Durante a tarde desta sexta-feira, dia 10, um grupo de estudantes angolanos portadores de deficiência visual estiveram na UFSC para falar sobre suas experiências no debate "Deficiência Visual - uma reflexão das experiências dos estudantes angolanos da Associação para Integração dos Cegos (ACIC)." O encontro faz parte da comemoração pelos 31 anos da independência da Angola.
Por cerca de duas horas os estudantes Vitorino da Piedade, Francisco Bernardo, Januário Chachilopa, Fernando Camuaso e Rosa da Silva - todos deficientes visuais totais, sendo que somente Rosa percebe luzes e sombras - comentaram os problemas pelos quais as pessoas que não enxergam passam, principalmente na África. Além deles, estavam presentes a Presidente da Associação dos Angolanos em Santa Catarina, Teresa Fortunato; estudantes de países africanos; representantes do Laboratório de Cartografia Tátil e Escolar do departamento de Geociências do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da UFSC e interessados no assunto. Segundo Teresa, a UFSC foi escolhida para o evento pois reúne um grande número de estudantes angolanos.
Os palestrantes vieram para o Brasil a fim de buscar conhecimentos que poderão ser levados para Angola. Todos estudam na ACIC, onde praticam esportes, têm aulas de informática, curso de escrita cursiva, Atividade da Vida Diária (AVD) - que ensina questões práticas do dia-a-dia como higiene pessoal, cuidados com a casa e como se guiar sozinho pelas ruas.
Longo caminho
Os angolanos tiveram um longo caminho até chegar à ACIC, em Florianópolis. Antes, passaram por outra Associação, em Juiz de Fora (Minas Gerais), onde tiveram problemas de maus tratos. Ao tomar ciência dos fatos, o Consulado remanejou os mais jovens para o estado do Paraná e os mais velhos para Santa Catarina. "A ACIC nos ajuda a ampliar horizontes, fazer cursos, o que em Minas Gerais não era possível", contam.
Segundo Vitorino da Piedade, um dos palestrantes, o que o grupo pretende é lutar pelas mesmas causas na África. "O cego, não só em Angola, é tratado como doente. Queremos reunir as forças para fazer com que o cego africano seja tratado como o cidadão que é", diz. "Para isso precisamos de pessoas corajosas", completa.
Capazes
Além da discussão acerca do uso pejorativo da palavra "cego" que envolveu a platéia e os palestrantes, a questão da capacidade dos deficientes de desenvolver várias atividades também foi colocada.
"Há a visão preconceituosa de que o cego não é capaz de conviver e fazer muitas coisas. Quem sabe das suas dificuldades é o cego", contestou Piedade que coordena um grupo de futsal para deficientes visuais no Centro de Desportos (CDS) da UFSC. Fernando Camuaso - que cursa a 5ª fase de Jornalismo na Unisul - acrescenta que os cegos têm a vantagem de perceber o mundo com outros "olhos". "As pessoas que vêem, às vezes, ficam tão dependentes deste sentido que não percebem mais nada, ignoram os outros sentidos. Este 'olhar' que o cego tem, ajuda-o a perceber o mundo melhor."
Fonte: http://www.unaberta.ufsc.br/noticias/23950
Nota: contribuição, via e-mail, de Pedro Afonso.
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