Enquanto Wes tenta investigar a vida de Boile como vimos no 24º capítulo deste livrinho que deixei por aqui postado na minha última publicação, também ele se encontra a ser investigado, mas agora, por Romano. É aliás sobre esse pretexto que este último vai visitar Nico ao hospital psiquiátrico onde está internato desde que tentou disparar sobre o presidente Maning como poderemos constatar neste 25º capítulo que deixo transcrito nas linhas que se seguem para que desta forma possa então dar continuidade à partilha deste livro na íntegra que já por aqui venho fazendo desde os finais do passado mês de Agosto.
25
“Belo quarto", disse O Romano, olhando para as paredes praticamente desguarnecidas, desbotadas pelo sol, que era o lar de Nico durante os últimos oito anos. Acima da mesinha-de-cabeceira havia um calendário grátis da Washington Redskins, a mercea¬ria local. Acima da cama, um pequeno crucifixo. No teto, uma teia de ara¬nha de gesso rachado completava a decoração do quarto. "Bem bonito", acrescentou o Romano, lembrando o quanto Nico progredia com reforço positivo.
"Ele é bonito", concordou Nico, com os olhos no assistente hospita¬lar enquanto ele saía do quarto.
"E você tem passado bem?" perguntou O Romano.
Mantendo as mãos ao redor de seu violino e abraçando-o como se fosse uma boneca, Nico não respondeu. Da maneira pela qual sua orelha estava erguida, ficava nítido que ele estava escutando o ranger da sola de borracha do assistente hospitalar que se tornava mais fraco contra o linóleo.
"Nico..."
"Espere..." interrompeu Nico, ainda escutando.
O Romano ficou em silêncio, incapaz de ouvir coisa alguma. É cla¬ro, esta foi mais uma razão pela qual eles pegaram Nico naqueles anos atrás. O adulto médio ouve num nível de vinte e cinco decibéis. De acor¬do com os relatórios do exército, Nico era dotado com a capacidade de ouvir a dez decibéis. Sua visão era ainda mais fantástica, medida oficial¬mente a 20/6.
Os supervisores de Nico no exército diziam que isso era um dom. Seus médicos diziam que era um fardo, sugerindo que a audição muito aumentada e o estímulo visual causavam sua dessensibilização com a rea¬lidade. E O Romano... O Romano sabia que era uma oportunidade.
"Diga-me quando estivermos livres", sussurrou O Romano.
Quando o som desapareceu, Nico coçou seu nariz em forma de bul¬bo e estudou O Romano com cuidado, seus olhos cor de chocolate, muito próximos, movendo-se de um lado para o outro, olhando lenta e separa¬damente para o cabelo de seu visitante, o rosto, o sobretudo, sapatos, até mesmo sua maleta de couro. O Romano havia esquecido como ele era metódico.
"Você esqueceu um guarda-chuva", deixou escapar Nico.
O Romano passou a mão pelo seu cabelo levemente molhado. "É uma breve caminhada desde o estaciona..."
"Você trouxe uma arma", disse Nico, olhando para o coldre no tor¬nozelo de Romano, que se sobressaía na perna de sua calça.
"Ela não está carregada", disse O Romano, lembrando que respostas curtas eram a melhor maneira de controlá-lo.
"Este não é o seu nome", interrompeu Nico de novo. Ele apontava para o cartão de identificação de visitante na lapela do Romano. "Eu co¬nheço este nome."
O Romano nem se deu ao trabalho de olhar para baixo. Ele usara sua insígnia para passar pelos guardas, mas para a identificação dera, é claro, um nome falso. Só um louco poria o nome verdadeiro em uma lista que regularmente era enviada para seus supervisores no Serviço. Mesmo depois de todos os anos em que Nico estava ali, com todas as drogas que os médicos lhe enfiavam, ele era perspicaz. Franco-atirador treinado não fica embotado facilmente. "Nomes são ficções", disse O Romano. "Espe¬cialmente os dos inimigos."
Ainda segurando apertado seu violino, Nico mal podia se conter. "Você é um dos Três." Pela excitação em sua voz, isto não era uma pergunta.
"Não vamos..."
"Você é o Um ou o Dois? Eu só falo com o Três. Ele era meu contato — comigo quando meu pai — quando ele morreu. Ele disse que o resto de vocês era muito importante, e que o presidente era um d..." Nico mor¬deu os lábios, esforçando-se para conter-se. "Louvados sejam todos! Você viu a cruz na capela de tijolos?"
O Romano fez que sim, lembrando-se do que haviam dito para Nico anos atrás. Que ele deveria procurar os sinais. Que as estruturas físicas sempre tinham sido fontes de poder inexplicável. Os druidas e Stonehenge... as pirâmides do Egito... mesmo o Primeiro e o Segundo Templos de Salo¬mão em Jerusalém. Os franco-maçons haviam passado anos estudando-os todos — cada um era uma maravilha arquitetônica que servia como uma porta para um grande milagre. Séculos depois, aquele conhecimento havia passado para o franco-maçom James Hoban, que projetara a Casa Branca, e o franco-maçom Gutzon Borglum, que esculpiu no Monte Rushmore. Mas, como também explicaram para Nico, algumas portas não foram feitas para serem abertas.
"Louvados sejam todos!" repetiu Nico. "Ele disse quando você che¬gou, a redenção..."
"A redenção virá", prometeu O Romano. "Como o Livro promete."
Pela primeira vez, Nico ficou silencioso. Ele colocou o violino no chão e curvou a cabeça.
"É isto, meu filho", disse O Romano, com um aceno de cabeça. "É claro, antes da redenção, vamos começar com uma breve..." — ele alcan¬çou a cômoda e pegou um rosário com contas de vidro vermelhas — "... confissão."
Ajoelhando-se, Nico juntou as mãos e inclinou-se na lateral de seu colchão como uma criança na hora de ir para a cama.
O Romano não ficou surpreso. Nico fez a mesma coisa quando eles o descobriram no asilo. E durante quase dois dias inteiros depois do con¬fronto com seu pai. "Haverá tempo para rezar mais tarde, Nico. Neste momento eu preciso que você me diga a verdade sobre uma coisa."
"Sempre digo a verdade, senhor."
"Eu sei que sim, Nico." O Romano sentou-se do lado oposto da cama e colocou as contas do rosário entre eles. O sol da tarde refletia através dos prismas do vidro vermelho. Nico os estudava, fascinado. De sua maleta, O Romano tirou uma foto em preto-e-branco e a colocou entre eles sobre a cama. "Agora, diga-me tudo o que você sabe sobre Wes Holloway."
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