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Obstáculos na via pública dificultam mobilidade

por Lerparaver

“Passeios sem rebaixamento, mesmo junto às passadeiras, obstáculos nos passeios, mobiliário urbano, sinais mal colocados que impossibilitam a passagem ou os inúmeros carros estacionados em cima dos passeios” são entraves com os quais Celeste Costa, que se movimenta numa cadeira de rodas, se depara diariamente. Sem papas na língua, a presidente da CNAD (Cooperativa Nacional de Apoio ao Deficiente) da Margem Sul, apontou e criticou, durante uma acção da campanha de sensibilização ‘Podia Ser Consigo’, promovida pelo Gabinete de Acção Social da Câmara do Seixal, estas e outras dificuldades que as pessoas com mobilidade reduzida têm de enfrentar no concelho do Seixal.

O objectivo da campanha, além da “sensibilização”, através da distribuição de panfletos, de todas as pessoas “para as dificuldades dos indivíduos com mobilidade reduzida em circular nos passeios e aceder aos serviços”, passa também por anotar os principais problemas que impedem a mobilidade, de modo a que se perceba “o que pode ser feito de imediato”, explica Ana Cecília Lopes, do Gabinete de Acção Social.

Uma vez percorridas as seis freguesias do concelho em busca destes problemas, o que “deverá terminar em Setembro”, realizar-se-á depois uma reunião de avaliação sobre as “alterações que podem ser feitas no imediato”, acrescenta Soraia Issufo, do mesmo gabinete. Ambas notam que a falta de verbas não permitirá fazer grandes obras, mas existem coisas simples, como “o rebaixamento de passeios ou deslocação de sinais”, que podem facilitar a vida dos que sofrem de mobilidade reduzida.

Mas as dificuldades não se revelam apenas para os que têm a sua mobilidade física reduzida, embora Alain Pereira, do Gabinete de Acção Social, considere que “a lei é muito omissa para os invisuais”, dando apenas “orientações vagas”. Nuno Antunes, vice-presidente da delegação regional do Sul e Ilhas da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) não reivindica mais legislação, mas sim “que a que existe seja cumprida”. Mesmo com a ajuda da bengala, percorrer os passeios, não só do Seixal, mas de todo o país, é uma verdadeira aventura, pois além dos carros mal estacionados existem as armadilhas que a bengala não detecta, como os “orelhões das cabines telefónicas”.

Invisual desde a nascença, Nuno Antunes considera existir “muita ignorância e falta de sensibilidade quer dos políticos quer dos arquitectos”, que “nem as obras mais recentes adequam às pessoas com necessidades especiais”. Como exemplos sublinha as “paragens de autocarros com colunas ao nível da cabeça no Parque das Nações” (Lisboa) ou o “rebordo de pedra, também ao nível da cabeça, que existe na estação Baixa-Chiado, na linha para Telheiras”.

Critica também o facto do poder político “não criar condições e infra-estruturas para que não seja necessário estacionar nos passeios e passadeiras”, não sendo, mesmo assim, estas atitudes desculpáveis. Lamenta ainda que não existam mais câmaras com a iniciativa da do Seixal e que a política “esteja vedada a pessoas com problemas de deficiência”, senão “veja-se quantos políticos existem portadores de deficiência”.

Para já, um dos principais problemas identificados pela autarquia, além dos passeios demasiado elevados, que deveriam ser baixados para dois centímetros no máximo, é o estacionamento em cima dos passeios, o que “parte muito do civismo de cada um”, frisa Hernâni Nunes, do Departamento de Saneamento, Infra-estruturas e Transportes, sector das redes viárias, da câmara.

Neste trabalho, “que não tem fim” e que “vai atrás do prejuízo, tentando corrigir as coisas que estão mal feitas”, a sensibilização das crianças é “muito importante”, bem como uma maior intervenção das forças policiais. Os centros de saúde, farmácias, escolas e instituições públicas devem também ser dos primeiros visados desta acção. Da parte da PSP, o agente Nuno Branco refere que “a polícia não pode estar em todo o lado, porque a população aumenta e os meios são insuficientes” e que a autarquia “deveria criar mais espaço para estacionamento”.

Fonte: http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&re...