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Filho de Cego sabe Braillar - blog de aquilino

Homenagem ao Rui Fontes

por aquilino

Que me perdoem os leitores do LerParaVer este tratamento coloquial, mas somos de certa forma uma comunidade de amigos ligados por um tema comum: a perda de visão. Um destes nossos amigos, o Rui Fontes, tem sido um paladino da acessibilidade, ao distribuir um dos leitores de ecrã mais completos do mundo, o Jaws, através da sua empresa Tiflotecnia. Em todos estes anos (já lá vão 21) em que tenho trabalhado no ramo das tecnologias de apoio, foram muitas as vezes em que forneci o software Jaws aos meus clientes, e em todas elas sempre me socorri dos conhecimentos do Rui, que nunca me negou o seu tempo, às vezes fora de horas. Como alguns sabem, a minha empresa representa outra marca de software, a Dolphin. Mas sempre tivémos como princípio respeitar a vontade do cliente, e por isso, sempre fornecemos o Jaws a quem mostrasse preferência por este leitor de ecrã.
Vem isto a propósito da recente notícia da transferência da importação do Jaws para outra empresa, cuja postura para com a concorrência é de grande agressividade, e não de parceria. Eu também senti isto há uns anos atrás, quando essa empresa apareceu no mercado disposta a revolucionar o mundo, qual salvadora da pátria, como se até aí ninguém tivesse feito nada pela acessibilidade. Que triste é haver pessoas que para vencerem na vida precisam esmagar o vizinho.
Tenho sérias dúvidas de que esta mudança seja boa para os utilizadores. Se a Tiflotecnia, a Electrosertec, a MAM, a Hemicare e tantos outros forem forçados a adquirir o Jaws à nova empresa, irão encontrar condições duras: preços mais altos, exigência de quantidades mínimas anuais, etc. E que será da assistência técnica? O Rui conhece o Jaws de trás para a frente, e tem gosto no que faz. Fá-lo com espírito de missão.
Não sei o que o futuro trará, mas sei que o mercado é cruel e ingrato. E não posso deixar passar em branco este momento sem mostar a minha solidariedade para com o Rui e a minha gratidão.
Aquilino Rodrigues

Comentários

Prezado Aquilino.

quero também associar a minha voz a esta sua manifestação de solidariedade para com o Rui, e faço-o publicamente porque é da mais elementar justiça.
Eu, que não tenho interesses comerciais de nenhuma espécie, permita-me dizer-lhe que fiquei muito sensibilizado com esta sua mensagem, tratando-se de empresas que para todos os efeitos são concorrentes.
Dou-lhe os parabéns por esta postura de frontalidade e sinceridade.
Quem conhece o trabalho que o Rui faz ao longo destes mais de 10 anos, sabe que ele tem sido de uma dedicação a toda a prova. Seja de manhã, de tarde ou à noite, ao fim de semana, ele sempre se tem mostrado disponível para ajudar os utilizadores do jaws, e tenho de o dizer, mesmo aqueles que não usam versões legais foram ajudados sempre que precisaram.
Não estou em condições de me pronunciar publicamente sobre a intenção da fredom, porque não tenho conhecimento da matéria, que me permitiria falar com o rigor que um fórum público como este impõem, mas sob o ponto de vista pessoal não tenho dúvida que foi uma enormíssima machadada no jaws, porque conhecendo eu relativamente bem o mercado tiflotécnico e os agentes que nele se movem, não há neste momento nenhum empresário capaz de representar tão bem o Jaws como o Rui.
E quando se apontava e de facto com razão o problema das traduções do jaws, confesso que ao ver a tradução que foi feita desta versão 12.0, fiquei com os cabelos em pé.
Em primeiro lugar tanto a tradução português Brasil como a tradução Português Portugal, dá a ideia clara que é a mesma. Não experimentei a tradução ptb, mas na ptg, existem termos como por exemplo treinamento, que é claramente usado pelos nossos companheiros do Brasil.
Se assim for, estamos claramente perante uma publicidade enganosa, e não temos de ter medo das palavras. Se a ideia era fazer uma tradução unificada, que se dissesse isso na própria página, e escusavam de dizer que haviam duas traduções, quando na realidade só existe a tradução para português do Brasil.
Caso ajam diferenças significativas nas traduções que até agora ninguém vislumbrou, lamento mas então que se traduza verdadeiramente, e se deixem de usar terminologias que em Português de Portugal não se utilizam.
Creio que a pergunta impõem-se. Entre ter uma tradução francamente má, e não ater nenhuma, o que será mais benéfico? Talvez a resposta não seja assim tão linear.
Por outro lado, é no mínimo paradoxal que alguém que ao longo de 8 anos sensivelmente andou a vender um leitor de ecrã como o windoweyes, promovendo-o à custa de denegrir o jaws, e isso assisti eu várias vezes, venha agora dizer que afinal o windoweyes não é assim tão bom, e que o jaws é que é um leitor de ecrã fabuloso.
Eu sei que tudo isto é puro negócio, e o que manda é o dinheiro, mas caramba. Não façamos tudo pelo dinheiro, não é preciso termos duas caras a troco de meia dúzia de tostões.
É que reparem. O problema não está uma empresa vender um produto e passar a vender outro. Aqui a questão é que antigamente a empresa para vender um produto denegria o concorrente, e agora vai deixar de vender esse produto, e passa a vender o eis concorrente que tanto criticava.
E à conta disso, temos imensas infra-estruturas que foram equipadas com soluções tecnológicas desadequadas como por exemplo o leitor de ecrã windoweyes, que todos sabem não tem a mesma performance do jaws, nomeadamente na Internet, que é a principal valência desses equipamentos.
Quero por isso enviar um forte abraço ao Rui, e pedir que apesar de toda esta selvajaria à vista de todos, aja bom senso.
Desejo que o novo importador oficial demonstre alguns laivos de bom senso e dignidade, e que perceba que sozinho já mais vai conseguir prestar suporte ao jaws, porque este leitor de ecrã é talvez o melhor do mundo, mas também é de longe o mais complexo, e exige-se que quem dá suporte técnico possa estar dotado de conhecimento, experiência para prestar o necessário suporte.
Espero por isso que da parte da antiga empresa que representava o jaws e da nova, aja a capacidade de diálogo necessária, para sobre tudo defender os interesses dos utilizadores.
Não podia deixar de manifestar este meu sentimento, porque muito mais importante do que as questões comerciais e adjacentes, é ser justo e grato para alguém que enquanto foi representante deste leitor de ecrã deu tudo o que tinha para o valorizar.
Infelizmente a Fredom talvez não saiba, mas é bom que eles percebam que devem muitíssimo ao Rui pelo facto de o Jaws se ter implantado tão bem no mercado português.
É bom dizer isto a bem da justiça e da verdade

+Filipe Azevedo

+Filipe Azevedo

Viva a todos, na verdade creio que muitas poucas pessoas se podem alegrar da situação que ocorreu. Se de facto existe uma concorrência sã e leal no mundo das ajudas técnicas, deve-se ao facto de pessoas como o Rui fontes, o Aquilino o António Silva e muitos outros trabalharem e saberem trabalhar com as pessoas. Não ao facto de empresas monipolizadoras que tentam derrubar tudo e todos estarem no mercado, sem deixar que outros possam fazer um serviço de qualidade, voltado ao cliente. Quanto a traduções, não vou falar muito, pois não as utilizo, embora reconheça que muitas pessoas prefiram utilizar uma versão traduzida em relação a uma versão original. Este capítulo no mundo das ajudas técnicas, só agora começou a ser escrito, e muita tinta irá por certo correr, mas creio que quem fica mais prejudicado, em última análise, será o utilizador final, pois tudo indica que os preços aumentarão, a qualidade do serviço deixará muito a desejar e toda a rede comercial de sã concorrência, criada por pessoas que já mencionei, terá menos uma opção para trabalhar, prejudicando em todo o caso, o utilizador final... E traduções, que ao menos sejam de qualidade, testadas e sem serem google traduções, porque para isso quem precisar, também pode utilizar o serviço sem que ter que pagar mais para a utilização. No entanto, sejam todos bem-vindos ao monopólio do dinheiro.

Em primeiro lugar gostaria de dar ao Aquilino os meus parabéns por esta postura. Não é para todos.

à cerca de 3 anos, quando eu e os outros membros do megaTTS fazíamos podcasts regulares, tivemos tanto a participação do Aquilino como do Rui Fontes. Foram ambos duma disponibilidade fantástica. E essa disponibilidade traduziu-se em muito mais que meras participações em podcasts. Da Ataraxia, agora distribuidor do JAWS e alvo de muitas dúvidas da comunidade, tivemos "white noise".

Eu não sou utilizador regular do JAWS, como quem me conhece sabe. Não se trata duma questão de não gostar ou achar caro ou que não tem qualidade. É sem duvida o leitor de ecrã mais completo da actualidade. Porém nunca senti necessidade do mesmo. Conheço, no entanto, muitas das suas funcionalidades e formas de interacção. Sem o suporte que o Rui Fontes tem dado nos últimos anos, com ou sem traduções actualizadas, duvido muito sinceramente que a maioria dos utilizadores do dito leitor em Portugal e não só tivessem conseguido o domínio necessário para o utilizarem de forma eficaz nas suas vidas. É um programa com uma interface complexa, e por vezes não muito "intuitiva". Nem toda a gente tem a capacidade ou os conhecimentos para a dominar sem ajuda ou formação. E quanto as traduções, que no fundo era a única coisa que eu ouvi queixas, os novos distribuidores não agradaram lá muito ao publico, para não dizer pior.

Por outro lado, e não tendo eu próprio nenhuma queixa da Ataraxia (diga-se de passagem, nunca lá adquiri nada também), a fama que têm por aí não é das melhores. Questiono-me se conseguirão, ou terão se quer interesse, em dar o suporte ao JAWS que o Rui tem dado, por esse país e por esse mundo. E ao que me consta não apenas a quem lhe comprou o JAWS, ou se quer comprou o JAWS a alguém (para bom entendedor meia palavra chega). Isto tudo já sem falar nos possíveis aumentos de preços e afins, que não são nada a desconsiderar. E não comento as políticas de concorrência que o Aquilino menciona, a redundância afecta-me o sistema nervoso central :).

Neste mercado das tecnologias para cegos (não vou usar a tiflotecnologia ou o raio, estão sempre a mudar os termos) a relação com o cliente parece-me ainda mais importante e indispensável do que noutros. O "passa palavra", a confiança, etc etc etc fazem os consumidores felizes, mais do que "trabalhar com os melhores". E muito sinceramente a palavra que me têm passado da Ataraxia não se compara nem de perto nem de longe com o que tanto o Rui como o Aquilino têm feito transparecer. E daí que eu afirme convictamente que temo pelos utilizadores do JAWS em Portugal. Sem ajudas técnicas, sem um suporte próximo e sem "soluções alternativas" (sim estou a falar de cracks), vai haver menos JAWS. Vai mesmo.

Alguns até poderão dizer que isso até é bom para mim, porque gosto muito do NVDA e tal. Todavia Além de eu não ganhar nada com haver mais utilizadores do NVDA (só satisfação) sei que mudanças forçadas só vão progedicar as pessoas. Para muitos será um retrocesso, uma adaptação, o que seja. Isto falando em mudanças para o NVDA, ficando com versões antigas do JAWS, ou o que quer que se arranje como solução alternativa. E já que se fala no NVDA fica aqui a dica para quem por aí diz que "nós" dizemos que é igual ao JAWS: não, em certas tarefas específicas ainda não é igual ao JAWS, aliás é diferente do JAWS, como é dos outros. É bom numas coisas, mau noutras, como tudo.

Para resumir esta coisa toda. parabéns ao Aquilino pela atitude tão... limpa. E parabéns ao Rui Fontes por tudo o que tem feito pelos utilizadores do JAWS e da informática no geral. Qualquer coisita estou por ái.

Rui Batista

P.S. Este texto é da minha, e só da minha responsabilidade. Já para não haver confusões.