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Aluno Surdo-cego precisa de apoio

por tiagduarte

ANTÓNIO ORLANDO

Menino surdo e cego precisa de apoio especial Mãe revoltada denuncia falta de acompanhamento na escola

Pedro tem oito anos. Não vê. Não ouve. E, segundo mãe, não tem o acompanhamento técnico necessário na escola, a EB1 de S. Cristóvão, em Cinfães. A Direcção Regional de Educação do Norte garante que menino está a ser alvo de cuidados especializados.

Clara Pereira, 31 anos, assegura que o filho - sofre de surdocegueira - não consegue aprender porque não há quem consiga comunicar com ele. Pedro já tinha sido notícia quando era ainda bebé. Então, o JN contava as dificuldades que a família encontrava para tratar da criança, com diversos problemas de saúde.
Pedro lutou para resistir à sua débil condição e agora enfrenta as dificuldades de quem precisa de ajuda especializada. A mãe também não desiste de proporcionar ao filho as melhores condições possíveis.

Segundo a informação clínica, Pedro Gonçalo necessita de atendimento multidisciplinar e apoio do ensino especial. O apoio existe, mas, segundo afirmou a mãe da criança, é insuficiente.

O menino aprendeu o que sabe em Saragoça, Espanha, onde viveu com os pais, obrigados a emigrar em busca de um futuro melhor, e um irmão. Após o regresso, Clara Pereira matriculou o filho na escola da terra natal.

"Em Espanha, o Pedro estava acompanhado por uma professora especializada em surdocegueira. Também tínhamos o apoio de uma associação de pais especializada nessa doença", contou, ao JN, Clara Pereira. Nos últimos dois anos, tudo que o filho assimilou "está a perder-se, dia após dia", lamentou. "A DREN [Direcção Regional de Educação do Norte] não está a resolver o problema como seria de esperar", denuncia Clara Pereira, desesperada perante a possibilidade de criar um filho com quem não pode comunicar.

Na troca de correspondência, a DREN, em 14 de Janeiro de 2009, reconhecia que não se afigurava fácil "manter um corpo de docência com formação especializada em surdocegueira, capaz de responder adequadamente às necessidades de educação destes alunos, visto que são uma minoria dentro da minoria que constitui o grupo alvo de Educação Especial".

No entanto, em parceria com o agrupamento de ensino local, a DREN criou, naquela vila do Douro Sul, uma Unidade de Apoio Especializado para a Educação de Alunos com Multideficiência e Surdocegueira Congénita.

"É uma unidade que tem quatro alunos, sendo um deles o Pedro. São acompanhados a nível pedagógico por dois professores especializados a tempo inteiro", explicou fonte da DREN.

De acordo com o mesmo interlocutor, a unidade "tem ainda dois auxiliares a tempo inteiro". "O aluno é acompanhado por uma auxiliar no percurso casa/escola.
É transportado de táxi sem encargos para a família e tem ainda apoio de uma terapeuta ocupacional e de um terapeuta da fala", acrescentou.

Técnicos vão logo embora

Clara Pereira reconhece que a DREN tem colocado técnicos, mas argumenta que os profissionais vão logo embora porque são incapazes de comunicar com o Pedro.
O menino precisa de alguém que saiba ultrapassar, em simultâneo, a cegueira e a surdez.

"Mas o que tem acontecido é que os técnicos ou são especialistas na surdez ou na cegueira, mas não em surdocegueira", precisou, em tom agastado, Clara Pereira, à espera de ver implementada uma solução adequada às necessidades do filho.

Fonte: Jornal de Notícias

Comentários

Olá!

Se calhar é o mesmo menino surdocego congénito de que me falaram, porque a história é a mmesma e, nfelizmente, em Portugal há muitos poucos professores especializados em surdocegueira, talvez por o número de pessoas com essa deficiência mal reconhecida serem poucas.

A falta de especialização condiciona muito a reabilitação destas pessoas, pelo que, em vez de progredirem, regridem...

Entendo a revolta da mãe do Pedrinho, mas têm feito tudo para lhe proporcionar uma vida digna. Sei que é muito difícil para ela não comunicar com o filho, por desconhecimento da língua gestual mão na mão e do Braille. Que eu saiba, os professores de ensino especial só sabem o básico e têm uma visão muito geral sobre a multideficiência e em particular da surdocegueira.

Só quem é surdcego e venceu na vida conhece bem as formas de reabilitação de surdocegos. No caso do Pedrinho, que é surdocego congénito e que têm outras deficiências associadas, é preciso estimular as capacidades que lhe restam, nem que ele tenha alguns resíduos auditivos ou visuais.

Eu terei todo o gosto em ajudá-lo caso me procurem. Estamos no mesmo concelho, o que é mais fácil. Com os meus conhecimentos em Psicologia da Educação, bem como com o meu conhecimento profundo de Braille, a minha experiência com crianças e jovens surdocegos, conhecimentos de equipamentos tiflotécnicos e de língua gestual grau 1, penso que reúno as competências exigidas para fazer um voluntariado.

Honestamente, não tenho licenciatura em Educação Especial, mas o diploma não serve para nada sem a experiência pessoal e profissional. Muitas pessoas tiram cursos mas só sabem na teoria, e uma pessoa que vive na pele a surdocegueira e sabe que pode aprender se for estimulada para iso é, para mim, doutorada em surdocegueira.

Também o êxito do Pedrinho vai depender muito do envovimento dos pais, dos professores e de toda a gente. Porque sem motivação e sem entrega nada feito! E o Pedro terá de mostrar que possui alguma capacidade. E, por mais pequena que ela seja, deve ser tida em conta e trabalhada.

Estas crianças precisam de muita atenção e sobretudo de serem amadas. Não basta ser um bom profissional, é preciso desenvolver uma relação de empatia e de confiança, necessárias à aprendizagem de competências interpessoais.

Marco Poeta