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Cego dirige filme que pretende ser marco na história do cinema

por Manfas Petrónio

Pela primeira vez na história do cinema brasileiro, uma
curta-metragem está a ser dirigida em Brasília por um realizador cego, num exemplo de como o preconceito pode e deve ser superado.

João Júlio Antunes, 44 anos, perdeu a visão aos 30, devido a uma rara doença genética,
chamada retinose pigmentar, que causa a destruição das células da retina, refere
a agência Lusa.
Mas nem a cegueira, nem a morte prematura dos pais ou a deficiência renal, que o
colocou na fila de espera por um transplante, o impediram de realizar o sonho de
tornar-se um cineasta.

Vencendo todos os preconceitos, conseguiu o apoio da Secretaria de Cultura do Distrito
Federal e de empresas como a Petrobras para rodar o filme «Uma vela para Deus e outra
para Beto», que deve ser finalizado ainda este mês.

«Eu cheguei a ouvir pessoas a dizer: `Coitado! Um cara cego e quer dirigir… Alguém
tem que dizer para ele que isso não pode, que cinema é uma arte visual`. E eu estou
aqui mostrando que não é assim », afirmou o realizador à agência Lusa.

João Júlio Antunes considera a sua vida uma história de superação e aconselha a todos
Que lutem pelos seus sonhos. «Tudo o que você quer, que você sonha, que você deseja, que você vai atrás, você consegue», garantiu.

A memória visual forte que ainda tem dos tempos passados, a audição aguçada e a bengala
são fundamentais para executar o seu trabalho de realização.
A equipa de filmagem e o elenco consideram um privilégio trabalhar com João Júlio
Antunes, que contagia todos com sua alegria, bom humor e cordialidade.
«Nem parece que ele tem deficiência nenhuma. Ele vive com uma alegria muito grande e, para mim, é um exemplo de vida, de pessoa. Eu estou muito feliz de estar participando
neste projecto», declarou à Lusa o actor César Peres Neto.

«A falta de visão dele não transparece como uma limitação. O lado mais incrível de tudo isso não é a história do Beto, que é o personagem, mas a história do João, que é uma figura sensacional», disse à Lusa, por seu turno, João Campos, que interpreta
o protagonista do filme.

«Uma vela para Deus e outra para Beto» conta como um jovem herdeiro de um banco, que tem como conselheiros um monge budista e um padre, resolve mudar radicalmente
de vida.

Por trás das câmaras, a outra história que revela a força e a determinação de um homem cego, negro e pobre que deita por terra os preconceitos.

«Eu quero crer que este filme seja um divisor de águas», disse Antunes à Lusa, lembrando
que a curta metragem utiliza a Língua Brasileira de Sinais (Libras), legendas para
surdos e áudio-descrição, recurso que permite a inclusão de pessoas com deficiência
visual.

«É um filme a que qualquer um pode assistir, um filme para todos», destacou o realizador.
As gravações da curta-metragem começaram em Julho e o filme deverá participar no
Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que ocorre em Novembro.

Fonte: Lusa

Comentários

Antes de mais gostaria de felicitar o João Antunes pela valentia! e todos os que participam neste site.
Gostaria de saber onde posso adquirir o filme pois seria um enorme praze passá-lo aos meus alunos de Baixa Visão.
Sucesso para todos!
Ana Raquel

Sou amblíope e sou actor de cinema, tv e teatro e nao pude deixar de comentar este assunto. São pessoas como o Joao, que vale apena ir em frente e dizer a todo o mundo, que somos iguais aos outros, independentemente das nossas limitações. Gostei muito de saber que foi em frente. Quero deixar mais uma nota. Se por acaso vier a Portugal filmar, quero ser actor num dos seus projectos. Força Joao.
www.facebook.com/rogerio.actor