medina comentou a entrada "Projeto Universitário - Aparelho Celular para deficientes visuais" à 14 anos 10 meses atrás

    Wellington,
    Estamos de acordo num ponto. Se temos aparelhos que simultaneamente atendem a deficientes e não deficientes, parece contrário à economia de escala que um aparelho destinado somente a deficientes tenha êxito. É que promete fazer menos por preço maior. No entanto, não me pareceu agressivo o texto da universitária e, a bem dizer, não sei exatamente o quanto ela refletiu sobre o assunto. Penso que a consulta que aqui formulou teve justamente este propósito. E afinal não sejamos demasiadamente rigorosos com a moça que pode estar apenas motivada pelos arroubos da juventude em que o limite entre o planejado e o realizado é apenas a vontade.
    Tenho um colega que estava a terminar o seu tCC. Dedicava-se a um driver de impressão. E já falava em o comercializar e revolucionar o mundo das impressoras. Não há nenhum mal nisso. Estamos o tempo todo a calibrar os nossos sonhos até que estejam condizentes com o real. Eu mesmo já pensei em falar alemão, tocar piano e, se brincar, descobrir uma nova partícula do átomo! Na maioria das vezes, consegui menos do que imaginava. Mas, por vezes, consegui mais!
    Creio que desabafou porque já observou projetos não estruturados prometerem mais do que podem cumprir. Mas embora tenha muita simpatia pelo amigo, de fato, seus textos deixam entrever muito coração, muita verdade, creio que desta vez foi um bocadinho ranzinza!
    Infelizmente, o TCC não costuma gerar pesquisas de fôlego. A pesquisa séria não funciona bem com restrições severas de tempo, custo e experiência. Mas é passo realmente importante para experimentar o gosto por uma extensão acadêmica.
    Mas, no essencial, concordo com você e com o Tadeu: três vivas ao desenho universal!/

  • Luís Medina comentou a entrada "LinuxbestChoice - um novo blog sobre Linux" à 14 anos 10 meses atrás

    Além de preferir o português, parece-me que o nome proposto é muito comprido. Há que se mover muito os dedos até terminar a digitação! Poderia adotar um nome conciso como: Interlinux, MetaLinux, Pró-Linux, Translinux, Intralinux. Para mim, os nomes muito curtos são os preferidos. Mas nem sempre é fácil deixar claro o propósito do grupo com um nome curto e, na maioria das vezes, os nomes curtos já foram escolhidos por alguém.

    Poderia escolher algo como: Casa do Linux, Território Linux, Vitrine do Linux, Papo Linux, Estilo Linux, Linux Ativo, Linux Acessível, Palestra Linux, Linux Fácil, Argumento Linux, Palavra Linux, etc.

    De fato, escolher um nome é das coisas mais difíceis. Gosto muito dos prefixos inter, meta, trans... Apenas cuidado com a composição de palavras! Um entusiasmado pelo grego e pelos princípios democráticos, terá entendido que democracia do povo e, por considerar que o Linux também merece ser do povo, poderia sugerir o Demolinux. Mas neste caso, algum incauto poderia imaginar que é uma distribuição Linux especialmente concebida para atender ao anjo decaído, o espírito das trevas, o expectro abominável das noites sulfúreas!

    Parabéns, Filipe, não tenho dúvidas de que seu blog será muito bem sucedido. Se algo soubesse de Linux, teria muito empenho em contribuir com textos, mas como faço parte do amplo público de iletrados em Linux, em um primeiro momento, apenas farei girar muito o seu contador de visitas!

  • Luís Medina comentou a entrada "Brasil - Projeto de Lei classifica cegos de um olho como deficientes visuais" à 14 anos 10 meses atrás

    Concordo com o comentário, mas talvez tenha carregado demasiadamente nas cores. A lei é necessária porque a taxa de desemprego é flagrantemente mais alta entre deficientes. Se todos os deficientes desempregados tivessem qualificação primorosa, talvez concordasse com o seu ponto de vista. Mas o fato é diverso. E enquanto a qualificação for tão baixa, não há argumento que seja vitorioso. Lá está o empregador a dizer: “Bem, se tenho alguém mais preparado porque deveria contratar um deficiente? O que lhes digo é que não deixei de contratar porque é deficiente, mas apenas porque devo selecionar os melhores profissionais e, na amostra que tive, não havia deficientes nesta classe”. Como se argumenta contra isso? Dirá que, de fato, a maioria dos deficientes tem a qualificação requerida? Sabe que isto não é verdadeiro. Então, não deve o Estado amparar estas pessoas, sem perspectivas, prostradas por um destino incerto? É evidente que sim. Deve ampará-las e, principalmente, dar-lhes qualificação.

    É angustiante para um deficiente não ter emprego? É angustiante para qualquer um não ter emprego. Não queiramos sempre que nossas angústias sejam mais doídas do que a dos outros. Por vezes, deficientes estão com os pais até idade avançada e, não tendo filhos, o peso a suportar pode eventualmente ser mais leve. Pode ser deficiente e de família abastada. Ou então,viver na miséria e jubilar-se com sua elevação espiritual. Ou então, ser dependente e alegrar-se com o fato de não ter responsabilidades. Há, neste mundo, gente de toda a sorte. Por que temos um indivíduo que não fala, não ouve, não enxerga ou não anda, não podemos imediatamente concluir que sofra mais do que qualquer outro. E se os benefícios aí estão para amparar os desamparados, será surpreendente que muitos deficientes não façam jus à tutela?

    É claro que não sou contra os benefícios. Mas não aprecio a ênfase demasiada que se dá a isso e a ênfase tão reduzida que se dá à qualificação profissional. Não nos enganemos. Se tudo quanto tivermos for a arma da lei a apontar para a cabeça dos empregadores, não podemos sempre ser bem recebidos. Quanto mais estabilidade tivermos, mais difícil é ingressar no emprego, pois nenhum empregador gosta de saber que não dispõe de meios para ver-se livre de quem não deu certo na empresa. Ação e reação, diz a química, diz o evangelho. Não podemos fugir a esta lei natural.

    E então, o Luís não esteve desempregado? Sim, qualificado e desempregado. Uma vontade imensa de desistir, de deixar que os dias transcorressem e a vida corresse a galope. Se tivesse tido qualquer emprego, com lei, com benefício, teria ficado feliz mais cedo. Mas não se trata disso.

    Fico a ouvir: “Às vezes, os deficientes são mais preparados do que não deficientes e, ainda assim, são preteridos em favor destes”. Às vezes, às vezes... Este é argumento que se pauta pela exceção. Em geral, deficientes são menos qualificados e, como conseqüência lógica, natural, inequívoca, tendem a ser menos preparados e, portanto, menos aptos aos empregos oferecidos. Sim, a dificuldade é grande. Mas o fato é que as bibliotecas Braille estão vazias, que deficientes não lêem, não se dedicam a construir um caminho melhor. As oportunidades são reduzidas, mas as que surgem são atiradas ao canto em favor de um caminho mais seguro: o da lei. É claro que encontraremos deficientes esforçados, que sacrificam tudo para conseguir alguma coisa. Mas a maioria dos deficientes com que tive contato, tinham a vontade frouxa e a palavra afiada para criticar o governo, os empregadores, o preconceito.

    O mal é que os empregadores vêem deficientes como a um monólito. A generalização é quase sempre ruim. Parece que a predisposição em não contratá-los resulta que, se um é ruim, todos de certo o serão. Empregadores têm de ser educados a entender que o sucessso de um não implica o sucesso do outro e que, do mesmo modo, a inadaptação de um, não implica a inadaptação do outro. Que não se rendam a sedução da coisa simples. A generalização simplifica, mas freqüentemente se equivoca. Se deficientes são indivíduos como quaisquer outros, então, serão bons e maus, generosos e mesquinhos, eficientes e incapazes, adaptados ou inflexíveis. É a diversidade humana em todo o seu viço. Para contratar ou para pôr de parte, é necessário examinar caso a caso, sem tirar conclusões do todo pela parte.

    Haverá quem me leia e não entenda o verdadeiro propósito. Talvez digam que é discurso de elite. Pois bem, nada tenho de elite. Meus pais eram agricultores do agreste nordestino. Triste vida, golpeada pela pobreza e pelo desalento. Não importa. Eis que lutaram muito para mudar o seu caminho. Nenhuma sorte, nenhuma porta aberta, nenhum regalo da boa aventurança. Tudo por desbravar como mata cerrada diante do explorador pioneiro.

    E por que insisto tanto neste ponto de vista? Desejo intensamente ser útil. Se estivesse a enaltecer as qualidades dos deficientes, será que cumpriria algum papel? Qual é o discurso mais útil: aquele que aponta para a falha e para o caminho ou aquele que concorda e aplaude? Aquele que bajula ou que incita à reflexão? Tenho observado em meu contato com deficientes que, com muita rapidez, concluem que o mal de tudo reside numa causa externa, que são vítimas da inexorável força das circunstâncias, que o empenho é inútil ante ao preconceito, que são diferentes, que devem ser protegidos e que a estabilidade é bem que mereçam mais do que qualquer outro. Como é possível vencer, se a semente da derrota já está plantada em cada um?

    Haverá quem pense: “Não, não direi nada. Se acreditasse que adiantaria algo, então, falaria. Mas é deficiente e já deve ter angústias demais. Não devo impor-lhe peso adicional. Não enxerga. É uma criança grande que precisa somente de amor e proteção”. Um empregador que pense segundo esta doutrina tem alguma chance de empregar deficientes? Se tanto necessita de amor, de proteção, bem melhor é encaminhá-lo para a assistência social, para o psicólogo e, sobretudo, para o seio da família. Bem está que todos queiramos um pouquinho de proteção. O instinto assim nos recomenda. Empresário humano, filantropo: será esta a condição do emprego? Se for, então, estamos mesmo muito mal. Então, será que devemos descer a guilhotina da lei? A ameaça é bem mais frágil do que a consciência de que deficientes são mesmo pessoas capazes. São capazes? São tão capazes quanto qualquer outro, mas têm de estar conscientes de que a deficiência impõe limites; que os limites são, em sua maioria, superáveis; e que a superação depende de um empenho sincero, sem lamentações, confrontando o medo, agindo para corrigir: autocrítica desmedida que nos aponta que é possível, mas, a cada minuto, está em nossas mãos dar o passo à frente ou desistir.

  • Luís Medina comentou a entrada "PME não empregam deficientes" à 14 anos 10 meses atrás

    Filipe,

    Para mim, a produtividade depende da atitude, do preparo e do controle emocional. Sem atitude, ficamos passsivos a um canto à espera que as boas circunstâncias nos visitem; sem preparo, a atitude não pode mover-nos para o caminho certo; sem controle emocional, não criamos músculo para resistir à adversidade.

    O Filipe teve atitude porque investiu no HTML e no Javascript antes que pudesse ter certeza absoluta de que iria ter êxito. Nesta fase, não podia agir segundo a doutrina daqueles que pensam em agir somente quando estão certos da recompensa. O Filipe sabia que o mercado de trabalho para as pessoas deficientes é mais restrito. Arriscou. De certo, haveria empregos que poderia ter ocupado com menos investimento emocional, físico, temporal e financeiro. Mas depositou a sua moeda e trabalhou para que o sonho se realizasse.

    Então, o Filipe empregou-se. Eis o momento da recompensa. Eis o momento perigoso em que podemos achar que já fizemos o suficiente, que temos de curtir a vida e, visto que somos tão iguais aos outros, talvez possamos dar-nos ao luxo de ser um pouquinho irresponsáveis e desleixados. É a sina das equipes que são campeãs e tem de iniciar um novo campeonato sem contar com as conquistas anteriores.

    Se o Filipe está onde está, de certo, é porque combateu a zona de conforto. Olhou para frente e verificou que necessitava de esforço adicional. Como poderia seguir em sua carreira sem o PHP? Então, o Filipe investiu na segunda etapa: o preparo. será que o Filipe conhecia programação Web, orientação a objetos, conexão com bancos de dados, etc. Havia muita complexidade nova.

    Será que não é normal ter um bocadinho de receio em momento como este? O Filipe sente os olhos de todos sobre si. Sabe que tem de ter bom desempenho. Do lado de fora, todos nós torcemos para o Filipe. Em primeiro lugar, porque é um amigo e, por fim, porque é mais um deficiente a mostrar-se, a atestar a competência de toda a classe. Sim, é injusto com o Filipe. Ele deveria responder somente por si. Que tem de ver com a atitude, com o preparo ou com o controle emocional alheio? A bem dizer, não deveria ter nada mais sobre os ombros do que o próprio destino.

    Mas não é assim. Há um certo raciocínio equivocado que predomina entre os empregadores. Dizem que deficientes são... ou que deficientes gostam... ou que deficientes comportam-se... ou que deficientes podem... como se em uma classe tão ampla e heterogênea como a dos deficientes, fosse possível avaliar a classe pelo preparo de um só indivíduo. Então, o Filipe não está só. Há uma multidão de deficientes, empregados ou não, que torcem por si. Ele é o mensageiro dos próprios desígnios, mas também o portador dos desígnios alheios. Se tiver êxito, portas serão abertas para grande quantidade de desempregados.

    Então, o Filipe tem de ter controle emocional. Tem de separar adequadamente o que não consegue fazer porque ainda não se preparou para alcançar e o que não poderia mesmo conseguir porque é barreira imposta pela deficiência. Como resposta ao despreparo, tem vacina segura. Como resposta a deficiência, tem de posicionar-se de modo que esta não seja restrição importante no trabalho que realiza. É um grande exercício emocional.

    Haverá aqueles que pensarão: “Puxa, que coisa extraordinária ter o Filipe por cá. De fato, a empresa tem de assumir a sua responsabilidade social”. Sim, o Filipe está a lutar com todos os seus meios. Está a conseguir resultados reais, tangíveis e lucrativos para sua empresa. Em tudo quanto tenha dificuldade, está a investir em cursos e em autodidaxia para romper a dificuldade. Mas apesar disso, há quem ainda ache que se trate de trabalho social. O que deve o Filipe fazer? Imaginar uma boa resposta que ponha abaixo, que ridicularize o seu interlocutor? Talvez isso pudesse satisfazer uma revanchezinha, mas ao fim, serviria apenas para reforçar que deficientes são pessoas revoltadas, que se apartam dos demais, que desejam privilégios, que não se ajustam ao ambiente da empresa. Talvez o Filipe se sentisse angustiado. Pudera, ninguém gosta de ouvir coisa assim. Mas não importa. Ele voltará para a sua mesa, abrirá novamente o seu manual de XHTML e planejará o próximo trabalho significativo, grande, digno do respeito dos amigos e dos aplausos de todos que esperam o seu bom desempenho.

    Sim, invoquemos a tutela do Estado sempre que não houver outro modo de assegurar o mínimo para a dignidade humana. Mas o que realmente faz diferença é a atitude, o preparo e o controle emocional. Atitude quer dizer vontade e adequação ao meio. Vontade porque não conseguirá sem empenho genuíno. Adequação ao meio porque tem de ter comportamento que se compatibilize com o ambiente de trabalho.
    A este propósito, resgato uma curta história. Certa vez, em uma instituição alguns indivíduos cegos estavam a posicionar-se no palco para uma apresentação. Estavam a falar, a rir e um de seus integrantes não cessava de bater com a mão em uma chave que se encontrava no bolso. Ouvi alguns dizerem: “Nossa, os cegos são pessoas alegres!” Na verdade, senti que ela desejava dizer: “Cegos são mal educados!” Isto porque o grupo não conseguia perceber que, no palco, tinha de ter atitude austera, que havia um grande número de pessoas a olhar para si. No trabalho, encontrei bons exemplos de pessoas deficientes que não sabiam se comportar. Ou falavam muito alto sem se atentar que invadiam o espaço alheio, ou ficavam a bater os dedos sobre a mesa como se estivesse em uma escola de samba. Há ambientes que, não só permitem esta atitude, como inclusive estimulam. Mas há que se ter noção de que nem todos os comportamentos servem a todos os ambientes. Cegos observam menos o comportamento alheio porque a visão é importante aliado na formação do senso crítico. Contudo, por saber que lhes falta um sentido, é preciso estar muito mais atento para que não seja inconveniente.

    E se há os que, sendo excessivamente expansivos, ultrapassam a fronteira entre o alegre e o inoportuno, há também aqueles que, se impõem tão severa autocrítica que não são capazes de articular meia dúzia de palavras sem que exibam um certo tom, mecânico, revisado, preocupado em censurar-se a todo o momento. Este pode ser confundido com o tímido, ou pior, com o inseguro que não deseja arriscar e, portanto, alguém incapaz de conseguir o que quer que seja.

    A grande força criadora de mudança em nossas vidas é crer, ao menos em um primeiro momento, que tudo depende exclusivamente de nós. Se tal não é verdadeiro, deixemos que as circunstâncias demonstrem a inexatidão da teoria. Não sejemos nós próprios a criar barreiras que não existem. Por vezes, nós as criamos porque temos medo, mas também desejamos muleta que nos disculpe pela deficiência que temos no músculo da vontade.

  • Luís Medina comentou a entrada "PME não empregam deficientes" à 14 anos 10 meses atrás

    Se temos empregados somente 19% dos deficientes, então, não podemos prescindir de uma lei que imponha quotas. Quando o paciente vai mal, temos mesmo de aplicar-lhe uns bons choques para ver se vive. Contudo, preocupa-me que alguns vejam nisto a solução. Ao contrário, a existência da lei somente indica que há algo muito errado e não será o seu cumprimento integral que resolverá o problema.

    Há preconceito. Isto é fato. Quando alguém deixa de empregar deficientes porque é deficiente e não examina cuidadosamente suas qualificações profissionais, não podemos chamar o mal de outra coisa senão preconceito. Entretanto, quando empresas dizem que não encontram deficientes qualificados, não é isso mera desculpa de quem não quer cumprir a lei.

    Ora, se é difícil o acesso a educação, a cultura e aos meios de adquirir uma e outra , então, seria estranho que, em qualquer esquina, encontrássemos uma centena de deficientes qualificados. Há que se separar claramente o que é causa e o que é efeito. Se deficientes estão desempregados, isto não decorre da ausência de aplicação da lei. Ao contrário, a necessidade de aplicação da lei decorre fundamentalmente do fato de que deficientes estão desempregados.

    Em princípio, sou sempre contra qualquer benefício. Ocorre que também sou favorável a que indivíduos tenham condições iguais de alcançar suas metas. E assim não posso deixar de ver como justo, o benefício que age para compensar a desvantagem inevitável que alguns têm diante de outros. Há deficientes a lutar muito, mas sejamos sinceros em dizer que outros ficam a lamentar-se e a esperar que a lei lhes conceda tudo o que não obtiveram por esforço próprio. A lei deve ser sempre um alentho para quem luta, não premiando jamais aquele que não merece. Esta é a condição de credibilidade da lei.

    Sempre ouço deficientes a culpar a frouxidão da lei. Parece que todos os deficientes são qualificados e produtivos e que o único problema é o preconceito e aleniência das autoridades com empregadores de mau caráter que se furtam ao cumprimento da lei. Lutemos por seu cumprimento. Quando temos apenas 19% de deficientes empregados, não se questiona a tutela governamental. Contudo, por saber que a lei é mero anestésico que não sumprime as raízes da patologia, devemos, com muito mais ênfase, lutar pela qualificação profissional e, em seguida, sermos críticos em relação à nossa produtividade. Se fôssemos compelidos a empregar pessoas, deficientes ou não, tivéssemos de pagar seus salários e não tivéssemos a contraprestação de um serviço bem feito, também nós estaríamos insatisfeitos.

    Por vezes, somos improdutivos por razões que não têm ligação com a falta de vontade. Em meu primeiro emprego, não fui produtivo o tempo inteiro. Era inseguro. Tinha receio de bater no peito e dizer: “Deixe comigo que este problema, resolvo eu”. Assim, tinha atitude vascilante que se convertia em menor produtividade. É possível que deficientes não sejam produtivos por outros motivos. Jamais podemos ignorar este sintoma. Se, de fato, estamos em desvantagem, é preciso que um sacrifício adicional ponha-nos em condição de concorrer com outros indivíduos. O que não se pode fazer é dizer que deficientes têm direito a emprego porque são deficientes. Isto seria tão incoerente quanto dizer que não o tem pelo mesmo motivo de serem deficientes. Se pedimos emprego porque dizemos que deficientes podem ter a mesma qualificação e produtividade, quando contratadas, estas pessoas devem mostrar-se qualificadas e produtivas.

    Mas tanto quanto eu fui, creio que muitos deficientes são improdutivos porque tem receio de arriscar, porque não encontraram o caminho da qualificação profissional, porque se sentem inferiorizados. Não podemos deixar de exigir qualificação e produtividade. No minuto em que deixarmos de o fazer, perdemos o direito moral à tutela da lei. Estas pessoas necessitam ser produtivas se estiverem empregadas e orientadas se não o estiverem. Por isso, isso cada um de nós que tiver encontrado o seu espaço, grande ou pequeno, deve falar para que outros nos ouçam e sintam que podem trilhar o caminho percorrido e vencido por outros indivíduos também deficientes. Por cá, temos muita gente de êxito que podem ensinar-nos o bom caminho. Há pouco tempo, estava a ler sobre cegos que tomam conta perfeitamente de suas casas. A despeito do êxito profissional, não tinha qualquer independência dentro de casa. Pois, eis que o Luís já está a cozinhar uma dezena de pratos e conquistou a imensa alegria de ver-se produtivo também na cozinha. Tinha certa convicção de que não podia fazê-lo com competência. Bobagem tremenda. Eu precisava querer e enquanto não quis de fato, nada consegui.

    O amparo social é necessário. Há quem não possa prescindir dele. Mas não podemos confundir emprego com amparo. São coisas muito distintas. Se um deficiente não é produtivo ou não tem qualificação profissional deve ser desligado da empresa. Certa vez, ouvi de um empregador: “Deu-me a vontade de empregar um cego, mas não o fiz. Fiquei a pensar o que seria de mim se, havendo a necessidade de cortes de pessoal, tivesse de o escolher para o desligamento. Não poderia fazê-lo e, como sei que não posso, então, não o contrato”. Argumentei que ele estava a pensar mais em si do que no deficiente. Se realmente havia convicção a respeito de sua capacidade e adequação ao cargo, então, não poderia deixar de contratá-lo.

    A isso não posso dar outro nome: é preconceito mesmo. Mas pergunto-me quantos deficientes reforçam esta perspectiva? Quando deficientes estão a pedir benefícios desmedidos ou se sentem melindrados por uma cobrança mais forte, estão a dizer, sem palavras, que são diferentes e devem ser protegidos. Ora, para o empregador o que se tem de proteger é o negócio e se há pessoas que se sobrepõem ao negócio, melhor mesmo é que não as tenha em sua empresa. Não, não ensinemos o preconceito a ninguém.

  • Luís Medina comentou a entrada "XHTML + CSS = Sites mais acessíveis" à 14 anos 10 meses atrás

    Filipe,
    Não discuto o tema que propõe porque para isso faltam-me conhecimentos! De qualquer modo, seu texto despertou-me uma curiosidade. Brinquei um pouquinho com HTML e PHP. Escrevia tudo em um editor de textos. Imagino que, para pessoas cegas, é sempre melhor escrever do que criar páginas com outras ferramentas. O que lhe pergunto é: estou correto? É isso mesmo? Ao programar o HTML, a ferramenta em que cegos se revelam mais produtivos é o editor de textos? Qualquer editor? Há algum editor especializado em HTML que se revela mais produtivo do que o bloco de Notas? Que orientação daria para cegos que querem gerar código HTML? Desculpe-me se alterei um bocadinho o tema.

  • Luís Medina comentou a entrada "Portugal emprega menos incapacitados " à 14 anos 10 meses atrás

    Muito bom! Não conhecia estas definições. Então, vejamos se entendi corretamente.
    Doença é uma anormalidade orgânica ou psicológica. Deficiência é uma redução decorrente de uma doença. Incapacidade decorre de uma deficiência orgânica e limita a interação social de um indivíduo. Desvantagem decorre de uma deficiência psicológica e também limita a interação social de indivíduo.
    Quando mencionei interação social, considero família, escola, trabalho, bem como, outros espaços sociais. Para mim, não ficou perfeitamente clara a distinção entre incapacidade e desvantagem. A impressão que se tem ao falar, é que incapacidade é algo mais forte do que desvantagem. Parece-nos que incapacidade é barreira intransponível e que desvantagem é apenas o fardo de quem saiu correndo atrás, mas recuperou-se no meio do caminho e, ao fim, se seus meios não foram iguais, seus resultados, sim o foram. Mas isto são especulações de leigo.
    Gostei muito das definições, pois gosto de utilizar as palavras certas. elas são muito mais exatas do que minha definição mal engendrada de leigo!

  • Luís Medina comentou a entrada "Brasil - Acompanhante de deficiente terá desconto em passagem aérea" à 14 anos 11 meses atrás

    Ewerton,

    É justo que acompanhantes tenham desconto? Se a companhia aérea não designar um funcionário, sim é justo. Se a companhia tem a obrigação de prestar a devida assistência a deficientes e não o presta, é justo que seja onerada com um desconto ao acompanhante, sim, é justo. O desconto aos acompanhantes é menos um benefício ao deficiente e mais um tributo para a companhia que optou em não prover ela própria acompanhante durante a viagem.

    Se entendêssemos o desconto como benefício, encontraríamos alguns obstáculos lógicos de difícil justificativa. Por que deficientes precisam de acompanhantes e outras pessoas não? Porque possuem dificuldade de locomoção diferentemente de outros indivíduos. Por que os acompanhantes dos deficientes necessitam de desconto e os acompanhantes de outros indivíduos não? Porque deficientes têm maior carência financeira? Esta justificativa é inadequada. Se falássemos de carência financeira, estaríamos a falar de fornecimento de leite, de Bolsa Família, de quaisquer medidas que beneficiassem um público carente. Se você viaja de avião, supõe-se que necessite de hotel, de restaurantes e de uma porção de gastos que o desqualificam como pessoa carente. Em outro comentário, denominado "O preço de não pagar nada" ponderei porque não suponho que deficientes sejam mais merecedores de passagens aéreas subsidiadas do que quaisquer outros indivíduos. E em "Justiça e viabilidade", argumento que por vezes, a justiça de um benefício tem de aguardar a viabilidade para que classes de indivíduos iguais não sejam tratadas de forma diferente.

    Ah! Mas um deficiente pode estar a viajar de avião porque necessita fazer uma cirurgia. Se o motivo da edição da lei fosse esse, então, estaríamos a discorrer longamente sobre a forma de comprovação de renda, de apresentação de atestados médicos, de agendamentos de cirurgias... Não poderíamos admitir que outros deficientes, a passeio, subtraíssem recursos necessários ao custeio das passagens de deficientes que viajam angustiados para tratar da saúde.

    Deficientes são pessoas especiais? Sim, mas apenas quando qualquer condição diferenciada for devida pelo especial motivo de sua deficiência. Não podemos requerer descontos no supermercado, pois outros indivíduos têm estômagos igualmente exigentes. Não podemos ir gratuitamente a um concerto de Rock porque não há motivos para que nos divirtamos mais do que outros indivíduos. Há poucos, realmente poucos motivos para benefícios genuínos. Contudo, sempre que estes motivos genuínos aparecerem, é lícito, é moral, é justo que os requisitemos. Sempre que nos manifestamos a favor de benefícios incoerentes, pagamos o preço de perder credibilidade. Quem pede a todo o momento, não é ouvido quando tem razão.

    Gostaria de ver o mesmo entusiasmo para solicitar mais livros nas bibliotecas Braille. Mas, em geral, elas estão vazias. Há algum tempo, li sobre a possibilidade de que uma delas fosse desativada por falta de leitores. Quando temos tantos cegos desempregados, supomos que a procura por livros possa aumentar, mas infelizmente, a maioria continua a apostar na sorte ou na indicação de um amigo bem relacionado. O grande ciclo vicioso é que, quem não estudou, em geral, não é capaz de valorizar o estudo. Ao contrário, prefere chamar a atenção para outros aspectos em que tenha demonstrado êxito em sua vida. Não, não digo que estudar seja o único caminho, mas tenho observado que é o caminho mais seguro.

    Mas se estamos o tempo inteiro a requerer passagens aéreas, quando não temos livros nas bibliotecas, então, seremos tratados como pessoas incoerentes que não pensam em um meio para crescer, mas tão-somente em um conforto material subsidiado. E se vendermos esta espécie de credibilidade, então, é bastante provável que não tenhamos êxito em nossos pleitos. Talvez, haja quem diga: “Ora, ora, o Luís parece que torce contra!” Não, definitivamente não. Entretanto, gostaria que tão-somente os pedidos coerentes, bem ponderados fossem feitos, pois assim, teríamos maior chance de que as verdadeiras e grandes causas das pessoas deficientes fossem atendidas.

    Certo dia, um colega disse-me: “Como sabe, participo de um grupo de discussão voltado para o público de pessoas cegas. É incrível! Como escrevem mal. Sim, é verdade que o brasileiro, de modo geral, escreve mal. Mas o que vi é estarrecedor! Os erros de grafia chegam ao absurdo. Não poderia ser de outro modo. Se o pouco que lêem é por meio de leitores de tela, se esqueceram o Braille e se não possuem o costume de consultar dicionários, então, não poderiam escrever de outro modo”. E mal sabem os que assim procedem que a escrita é instrumento de poder. Se somos aptos a escrever um texto correto, passamos a imagem primeira de pessoa cuidadosa, observadora e inteligente. Se, ao contrário, escrevemos mal, passamos a imagem de pessoa relaxada e nossas idéias são tidas menos em conta do que o seriam se tivéssemos escrito um texto adequado.

    Não lhes digo isso para que cessem de escrever ou para que fiquem magoados comigo. Na verdade, esta reflexão nasceu da leitura de mensagens de um grupo e não me refiro a ninguém que tenha comentado neste tópico. Tenho a preocupação de que todos aqui tenham o seu emprego, escrevam bem ou mal. Também não quero ler apenas textos incrivelmente bem acabados. Não estamos na Academia Brasileira de Letras. Na verdade, apenas digo isso, porque sei que a má escrita é, para muitos cegos, sem que o saibam, motivo de exclusão, de imagem prejudicada e, portanto, pessoas mais passíveis a não progredir no emprego e na vida. Além disso, creio que se abrisse um tópico sobre esse assunto, a maioria o descartaria pelo título. Tenho de correr o risco de ser mal entendido. O que desejo é despertar indivíduos para uma realidade que, dita ou não, faz parte da vida. Bem melhor é que se fale sobre ela e que possamos mudá-la. Mas se continuaremos a pedir benefícios com o espírito “se colar, colou”, então, não podemos esperar que nos levem a sério. Creio que precisamos menos de benefícios e mais de atitude. Comentei um texto que revela minha doutrina. Está em http://www.lerparaver.com/braille_paixao. O título do comentário é “Atitude”. Não espero que muita gente comente este texto. Sempre que abordo o tema da responsabilidade individual e da atitude, o texto faz pouco sucesso. Disso é exemplo, o primeiro texto que publiquei no Ler para ver que jamais foi comentado: http://www.lerparaver.com/node/8262.

  • Luís Medina comentou a entrada "Portugal emprega menos incapacitados " à 14 anos 11 meses atrás

    Incapacitados? Bem, o termo não me parece nada elegante. Mas fiquei a pensar que em espanhol, deficiente diz-se "descapacitado"; emitaliano, "disabile" e em inglês "disable" que, do mesmo modo, significa não capaz. Traduzindo assim, de forma crua, parecerá que espanhóis e ingleses não possuem uma imagem muito boados deficientes. Mas realmente não sei qual é a carga pejorativa que empregam no vocábulo. Se, ao falar, não associam deficientes a pessoas derrotadas, incapazes de conseguir qualquer coisa com o próprio esforço, então, a despeito de feio, o termo não causa maiores danos. Por vezes, as palavras começam sua história de um jeito e, depois de algum tempo, já não possuem vínculo com o significado original. Ao menos em português do Brasil, devo concordar que o vocábulo é pesado e desagradável.

    Mas porque não dizemos o mesmo da palavra deficiente? Deficiente não é o contrário de eficiente? Então, deficiente não é pessoa a quem falta algo e que, portanto, está fora da expectativa? Sim, contudo sabemos que estamos a falar deumadeficiência específica: ou dos olhos, ou dos ouvidos, ou dos braços... Tachar de deficiente um indivíduo não o ofende porque restringimos sua ineficiência ao campo anatômico e, portanto, ao aspecto irrefutável de sua desvantagem.
    O problema é que, no português, incapacitado não têm a mesma denotação. Se dizemos incapacitados, embora logicamente fosse possível restringir a incapacidade aos olhos, aos ouvidos e aos braços, não ofaríamos. O vocábulo comporta algo de reprovação. Quem é deficiente possui uma desvantagem, mas quemé incapaz parece culpado de alguma coisa. É o que os vocábulos sugerem. Por isso, um é aprovado e o outro não. É curioso, se procurarmos no dicionário, é provável que os termos sejam dados como sinônimos. Mas os dicionários não têm os ouvidos das ruas.

  • Luís Medina comentou a entrada "Testemunho sobre o braille na minha realização pessoal" à 14 anos 11 meses atrás

    José,
    Parabéns pelo texto e também pelas poesias. Li o Cofre de Ternuras e achei-o saborosíssimo.
    Os leitores de telas são a maior invenção tiflológica desde o Braille. Mas ao contrário de exterminar o primeiro, aumentou-o em produção e em número de leitores. Não são, portanto, tecnologias rivais, mas irmãs. Há que se ter profundo cuidado em adotar o leitor de telas como o seu único instrumento de leituras. Tenho observado que alguns cegos, esquecidos do Braille, tornam-se analfabetos digitais. Ouvem, escrevem como ouvem e às vezes, o resultado é muito ruim. Não digo isto para tachá-los de qualquer coisa. Na verdade, lamento porque, no ambiente de trabalho, tão má ortografia pesa contra a imagem e fecha as escassas portas. Preocupar-se com a correção da escrita e do vocabulário é conferir credibilidade a tudo quanto se diz. Um palestrante cego tem duas alternativas: ou esmera-se em organizar mentalmente sua apresentação ou tem um apontamento em Braille a seu lado. Os notebooks, tão simpáticos, neste momento, serão pouco práticos. Portátil mesmo, somente o Braille.

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