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Faltam cães guia em Portugal

por Lerparaver

Sofia Santos tornou-se a primeira adolescente cega portuguesa a receber um cão-guia, situação que continuará a ser caso raro, porque os cães formados na única escola nacional são insuficientes, por falta de mais técnicos e de dinheiro, informa a agência Lusa.

A cadela Togo, a nova companheira da Sofia, veio do Canadá, mas em Portugal também há uma escola, a Associação Beira-Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual, que forma cerca de 12 cães para cegos anualmente, «o que é insuficiente» e faz com que «muitas pessoas tenham de obter ajuda técnica no estrangeiro», afirmou Mariana Rocha, vice-presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).

Actualmente estão em lista de espera para um cão-guia em Portugal 70 pessoas e a média de espera é de quatro anos, mas os novos utilizadores esperam ainda mais tempo porque a escola começa agora a repor animais que se reformam e estes utilizadores têm prioridade.

Para esta responsável, para poder entregar mais cães «agora seria preciso sobretudo mais um formador, que pudesse ir a França tirar um curso que dura três anos e depois regressar».

Escola vive de apoios da Segurança Social de empresas e autarquias

Treinar um cão em Portugal custa 18 mil euros e demora cerca de dois anos, desde a habituação aos barulhos nos primeiros dias até à entrega efectiva do animal. «A nossa escola tem como prioridade pessoas entre os 18 e os 65 anos que tenham um emprego ou então que estejam a estudar.»

A escola vive de apoios da Segurança Social em 65 por cento e o resto vem de donativos de empresas e autarquias, mas, segundo Mariana Rocha, «as empresas ainda não compreenderam o alcance desta escola», localizada em Mortágua, «porque há cães-guia de Guimarães a Faro». Ir buscar cães lá fora é mais caro, porque na escola de Mortágua vigora o princípio da entrega gratuita.

«O que se paga são os 15 dias de estágio, em que vamos para a escola interagir com o cão», explica, salientando que no dia a dia, um cego com cão-guia tem ainda muitas dificuldades, embora a lei permita que estes animais entrem com os donos em todo o lado.

«Na prática ainda temos alguns problemas, por exemplo em táxis, em alguns cinemas, teatros», disse, explicando que em Portugal ainda é preciso muita sensibilização «para as pessoas perceberem que é um cão que auxilia, não faz mal, não é um cão de guarda».

É importante que o animal também se ligue ao dono Um cão destes trabalha cerca de oito anos. É entregue aos dois anos e consegue trabalhar até aos dez, quando normalmente começam a surgir doenças, como artroses, e o animal fica aposentado, «geralmente com o seu utilizador, pois normalmente as pessoas ficam com eles porque se afeiçoam e não conseguem separar-se».

Mariana Rocha defendeu que as pessoas devem poder escolher entre ter um cão-guia ou uma bengala e salienta que ter um cão tem a vantagem de permitir «uma socialização ao extremo».

Sofia Santos, de 17 anos, cega de nascença devido a uma malformação congénita, candidatou-se a receber um cão-guia e foi seleccionada para passar o último mês numa quinta em Montreal, Canadá, onde recebeu formação para aprender a relacionar-se com a sua amiga mais próxima: a cadela-guia Togo, uma labrador de dois anos muito sociável e calma, que se agita quando ouve bater palmas.

«Este mês no Canadá foi de muito trabalho, mas o melhor foi trazer para Portugal a cadela, que me vai dar uma grande ajuda, maior segurança e uma boa companhia», refere, salientando que nesta experiência tentou primeiro uma relação com outra cadela-guia, mas «não se adaptaram uma à outra».

Fonte: http://diario.iol.pt/sociedade/caes-cegos-dinheiro-caes-guia-escola-tecn...