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Como é não ver? O que é ser deficiente visual?

por Lerparaver
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No tópico http://www.lerparaver.com/node/6266
Surgiu a questão, como é não ver? É difícil, é fácil?

O que é ser deficiente visual?

Autonomizamos este debate neste tópico.

Realmente é injusto... nos podermos fechar os olhos e voces não poderem abri-los... Vida injusta...!
Como é perder uma coisa depois de a ter?

"Em relação aos deficientes, os deficientes somos nós (as pessoas "normais")!"

Mas Pati perder a visão não é das coisas piores.

maciel

Sim, suponho que hajam coisas bem piores... mas confio que não seja muito fácil... Mas quem melhor que você para me explicar? (Se não for incómodo claro, por favor explique-me e a tantos outros como é!)

"Em relação aos deficientes, os deficientes somos nós (as pessoas "normais")!"

Pati podes fazer uma vida quase normal a unica coisa é que não podes guiarCARRO.

isto é o que eu digo sempre a muitas pessoas.

maciel

Pode ter certeza que até dirigir um carro vc pode ,pois o meu querido até tirou o carro da garagem...lógico que não pegou transito,pois não quiz pagar pra ver,eu até confiei nele mais ele não confiou em mim.tipo assim ele ia e eu voltava dirigindo... e eu que nem óculos uso ele não confiou, então fazer o que???
È só vc demonstra para quem esta com vc quais são suas vontades...
Desejo uma semana ótima para vc !!! E vai menos de 80 por hora ,tá??? abraços!!!!

Pois eu digo que ser deficiente visual e sofrer muito, Exclusao, descaso desrespeito com os sentimentos, afronta a nossa inteligencia solidao e por ai vai, NAO E NADA FACIL

aos 25 anos perdi fisicamente o ver oftalmologico mas como podia deixar de ver se continuei casado com a mulher ha 32 anos, criei o meu filho que tem 30 anos, reformei me com 41 anos de serviço tenho 54 faça as contas. Para ajudar digo que sou feliz .

o nosso que nos comanda é a maneira de pensarmos a vida. Se eu perguntar a uma mãe se quer perder a vista ou a morte dum filho o que seria a resposta... a vida é muito ingrata mas o melhor é saber amá-la .

Olá, Paty!

Não ver é...
É uma resposta muito individual!
Diariamente esqueço que não vejo, pois há coisas a fazer, a resolver, etc.
Habituamo-nos de tal forma a viver assim, que já faz parte!
O Ser Humano tem capacidades fabulosas! Uma delas é a fantástica adaptação às circunstâncias! Mas só descobrimos isso, depois, de nos surgir uma adversidade.
Nunca ninguém pense que: Está preparado para qualquer coisa! Nunca ninguém pense que sem ter passado por uma situação igual à do outro pode sentir ou sofrer o mesmo que ele!
Por exemplo, entre mim e a minha família, e tendo em conta a minha limitação, para mim já não é um monstro, de vez em quando surgem dias mais negativos, mas, para a minha família sofrem porque acham que todos os dias eu sofro muito não sou é de me queixar. Por muito que eu lhes explique, eles acham que não! Dizem que é só para os aliviar! Enfim! querem sofrer! Então! Eu, não, quero é viver! Sei que a viver vou sofrer, mas, também vou rir, brincar! A hora de sofrer, quando chegar, logo vejo se me apetece aturá-la! Sim, porque, às vezes também é necessário entrar um bocadinho na fossa, mas só um bocadinho!

Deixar de ver é...
Aprender a conviver com a pena social; (“coitadinha”, “fantástica”. E onde fica o ser “gente”?
Sentir que passa muita coisa por nós, sem que nos consigamos aperceber.
Sentir que tudo ficou feito em cacos.
Perder o espaço familiar; (superproteção ou abandono)por exemplo.
Perda de amigos;
Perda de emprego; etc, etc...
Não esqueço, que, esta é a minha experiência. Muito há a dizer. Muitos não concordarão com isto, outros acrescentam mais coisas.

Não ver, para mim, é uma limitação! Não uma deficiência!
Pode ser controverso, mas, é assim que penso! Sou e estou plena de todas as capacidades essenciais, que um indivíduo possui para se integrar na sociedade.
Penso, sinto, ajo/interajo, reajo, formulo a minha opinião, organizo a minha vida e ajudo a organizar a vida dos meus familiares mais chegados. É neste viver que surgem as limitações de quem me rodeia e que eu estou lá para ajudar, pois a mim é me fácil contornar esta ou aquela situação. E quando sou eu a esbarrar com as minhas limitações, uma das quais é não ver, lá está alguém para me ajudar!
Em que é que me posso sentir deficiente? Acho que a sociedade é que é deficiente!
Tenho 16 anos de cegueira.
Já aprendi muito, mas, ainda há outro tanto para aprender. Ufa! Ufa!Porque é que não nascemos ensinados?
Mas; afinal!
Quem não tem limitações?
Para que é que existe uma sociedade?
Não é, porque, o ser humano, precisa de viver em companhia de outros, com os quais se identifica, se une e constrói?
Beijinhos para ti e para todos os que acabaram de ler
Isabel Cardoso

ok... já percebi que estamos exactamente no mesmo comprimento de onda!!

"Em relação aos deficientes, os deficientes somos nós (as pessoas "normais")!"

Isabel,

Apesar de não possuir uma limitação física aparente...após
ler sua mensagem sinto-me motivada...a vencer a minha limitação quanto a vida....minha resistência...diante das dificuldades e meu desespero diante de fatores praticamente irrelevantes...sinto-me realmente motivada a valorizar a Vida e vencer as minhas limitações internas...que não me deixam enxergar um horizonte belo....
Bjos Rose.

Olá, Minha Querida Rose!
Desculpe, tratá-la assim, mas gosto que tenham este mesmo trato comigo!
Ao ler a sua resposta, também recebi não só um carinho virtual, como fiquei feliz por alguém ter recebido, quem sabe, uma onda de energia positiva.
É bom e não é, achar que as nossas limitações são pequenas ou inexistentes, perante a dos outros!
Cada pessoa passa por momentos frágeis na sua caminhada, não interessa se é pequeno ou não o problema, o que é facto é que é um problema, senão não sofreríamos. Acho que está no ponto certo para agir!
Forte, não é o que nunca cai, mas sim, o que cai e se consegue levantar!
Vamos Rose, para a frente é que é o caminho! Está na hora!!!

Só quero deixar no ar uma questão!
Andar constantemente entregue ao que não temos, ao que gostaríamos e não conseguimos, etc.
Já resolveu alguma coisa na sua vida?
Na minha não!
Ou só puxamos para nós mais e mais angústias, doenças, problemas, conflitos com os outros e até connosco mesmos?
Não quero dizer com isto que não o faço! Pois não saberia falar, sobre, o que é entregar-me aos problemas! E depois o trabalhão que tenho para sair deles!
Beijinhos
Isabel Cardoso

Tem coisa bem pior...
...Uma delas é : perder a pessoa que a gente mais AMA neste mundo...E mesmo sem ele nunca ter me visto com os olhos tenho certeza que sempre me viu e me ve com o coração , pois tenham certeza essa é a principal visão para qualquer ser humano que tenha o minimo de sensibilidade.
O não ver nunca nos fez falta,o que faz falta é a sua presença. o ser iluminado ...que cada um de nós temos bem dentro de nós que é único!!! Ah, e mesmo assim vcs pode ter certeza que o amor continua... pois sempre sinto a sua energia...
Bom por hoje é só então a todos : '' 1000 abraços ''

Olá! A vida do deficiente visual é simples. Nós cozinhamos normalmente, limpamos a casa normalmente, enfim vivemos como os outros vivem.

Para nós conseguirmos viver normalmente precisamos de aparelhos que nos auxilie, como todos que frequentam este site, suponho que saibam, pois o site se preocupa muito em demonstrar tudo que acontece envolvendo os deficientes visuais.

Gostaria até de citar uma frase que tem muito a ver com o tópico:

Nos preocupamos em pensar como uma pessoa que possui algum tipo de deficiência vive. As vezes sentimos pena, sem saber que os dois dons que são de mais valia nunca perdemos, sendo eles o dom de pensar e o dom de sentir.
(P.A.S)

Sidarta

Sidarta

 Oi Isabel, boa noite.

Realmente, como a amiga mesmo disse, essa questão de que a cegueira é uma limitação e não uma deficiência é mesmo controversa, pois são as duas coisas!
Acho que as pessoas estão sempre querendo minorizar as questões da cegueira, que não são poucas! Vivo bem com minha deficiência sensorial e já passei pela
fase de reabilitação ou adaptação à essa realidade já faz tempo. É certo que a cegueira nos traz limitações, pois temos de, através de meios alternativos,
tentar substituir a visão para que possamos nos apoderar da realidade que nos circunda e, nos acostumamos tanto em nosso dia a dia a essa realidade que
esquecemos que somos cegos e até achamos que enxergar é o que a gente faz. No entanto, temos nossa forma de ver e de nos apercebermos da realidade que
possui os seus limites e com o tempo não nos apercebemos desses limites em nossa visão do mundo. É como se o que não percebemos do mundo não existisse,
mas existe! Como seres humanos temos sentimentos, inteligência e vivência. Essa experiência de vida juntando-se a nossa personalidade e o que esperamos
da vida, das pessoas e do mundo pode fazer de nós grandes pessoas e muito maiores como pessoas que muitas outras que não têm deficiências. Mas isso é um
detalhe que só trás importância para poucos de nós, pois em nossa grande maioria, somos iguais a todos, só que com uma diferença. Quando luto por alguma
coisa para nós, pessoas com deficiência, sou movido pela igualdade de oportunidades, de direitos mas, especialmente, pela diferença. Somos diferentes e
temos de, como diferentes do comum, lutarmos por uma diferença digna, respeitada e produtiva.

Tudo isso para te dizer que, ao meu ver, temos limites, iguais a de todos e mais o de não ver, temos uma deficiência sensorial que é a falta de visão e
temos uma diferença, que vai além da diferença de cada um, somos cegos. Afinal, a diferença está na diferença, somos cegos.

Abraços amigos, inclusivos e fáceis de usar do MAQ.

Olá Mak!

Eu sou deficiente visual, e ao ler o teu comentário percebi que você usa muito a palavra diferença. Agora pergunto a ti, o que é diferença? Ja paramos para pensar o que significa realmente diferença?

Muitas pessoas dizem que ser diferente é ter qualidades diversificadas comparândo-as com outras pessoas, lembrando que qualidade antigamente era usado como sinônimo de característica.

Agora fasso outra pergunta: O ser humano é um ser que tem como ser classificado e comparado?

Vejo muitas controvércias quando o homossapiens classificam sua própria espécie, visto que o ser humano tem uma tendência muito grande para classificar o que está a seu redor.

Será que se não tivéssemos esta grande tendência de classificar existiria a diferença? Visto que se nós formos pesquisar e analisar, veremos que viemos, todos , da mesma essência, sem diferênças e imaturos.

Agora deixo a pairar outra pergunta: Será que deveríamos usar esta palavra, diferença?

Abraço a todos
Sidarta

Sidarta

Olá, Amigo MAQ!

Fiquei sem perceber muito bem o que me quis transmitir!
Eu sou cega, passo, por muitas situações de discriminação! Isto só porque quero viver!
Quando, no meu dia-a-dia, decido coisas, faço tarefas encarando isso como normal e necessário, como interveniente numa sociedade
E depois em resultado disso obtenho comentários, que me fazem sentir uma extraterrestre ou criança. Fico a pensar o quê?
Normalmente, falo em limitação, para que quem não esteja habituado a lidar com a deficiência visual, tenha abertura para obter informações, sobre as nossas dificuldades.
Perguntas como:
Como é que faz?
Quem é que escolhe a sua roupa?
Como é que sabe quando a comida está pronta?
Como é que sabe que a minha loja é aqui?
Como é que sabe que sou eu?

Expressões como:
É fantástica!
Coitadinha!
Cuidado!!!! E depois não dizem mais nada !
Pessoas que se assustam e fogem!
Falarem de mim, pensando que pelo facto de não ver também não ouço!
Enfim, MAQ, existem inúmeras situações, que me levam a dizer que a cegueira é mais uma das limitações com que eu tenho de viver! Mas nunca me esqueço nem quero, que para efeitos de convivência em grupo sou e apresento-me como deficiente visual!
Em termos de convivência pessoal, ou seja, comigo mesma, tive que encarar a cegueira, nada mais nada menos, como uma limitação! Pois não queria ficar, entregue aos outros, andar de mão em mão, achar que não ver era não ser capaz de fazer nada!
Quando, comecei a conquistar pequenas, mas mesmo muito pequenas, vitórias e a perceber que era capaz de fazer as mesmas coisas como quando via. As mesmas coisas, não! Existem coisas que já mais as voltarei a fazer!
Mas voltando à descoberta de que afinal era possível fazer coisas. Comecei a achar que tinha sempre que experimentar, pois só assim, ia sentir as dificuldades e aprender a contorná-las. Percebi que não posso querer ser super-mulher, nem o sou! Existe sempre o não em tudo que procuramos, porque se não tentarmos, como vamos saber que somos capazes! Já me surpreendi comigo mesma, mas nunca me derrotei, pois quando fracasso numa tarefa, não desisto há primeira, mas penso nas conquistas que já fiz!
Talvez por me ter proposto a viver assim, surja em mim, a necessidade de encarar a deficiência visual, como, uma das limitações que sou portadora!
Mas, sou uma cidadã portadora de deficiência visual, em termos mais comuns sou cega, em termos globais enquadro-me na frase: todos diferentes, todos iguais!
Continuo a dizer que não me sinto deficiente em nada porque as capacidades básicas para que seja um ser humano autónomo, essas eu possuo, só preciso de me esforçar mais um pouco, obter ajuda de outros seres humanos para que possa ultrapassar obstáculos transponíveis, porque existem sempre obstáculos intransponíveis para todo e qualquer ser humano!
Quero ser diferente, porque sou um ser humano, quero evoluir na minha mentalidade, quero que me encarem como uma pessoa especial na minha forma de agir, pensar, porque isto engloba muito trabalho da minha parte!
Ser diferente, porque sou deficiente visual, ou, cega, não me move para nada, pois esta diferença não fui eu que a criei!
Para mim chega de ser fantástica ou coitadinha, porque não me considero nem uma coisa, nem outra!
Quero voltar a ser simplesmente gente! Portadora das minhas qualidades e defeitos! Tentando a cada dia suavizar os meus defeitos, para que os outros vivam bem junto a mim! Pois estou sempre pronta a ajudar, é uma forma de derrotar limitações!
Para terminar, quero, agradecer ao Amigo MAQ, a sua opinião! Conto com resposta a estas minhas palavras! Pois acredito, que o confronto de opiniões é que leva à construção e evolução do ser humano!
Obrigada MAQ!
Beijinhos a todos
Isabel Cardoso

Caros amigos. A meu sentir, qualquer debate que se faça sobre o significado de "ver" ou "não ver" deve estar pautado em algumas premissas:
1. Quem enxerga jamais compreenderá o que é ser totalmente cego e vice-versa. Não é raro ouvir uma pessoa vidente dizer "o que você enxerga é o escuro, é preto". É difícil uma pessoa imaginar que nem isso sou capaz de enxergar. Da mesma forma, é muito difícil (diria inútil) um cego de nascença identificar cores ou descrever uma pessoa com precisão sem tocar nela. Uso o termo cego porque não tenho problema com ele, mas não quero aqui desrespeitar alguém que, porventura, não se sinta bem com essa palavra.
2. Temos algumas limitações que as demais pessoas não têm. Se assim não o fosse, por que razão debatemos a obrigatoriedade do fornecimento de livros em braile ou digitalizados pelas editoras? É evidente que muitos desses obstáculos são obra quase que exclusiva do meio social, mas eles existem.

Com isto quero dizer que:
1. A pessoa cega não deve ficar meditando como é (ou como foi) enxergar; isso é algo que está para além de suas forças e, a depender do desenvolvimento da ciência, poderá acontecer ou não.
2. Não enxergar impõe limitações, mas não é um martírio. Falamos, pensamos, sentimos, crescemos física e intelectualmente, amamos... Muitas das limitações que existem são impostas pela sociedade, não decorrem diretamente de características físicas. Por essa razão, devemos buscar igualdade de tratamento, ter os mesmos direitos e deveres, aceitando como únicas distinções aquelas que decorram da própria natureza. Abraço!Michel

Michel