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www.lerparaver.com/blogs/luisferreira - blog de Luís Ferreira

Será que podemos participar na sociedade?

por Luís Ferreira

Olá! Chamo-me Luís Ferreira sou natural de uma aldeiao do Concelho de Pombal e desde nascença que vivo com baixa visão. Os meus pais sempre pretenderam que eu me integrasse na sociedade, mas à maneia deles. Eu sonhava com uma vida boa em que era rico, prestigiado, casado e com uma grande vivenda.
Na escola primária era conhecido por "Luís ceguinho" e a primeira professora que tive em vez de solicitar apoio especial para mim, colocou-me à margem a fazer desenhos. Na adolescência era algo de escárnio por causa de usa óculos graduados e não me aceitaram nos escuteios, alegando que era complicado para mim, porque via mal.
Licenciei-me em Linguística e profissionalizei-me como professor de Português, tendo já dado aulas em diversos locais do país. No entanto já fui discriminado como professor: No ano lectivo 2006/2007 fui colocado na Madeira, mas fiquei com horário zero, à semelhança de outros colegas não eficientes. Um vice-prsidente do executivo perguntou-me se já tinha dado aulas e se o meu horário zero resultava de ser deficiente visual. Depois destacaram-me para outra escola, tendo ficado na biblioteca sem tarefas atribuídas. A presidente começou então a dizer que eu era um incompetente, que não fazia nada, que vivia à custa deles, só tinha vindo estorvar à Madeira e gozava com a minha deficiência. Um dia o vice-presidente veio à biblioteca para convidar um colega meu para ir ver a aplicação de uma nova tecnolog na sala de aula, nessa altura vira-se para mim e diz: o Luís não, pois se fosse braille, agora informática... Este ano fui de novo colocado sem horário, mas noutra escola, mas a presidente do executivo nãome quis atribuir um horario que lá tinha, porque eu não via e os alunos podiam não me obedecer. Fui então destacado para uma outra escola onde estou a dar apoios e não sinto discriminação e ataques pessoais, porém muitos não percebem como é que eu cheguei a professor, dado que vejo mal.
Duas questões: porque acontece isto em Portugal, sobretudo na Madeira ? Devido ao baixo nível cultural, à aliteracia e à falta de sensibilização por parte do Estado, das ONG, IPSS, etc.
Pode o deficiente visual fazer mais alguma coisa na vida depois de ser discriminado? Sim, nas próximas entradas irei dizer o que já fiz e o que faço na vida, bem como reflectir sobre o fenómeno da discriminação que ainda persiste no século XXI em sociedades que se dizem evoluídas. Se me quiser contactar digite: luismferreira@leirianet.pt

Comentários

Olá Luís !!

Por um lado fico contente, pq sempre foste um lutador e continua a ser assim !! lol
Por outro triste, pelo teu percurso de vida, pelas discriminações q passaste .... !! :-(
Foi muito mal, muito mal mesmo ... podiam ao menos dar-te uma oportunidade de provares q eles tavam enganados ... !!

Há coisas q podemos fazer, mesmo depois de sermos discriminados ... tais como:
Refilar e não deixar q outros nos pisem !! ,
Mostrar por videos e outros meios o q os DVs são capazes de fazer,
Uma entrevista na rádio local,
Publicar um artigo sobre os DVs na Net,
...

E principalmente dar o nosso testemunho, fazendo ver q não se deve tratar ninguém por coitadinho !!

Olá Luís Ferreira!

Chamo-me Céu e sou amblíope. Adorei o seu artigo! Estamos no ano 2010. E provavelmente o Luís não irá ler o meu comentário, pois já passaram 2 anos desde que o publicou no Lerparaver. Mas não resisti á tentação de comentá-lo. Este assunto toca-nos a nós e aos nossos filhos que estão nas escolas para se formarem.

Eu sei... é muito difícil ainda nos dias de hoje aceitar a ideia de que as pessoas duvidem das capacidades de um cego ou de alguém que tem uma visão muito reduzida como eu e o Luís! Pelo menos no nosso país este tipo de atitudes ainda é muito comum. Mas um professor discriminar um colega, e dizê-lo assim, de caras? Isso é grave e põe em causa o ensino nas escolas!!!

O Luís formou-se. É professor e, a função de um professor é ensinar, educar, preparar os alunos para o futuro. Porém a direcção das escolas onde tem sido colocado negam-lhe o exercício da sua função só porque vê mal, porquê? Acho inadmissível numa escola acontecer este tipo de situações caricatas! Não é nas escolas que nos ensinam: a respeitar, a partilhar, a viver em sociedade, aceitando as diferenças de cada um, sem pôr em causa as nossas capacidades? Onde está a mudança de mentalidades nas escolas no século XXI?

E fala-se tanto nas escolas dos DIREITOS... Quais direitos? Esses seus colegas que o rejeitaram, duvidando das suas capacidades, não merecem o lugar que ocupam!

O Luís é para todos nós mais um motivo de orgulho, pois lutou e continua lutando por um lugar nesta sociedade tão discriminativa!

Desejo-lhe as maiore felicidade!

Céu!

Gostei de todos os comentários que foram aqui colocados, principalmente, o da Céu. Realmente é difícil participar na sociedade, porque sobreviver no mundo dos ditos normovisuais é muito difícil e no mundo dos cegos é quase impossível.
Relativamente às escolas, eu por onde tenho passado, tenho sido sempre alvo de discriminação, ecxepto numa escola onde não notei nada e numa outra onde estive dois anos e onde também não tive problemas de maior.
Actualmente, estou a leccionar numa escola do Continente e tenho sido não só de discriminação, mas sobretudo de alunos e pais que me rejeitam por eu ver pouco. Alguns pais exigiram a presença permanente de um professor da área na sala de aula, outros o meu afastamento, outros que se falasse dos "professores invisuais",, na minha escola, somos dois. Muitos alunos não querem ter aulas com um professor cego ou com baixa-visão. Tive uma reunião com os pais de uma das turmas que leccionei este ano e eles não puseram em causa nem se eu era bom ou mau professor, nem se sabia ou não dar aulas, mas sim a minha deficiência visual. Alguns alunos portaram-se mal por eu não ver e assumiram isso mesmo. Muitos professores são racistas relativamente aos cegos e não só.
A própria delegada de grupo, que foi a uma das minhas aulas, disse-me que tudo tinha corrido bem da minha parte, e que nós tinhamos o direito a trabalhar, mas se os pais e os moços pensavam assim não valia a pena, pois uma coisa são os direitos, outra a sua efectivação, porque a sociedade não está preparada para aceitar um trabalhador com deficiência.
Para mim, os professores cegos ou amblíopes em início de carreira não terão futuro nenhum, exceptuando um ou outro caso, agora com as novas tecnologias nas escolas, muitas delas inacessíveis a nós, com a avalação, a indisciplina e o modo de pensar de muitos professores, alunos e pais, será fatal a nossa permanência na escola. Muitos poderão pensar que existe a educação especial, eu gostava de lá trabalhar, porém temos o mesmo problema, os pais, os colegas.
A escola inclusiva é um mito, o governo tem apostado e muito bem nisso, mas a sociedade retrógrada, conservadora e doentia que Portugal tem, sobretudo fora dos grandes centros urbanos, impedirão o progrsso da escola inslusiva. Eu sou um acérrimo crítico dos políticos, mas aqui eles fizeram o seu trabalho, o problema é depois esta sociedade que vive ainda à sombra de mitos do passado.

Bom dia Prof. Luís Ferreira!

Fico contente por ter gostado do meu comentário! Eu sou amblíope. Estou seriamente preocupada! Há 13 anos atrás entrei no curso de Psicologia. Desisti por cobardia...! Hoje quero retomar os meus estudos. Vou lutar com todas as minhas forças por conseguir realizar o meu sonho! Desta vez não vou baixar os braços.

Também vou ser vítima de discriminação. Já conto com isso! Mas tenho grandes capacidades para ir mais longe! Não quero passar o resto dos meus dias á frente de um telefone...acho que mereço mais! Hoje estou mais confiante, creio nas minhas capacidades! Vou lutar contra a rejeição mostrando tudo o valho. Não vou deixar que me magoem...disso tenho a certeza!

Cumprimentos

Céu