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Educação especial: sem condições para ir à escola

por Lerparaver

Estado abandona mãe

A pequena Raquel deixou de ir às aulas Embora muitas pessoas não compreendam, só eu sei o que estou a passar”, desabafa Conceição Ramos, mãe de uma menina de nove anos, invisual e com paralisia cerebral.

Não bastassem os problemas de saúde da pequena Raquel, a mãe foi este ano surpreendida com a falta de professores para a Educação Especial na Escola Básica 125, em Lisboa, estabelecimento que a menina frequenta desde os seis anos. No primeiro dia de aulas, Conceição Ramos teve de levar a filha de volta para casa, depois de ter sido informada de que a professora que a acompanhou nos dois primeiros anos escolares já não estava naquele estabelecimento de ensino. Duas semanas após o início das aulas, não existe ainda professor contratado para aquelas funções.

“A escola só nos diz que não há professores de apoio e que este ano a professora da Raquel seria uma professora normal, que dá aulas no primeiro piso, a que a minha filha não tem acesso”, explica a mãe. Com um sorriso nos lábios, Conceição diz que “não há ninguém que não goste dela naquela escola”, acrescentando que Raquel “é a menina protegida do bairro da Boavista”.

Sempre bem-disposta, Raquel conhece todos os colegas pela voz, reage às brincadeiras dos companheiros e “a antiga professora estava até a pensar pedir um computador adaptado para a iniciar na aprendizagem de braille”.

Além de estar sem aulas, Conceição está também preocupada com o desenvolvimento motor da filha, pois, não indo à escola, Raquel quebra o tratamento de fisioterapia que a Liga dos Deficientes Motores desenvolvia especificamente para ela na EB 125. Preocupada, a mãe teme que, sem o acompanhamento de especialistas, a menina “possa regredir”. Para Conceição, “o ideal era que a professora antiga voltasse à escola”, até porque além da formação específica na educação especial, tinha ainda conhecimentos aprofundados de braille.

Conceição visitou vários espaços para crianças com deficiências mentais, mas ficou decepcionada: “As crianças não falam, não se mexem, não eram bons sítios para a Raquel.”

Vida sofrida desde a nascença

Quem olha para a energia da pequena Raquel não consegue imaginar o longo percurso de vida de uma criança que tem só nove anos. Nasceu cega e com um problema cardíaco que a mandou para o hospital com apenas 10 meses.

Para corrigir o problema congénito, Raquel foi operada no Hospital de Santa Marta, mas o resultado foi o pior possível. “Assim que saiu dos Cuidados Intensivos, deixou de falar e de andar”, lembra a mãe. Seguiram-se oito anos de batalha judicial.

O Tribunal definiu que a paralisia cerebral de Raquel era um problema de nascença, mas a mãe continua a não aceitar a decisão. Segundo ela, antes da cirurgia a bebé brincava normalmente, falava e até se conseguia sentar, pequenas conquistas que nunca mais recuperou. “Devolveram-me a Raquel como uma boneca de trapos”, lamenta Conceição Ramos.

Perfil

Conceição Ramos nasceu em Lisboa há 37 anos. É separada e tem duas filhas, com 9 e 17 anos. Está desempregada, depois de ter trabalhado durante mais de 16 anos no bingo do Sporting. Passou ainda por vários outros empregos como empregada de balcão, tarefa que gostaria de voltar a desempenhar.

Fonte: http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=216517&idselect=10&idCanal=10&...