Sinestesias

Todo o meu corpo é sensação...
A vida pulsa na minha mão,
O vento é a ondulação
E eu o mastro que vai arriba
Cortando as águas com bolhas de sabão.

Cheiro a terra amolecida
E repleta de enxames de perfumes trepidantes.
É impossível perseguir a bela fugitiva
Que leva o perfume que mais me entontece...
Apenas posso desejá-la como amantes distantes...

Inclino-me com cortesia
E toco com delicadeza
E analiso a geometria
De cada coisa que me enfeitiça
Longos minutos com a sua beleza.

Escuto ainda que com imperfeição
A musicalidade da passarada
Nos seus raminhos tenros de eleição
Palrando com a vida toda dentro!
Escuto-os logo pela madrugada!

Cada nervo do meu corpo é um sensor:
Sinto como nunca antes senti
Que onde há cheiro há também sabor
Ou que onde há toque há também magia!
Antes via mais do que sentia!

Agora sinto a vida
Pulsando na mão,
O mastro indo arriba,
O perfume cativante,
A passarada sacudindo-se de animação!

A terra parece estar em festa
Pela chegada da ansiada Primavera!
Apesar de não enxergar a orquestra
E os coloridos vestidos
Ao menos sinto o pulsar da Primavera!

Marco Branco (26, 04, 10)