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"Nenhum pessimista jamais descobriu os segredos das estrelas, nem velejou a uma terra inexplorada, nem abriu um novo céu para o espírito." (Helen Keller) - blog de Marco Poeta

Mestres da Luz

por Marco Poeta

Mestres da Luz

Por Marco Branco

Nota: Este texto resultou da leitura das seguintes obras:

1- "O Livro dos Espíritos", da autoria de Allan Kardec;

2- "Louis Braille", da autoria de Beverly Birch,

"Não basta ver; o mais importante é compreender."

Louis Braille quando nasceu já tinha uma missão na Terra: iluminar os espíritos que não só viviam na escuridão física, como também intelectual.

Porém, antes de ele ser colocado neste mundo materialista, egoísta e individualista, era um espírito puro e bem-aventurado. Os Espíritos Puros eram aqueles que, por meio de sucessivas encarnações, expiações e provas, tinham conquistado por sua própria vontade a perfeição intelectual e moral. Isso só era possível praticando o bem, pois o bem devia prevalecer sobre o mal e o egoísmo dar lugar à fraternidade, porque todos os homens são irmãos.

Este Espírito Puro não mais precisava de sofrer as vicissitudes do corpo e da vida terrena e gozava de uma felicidade eterna com o seu novo corpo etéreo e com a sua sabedoria superior aos dos homens da Terra, cegos pelo orgulho e pela vaidade.

Sendo um Espírito que inicialmente fora criado como todos os outros espíritos simples e ignorantes, foi subindo na escala evolutiva superando-se do animal puramente instintivo até adquirir inteligência ganha com muito esforço e tenacidade. Já não mais o egoísmo e as paixões o impediram de se preocupar com a Humanidade e de se sacrificar pelo seu melhoramento.

Pois se ele tivesse sido egoísta não pediria a Deus autorização para voltar à Terra, ficando no seu mundo perfeito a ver impassível os cegos sofrendo pela ausência de luz nas suas vidas errantes...

É necessário explicar que os Espíritos mais adiantados moram num mundo melhor de acordo com o seu grau de adiantamento e que, portanto, já não precisam de reencarnar nos mundos inferiores por onde passaram noutras vidas.

E o planeta do Espírito que encarnou Louis Braille era provavelmente Júpiter, pois este era o planeta mais adiantado do sistema solar, sendo a Terra o planeta menos adiantado. Os espíritos à medida que progrediam ascendiam a um mundo mais superior que o anterior, nunca podendo regredir a menos que se tornassem maus.

Isto não quer dizer que os Espíritos não possam voltar à Terra ou aos outros mundos, porque conservam neles (no perispírito ou fluido semimaterial) as suas encarnações e transformações, podem tomar a forma corporal que tiveram, visitar os seus entes queridos e ajudá-los ou pedir-lhes ajuda.

Quanto aos Espíritos elevados, vêm à Terra em missão, aperfeiçoando o trabalho de outros ou inovando-o. Foi este último o objectivo de Louis Braille, pois todas as tentativas de os cegos aprenderem como os normovisuais tinham fracassado.

Louis escolheu uma vida simples e no meio de pessoas humildes e honestas. Apesar disso, as suas aptidões intelectuais permitiram-lhe alcançar o seu objectivo. Não vivia numa casa rica com tudo facilitado, nem era uma criança mimada e egoísta. Deus dava-lhe as condições de que ele precisava para levar a cabo a sua missão.

Louis desde muito cedo começou a revelar a sua inteligência e a sua sensibilidade. Não era pelos olhos que ele era inteligente, mas sim pela forma atenta e sensível com que absorvia o que o rodeava. Era muito observador e gostava de ficar sentado a ver o pai a trabalhar com as suas mãos habilidosas. Também queria um dia ser como o pai, transformar aqueles insignificantes pedaços de couro em maravilhosos arreios para cavalos.

Foi assim que aos 3 anos o pequeno Louis perdeu a visão ao tentar imitar o pai e se magoou num dos olhos com um objecto cortante. Para sobreviver, serviu-se dos outros sentidos mas no início era um pouco desastrado, porque ia contra as coisas e teve de reaprender a fazer coisas tão simples como a usar o garfo e a faca.

Apesar disso, não perdeu a serenidade e o brilho que tanto o caracterizavam. Com paciência começou a aprender a orientar-se sozinho pela audição, a reconhecer os objectos pelo tacto, os alimentos pelo olfacto e paladar. Aprendia depressa que, um dia, o seu pai cortou as letras do alfabeto normal em pedaços de couro. Ele podia formar palavras com as letras recortadas, mas jamais poderia ler e escrever como as outras crianças.

Como era muito inteligente foi admitido na escola primária da sua aldeia e era o melhor aluno da sua sala. Estava sempre atento e nunca esquecia as lições. O professor dele, um rapaz novo, via nele um menino com as mesmas ou mais capacidades que os outros meninos que enxergavam.

Também o padre da aldeia se maravilhava com ele, porque este escutava-o atentamente e tinha grande interesse no Bem. Tinham longas conversas e o pequeno Louis tinha um amor profundo por Deus e acreditava que a Natureza era obra divina. Também acreditava que nos devemos ocupar daqueles que realmente necessitam de ajuda, porque isso é que é praticar o bem. Não basta crer, é mais importante fazer!

Quando Louis Braille esteve na primeira escola para cegos da Europa, em Paris, com apenas 12 anos de idade, começou a ter noção da penosa situação dos cegos.

Naquela época os cegos eram olhados como seres inferiores que transportavam doenças contagiosas ou que já tinham sido predestinados para sofrer. Sendo a visão o símbolo da civilização, os cegos não tinham qualquer tipo de direitos, nem eram considerados cidadãos por unicamente serem cegos. Essa mentalidade social era fruto da Idade das Trevas, do domínio dos dogmas e de uma visão mítica. A realidade era, pois, explicada pelos mitos religiosos, estando o mito da cegueira associado à ignorância, à falta de racionalidade, à possessão demoníaca, à ausência de inteligência, por isso os cegos eram tratados como sendo uns infelizes, umas criaturas destituídas de capacidades e uns ineptos totais que muitas vezes eram alvo da chacota.

Porém, a história iria demonstrar que o progresso estava na razão e não na visão como se pensava. Além disso, estudos antropológicos demonstraram que a audição assumia um papel muito mais primordial na harmonia de certos povos. Por exemplo, a religião judaica dá importante realce à audição, porque escutar a Palavra de Deus é mais importante do que ser iludido pelas aparências.

Também o Espiritismo iria demonstrar que os Espíritos eram inteligências individuais que se desenvolviam pela acção do pensamento e da rectidão. A visão era limitada às necessidades corporais e ao nível de maior ou menor elevação do pensamento moral, em que o ser humano encontrava o seu verdadeiro caminho para a felicidade.

Mas voltando a Louis Braille. O Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris era um edifício muito pobre, escuro e húmido. As salas eram feitas com caixotes, os cegos eram castigados pelos mais pequenos erros. Fechavam-nos num corredor onde ficavam isolados ou sem refeição. O então director era um homem impaciente e severo. Tudo isto deixou o pai de Louis muito apreensivo e por uns momentos pensou em não deixar o filho frequentar a única escola existente para cegos. Porém, não o fez, porque não poderia cuidar dele eternamente e o que desejava de todo o coração era que Louis tivesse alguma coisa a que se pudesse agarrar.

Assim, Louis ficou na escola, longe de todos aqueles que amava. No entanto, fez uma nova família e a sua generosidade era o seu carisma. Surpreendeu a todos os professores com a sua inteligência notável e tinha umas mãos tão habilidosas que parecia que enxergava. Adorava Álgebra e Geografia e era um aluno brilhante.

Porém, não era vaidoso nem arrogante, gostava de ajudar os que tinham mais dificuldades e era amigo de todos. Quando tocou os enormes livros com as letras normovisuais impressas em relevo, foi grande a sua comoção, mas foi percebendo que produzir aqueles livros era um trabalho muito moroso, caro e de difícil leitura. Isto porque as letras ampliadas ocupavam demasiado espaço, tinham de ser percorridas com os dedos e os cegos tinham de ler muito devagar.

Importa referir que naquela época a França andava envolvida em múltiplas guerras, porque a megalomania de Napoleão de estender o seu império era irrefreável. Um general francês, Charles Barbier, inventou um código de escrita por pontos em que as mensagens de guerra eram lidas com os dedos sem necessidade da luz. Esse método conhecido por "Escrita Nocturna" foi mais tarde utilizado pelos alunos cegos do Instituto, pois foi o próprio Barbier quem decidiu que o seu código podia ser também útil para os cegos.

Os jovens estudantes ficaram deliciados, pois pela primeira vez podiam escrever no papel com um estilete ou punção. O próprio Louis estava entusiasmado e mantinha correspondência com os seus amigos quando estava de férias em Coupvray, a sua aldeia natal.
No entanto, Louis sabia que o código de Barbier não era um alfabeto, mas um conjunto de sinais que continham uma mensagem. Além disso, a quantidade de traços e de pontos era muita e tinham de se usar várias linhas para se escrever uma simples frase. Também Barbier tinha-se esquecido da pontuação, dos sinais de maiúscula, da acentuação das letras, dos números e de tudo o que um alfabeto deve ter de ortografia.

Então começou a estudar uma forma de resolver de uma vez por todas o problema. Há muito tempo que sonhava em conseguir que os homens privados da visão física lessem e escrevessem como os homens que viam. Porém, ninguém acreditava que um adolescente oriundo do campo, cego e sem dinheiro conseguisse reacender o fulgor da alma dos cegos, libertando-os da dominação, da piedade, da mendicidade, da discriminação e do isolamento social. Sonhou desde os seus 6 anos de idade, quando entrou para a escola primária e sentiu que não podia usar a ardósia e desfrutar de um livro.

Trabalhava incansavelmente. Estudava e trabalhava na sua investigação a tempo inteiro. Trabalhava também até altas horas da madrugada. Enquanto os seus companheiros de dormitório sonhavam com uma vida melhor, ele fazia por esse sonho se tornar real. A escuridão não o impedia de trabalhar pois uma luz fulgurante a haveria de rasgar e iluminar os caminhos dos espíritos.

As noites eram geladas e não havia aquecimento. Louis cobria-se com a manta da sua cama, embora interiormente se sentisse quente pela esperança. Quando ia de férias para casa, levava o seu trabalho e ouvia constantemente as pessoas que passavam na rua a dizer: "Lá está de novo o Louis a brincar com os seus furos.".

O adolescente louro e tímido não via dirigirem-lhe olhares condescendentes e de resto tinha coisas mais importantes em que pensar. Só com 15 anos de idade já tinha criado o alfabeto e quis mostrá-lo ao general Barbier. Este mostrou-se incrédulo pois para ele não era possível aperfeiçoar o seu código. O encontro foi formal e Louis sentia-se envergonhado diante de uma pessoa de alta patente.

Porém, não desanimou quando o entusiasmo dos seus colegas ao receberem o novo alfabeto foi muito contagioso. O actual director, mais humano e próximo dos alunos, encorajou-o e permitiu que fossem impressos no Instituto livros em Braille.

Louis tornou-se professor do Instituto, sendo um dos professores mais brilhantes e uma pessoa muito generosa e altruísta. Quando escutava os seus colegas deplorarem as suas vidas de cego tinha sempre uma palavra de conforto e de compreensão, mas não se punha com dramatismos, dizia-lhes que havia de os ajudar a serem pessoas respeitáveis e tão capazes como os outros. E cumpriu a sua palavra.

Tinha uma grande paixão pelo piano e era organista de uma capela. O seu amor pela música revelava que Louis era um homem muito sensível e de sentimentos. Assim, criou a primeira musicografia Braille e a primeira partitura para piano.

A sua generosidade não tinha limites que, um dia, deu o seu lugar de organista a uma jovem cega que não tinha uma forma de subsistência.

No entanto, o alfabeto que Louis andava a desenvolver não se chamava ainda de Braille. Além disso, quando entrou um novo director o Braille foi proibido. Os cegos foram obrigados a usar apenas a audição e ler em letras normovisuais ampliadas e em relevo. Já não podiam escrever, porque era impossível escreverem em letras ampliadas.

Louis viu o seu esforço ignorado por aqueles que se julgavam superiores aos cegos. Apesar disso, ele e os seus amigos mais fiéis ofereceram resistência e continuaram a utilizar o Braille. Louis escrevia os seus panfletos realçando a importância do acesso pleno dos cegos à comunicação e à igualdade de oportunidades. Não queria que se tratassem os cegos como coitados e inválidos.

Um dia, Louis sentiu-se mal e ao tossir cuspiu sangue. Caiu de cama com febre e não pôde continuar a dar aulas. Mesmo assim, escrevia e ia dar aulas quando se sentia capaz. O ar puro de Coupvray fazia-o sentir-se melhor, mas a doença regressava em força.
Perdia peso e cor a olhos vistos e a sua infelicidade de não ter conseguido ajudar os cegos pesava-lhe na alma. Já não tinha forças apesar dos seus 42 anos. Ganhava um modesto salário, tinham duvidado dele e agora retiravam aos cegos a sua recém-conquistada liberdade. Todo o seu sacrifício de nada tinha servido...

Contudo, os seus amigos, incluindo o ex-director que o tinha encorajado, o Dr. Pignier, lutavam por tornar público o alfabeto para cegos criado por Louis Braille. Conseguiram-no com grande êxito, pois os próprios alunos demonstraram como eram capazes de ler rápido com os dedos e de escrever textos. Porém, Louis estava muito doente para receber os louvores, mas sorriu de felicidade ao saber que o seu sistema tinha sido finalmente reconhecido e que o degradado e insalubre Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, a primeira escola para cegos fundada pelo pedagogo Valentim Hauy, que ficara sensibilizado numa feira ao ver a forma cruel como tratavam os cegos, tinha sido deitado abaixo. Tinham construído uma nova escola, desta vez pública, mais arejada, iluminada e aquecida.

Louis Braille, um homem íntegro, fervoroso, de um coração generoso e humilde, trabalhador e dedicado à família, aos amigos e aos seus alunos, companheiro e amigo das horas difíceis. Louis Braille, o jovem inventor que revolucionou a vida das pessoas cegas de todo o mundo e que lhes abriu uma porta que se julgava impensável. O adulto Louis Braille que lutou pela dignidade das pessoas deficientes visuais e que sofreu com a indiferença e a ignorância da sociedade, mas que nunca se deixou abater, deixava o seu corpo torturado pela tuberculose no dia 6 de Janeiro de 1852, dois dias após ter feito 43 anos.

Apesar de ter morrido fisicamente, o seu espírito continua a derramar luz sobre o Mundo como o Sol, o centro de irradiação dos Espíritos Felizes.

Louis Braille está feliz porque cumpriu a sua missão na Terra. Quem for céptico, ateu ou incrédulo o seu espírito não vê o seu sorriso nas pessoas que venceram na vida graças a ele e à luz que irradia nas suas vidas.

São necessárias pessoas como ele para que a Humanidade progrida e que todos os homens sejam irmãos e se ajudem mutuamente. Porque todos somos feitos de luz e temos dentro de nós um mestre que muitas vezes não queremos escutar...

Porém, seremos mais felizes se o soubermos escutar como Louis Braille soube. Esse mestre que reina em nós é a nossa consciência, que é como se de repente se fizesse luz na nossa mente. Consciência de si como pessoa material e espiritual é o que falta nesta sociedade materialista, egoísta e individualista.

Comentários

homem das beiras. Desculpe, no entanto não concordo em pleno. Deveremos ser optimistas. Tudo vai ter infalivelmente ao mar e no fim tudo vai estar bem. abraço

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