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“Um tipo todo torto que insiste em ter uma vida normal”

por Norberto Sousa

A pensão social de invalidez destina-se a quem tem rendimentos inferiores a 167,69 euros. Se for casado, 251,53 euros. João Sousa e Silva, com 30 anos, perdeu o direito à sua quando se casou.

Ela pediu-lhe que se casassem. Pensou muitíssimo antes de lhe fazer o pedido. Ouvira tantas vezes as pessoas mais importantes da sua vida, os seus pais, dizerem que aquela relação tinha tudo para correr mal. Onde já se vira uma rapariga saudável unir-se a um rapaz com um grau de incapacidade de 98%?!

— Então e se eu ficar surdo? — perguntou ele, que já mal vê, só dá pequenos passos, apoiado em alguém.

— Já pensei nisso tudo.

Pensara. Pensara em todos os cenários imagináveis. Pensara, sobretudo, no pior possível: ele, numa cama, incapaz de falar com ela, incapaz de a ouvir, capaz apenas de reagir ao seu toque. Por vezes, na brincadeira, punha-se a escrever palavras simples nas costas dele e ele punha-se a adivinhá-las. O nome dele: “João.” O nome dela: “Sofia.” A palavra que tantas vezes lhes vem à boca: “Amo-te.”

Ele também tinha medo. Ainda tem. “Tenho medo que se concretize o que ela teme. Eu sou um tipo todo torto que insiste em ter uma vida normal, o mais normal possível, num país que não está feito para isso. Nem posso sair à rua sozinho! Tenho calçada portuguesa à porta de casa. A maior parte está maltratada, mas, quando se fala em alterá-la, as pessoas vão aos arames. Pronto, querem os velhinhos e os deficientes dentro de casa. E assim conseguem, assim conseguem!”

A avaliar pelos últimos censos, 17,4% das pessoas entre os 15 e os 64 anos têm dificuldade em fazer pelo menos uma destas coisas: ver, mesmo com óculos; ouvir, mesmo com prótese auditiva; andar, descer ou subir degraus; sentar-se ou levantar-se, dobrar-se, esticar-se, levantar ou transportar, agarrar, segurar ou rodar algo; memorizar ou concentrar-se; comunicar, compreender ou fazer-se compreender. E tudo se agrava com a idade. Ultrapassa os 50% entre os maiores de 70 anos.

Estamos na sala de casa da mãe dele, que é a casa deles desde que, há quase um ano, se tornaram um casal com papel passado. Ele está sentado numa poltrona. E ela está bem junto a ele, sentada no braço da poltrona, um pouco torta, a sorrir. De vez em quando, solta uma pequena gargalhada.

Talvez esteja tudo naquele sorriso. Ele fá-la rir desde o princípio. Ela podia dizer-lhe qualquer coisa banal, como: “Ó João, vês isto aqui?” E rir-se ao ouvi-lo retorquir: “Ver! Tu sabes bem que eu não posso ver!” Ele brinca tanto com a sua situação que ela depressa aprendeu a fazer o mesmo.

Logo no início, não estava Sofia habituada ao desequilíbrio que João tem no andar, ele segurou-se no braço dela e ela olhou para um lado e para o outro e comentou: “As pessoas que olharem para nós hão-de pensar que apanhámos uma piela desgraçada.” E ele, divertido, contou-lhe que, certa ocasião, fora com uma amiga comprar cinco litros de vinho e ela lhe pedira que levasse a carga. Também aí ele se perguntou, como ela se perguntava naquele momento, o que diria quem olhasse para ele, “todo desengonçado, com uma box de cinco litros numa mão”. E a amiga pôs-se a imaginar: “Olha aquele, acabou-se-lhe o vinho e foi comprar mais!” Risos.

João e Sofia casaram-se na Igreja de Santo Agostinho Cortesia do casal

João Sousa e Silva sentia-se “casado” sem notário e padre, mas Sofia Casal e Silva queria ter firmeza nos passos e acreditava que essa firmeza seria maior se houvesse reconhecimento de humanos e bênção de Deus. Nunca pensaram que, casando, ele perderia direito à pensão social de invalidez.

A pensão destina-se a quem tem rendimentos inferiores a 167,69 euros. Se for casado, 251,53 euros. “Um político pode acumular até dois mil euros. Um deficiente pode acumular até 251,53. Isto é imoral”, insurgiu-se ele. Lembraram-lhe que nunca descontou para a Segurança Social. “É claro que não descontei! Não descontei porque não me deram oportunidade. Estou desertinho por descontar.” Os estudos disponíveis são esparsos, mas apontam para taxas de desemprego entre pessoas com deficiência e incapacidade duas vezes e meia superiores à média.

A voz do jovem, de 30 anos, altera-se ao falar neste assunto, que também afecta a mulher, quatro anos mais nova:

— O Estado decidiu que, casando, ou eu e a minha mulher viveríamos na miséria ou a minha mulher ganharia muito bem, o que não é o caso, e teria de me sustentar. Teria de ser um fardo. Não teria direito a ter qualquer dinheiro no bolso a não ser por caridade da minha mulher.

— Nunca seria por caridade! — atalha ela.

— É uma situação altamente indigna.

— É uma pensão não contributiva. Acaba o Estado por apenas garantir que a pessoa está…

— Ligada à máquina!

Escreveu para a Provedoria de Justiça a protestar. Explicaram-lhe, por escrito, que tal pensão “assenta na solidariedade de toda a comunidade, sendo as despesas inerentes às mesmas custeadas pelo Orçamento do Estado e, isto é, pela generalidade dos contribuintes”. “Perante tal circunstância, o Estado condicionou o acesso a estas prestações sociais aos rendimentos dos beneficiários e dos respectivos agregados familiares, apenas a elas podendo aceder os requerentes cujos proventos económicos próprios e dos respectivos agregados familiares sejam inexistentes ou mínimos.”

Na opinião de Fernando Fontes, da Universidade de Coimbra, que fez tese de doutoramento sobre o movimento de pessoas com deficiência em Portugal e está a fazer pós-doutoramento sobre violência e crimes de ódio, tudo isto combina bem com a ideia dominante de deficiente dependente de familiares. “A questão é que tem consequências terríveis”, salienta o especialista. Reforça a dependência, o cansaço, o desgaste da relação conjugal. Havendo violência, a vítima pode sentir-se tão destituída, tão dependente, que nem pede ajuda.

Em casa, a preparar o jantar

A luta pela vida independente, que surgiu nos Estados Unidos na década de 1970, só agora desponta em Portugal. É reivindicada por novos movimentos, como o (D)Eficientes Indignados. E por activistas como Eduardo Jorge, tetraplégico que a 23 de Setembro iniciou uma viagem de 180 quilómetros em cadeira de rodas — de sua casa, em Abrantes, até ao Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, em Lisboa. Já no ano passado, fez greve de fome junto à Assembleia da República até o Governo prometer avançar com legislação destinada a promover a vida independente dos cidadãos com deficiência. No mês passado, o Governo anunciou os primeiros projectos-piloto de formação de assistentes pessoais.

A busca pela normalidade é permanente. João veste calças de ganga rotas no joelho e T-shirt preta, como qualquer pessoa da sua idade, mas sente que tem mais necessidades e menos oportunidades, apesar de antes de ele nascer a Organização das Nações Unidas ter estipulado que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos e as mesmas responsabilidades que as outras.

— Uma pessoa como eu precisa de mais dinheiro, não de menos dinheiro. Não posso comprar um telemóvel de 20 euros, tenho de comprar uma coisa como deve ser.

— O telemóvel básico não está adaptado a ele.

— Preciso de calçado caro e não é luxo, é necessidade. Tenho de usar calçado seguro, que não me caia dos pés. Ainda há pouco saía sozinho, ia ao café ter com alguém, ia levar o lixo, ia ao banco pagar o condomínio, agora já não posso fazer isto. Não saio sozinho. Não posso apanhar o autocarro para ir à Acapo [Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal], preciso de apanhar boleia ou táxi.

Qualquer actividade corriqueira, como gozar uns dias de praia no Verão, implica cuidados. Nada de parque de campismo ou hostel. Só lugares com acessibilidade. A acessibilidade determina até a escolha da praia. E, neste primeiro ano, escolheram a do Paraíso, na Costa da Caparica.

— Eu detesto praia! Fui por causa da Sofia. Quis que tivesse um bocadinho de praia antes de eu ser operado, se não coitadinha…. E lá está, sai caríssimo.

— Não gostaste da praia? — pergunta ela.

— Gostei de andar à beira-mar contigo! A parte da areia é que… alcatroava aquilo tudo!

— Eu sei que é muito difícil para ti andar na areia, mas aquela praia é fantástica. Tem uma rampa espectacular e logo a seguir barraquinhas.

— Preciso de uma barraquinha. Não tenho agilidade para fugir do sol. Nem pele para estar ao sol, mas até fiz surf.

— Nem se via!

— Ia deitadinho na prancha.

Conheceram-se em 2012, no picadeiro, na Quinta do Pinheiro Manso, na periferia de Leiria. João tinha sessões de hipoterapia, abordagem que recorre ao passo, ao trote, ao galope de cavalo para melhorar a percepção do movimento humano. E Sofia, fisioterapeuta, ia lá levar um rapaz que estava a acompanhar.

Nada nele chamava a atenção dela. “Eu sou um estupor”, brinca ele. “Ela via-me, trombudo, num canto, a fumar como uma chaminé.” Poucas palavras trocavam. Um dia, puseram-se a conversar. Ela interessa-se muito por terapias alternativas. E ele tem neurofibromatose tipo 2, doença genética que afecta o sistema nervoso central e se caracteriza pela ocorrência de tumores.

Sofia acabara de aprender terapia sacro-craniana, técnica baseada no toque de suavidade extrema. Não se sentia ainda capaz de o ajudar. Contactaria os professores. Tantas vezes os ouvira dizer que podiam ajudar a resolver problemas que se pensavam sem solução. Eles não lhe responderam.

João, que descobriu a sua doença quando tinha 11 anos, todos os dias tem de fazer uma caminhada e para tal precisa de ser acompanhado

Esgotou-se o Verão. Ia o ano em Setembro quando tornaram a cruzar-se. Ela estava a entrar e ele estava a sair da Unidade de Cuidados Continuados Dr. Manuel de Aguiar, no centro de Leiria. A mãe dele, que sofre da mesma doença, estava nos cuidados continuados e ele, o cuidador, fora vê-la.

— Olá!

— Olá!

— Pois é! Desculpa! Nunca mais te disse nada. Os meus professores nunca mais me responderam e eu acabei por me esquecer.

“Foi um encontro espectacular”, goza ele. “Eu estava inchadíssimo, a tremer, por causa dos corticóides. Tinha feito mais uma cirurgia.” Ela lembra-se do que pensou ao vê-lo: “Ó, meu Deus!” Tinha de o ajudar. Ele telefonou-lhe volvido um só dia. Encontraram-se para conversar, com vagar. O quadro clínico dele parecia-lhe tão bicudo. Ela achava que não tinha arte para tamanha complicação, mas não queria deixá-lo sem resposta. Foi para casa pensar e escreveu-lhe: “Vou dar o meu melhor.” E ele dispôs-se a aceitar o melhor dela, fosse qual fosse o melhor dela.

João descobriu a doença aos 11 anos. “Foi-me levando coisas de que eu gostava de fazer. Apesar de ver mal, andava de bicicleta. Andar de bicicleta era a minha maior alegria. Ia comprar peças quando notei que alguma coisa estava mal. Não conseguia levantar bem os pés.”

Os médicos perceberam logo. A opacidade subocular pode ser o primeiro sinal da doença. Ele sempre vira mal. E neurofibromatose tipo 2 fora diagnosticada à mãe dele aos 29 anos, ia ele nos oito. Teve de ser operado. Uns tumores comprimiam-lhe a medula. “A minha estrutura óssea ficou comprometida.”

Durante meses, usou uma ortótese da cintura ao queixo. Parecia a pintora Frida Kahlo. Um dia, fartou-se de tanto desconforto: tirou aquilo. “É pá, não preciso assim tanto de andar com a coluna tão direitinha! Prefiro ficar um bocado marreco e sentir-me um bocado bem no dia-a-dia.”

Naquela altura, não tinha grande noção do que lhe estava a acontecer. Entristecia-o não poder andar de bicicleta, mas tinha alternativa: os videojogos. Passava horas agarrado às consolas. Apareceram-lhe outros tumores. Regressou à mesa de operações. “Fiquei com a mão esquerda muito afectada. Deixei de poder jogar com consolas. Virei-me para o computador.”

Não é que não perca a paciência, não pragueje, não solte palavrões. “Palavrões, digo um, dois, 20, 30, 50. Sou um malcriado de primeira. A questão é que não posso desistir. Desisto e depois? Como é que faço? Não tenho feitio para isso! Felizmente, sou bastante plástico. Vamos ver até quando…”

Sofia gaba-lhe a resiliência — aquela mistura de optimismo, confiança, capacidade de manter a calma perante a adversidade, habilidade para analisar o ambiente, posicionar-se no melhor ponto. “Ele quer andar para a frente”, diz ela. Ainda há pouco, com uma lupa digital, conseguia ver as letras no teclado, escrever depressa. “De há dois meses para cá, a perda de visão agravou-se. Ainda se revoltou, mas já consegue escrever outra vez”, prossegue ela. O teclado tem sinais que o ajudam a orientar-se.

Usa tecnologias de assistência. Fala com o telemóvel e com o computador e o telemóvel e o computador “falam” com ele. Não em todos os programas. É nisso que está a trabalhar. Tem uma utopia: “Se não todas, pôr pelo menos a maior parte das aplicações a funcionar com suporte de leitor de ecrã”, isto é, com resposta sonora.

Não se limita a imaginar. Fez licenciatura e mestrado em Informática no Instituto Politécnico de Leiria. “Teve 19 valores na tese de mestrado”, orgulha-se ela. Registou a patente de um método para aumentar a acessibilidade e interacção em transportes públicos. Está a fazer doutoramento na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. O seu objectivo é introduzir etapas de acessibilidade no desenvolvimento de software — projectos Web e aplicações móveis.

Não vai à universidade. “Vou lá nas avaliações e vamos ver até quando.” Ao ouvi-lo, Sofia dá-lhe uma palmadinha no ombro. E ele percebe naquele gesto um modo de lhe pedir que não diga tal coisa, mas continua: “Não tenho bolsa, não tenho apoios, não tenho dinheiro. E as propinas têm de se pagar.”

“As minhas idiossincrasias apontam para investigação”, resume. “É o que sei fazer. É o que posso fazer. E dá-me muito prazer. Gosto de estar em frente ao computador, de ler, de pensar, de escrever. Gosto de tecnologia, de saber o que existe, de desenvolver novas soluções, de optimizar.”

Por duas vezes candidatou-se a bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia. “Faço o projecto e na avaliação aparecem críticas a dizer que há coisas que não estão esclarecidas e as coisas estão ultra-esclarecidas. Com o meu jogo de cintura, precisava de uma coisa mais previsível.”

Com a perda de visão, agora a urgência é salvar a sua audição e estão a pensar num tratamento em Manchester para o qual ainda não têm orçamento

A experiência diz-lhe o quão necessário seria avançar na acessibilidade digital. E não está a pensar só nos deficientes, como ele. “Queremos pessoas activas aos 70 anos? Essas pessoas vão ver mal, ter menos destreza, ter problemas de audição, precisar de condições de acessibilidade.”

Arranjou uma empresa disposta a acolhê-lo na modalidade estágio de inserção para pessoas com deficiência ou incapacidade. Temeu que o recusasse. O Sistema de Verificação de Incapacidades atribuiu-lhe 98% e no Instituto de Emprego e Formação Profissional disseram-lhe que os manuais não contemplam casos de incapacidade acima de 90%. “Não sei por que me deram 98 e não 95 ou 90%, por exemplo. Sou uma cenoura que por acaso escreve uns artigos científicos!”

Um dia depois desta conversa receberia notícias: “A questão dos ‘mais de 90% de incapacidade’ existe, mas a pessoa venceu, ou seja, a informática não foi chamada. A pessoa responsável disse-me para não me preocupar, se houver problema, é com ela! Agora, preparo-me para fazer o melhor na empresa.” Começou no passado dia 14. Pela primeira vez nos seus 30 anos de vida, entrou numa empresa como trabalhador, a GAIP Consultores, em Gândara dos Olivais. Tem um ano pela frente.

Dia feliz, aquele. Mesmo assim, não tanto como o do casamento de ambos, na Igreja de Santo Agostinho. Ele gostou da ideia de se casar na igreja do santo cientista. E ela gostou da ideia de se casar numa igreja luminosa e sem degraus. Muito perto da unidade de cuidados continuados onde, por acaso, se reencontraram, ela a entrar com um paciente, ele a sair para apanhar um táxi.

Tanto riso nas fotografias de casamento. Dele, dela, mas também dos pais de Sofia, que tão mal reagiram quando souberam que a filha gostaria de passar mais tempo com João. Não era só por causa da doença, era também a religião. Ele é ateu. Ela faz parte do Caminho Neocatecumenal, um itinerário de formação católica. Ela ia buscá-lo para sessões de terapia sacro-craniana. Conversavam durante a meia dúzia de quilómetros que separam a casa dele, na Guimarota, da casa dela, em Marrazes. As conversas alongavam-se, depois, via Internet. Falavam de livros, de música, mas também da saúde e da doença, da vida e da morte, da amizade e do amor. Ela toca saxofone. Um dia, convidou-o para ir com ela e alguns amigos a um concerto da Orquestra de Jazz de Leiria. Era 21 de Dezembro de 2012. Pelas previsões dos maias, o mundo deixaria de existir, pelo menos, tal como o conhecíamos, nesse dia. E foi isso mesmo que aconteceu ao mundo deles. Quando João apareceu, Sofia correu para ele: “Estava desertinha de te ver!” Mal acabou de dizer aquilo, pensou: “Ai meu Deus, o que é que eu disse!” Ficou baralhada. Ficou até zangada. Aquela ânsia não era profissional. Como acontecera aquilo? Não era suposto sentir aquilo por um paciente. Apaixonara-se ao fazer terapia?

— Nunca me tinha acontecido e já tinha tratado outros rapazes bem bonitos — diz ela, agora.

— Não tanto como eu!

— É verdade.

Dias depois, no fim de uma sessão de terapia sacro-craniana, foram sozinhos até à margem do rio Lis. Sentaram-se num banco de madeira. Declararam-se. Beijaram-se. Quando ela tornou a casa, os pais estavam com os cabelos em pé. O pai ordenou-lhe que deixasse de falar com João. E ela chegou a telefonar-lhe a dizer que não se podiam voltar a ver, mas tudo aquilo lhe parecia tão absurdo que pouco depois voltou atrás. Para os pais, aquela relação não tinha sentido; para eles, tinha.

“Apesar das divergências de crenças, os valores são os mesmos”, acredita a rapariga. “E vi que nutria por ele um sentimento muito grande, muito genuíno de o querer ver bem, de o querer ver feliz e, pronto, tenho aquela mentalidade de que Deus providenciará, faço tudo o que estiver ao meu alcance e a partir daí acredito que há mais ajudas — de pessoas, de Deus.” Pôs todos os pontos em todos os is, não fosse o diabo tecê-las: “Não queria brincar. Tinha de ser uma coisa séria. Não ia deixar de ser crente. Não exigiria que ele fosse.”

Pensou tanto no que lhes estava a acontecer: “Queria perceber muito bem se não estava a iniciar uma relação para salvá-lo, se não estava a agir como uma madre Teresa de Calcutá. Fui percebendo que não era nada disso.” As pressões extremas prosseguiam — pais, amigos dos pais, familiares, amigos. “Diziam tantas coisas. Tinham medo. O que trouxe o medo? Evitamento. Quando começaram a ter contacto com o João, perceberam o que eu vi nele: uma pessoa fantástica.”

Primeiro foi a mãe dela. João precisa de caminhar. Caminha todos os dias, devagar, junto ao Lis. Antes de ir para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em Julho de 2013, Sofia pediu à mãe que o acompanhasse. Ela começou por dizer-lhe que não, mas fê-lo. Durante três semanas, todos os dias foi buscá-lo. “Conversávamos imenso”, recorda ele. A reformada professora do ensino básico ficou rendida e contagiou o marido, responsável pelos transportes de uma empresa.

Já casada, Sofia apanhou um grande susto. Há semanas, João regressou ao bloco operatório dos Hospitais da Universidade de Coimbra. “Foi angustiante. Fiquei cinco horas sem saber dele. Deixaram-me vê-lo a seguir à operação. Quando o vi acordado, com aqueles bracitos no ar, foi maravilhoso. Ele falava, dizia piadas.” Passou as noites num hostel e os dias no hospital, a ajudá-lo. “Desejava estar lá. Tinha de estar lá e acabou. E senti um grande prazer em vê-lo a recuperar.”

Têm falado muito em ter filhos. Foram a uma consulta de genética ver se podem. Há 50% de probabilidade de passarem a doença ao bebé. Para garantir que tal não acontece, têm de recorrer à procriação medicamente assistida. Podem fazer um diagnóstico genético pré-implantatório.

— Não estou disponível para gerar uma criança com esta doença. Sei o que isto custa, não sou inconsciente.

— Dada a minha crença, estava disponível para aceitar uma criança doente. Acredito que podia ser feliz, mas eu nunca passei por lá.

— Eu sou contra. Não quero correr o risco de gerar alguém que tenha de viver na ansiedade em que eu vivo, na perspectiva de ficar surdo com uma mulher saxofonista. Como é que isto é possível?!

É o novo desafio: salvar a audição de João. Encontrar forma de fazer um tratamento quimioterapêutico que está disponível em Manchester, no Reino Unido. “Salvar a audição é uma coisa importante para toda a gente, mas torna-se premente quando a pessoa já é cega, não é? Ainda nem tivemos acesso ao orçamento. A primeira consulta são 500 libras.” Resta saber se o Estado comparticipa. “Há gente, muito humana, a tentar fazer com que isso aconteça. Depois, há a parte economicista que não se importa que eu fique surdo, cego, incontactável com o mundo.”

Fonte:
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/um-tipo-todo-torto-que-insiste-e...

Comentários

Olá querido maninho!

Desculpa só agora responder-te, mas o computador onde trabalho está sempre ocupado e no fim da formação tenho de ficar à espera do autocarro.

Ó maninho, estamos sempre a aprender uns com os outros, e gostei muito da tua explicação sobre a diferença entre amor incondicional e condicional.

Sinto que a tua amizade não é interesseira e que o teu desejo é fazer os teus amigos felizes, porque nunca me cobraste nada em troca e dispensas agradecimentos.
Sem que te pedisse, criaste-me um blog e uma página de fãs, ensinaste-me a levantar dinheiro no multibanco de modo autónomo, pesquisaste sobre editoras e falaste com pessoas que já tinham editado livros, deste-me apoio nos momentos mais difíceis, conselhos sábios, chamaste-me à atenção, perdoaste-me as falhas, Levantaste-me o moral com o teu pensamento positivo e testemunho e hoje somos grandes amigos e manos do coração.

Apesar da distância geográfica, a nossa amizade manteve-se firme e de pé, e as novas tecnologias ajudaram a encurtar a distância. Infelizmente não podemos estar fisicamente a conviver para nos conhecermos melhor, mas tenho esperanças de nos rever-nos de novo. Sentirmos saudades dos amigos que não vemos há anos é sinal que não o esquecemos e que o nosso carinho continua tão verdadeiro como da primeira vez. A distância também é necessária para que sintamos ou não o quanto especiais são para nós e nos amam e vice-versa.

Não são as palavras mas o modo como as dizes, as tuas atitudes espontâneas, o teu modo de pensar e de ver as coisas da vida, que me dizem muito sobre ti. Por isso é que te conheço o suficiente para reconhecer que és um amigo muito transparente e um coração de ouro. Não estou apenas a ser simpático, mas é essa a sensação que me transmites.

Grande abraço

Olá Marco e Céu !

Sim é verdade este tema tem pano pra mangas, mas não esgotem tudo aqui, para comentarem no meu novo post apego ou amor loool
http://www.lerparaver.com/lpv/diferenca-entre-amor-apego

Grande verdade Marco, pior deficiente é aquele que o é interiormente, sem capacidade alguma para amar, esse tipo de deficiência é bem mais preocupante do q todas as outras deficiencias físicas ... !

O amor não é teórico, só na prática na experimentação do amor, é q nos apercebemos disso ... !
O amor verdadeiro e sincero, superará todas as barreiras, e não olha a ser mais ou menos limitado .... o amor sente-se, preenche-nos, faz-nos sentir vivos e amados ... mas isso só quem o experimentar saberá do q tou a falar ... no amor dá-se mas tb se recebe e muito ... !
Já viram se o amor fosse só prós ditos normais ? seria um autentico desastre e uma grande discriminação ?
Por vezes as pessoas portadoras de deficiencia aman-nos mais do q as ditas normais .... pensem nisso ... !

É evidente q antes de assumirem a relação. existem uma série de perguntas que colocamos, é normal ... tal como essa se eu ficasse deficiente amavas-me de igual modo ? é importante saber com quem e como contamos com essa pessoa ... !

Quem ama de facto, preocupa-se com os problemas de saúde ou outros, fica triste quando tamos tristes, mas tb trás-nos muita felicidade, e isso é tão gratificante, e só por isso vale a pena apesar de tudo ... loool

Nutrir a relação quer seja a 2 ou de amizade, e perdoar é fundamental, mas perdoar mesmo sem ressentimentos e sem vir dizer olha q no passado fizeste isto, pq isso é mto mau e a relação não cresce ... !

Céu, dou-te 1 conselho: não sejas tão racional e calculista
Tu quando tás com a tua filha, tb não a amas por inteiro, incondicionalmnente, quer ela estejas com birras ou meiguinha, doente ou bem de saúde ?
Isso é um exemplo prático do que é de facto amar loool

Olha não esgotem aqui as palavras todas hehehehe
Fiquem bem !
Abreijos

Pois, falas bem...o amor por um filho é eterno, incondicional e tudo farei pela minha filha É um amor que nunca se esgota... ! Quanto ao amor a dois, tudo muda. Numa relação fala-se tanto em amor incondicional, eterno...mas no final das contas esse amor não existe. Tem um momento de fascínio, paixão e encanto, mas com o passar do tempo torna-se rotineiro e as diferenças começam-se a notar, os conflitos tomam o seu lugar na relação e acaba!

Amor verdadeiro só se tem por um filho, pais e irmãos...esse não acaba! As juras de amor eterno são uma ilusão. Numa relação a dois devemos viver enquanto há paixão e respeito um pelo outro, mas nunca esperar que a relação seja eterna... isso desgasta a relação, é preciso andar com os pés bem assentes no chão e viver a relação enquanto ela dura, sem pensar muito no futuro a dois!

Amar é uma palavra muito forte. Gosto de ti e admiro-te imenso, orgulho-me de seres meu amigo! Mas amar só amo a minha filha, a minha mãezinha e irmãos! os amigo são muito especiais para mim, mas amor incondicional só pelos meus!

Desculpa a minha franqueza!

Bjs

Ó Filipe, no início da relação promete-se tudo e mais alguma coisas...diz se não é verdade? E isso não é sinónimo de falsidade, pelo contrário, quando se está apaixonado, parece que nada afeta a relação, mas com o tempo e depois de se conhecerem as coisas alteram-se e as promessas que se fazem no início da relação deixam de fazer sentido. Só o tempo e à medida que se vão conhecendo os defeitos e qualidades do companheiro é que ditará o futura da relação. Nem se deve fazer prometer nada ao outro, apenas exigir respeito, honestidade e ter sempre em mente que a relação poderá ter um fim...apenas nos resta vivê-la enquanto dura, depois cada um vai à sua vida, sem ressentimentos e ódios. E guardar os bons momentos dessa relação...

Bom dia Céu e Filipe!

Céu, o respeito e a honestidade são a base de qualquer relacionamento.

Para mim, o amor é muito mais estável e duradouro do que a paixão. Estás a confundir a paixão com o amor, porque o primeiro dura enquanto a chama for mantida acesa. Já o amor é diferente. A relação é mais tranquila e estável.

Estás a esquecer-te que a atração é a primeira etapa para o amor. Ou dizendo de outra maneira, para chegarmos ao amor temos de passar por várias etapas.

Os conflitos, as diferenças e as adversidades que vêm depois do encanto são os verdadeiros testes ao amadurecimento da relação. Ou achas que é o casal ao passar do entusiasmo para a rotina e para os problemas vai dizer "tchau" um ao outro e pronto? Isto só acontece se quando a paixão se esgotou ou quando ao se conhecerem verem que a outra pessoa não é como tinham idealizado.

E os conflitos não são por acaso e se o casal quer mesmo lutar em comum pela sua relação, faz tudo para os resolver em vez de fazerem como a avestruz que enterra a cabeça na terra quando vem aí um desafio ou problema.

Abreijos

Bom dia Céu e Marco !

Pra mim a sinceridade e a frontalidade são a base de qualquer relacionamento !

Convém antes de começarem a relação conheçerem-se bem, e conhecer minimamente um ao outro ... !

Claro que primeiro vem aquela fase linda da paixão, vislumbramento, em q tudo parece tão belo e sentimo-nos nas nuvens loool
Mas depois da paixão, das duas uma:
Ou vem a desilusão, as discussões, as confusões ... q só demonstram que não ficou o amor !
Ou se permaneceu o amor, a relação terá em principio um futuro promissor loool
Se o amor fôr de facto, virão as adversidades, as barreiras, os contras ... q nada abalará a relação, que deve ser nutrida diáriamente !

Abreijos

Olá Céu !

Acima de tudo as pessoas devem ser muito sinceras e honestas !

Só promete tudo no início da relação, quem não tá com os pés bem assentes na terra, nem calhar tem princípios, aí sim tão a ser falsos ... !
Mas nem todas as pessoas pensam do mesmo modo, ou são assim no ínicio da relação ... !
O q pode sim, é a gente deixar passar muita coisa no inicio da relação, mas isso já é outro assunto ... !

Claro q após a paixão, poderá dar ou não certo, como disse há pouco, mas se não der certo, é cada um seguir a sua vida sem ressentimentos e ódios ... !
Se continuar o amor óptimo lool

Claro, eu tb guardo bons momentos dos relacionamentos q já tive ... !
Beijinhos

Quero dedicar a todos vós os meus 19 valores que obtive num teste muito difícil e que foi a nota máxima.

Tenham fé e nunca desistam dos vossos sonhos mesmo que duvidem das vossas capacidades ou que pareça impossível!

Abraços

Parabéns por mais uma vitória, embora eu não duvide de que possas tirar melhor! Sim devemos sonhar, mas sempre cientes de que alguns sonhos são inatingíveis! E o teu curso é um sonho quase realizado, porque estás a trabalhar para isso. Só depende de ti!

Bjs

Obrigado, Céu!

19 valores já não é a nota mais alta? Ainda querias mais? Não fazes ideia da complexidade do corpo humano e do número de negas e de notas baixas que os meus colegas tiveram com um teste super difícil, bastante puxado que mais se assemelhava a um exame para ser médico!

Somho sonhos impossíveis que me fazem ir muito mais longe e se não fossem eles nunca teria chegado onde cheguei!

E gosto de ndesafios e de aventura, de alargar os meus horizontes e de ir até ao limite das minhas forças e capacidades.

Mas tens razão, este curso pode ser um sonho realizado ou não, mas não dependerá apenas de mim, mas também da sensibilidade e abertura dos empregadores e de como estão as coisas no mercado de trabalho.

Bjs e bom fim de semana!

Boa maninho loool
Fico tão feliz, mas mesmo mto feliz, por teres tido nota máxima num teste bué de dificil loool
Continua assim, tás no bom caminho loool
Grande abraço

Olá querido maninho!

Eu sabia que ias ficar radiante com a notícia!

Ya, nunca fui pessoa para desistir dos meus sonhos mesmo que algumas pessoas achem que sou muito sonhador e que tenho sonhos impossíveis!

Estou entusiasmado com o meu curso e com garra!

Grande abraço e bom fim de semana!

É um casal determinado e muito corajoso! O amor não conhece limites, desde que seja verdadeiro entre ambas as partes. E acredito que o amor que ela sente por ele é real, superará com ele todas as dificuldades!

Mas sem querer ofender ninguém, fico impressionada com a coragem dela em aceitar alguém assim, com tantas limitações! Eu admito que hoje não teria essa coragem...pensaria duas vezes numa possível relação destas, porque não deve ser nada fácil conviver diariamente com esta doença! Ela deve andar sempre com o coração nas mãos...
Há pessoas que me surpreendem pela sua coragem e grande sacrifício. Eu sou sincera...não aguentaria!

Olá Céu !

Quando o amor entre eles é real ou verdadeiro, não escolhe pessoas (mais ou menos deficientes ou não) nem idades ... mas fortalecerá cada vez mais o laço de amor de que estabeleceram entre os 2, e juntos derrubando todas as barreiras, ultrapassando todas as dificuldades ... !
Ok, isto pode ser mto teórico, mas é mesmo assim na prática, e há q não confundir amor com apego q é mto diferente, mas felizmente embora raros, ainda existem casos destes ... !

Nunca houviste falar as dores ensinam a parir ? loool
Ao primeiro não sabes como reagir mas com o tempo, vais sabendo como lidar com isso .... !

Beijinhos

Ok...ponho a questão de uma forma mais fria: Será que ela o ama, ou não estará a confundir amor com admiração? Será que ela não vai ter saudades de uma vida mais sossegada, sem as tais preocupações com a saúde dele? Ela vive para ele... mas não se estará a esquecer de viver, de pensar em si? Ela será feliz com a vida que leva? Será que um dia ela não se vai arrepender e depois será tarde demais? Acho um erro terem-se casado nestas circunstâncias...deveriam ter pensado muito bem antes de darem um passo tão grande, mas é apenas a opinião de quem está do lado de fora, ok?

Olá Céu !

Eu sei que nós ao longo da vida e sobretudo quando tamos a iniciar ou a meio de uma relação a 2 pomos essas e muitas outras questões q nos passam pela cabeça, o q é absolutamente normal !
Claro que ao assumir uma relação devemos tar de pés bem assentes na terra, não confundir amor com admiração ou apego, e ver se o q sentem um pelo outro é de facto amor puro e verdadeiro e correspondido, mas se assim fôr tão reunidas as mínimas condições para a relação ... e nesse contexto o amor justifica-se sempre ! loool

Oh Céu vamos cá ver: eu não deixo de te amar só porque vês mal pois não, nem ao mano Marco só pq é surdocego, nem à minha mana Cris só porque é cega e tem imensos problemas de saúde ... percebes aonde quero chegar ?
Quem ama de facto, ama por inteiro, sem olhar a doenças ou deficiencias, preocupando-se com o estado de saúde das pessoas q nos são queridas ... !

E claro q apesar de juntos, ambos devem ter o espaço deles, poder saitem com os amigos juntos ou não, aquela saída com amigos ... ter espaço pra pensar e refletir ... isto é mto importante para uma relação sádia !

Beijinhos

Ó Filipe, eu amo os meus amigos do coração, mesmo que tenham deficiências...sem dúvida! E ajudo-os no que for preciso. Estou sempre disponível para eles... amigos que tenho há anos, jamais os abandonaria. Mas jamais aceitaria que alguém ficasse comigo por sacrifício, ou compaixão! Eu não ia querer sacrificar quem eu amo...mas sim vê-lo feliz, nem que para isso lhe pedisse que seguisse a sua vida sem mim...!

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