Óbidos possui um banco de ajudas técnicas destinado a ajudar os munícipes que tenham necessidades especiais no domínio da saúde. A sua apresentação foi feita na passada quinta-feira, aquando da inauguração da Primeira Mostra de Ajudas Técnicas que esteve patente no Quartel dos Bombeiros até domingo. Na iniciativa estiveram presentes 10 empresas e entidades ligadas à área da saúde que também contribuíram com equipamento para este banco em troca do espaço de exposição.
Os materiais doados deverão ficar no quartel dos Bombeiros e será o Centro de Intervenção Social a coordenar o seu empréstimo pelos munícipes, dando sempre preferência aos mais carenciados. Os serviços sociais vão agora apelar também às pessoas que tenham equipamentos em casa e que não usem, que os possam doar, de modo a serem utilizados por quem precisa.
Tentámos que fosse uma mostra o mais representativa possível e houve muitas empresas que ficaram para trás por falta de espaço, explicou Lara Dias, técnica do Centro de Intervenção Social da Câmara de Óbidos. Inicialmente, e través do directório nacional de ajudas técnicas, foi feito um contacto com todas as empresas e as primeiras que responderam foram as que tiveram direito a expor os seus produtos. Entre as preteridas encontravam-se algumas empresas de equipamento de baixa visão, dado o seu grande número.
Há aqui equipamentos que nem sonhávamos que existiam, contava a técnica, que estuda agora a forma de como alguns munícipes poderão ter acesso a algumas das propostas em exposição. A maioria das ajudas técnicas são apoiadas a 100%, pelo IEFP ou pela Segurança Social, mas na maioria das vezes as pessoas não sabem que têm estes direitos. Para que seja considerado ajuda técnica é preciso que o médico ateste essa necessidade e uma assistente social trate das formalidades.
Outro dos objectivos da mostra era sensibilizar para a integração sócio-profissional das pessoas com deficiência. A responsável pelo Centro de Emprego das Caldas da Rainha, Célia Roque, esteve no evento e apresentou os vários apoios que existem e as pessoas também desconhecem.
A mostra deverá ter uma continuidade anual. Esta iniciativa está inserida num projecto mais amplo denominado Humanização dos Espaços, em que a autarquia está a tentar tornar Óbidos ainda mais acessível a todos, com maior atenção a estas pessoas com necessidades especiais, explicou Lara Dias.
Nos dias 12 e 14 de Outubro foram também realizados colóquios sobre esta temática. A arquitecta Margarida Machado, do Departamento de Investigação da Direcção-Geral da Segurança Social, falou sobre a Acessibilidade no Meio Construído O Desenho Urbano nos Equipamentos e Habitações, enquanto que João Fernandes, do Clube Português de Utilizadores do Cão-Guia, abordou a Deficiência Visual, Acessibilidade e Mobilidade.
A primeira Mostra de Ajudas Técnicas contou com uma média diária de 70 visitantes, muitos deles de fora do concelho e com familiares ou amigos deficientes.
Trabalhar com o computador através do olhar
Magic Key é um equipamento informático que possibilita que pessoas tetraplégicas (que não tenham qualquer tipo de movimento nas mãos) possam utilizar um computador.
Permite utilizar qualquer aplicação, desde navegar na internet, enviar correio electrónico, escrever, desenhar, jogar, explicou o seu mentor, Luís Figueiredo, acrescentando que através do olhar se pode fazer no computador praticamente tudo o que uma pessoa faz com o rato.
Quando viramos a cabeça para olhar para aquilo que queremos, o cursor do rato segue em tempo real esse movimento, explicou, adiantando que os clicks do rato são feitos através do piscar dos olhos.
O também docente do Instituto Politécnico da Guarda refere que é necessária alguma aprendizagem e coordenação, tal como é preciso a uma pessoa que pega pela primeira vez num rato.
De acordo com Luís Figueiredo, estes projectos nasceram da necessidade que sentiu de colocar os seus conhecimentos técnicos e científicos ao serviço das pessoas. Deparei-me com uma situação concreta de uma pessoa que tinha um determinado tipo de dificuldades, procurei arranjar uma solução e a partir daí não parei, contou o engenheiro que actualmente tem duas pessoas a utilizar o seu sistema.
Considera que o Magic Key muda completamente a forma de vida de quem o utiliza pois permite-lhes entrar em contacto com os amigos, que façam pesquisas na internet, compras on-line, vão ao banco, coisas que antes só podiam mandar fazer.
Luís Figueiredo inventou também outro equipamento para pessoas que conseguem fazer algum movimento e que consiste na aplicação de um joy stick ao computador.
O docente está a desenvolver este projecto sem qualquer tipo de apoio oficial. Foi pedido e justificado que o projecto era demasiado fraco para ser financiado. Responde que não é um equipamento caro, custa cerca de 600 euros, porque desde o início do projecto assumiu o compromisso de não aceitar qualquer pagamento.
Tudo o que faço é em prol dos outros, o pouco dinheiro que este equipamento custa é usado integralmente para suportar as despesas de novos desenvolvimentos, conta Luís Figueiredo, que se prepara para o aplicar a uma cadeira de rodas, de forma a que a pessoa possa controlá-la apenas com o olhar, ou a crianças com paralisia cerebral que não conseguem encontrar formas de comunicação.
Disse ainda que a existência ou não de apoios não é impeditiva de fazer os projectos, mas atrasa a sua concretização. No entanto, disse já ter aprendido a lutar e não desistir porque o que tenho sentido das pessoas que o vão utilizando, diz-me que vale a pena o investimento.
Novos equipamentos para invisuais
Novos equipamentos vão permitindo dar algum conforto aos invisuais ou portadores de algum tipo de deficiência visual. A empresa Ataraxia esteve presente na mostra como um ampliador clássico, em que a pessoa vai deslocando manualmente o texto para ir visualizando com a ampliação e contraste que mais se adequa. Mais completo, um ampliador automático permite ao utilizador tirar uma fotografia ao documento e, a partir daí, personalizar o texto à medida que melhor lê: em coluna, linha ou palavra a palavra.
Para as pessoas completamente invisuais a empresa tem um outro equipamento, que primeiro funciona como um scanner, digitalizando a página, e depois sai em áudio. É um sintetizador que faz as respectivas pausas na pontuação. Este aparelho tem memória para mais de 10 milhões de páginas, funcionando como uma autêntica biblioteca.
Em exposição estava também um PDA, adaptado com edição de texto, agenda, lista de contactos e tecnologia blue tooth, e um computador portátil adaptado, que permite navegar na internet e tem uma linha em braille.
Entre os objectos mais simples podiam ser encontradas bengadas com sensores ou lupas electrónicas para pequenas leituras, assinar um cheque, ver um preço, e óculos para ver televisão.
Em Portugal vendemos estes equipamentos 15 a 20% mais baratos do que é comercializado no resto da Europa porque o poder de compra dos portugueses é mais reduzido, explicou o responsável da empresa, acrescentando que um ampliador clássico ascende a 1800 euros, enquanto que o automático, que é considerado topo de gama, custa cerca de cinco mil euros. Os utilizadores podem contar com ajudas institucionais que facilitam a aquisição destes equipamentos.
Revistas em braille no Espaço Internet
O espaço Internet de Óbidos possui desde o início do mês revistas em versão braille para consulta gratuita.
Este material vem aumentar a panóplia de meios à disposição dos invisuais, ou pessoas com baixa visão, e que inclui também algum equipamento informático.
A impressora Braille basic com editor gráfico incluído permite às pessoas com insuficiências visuais realizarem as suas impressões sem ajuda, enquanto que o leitor de ecrã Windows Eyes, transforma a imagem do ecrã em informação textual e a disponibiliza em braille ou em voz. Para os que possuem uma baixa visão, o Zoom Text amplia a imagem do ecrã, à medida que se passa com o rato.
O Espaço Internet conta também com o Poet Compact, um equipamento parecido a um scanner normal que faz a leitura das páginas para o seu utilizador, em português.
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