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Transplante de células recupera visão de camundongos cegos

por Lerparaver

Façanha de cientistas do Reino Unido leva a crer que no futuro será possível usar a técnica para curar doenças hoje intratáveis.

Cientistas britânicos restauraram a visão de camundongos cegos com um transplante de células em um estágio chave do desenvolvimento. Os resultados estão na edição desta semana da revista científica britânica "Nature".

O trabalho se concentrou no restabelecimento das células fotorreceptoras da retina, que captam a luz e enviam sinais ao cérebro através do nervo óptico.

Os fotorreceptores são como os pixels de um aparelho de TV ou uma tela de computador, mas muitas vezes mais profusos -- cada olho tem cerca de 100 milhões de células sensíveis à luz, o equivalente a mil telas como as citadas.

Essas células vitais podem ser destruídas por doenças como o diabetes, a degeneração macular relacionada com o envelhecimento e pela retinite pigmentosa, causando cegueira irreversível. Milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas por essas doenças.

Por vários anos, os cientistas tentaram atacar o problema transplantando células-tronco, células imaturas versáteis que crescem em vários tecidos do corpo.

No entanto, até agora, eles só haviam deparado com falhas. A fonte eram células-tronco em um estágio muito inicial do desenvolvimento, que por alguma razão não conseguem ser integradas à retina.

A equipe liderada por Robin Ali, professor de oftalmologia da University College de Londres, pegou um caminho diferente. Eles experimentaram células que, em vez de serem muito imaturas, haviam se desenvolvido até quase se tornarem fotorreceptoras. Com essas células desenvolvidas, mas não totalmente diferenciadas, o grupo conseguiu restaurar parte da visão de um camundongo nascido com uma doença genética similar à retinite pigmentosa.

As células mais bem-sucedidas foram retiradas da retina de camundongos bebês com três a cinco dias de idade, descobriram. "Trabalhamos com a teoria de que as células em um estágio posterior de desenvolvimento podem ter uma probabilidade maior de sucesso no transplante", disse Ali.

"Nós demonstramos que as células tiradas do estágio de desenvolvimento em que a retina está para ser formada podem ser transplantadas com sucesso e integradas numa retina adulta ou danificada", acrescentou.

Ali admitiu ter ficado surpreso com o sucesso do experimento. "Notavelmente, descobrimos que a retina madura, que anteriormente acreditávamos que não tivesse capacidade de se reparar, é de fato capaz de suportar o desenvolvimento de novos fotorreceptores funcionais", disse.

O próximo passo é fazer mais experiências em roedores para entender como e por que essa técnica funciona e se as células transplantadas são seguras e continuam a trabalhar bem a longo prazo.

Para obter os mesmos resultados em humanos, uma fonte óbvia seriam as células-tronco retiradas de embriões, que são as células-tronco mais versáteis de todas. Mas pesquisas envolvendo células embrionárias são controversas e, segundo Ali, talvez sejam desnecessárias nesse caso.

"Pesquisas recentes demonstraram que uma população de células pode ser encontrada à margem da retina adulta com propriedades semelhantes às das células-tronco, em outras palavras, são capazes de se auto-renovar", explicou. "Elas poderiam ser coletadas através de uma pequena cirurgia e cultivadas em laboratório para se tornar precursoras de uma fotorreceptora antes de ser reimplantadas na retina", acrescentou.

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,AA1343003-5603-71,00.html

Nota: contribuição, via e-mail, de Pedro Afonso.