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"Nenhum pessimista jamais descobriu os segredos das estrelas, nem velejou a uma terra inexplorada, nem abriu um novo céu para o espírito." (Helen Keller) - blog de Marco Poeta

A comunicação que a maioria ignora

por Marco Poeta

A comunicação que a maioria ignora

A comunicação humana é mais do que o ato intencional de um emissor transmitir palavras a um recetor que tem de as decifrar e chegar a um sentido esperado pelo emissor. É mais do que receber a informação pelo canal da visão ou da audição, é mais do que a mensagem unívoca que se julga independente dos contextos e da perceção de cada sujeito.

Estamos habituados a que sejam os outros a pensar por nós e aceitamos as coisas passivamente. Comunicar não é apenas ter uma boca que nos permite verbalizar o que queremos ou opinamos sobre um assunto, ou termos olhos ou ouvidos para receber a informação que julgamos ser apenas do alcance destes sentidos e porque podemos comunicar sem palavras, podemos no meio do silêncio compreender muito mais do que no meio do ruído e das conversas vulgares E muitas vezes nos esquecemos que podemos comunicar com todos os nossos cinco sentidos, gestos, mímicas, posturas corporais, ações, sons produzidos com a língua e boca, comportamentos… É o nosso corpo que antes da palavra começa a definir a nossa comunicação com os outros, que dá a disposição para o diálogo, que torna visível a nossa presença e que torna possível que haja uma comunicação com sensibilidade!

Nos ambientes que nos rodeiam tevémos que nos aperceber de todos os estímulos que existiam e que nos podiam dizer mais do que a simples visão, porque muitas vezes focamo-nos mais e quase unicamente num sentido e não nos damos conta de que temos mais sentidos e que são eles que nos permitem conhecer todos os detalhes de que o mundo é constituído e a riqueza das mensagens.

Em silêncio, saímos da sala de aula para o exterior e procurámos concentrar-nos em todos os nossos sentidos para depois reproduzirmos as sensações e descodificarmos as várias mensagens. Claro que era uma tarefa difícil para aqueles que estavam habituados a ver ou a ouvir. Notei que os meus colegas prestaram sobretudo atenção ao que viram, ouviram e um pouco ao que cheiraram. Quando foi a minha vez, referi quase todas as formas de comunicação do meio: auditivas, o factivo e tácteis. Embora não tivesse relatado tudo o que me foi possível reter na memória em dez minutos, apercebi-me, então, que os cinco sentidos são essenciais na comunicação e que se a restringirmos apenas a um sentido será mais superficial, monótona e pobre.

Depois fizemos uma experiência interessante. Foi projetado no quadro um desenho ou melhor garatujas que aparentavam não ter qualquer sentido para nós. Depois foi pedido a uma colega que me descrevesse oralmente o desenho de modo que eu o reproduzisse numa folha de papel. O objetivo era que a colega fosse capaz de me comunicar da melhor maneira possível para eu compreender o que estava representado. Mas foi difícil que ela me desse respostas objetivas e repliquei o desenho de acordo com as suas interpretações pessoais.

Isto permitiu-me concluir que a comunicação entre sujeitos diferentes é difícil, que muitas vezes e inconscientemente damos respostas subjetivas e influenciamos o outro com a nossa própria visão do real. Sem a criatividade como poderemos encontrar formas alternativas para comunicarmos o real, a fim de não corrermos o risco de limitarmos demasiado a comunicação. Sermos objetivos e imparciais a cem por cento é impossível, isto comprovou-se na prática, se a minha colega tivesse ido até ao ínfimo dos pormenores ou tentasse dar-me respostas o mais de acordo com o desenho, bem como descrever-me de forma igual o que era e não o que lhe parecia ser.

Situação semelhante se verificou com a descrição da caixa. Um colega descreveu uma caixa usando apenas o sentido da visão quando lhe era pedido que usasse todos os sentidos de modo a que eu e os meus colegas pudéssemos conhecer todas as propriedades do objeto. Mas a colega não foi até ao ínfimo pormenor com os seus sentidos. Por força do hábito, a tendência para sobre-estimar um sentido e subestimar os restantes sentidos foi clara, e mesmo que a colega tenha dito que era doce ou cheirasse bem isso foi porque viu o rebuçado dentro da caixa e daí tenha feito o seu juízo de gosto. Mas suponhamos que abria a caixa e provava o rebuçado e este lhe soubesse demasiado doce ou desagradável para o seu gosto… Quando eu descrevi a mesma caixa para a turma, ela terá ficado com a sensação de que eu e a colega falávamos de duas caixas totalmente diferentes. Ao contrário da minha colega, eu usei o tato para descrever a forma da caixa e as suas características físicas, afirmando que podia ser uma caixa para guardar botões. É de espantar que a minha colega estivesse com a caixa na sua mão e não tivesse feito qualquer referência ao tato. Isto permitiu deduzir que limitamos a nossa comunicação a um sentido apenas em vez de fazermos uma análise mais minuciosa com o apoio de todos os cinco sentidos. Apenas comunicamos uma parte da realidade, completando-a com interpretações subjetivas e sem nos preocuparmos se o outro compreendeu, mesmo que esse outro seja cego e nunca tenha visto uma caixa verde e um rebuçado de papel colorido. O importante é sermos capazes de saber comunicar as mensagens da forma mais adequada às características do nosso recetor e da maneira como ele comunica e processa a informação. Muitas vezes fazemos uma comunicação despreocupada e não sabemos adaptá-la a outros conceitos para além dos visuais. Achamos que a visão nos pode dizer tudo, como se tornou consensual na nossa sociedade a afirmação “Uma imagem vale mais do que mil palavras”.

A comunicação não-verbal precede sempre a comunicação verbal. Mesmo antes de verbalizarmos, o nosso corpo, por mais subtil que seja o seu movimento, está a falar-nos na sua própria linguagem. É verdade que no nosso quotidiano a comunicação não verbal é predominante, mas há que aprender a fazer uma leitura atenta e correta dos seus sinais e das suas intenções explícitas ou implícitas.

A inteligência emocional é sem sombra de dúvida essencial na comunicação entre seres humanos, uma vez que impede que emoções negativas e prejudiciais para os outros e para o próprio prejudiquem a relação e geram um clima de tensão e de conflito. As capacidades que podemos desenvolver e que farão de nós seres mais humanos e sensíveis são a empatia, a sintonia e a serenidade. Embora existam outras capacidades importantes, estas três inteligências se conjugadas permitem uma relação emocional mais equilibrada e estável. Somos seres emocionais e não nos podemos considerar apenas racionais e lutar contra a nossa natureza instintiva. Sermos capazes de nos colocar no lugar do outro mesmo que essa pessoa não nos agrade, mesmo que sejamos racistas, egocêntricos ou superiores a ela. Sermos sintónicos é sermos capazes de encontrar uma harmonia em vez de guerras perdidas. E sermos serenos não é não termos emoções como a raiva, a angústia e o desespero. É sermos capazes de gerir essas mesmas emoções sem elas causarem danos a nós e aos outros; é enfrentarmos as contrariedades de forma pacífica e inteligente.

Parece ser complicado, mas a aprendizagem é infinita e cheia de reajustes. A comunicação humana tem muito com que aprender e vencer muitos dos seus preconceitos e condicionalismos culturais que são verdadeiros obstáculos às relações humanas. A comunicação não é o mero ato da fala, é a expressão de cada ser humano, o seu sinal de passagem por esta vida; e saber comunicar aos demais faz-se de todas as formas possíveis e inimagináveis, sempre com a inteligência emocional a aproximar e autentificar essa comunicação.

Marco Branco nº 20065041

Ata do dia 30 de abril de 2009

Comentários

Olá querido maninho !

Há gestos que valem mais do que mil palavras .... !
Um abraço ou um beijinho sentido .... dispensam palavras, palavras pra quê ?
Dizem imenso do que somos, de quem são os outros, e das emoções que vivemos no momento looool

Não nos limitemos à comunicação verbal pq existem tantas e tantas formas de comunicação ... ! loool
O melhor é de facto termos uma mente aberta, pq se assim fôr encontraremos modos de comunicação allternativos que nos permitam comunicar melhor com o outro .. !
A título de exemplo, eu ao início via-me grego para comunicar contigo, e agora é cada vez mais fácil, lá está é a tal sintonia e melhoria continua loooool

Claro q Inteligência Emocional é mto importante, certamente é humano e por vezes passamos por emoções delicadas, choramos ... mas devemos ter a inteligência para as gerir da melhor forma .... !

Grande Abraço

Olá Filipe!

Tocaste na essência do que pretendi explicar no artigo que escrevi na universidade sobre a necessidade vital de saber adaptar a comunicação às diferentes pessoas com necessidades específicas.

No início foi um bocado complicado comunicares comigo através da escrita na palma da mão. Também tiveste de prender a falar comigo mais pausadamente e um pouco mais alto que o normal, mas hoje comunicas comigo na boa e repetes as vezes que eu preciso para perceber.

Não são as palavras que dizem o que somos, mas sim os nossos gestos e as nossas atitudes. Não estou interessado nas palavras mas na tua humanidade que tem mais valor do que mil palavras bonitas!

Nós somos humanos graças à nossa inteligência emocional e capacidade de amar os outros. Porque se cultivarmos a empatia, a sintonia e a solidariedade viveremos em harmonia e confraternização. Não sou daqueles que praticam a caridade aos coitadinhos, mas sim a solidariedade que não se baseia na piedade.

Forte abraço

Olá Marco !

De facto eu percebi a essência do que querias comunicar através do teu artigo loool

Sim de facto ao início não foi nada fácil, mas eu fui-me adaptando a ti falando mais pausadamente e mais alto, que não é comum, pois eu por natureza falo baixo loool
Mas de facto hoje em dia comunico contigo na boa, e se fôr preciso repetir é na boa loool

Exactamente, os nossos gestos e atitudes dizem tudo sobre o q somos !
Eu sou uma pessoa que deixo transparecer o q sou por dentro, basta um olhar atento loool

De facto umas das coisas mais bonitas da vida é de facto esta imensa capacidade de amar os outros ! loool
E o meu amor por ti é infinito loool

Grande abraço