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Há cada vez mais gente a querer aprender Braille

por Lerparaver

No dia em que se comemorou o nascimento do criador do sistema braille, o presidente da delegação distrital da ACAPO revelou que há cada vez mais normovisuais a quer aprender o alfabeto dos cegos.

Com seis pontos apenas, numerados de um a seis e combinados entre si, é possível a milhões de cegos e deficientes visuais terem acesso à palavra escrita. O sistema braille, que leva o nome do seu criador, - Louis Braille - continua a ser o principal instrumento de acessibilidade para cegos e amblíopes e suscita cada vez mais interesse entre os normovisuais. Face ao interesse crescente em aprender braille, a delegação distrital de Braga da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) aproveitou ontem a comemoração da data de nascimento de Louis Braille para promover uma sessão de iniciação em nome do “Braille para todos”.

O presidente da ACAPO de Braga, Leonardo Silva, deu conta do interesse de normovisuais, muitos familiares ou pessoas que trabalham com pessoas com deficiência visual, em aprender braille. Em resposta a esta interesse, a ACAPO promove cursos de 30 horas dirigidos a normovisuais. Leonardo Silva explicou também que o braille serve para exercitar determinadas zonas do cérebro, no caso dos normovisuais.

O dirigente distrital da ACAPO revelou que persiste uma lacuna ao nível da educação especial por faltarem professores especializados em braille para lidarem com crianças com deficiência visual. Além de comemorar a data de nascimento de Louis Braille, a sessão de ontem pretendeu sensibilizar para a importância do braille. Leonardo Silva lembra que o sistema criado por Louis Braille constituiu a primeira grande acessibilidade para pessoas cegas por permitir o acesso ao texto escrito e à cultura de uma forma geral. Foram muitas as dificuldades ultrapassadas para introduzir o sistema braille, mas a sua versatilidade permite que ele se mantenha na sua forma original há mais de 150 anos.

Leonardo Silva afirmou que “estavam errados os que anunciaram o fim do braille” com o surgimento das novas tecnologias. “Hoje, há impressoras e terminais braille” que permitem aceder a toda a informação contida no computador, referiu. O coordenador do Forum Municipal das Pessoas com Deficiência, Alfredo Cardoso, sustentou que os cegos e deficientes visuais “são gente com ambições legítimas e metas traçadas que, tal como as outras, precisam de acessibilidade” e exemplificou com a principal porta de acesso à Câmara: a linha telefónica que é operada por três funcionários, dois deles cegos que “com os instrumentos colocados ao seu dispor conseguem dar uma resposta cabal a milhares de solicitações”.

Com seis pontos apenas é possível ler e escrever

O sistema de leitura braille para cegos foi inventado pelo francês Louis Braille. Braille perdeu a visão aos três anos. Quatro anos depois, ingressou no Instituto de Cegos de Paris. Em 1827, então com dezoito anos, tornou-se professor desse instituto. Ao ouvir falar de um sistema de pontos e buracos inventado por um oficial para ler mensagens durante a noite em lugares onde seria perigoso acender a luz, Braille fez algumas adaptações no sistema de pontos em relevo. "Se os meus olhos não me deixam obter informações sobre homens e eventos, sobre ideias e doutrinas, terei de encontrar uma outra forma" chegou a escrever no seu diário.

Em 1829, publicou o seu método. O sistema braille é um alfabeto convencional cujos caracteres se indicam por pontos em relevo, que o cego distingue por meio do tacto. A célula braille é a unidade estrutural do alfabeto braille. É composta por seis pontos em duas colunas, numerados de 1 a 6. Os caracteres são formados levantando um ou mais pontos da célula, que ficam assim perceptíveis pelo tacto. A partir dos seis pontos salientes, é possível fazer 63 combinações que podem representar letras simples e acentuadas, pontuações, algarismos, sinais algébricos e notas musicais. Como as 63 combinações não cobrem todos os símbolos existentes, o braille recorre a símbolos duplos e prefixos para obter todas as combinações. Por exemplo, as letras maiúsculas são feitas com recurso a um prefixo (pontos 4 e 6). Os números são feitos com um prefixo seguido de uma letra.

Fonte: http://www.correiodominho.com/noticias.php?&IDTema=6&IDNoticia=26620

Comentários

Este comentário tem como objectivo: dar os parabéns ao Director da delegação da ACAPO em Braga por esta iniciativa que veio permitir a aproximação de pessoas normovisuais ao sistema Braille.

Várias vezes me havia questionado porque é que (à semelhança de acções de formação, levadas a cabo por várias delegações da Ass. de Surdos, por ex.) a ACAPO não promovia acções de formação sobre o Braille, enquanto sistema de lecto-escritura, ou sobre técnicas de mobilidade (por ex.), já que este é uma assunto cujo conhecimento me parece fundamental que suscita dúvidas quando alguém se cruza com uma pessoa portadora de deficiência visual e, frequentemente, não sabe como se aproximar (ou mesmo, se o há-de fazer) acabando, na maioria das vezes, por a evitar, justamente por temer o embaraço de não saber o que fazer ou como o fazer (se é que é preciso "fazer" algo...).

Tentar aproximar os "leigos" desta realidade que muitos sabem que existe, mas que, simultaneamente, admitem ser profundos desconhecedores dos seus contornos, é uma atitude muito inteligente e de louvar. Ao se estreitar a relação entre estes "dois mundos", ambos podem usufruir desse tributo, complementando-se e até colaborando de forma mais activa e, portanto, mais produtiva, acabando por enriquecer-se mutuamente como seres humanos e como cidadãos de um só Mundo.

Extrapolando um pouco a informação divulgada, não posso deixar de dizer o seguinte:
Em primeiro lugar, folgo muito em saber da iniciativa promovida pela ACAPO, em favor do conhecimento do Braille junto do público normovisual. Em segundo lugar, essa informação fez-me recordar um sonho que acalentei quando mais novinha, que consistia em aprender Braille, mas também linguagem gestual, pois sentia diante de pessoas portadoras de deficiências visuais ou auditivas, uma sensação estranha de que eu seria o elemento descontextualizado ali, como peixe fora de água, por não comreender aquele mundo e pior do que tudo, não poder interagir com ele, sentindo-me marginalizada e se aquele mundo era especial demais! Como eu gostaria de ter aprendido Braille e até linguagem gestual no ensino dito normal que frequentei no liceu... agora entenderia e corresponderia aos surdos mudos facilmente, o que não sucede de todo e até compreenderia melhor a forma como os invisuais se comunicam por escrito e sabe-se qual será o dia de amanhã... se não necessitarei conhecer o Braille por poder vir a padecer de alguma falta de visão , por qualquer razão? O futuro só a Deus pertence! Por pensar deste modo, deixo o testemunho de que este tipo de conhecimento não é demais para algum não portador de deficiência, para já não falar da extrema importância da integração dos não deficientes no meio dos grandes "Filhos de um Deus Menor", em favor da construção de um mundo uno, sem limitações, ou desconfortos por desconhecimentos vários e descriminações em torno de uns ou de outros!
Será possível acreditar que um dia haverá uma nova reforma no ensino português, desta vez, para promover a inclusão no ensino dito normal e público, de disciplinas eventualmente opcionais, como o Braille e a linguagem gestual, tal qual a disciplina de religião e moral tem sido considerada, bem como os idiomas? Queria muito acreditar que isso venha a ser possível, ainda que não venha a ser para mim, mas para os descendentes que um dia eu possa vir a ter...
Portugal está a mudar positivamente, mostrando maior preocupação e sensibilidade em torno da deficiência e questões de acessibilidade. Agora, mais do que nunca, não perca esse embalo necessário!

Olá, boa noite!

Comecei este ano a aprender Língua Gestual Portuguesa na Escola Superior de Educação do Porto.
Numa aula de informática tive que criar um blog sobre Língua Gestual Portuguesa e tivemos que colocar vídeos nossos. Por isso, quem quiser aprender as coisas mais “básicas” da Língua Gestual Portuguesa, pode acompanhar o meu blog.
Tentarei tirar dúvidas e dizer alguma palavra que queiram aprender. Caso não saiba pergunto ao meu docente. ;)

Beijinhos
* . *

Eduarda Paiva

http://olharemsilencio.blogs.sapo.pt
“Olhos que Ouvem & Mãos que Falam”

Olá Eduarda!
Visitei o seu Blog e gostei muito! Obrigada por partilhá-lo connosco...
Até acho que vai ser muito útil para quem quer aprender lingua gestual, como eu!!!

O meu namorado é surdocego. Ficou surdo logo após um grave acidente, que mudou a sua vida....! Cegou completamente aos 15 anos. Viveu toda a sua juventude no mundo do silêncio. Felizmente voltou a ouvir graças ao implante coclear.

Para mim é fundamental aprender lingua gestual, poque sinto uma enorme curiosidade em aprender a comunicar por gestos e também pelo meu namorado...! E se por qualquer motivo ele volta a perder a pouca audição que tem? Eu devo estar preparada se isso acontecer, não é verdade?

Beijos