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Lua Azul - blog de lua azul

Viajando pelo mundo dos livros... "O Livro do Destino de Brad Meltzer - Capítulo 11

por lua azul

Mais algumas descobertas que aparentemente temos a fazer através deste 11º capítulo do nosso livrinho. Desta vez, as mesmas referem-se à personagem de Dreidel, o amigo do nosso narrador Wes a quem este pediu logo quase no início de toda esta trama que o ajudasse a descobrir se de facto Boile estaria mesmo vivo ou não. Tudo isto acaba por nos revelar que todos nós guardamos sempre algum segredo por muito que os outros até possam confiar quase cegamente naquilo que somos, senão vejam só o que é que Wes descobriu sobre este amigo em quem depositava toda a sua confiança!

11

“Bem-vindo de volta, senhor Holloway", diz o manobrista do Four Seasons, sabendo meu nome por causa de incontáveis visitas com o presidente. Diferentemente de muitos, ele permanece preso aos meus olhos. Eu faço um aceno de agradecimento ape¬nas por causa disso.
Quando entro no hotel, um sopro de ar condicionado me envolve em seus braços. Por força do hábito, olho por sobre o ombro procurando o presidente. Ele não está aqui. Estou sozinho.
Passando pelo chão de mármore bege do saguão, sinto o coração acelerado dentro do peito. Não é apenas por causa de Boyle. Por bem ou por mal, Dreidel sempre me provoca esse efeito.
Como "faz-tudo" inicial de Manning, Gavin "Dreidel" Jeffer não é apenas meu antecessor — ele é também aquele que chamou a atenção do presidente sobre mim e me recomendou para o trabalho. Quando nos conhecemos, dez anos atrás, eu tinha dezenove anos e era voluntário no escritório de campanha na Flórida, respondendo ao telefone e colocando, do lado de fora das portas, antes da eleição, emblemas do partido ou do candidato. Dreidel tinha vinte e um anos e era o braço direito e esquerdo de Manning. Eu, na verdade, disse a Dreidel que era uma honra conhecê-lo. E eu pensava assim. Na época, todos já tínhamos ouvido a sua história.
Durante o primeiro período, Dreidel só tinha alguns garotos lo¬cais, sem filiação, para colocar cadeiras dobráveis para o primeiro de¬bate. Como qualquer outro artista em excursão, quando a apresentação terminava, ele tentava ficar perto da ação andando às escondidas pelos bastidores. Quase sempre podia ser encontrado no coração do auditório, onde os melhores mentirosos da América ficavam contando histórias so¬bre por que o seu candidato acabara de ganhar. Com uma suja camiseta de algodão grosso, ele era o único garoto silencioso em uma sala cheia de adultos queixosos. O repórter da CBS o notou instantaneamente, empur¬rando um microfone em seu rosto. "O que você acha, filho?", perguntou-lhe o repórter.
Dreidel olhou confusamente para a luz vermelha da câmera, com a boca escancarada. E, sem nem pensar a respeito, ele deu, com o auxílio de Deus, a resposta mais honesta e que mudaria sua vida para sempre: "Quando tudo terminou, Manning foi o único que não perguntou à sua equipe: Como me saí?"
Esta questão tornou-se o mantra de Manning durante o ano e meio seguinte. Todas as agências de notícias utilizaram o videoclipe. Todos os maiores jornais estenderam-se sobre a citação. Eles até distribuíram buttons dizendo Como me saí?
Três palavras. Quando Dreidel contou de novo a história por oca¬sião de seu casamento, alguns anos atrás, ele disse que nem percebeu o que estava acontecendo até o repórter perguntar como se soletrava o seu nome. Não importava. Três palavras, e Dreidel — o pequeno judeu, con¬tador de histórias, como a imprensa da Casa Branca o apelidou — ha-via nascido. Depois de uma semana, Manning lhe ofereceu um emprego como "faz-tudo", e, ao longo da campanha, centenas de jovens voluntários se mostraram aborrecidos. Não é que estivessem com ciúmes, é que... Tal¬vez fosse seu sorriso presunçoso, ou a facilidade com que conseguira o emprego, mas, no pátio da escola, Dreidel era o garoto que costumava ter a melhor festa de aniversário, ganhava os melhores presentes, que recebia os melhores favores de qualquer um com sorte bastante para ser convida¬do. Durante alguns anos, isso lhe deu acesso a grupos, mas, como a petu¬lância perdurava, Dreidel nem mesmo percebia quando estava fora.
Ainda assim ele sempre foi o talismã de boa sorte de Manning. E hoje, esperançosamente, o meu.
"Bom dia, senhor Holloway", diz o recepcionista, quando passo por ele e me dirijo aos elevadores. É a segunda pessoa que sabe o meu nome, lembrando-me instantaneamente que preciso ser discreto. Certamente foi por isso que telefonei em primeiro lugar para Dreidel. O presidente nunca admitiria, mas eu sei que ele e a primeira-dama compareceram ao casamento de Dreidel e escreveram-lhe uma recomendação para a facul¬dade de Direito de Columbia — e pediram-me para comprar um presente quando a filha de Dreidel nasceu: recompensa por anos de bom serviço. E, nos termos da Casa Branca, bom serviço significa permanecer com a boca fechada.
Quando as portas do elevador se abrem no quarto andar, sigo as flechas de direção e começo a contar os números dos quartos: 405... 407... 409... Pela distância entre as portas, posso dizer que todos eles são suítes. Dreidel está subindo na vida.
O corredor termina no quarto 415, uma suíte tão grande que ela tem uma campainha na porta. Não há meio de eu lhe dar o prazer de tocar. "Serviço de quarto", anuncio, batendo rapidamente à porta. Ninguém responde. "Dreidel, você está aí?" acrescento. Ainda sem resposta.
"Sou eu, Wes!" grito, tocando finalmente a campainha. "Dreidel, você...?”
Há um som alto inesperado e a fechadura se abre. Depois um tinir de metal. Ele havia passado a corrente também. "Espere aí", grita ele. "Estou indo."
"O que você está fazendo? Roubando os cabides?" A porta se abre, mas apenas alguns centímetros. Atrás dela, Dreidel põe a cabeça para fora como uma dona de casa ansiosa surpreendida por um vendedor. Seu ca¬belo, em geral bem penteado, está levemente revolto, com umas mechas infantis caindo sobre a testa. Ele coloca os óculos redondos com aro de metal em seu fino nariz esculpido. Pelo que posso ver ele não está usando lisa.
“Olhe, não é para ofender, mas não quero fazer sexo com você", digo, rindo.
“Eu lhe disse para telefonar do saguão", responde ele, gritando. 'Por que você está se aborrecendo tanto? Eu imaginei que gostaria de me mostrar seu belo quarto e..."
"Estou falando sério, Wes. Por que veio até aqui?" Há um novo tom em sua voz. Não apenas aborrecimento. Medo. "Alguém o seguiu?", acres¬centa ele, abrindo um pouco mais a porta para examinar o corredor. Ele ia uma toalha ao redor do peito. "Dreidel, tudo está...?"
"Eu disse para chamar lá de baixo!", insiste ele.
Dou um passo atrás, completamente confuso.
"Querido", chama uma voz de mulher de dentro do quarto, "está .." A mulher pára no meio da frase. Dreidel se volta, e eu consigo vê-la por cima do ombro dele, virando no canto do quarto. Ela está vestida com um felpudo roupão branco do hotel — uma mulher afro-americana magra com deslumbrantes tranças. Eu não tinha idéia de quem era, mas uma coisa tinha certeza, ela não era a esposa de Dreidel. Ou sua filha de dois anos de idade.
O rosto de Dreidel se abate quando ele percebe minha reação. Este é o momento em que ele diz que não é o que parece.
"Wes, não é o que você está pensando."
Eu fito a mulher no roupão. E Dreidel em sua toalha. "Talvez eu deva... Vou descer", gaguejo.
"Eu o encontro lá em dois minutos."
Dando um passo atrás, eu examino a mulher, que ainda está para¬lisada no lugar. Seus olhos estão arregalados, desculpando-se silenciosamente.