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Com tecnologia, deficiente supera limite

por Lerparaver

Softwares e aparelhos eletrônicos ajudam pessoas com algum tipo de deficiência a levarem uma vida normal e produtiva

No começo da década de 1980, o aposentado Marco Antonio de Queiroz, o MAQ, leu um artigo da Unesco que o marcou. O texto dizia que os limites de uma pessoa com deficiência dependiam dos limites tecnológicos de seu país. Na época, MAQ, que ficou cego em 1978, diz ter se sentido mais deficiente visual do que um cidadão com a mesma limitação de um país desenvolvido.

Trinta anos após perder a visão, o único indício de que MAQ é cego são os óculos escuros. Ele navega na internet normalmente, envia torpedos pelo celular e mantém um site constantemente atualizado, o Bengala Legal. 'A tecnologia desfaz o limite que a minha deficiência me dá', diz.

Não é de hoje que a tecnologia está a serviço do deficiente - vide a bengala ou o aparelho de surdez. Tecnologias? Sim, de tempos atrás, que tiveram a função de inserir o indivíduo com deficiência na sociedade. Hoje, soluções hi-tech, que podem ser uma tela que lê um site para um cego ou um programa de comando de voz que permite a um tetraplégico escrever um texto no Word, cumprem exatamente o papel que um dia a cadeira de rodas teve. Muito mais do que proporcionar a inclusão digital, essas ferramentas fazem a inclusão social.

Marco Antonio Pellegrini, de 44 anos, ficou tetraplégico em 1991, após levar um tiro em um assalto. Sua cadeira de rodas é uma verdadeira estação multimídia toda controlada por um joystick que ele opera com a boca. Além de ajudá-lo a se movimentar, o controle é o cursor do mouse de seu notebook, permitindo a navegação por sites e a leitura de e-mails.

Um computador de mão, sincronizado via Bluetooth com seu celular, não serve apenas para Marco atender e fazer ligações, mas para comandar qualquer coisa de sua casa que funcione com controle remoto, como ligar e desligar a TV e abrir o portão da garagem. Em seu desktop ele acende e apaga a luz dos ambientes de sua residência e liga o ventilador.

'Antes eu era muito dependente de outras pessoas; agora, não. Recuperei a minha privacidade também', explica. 'A tecnologia é a diferença entre eu ser produtivo ou não', afirma Pellegrini.

Acredita-se que existam 24,6 milhões de pessoas com alguma deficiência no Brasil: visual, auditiva, mental, física ou múltipla. Na capital paulista, são 1.077.000, segundo o censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apenas em 2010 haverá nova pesquisa.

Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada dia 500 brasileiros se tornam deficientes em conseqüência de acidentes e doenças que tenham deixado seqüelas.

Falar de inclusão - digital ou social - para essas pessoas especiais não é fácil, pois em geral elas têm em sua história todo um passado de exclusão. Em São Paulo é a calçada que não é adequada, a vaga reservada no estacionamento que não é respeitada, a escola que não tem profissionais treinados e estabelecimentos que não têm rampas ou elevadores especiais para cadeirantes.

A advogada Thays Martinez, de 34 anos, cega desde os 4, já sentiu na pele a falta de preparo da cidade para apoiar pessoas com deficiência. Em 2000, Thays foi barrada em uma estação de metrô paulistana, que não permitiu a entrada de seu cão-guia, o labrador Boris. Ela moveu um processo contra a Companhia do Metropolitano de São Paulo, que resultou na criação de uma lei que garante a livre circulação de cães-guia em lugares públicos.

A foto desta página foi feita em uma livraria com acesso à rede de internet sem fio. Se não tivesse conquistado o direito de andar livremente com Boris, Thaiz não poderia usufruir dessa mobilidade hi-tech.

'Eles (Boris e seu notebook) são meus companheiros inseparáveis. Com o laptop leio jornais, revistas, livros eletrônicos, converso pelo MSN e até estudo espanhol', sorri. Ela realiza atividades corriqueiras graças a um leitor de tela - software de voz que traduz comandos e o que está exibido na tela do PC em palavras.

Aos poucos, a cidade de São Paulo - que já levou duas cutucadas neste texto - coloca em pauta projetos que levam a uma maior inclusão social. Há cerca de dois anos a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida desenvolveu um software que mapeou as principais rotas de mobilidade da capital: ambientes muito movimentados e com grande concentração de serviços públicos.

O programa identificou os principais problemas das regiões analisadas. A Avenida Paulista, por exemplo, recentemente teve sua calçada reformada com piso tátil para deficientes visuais. Também circulam pelo local ônibus de piso baixo, indicados para cadeirantes.

Segundo Renato Corrêa Baena, secretário da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, 160 telecentros da capital receberam mais de 200 títulos de áudiolivros e softwares leitores de tela. A unidade do Parque da Juventude tem uma sala especial para surdos.

São boas notícias, mas ainda há muita coisa a ser feita. Um dos maiores problemas é o alto custo de equipamentos e soluções tecnológicas importantes aos deficientes. Só a cadeira hi-tech de Pelegrino custou cerca de US$ 30 mil. O software que MAQ tem em seu celular custa R$ 730.

Tudo 'culpa' da tecnologia de ponta, mas há opções gratuitas como o programa MouseCamera, que Pellegrini utiliza para escrever textos.

Nesta edição do Link, mostramos como está a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, apresentamos algumas soluções tecnológicas e conversarmos com empresas e desenvolvedores brasileiros que buscam garantir aos deficientes o direito à acessibilidade, essencial para que tenham uma vida normal e produtiva.

Deficientes no Brasil

24, 5 milhões de brasileiros possui alguma deficiência física, auditiva, mental, visual ou múltipla (Fonte: IBGE)

38,7% das crianças entre 4 e 6 anos que são portadoras de alguma deficiência não freqüentam a escola (Fonte: IBGE)

500 brasileiros se tornam deficientes todos os dias, seja por acidentes e doenças que deixam seqüelas (Fonte: ONU e OMS)

5.078 universitários de quase 4 milhões de estudantes recenseados em 2003 pelo MEC tinham alguma deficiência

Fonte: http://txt.estado.com.br/suplementos/info/2008/06/16/info-1.93.8.2008061...

Comentários

quero parabenizar o autor deste artigo, pois desde que acesso este maravilhoso site, é um dos melhores artigos que já tive oportunidade de ler. o ler para ver, é realmente um ótimo site, é pena que aqui no brasil, não haja nenhum site com serviços tão bons quanto este. douglas valter soares, são luís maranhão brasil.

Olá comunidade do lerparaver! Saudo especialmente o autor deste texto muito informativo e interessante.
ás vezes, eu ponho-me a pensar nestas questões da tecnologia. Sem dúvida, ela é e será cada vez mais o passaporte de pessoas com deficiência para uma vida dita normal... Ou seja... Uma vida com espasso para trabalho, vida afectiva e social, assecsibilidade ao mundo como as pessoas sem limitação o vêm ETC. é muito bom as tecnologias serem utilizadas para facilitar a vida a toda a gente... Mas ás vezes, isso também me assusta um pouco... Pois se for-mos a ver, estamos completamente dependentes da informática, do bom funcionamento de tudo o que é electrónico... Se ha qualquer coisa que não bate serto, cai tudo por terra... Se algum sistema falhar ou apanhar qualquer tipo de virus, está tudo perdido!... Eu vejo por exemplo no meu trabalho... Quando tenho problemas com o jaws, fico dependente de utras pessoas para me ajudarem... Se acontesser uma falha qualquer no sistema que o Senhor pellegrini tem para fazer a sua vida, acionar os comandos ETC... ele fica novamente perdido e excluido... O ser humano faz coisas muito boas e cada vez mais sufisticadas, mas a sua capassidade de construir é tão grande como a capassidade de destruir. Eu não quero ser pessimista, pelo contrário. Eu estou muito feliz por ter acesso á internet através do jaws, por ter o talks no telemóvel, poder escrever e ler as minhas SMS sem precisar de ajuda de ninguèm... Mas como tudo na vida, todas as medalhas têm dois lados... E como neste mundo nada é perfeito, a evolução pode progredir e regredir, e o mundo dá montes de voltas... Através da tecnologia, nós deficientes podemos ser livres, mas nãodeixamos de ser dependentes... Dependentes da chave que, aparentemente, nos abre as portas para a liberdade...
Com amizade
Orquídea azul

Olá!

Realmente a evolução das tecnlogias foi um grande passo para aumentar a autonomia das pessoas com deficiência, em geral, e da deficiência visual, em particular, mas é preciso pensar que, por falta de informação e não só, são poucos os que têm acesso a elas. É preciso reflectirmos nisto e ter consciência que, neste campo, ainda há muito a fazer por parte de quem de direito.

Quanto aos perigos que mencionas, cara amiga, isso é muito relativo. Claro que, ao fazer uma utilização diária do computador, telemóvel, etc., cada vez mais há tendência para a pessoa ser totalmente dependente desses materiais, mas o que importa no meio disto tudo é aproveitarmos ao máximo os benefícios que isto nos dá. Quando falha aqui o jaws, utilizo outro leitor de ecrã, nem que seja por alguns momentos, como é o caso do NVDA. Agora quando a falha afecta todo o sistema, aí, de acordo com os meus conhecimentos ou ajuda de algumas pessoas, tenho conseguido resolver o problema, lol.

Tiago Duarte

Tiago Duarte

olha, eu gostei muito do q le, maz concordo q ainda tem muito pra ser feito, mais programas como o jaws tem ajudado muita gente, eu msm sem a net estaria perdido, pq uso um note pra trabalho e na minha profissão seria impocivel trabalhar sem ele.