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Cães-guia têm falta de famílias de acolhimento

por Lerparaver

O labrador ‘Ciclone’ é uma presença constante no dia-a-dia de Elisabete Ávila e da sua filha Cláudia

Pôr um animal a guiar um homem é fruto de muito trabalho e em Portugal só a Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual (ABAADV), em Mortágua, forma cães para auxiliarem invisuais no dia-a-dia, debatendo-se com um problema que, a não ser resolvido, dificultará a missão de pôr animais ao serviço de quem precisa. A entidade precisa de famílias dispostas a acolher, durante um ano, os futuros cães-guias, período em que o animal aprende a comportar-se em casa e na rua. É entregue aos dois meses, sendo orientado por educadores que dão formação ao cão e aos seus anfitriões.

“Sem família de acolhimento não há cães para cegos”, diz Filipa Paiva, directora técnica da ABAADV, salientando que a escola tem cães no canil por não haver quem os socialize. Segundo a veterinária, há 23 famílias da Região Centro – sobretudo em Viseu, Coimbra e Figueira da Foz – que cuidam de cachorros mas “são precisas muitas mais”.

‘Ciclone’ foi entregue a uma família viseense. O animal, “simpático mas teimoso”, de raça labrador, faz as delícias de Elisabete Ávila e Edgar Lopes, bem como da sua filha Cláudia, de dez anos, que tem um papel “importantíssimo” no seu desenvolvimento. O futuro cão-guia vai com Elisabete ao cabeleireiro, à escola, às compras ou ao café e, na companhia de Cláudia, frequenta aulas de hip hop. No fim do mês irá com a família aos Açores.

Tem uma autorização especial que lhe permite aceder a locais interditos a outros animais. “É um privilegiado”, graceja Elisabete Ávila, que frequenta Educação Ambiental na Escola Superior de Educação de Viseu, onde ‘Ciclone’ é tratado “como mais um aluno”.

Outra rotina diária é “ir levar e buscar” Cláudia à Escola Infante D. Henrique, onde é mais conhecido do que ela. Dentro de um ano voltará a Mortágua para receber formação específica e, no ano seguinte, será entregue a um cego.

Cláudia sabe que a separação é inevitável mas está “a tratar do assunto”. Na sua escola há um professor invisual em lista de espera e já lhe “ofereceu” o ‘Ciclone’. “Gostava muito que ficasse consigo porque continuava a vê-lo”, disse ao docente.

Detalhes

Estágio

Durante uma semana fazem-se encontros entre a família de acolhimento e o futuro utilizador para troca de informação e criação de laços. A segunda fase é passada na área de residência do invisual, adaptando-se a dupla ao meio envolvente.

Raças

A melhor raça de cães-guia é o labrador retriever, embora outras gozem de grande prestígio, como o golden retriever. Geralmente as fêmeas apresentam melhores resultados.

Custos

A escola da ABBADV, em Mortágua, tem três educadores e, desde 1999, já entregou mais de 60 cães-guia. A criação, formação e socialização custam cerca de 15 mil euros.

Luís Oliveira, Viseu

Fonte: http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=266352&idselect=10&idCanal=1...