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Lua Azul - blog de lua azul

Viajando pelo mundo dos livros... "O Livro do Destino" de Brad Meltzer - Capítulo 24

por lua azul

Surpresa das surpresas! Enquanto Wes tenta descobrir novas informações sobre Boile de alguma forma ocultas junto dos arquivos de uma biblioteca, este acaba por contactá-lo já mesmo no final deste 24º capítulo do "Livro do Destino". Com que intenções o faz, ainda não nos é no entanto revelado por aqui, mas algo me diz que isto poderá alterar por completo o rumo desta história daqui para a frente!

24

“Biblioteca Presidencial Manning. Em que posso ajudá-lo?" Responde a recepcionista.
"Eu tenho algumas perguntas sobre os registros presidenciais", digo, verificando pela segunda vez se a porta de meu escritório está fechada. Rogo dissera que eu podia usar o seu escritório para tele¬fonar, mas, considerando o almoço e toda a nossa conversa, eu já havia estado fora por muito tempo.
"Vou transferi-lo para a arquivista do dia", diz a recepcionista.
Com um clique, estou a caminho. E, embora eu pudesse telefonar para o chefe da biblioteca, como Rogo disse, é melhor manter o assunto no baixo escalão.
"Kara falando. Em que posso ajudá-lo?" Pergunta uma voz suave de mulher.
"Olá, Kara. Aqui é Wes, do escritório pessoal do presidente. Esta¬mos tentando obter alguns arquivos antigos de Boyle para um livro em homenagem a ele sobre o qual estamos trabalhando, assim, eu estava me perguntando se você poderia ajudar-nos a reuni-los."
"Sinto muito, qual é mesmo o seu nome?"
"Wes Holloway. Não se preocupe... estou na lista da equipe", digo, rindo. Ela não ri.
"Sinto muito, Wes, mas, antes que eu libere quaisquer documentos, preciso que você preencha uma declaração de privacidade e segurança e na requisição deve constar o seu motivo..."
"Presidente Manning. Ele os requisitou pessoalmente", interrompo.
Cada lei tem exceções. Tiras podem passar os faróis vermelhos. Os médicos podem estacionar em lugar proibido durante emergências. E quando o seu nome é Leland Manning, você consegue a folha de papel que quiser da Biblioteca Presidencial Manning.
"A-Apenas diga o que você precisa. Vou começar a reuni-los", responde ela.
"Fantástico", digo, folheando a grossa pasta com folhas soltas em minha escrivaninha. A primeira página é intitulada Registros presidenciais e materiais históricos. Nós o chamamos de guia para o maior diário do mundo.
Durante quatro anos na Casa Branca, cada arquivo, cada e-mail, cada cartão de Natal enviado fora registrado, copiado e salvo. Quando deixamos Washington, foram necessários cinco aviões militares de carga, como os usados em batalha, para transportar os quarenta milhões de do¬cumentos, um milhão e cem mil fotografias, vinte milhões de mensagens impressas e por e-mail, e quarenta mil "artefatos", inclusive quatro dife¬rentes telefones Leão Covarde, dois dos quais eram feitos à mão e grava¬dos com o rosto do presidente. Ainda assim, a única maneira de encontrar a agulha era pular para dentro do palheiro. E a única maneira de descobrir o que Boyle estava armando era abrir as gavetas de sua escrivaninha e ver o que havia dentro.
"Sob o título de Assessoria da Casa Branca, vamos começar com todos os registros de Boyle como chefe da assessoria", digo, folheando as primeiras páginas de registros do guia, "e naturalmente todos os seus pró¬prios arquivos, incluindo a correspondência enviada por ele e para ele." Torno a folhear passando para o assunto seguinte na pasta. "E eu também gostaria de obter suas anotações pessoais. Elas incluem quaisquer queixas arquivadas contra ele, correto?"
"Deveria incluir", diz a arquivista, agora com suspeita.
"Não se preocupe", rio, ao ouvir a mudança em sua voz, "isto é ape¬nas para um exame minucioso, para sabermos com certeza onde se en¬contram todas as partes essenciais."
"Sim... é claro... é só que... para que mesmo você precisa disso tudo?"
"Para um livro no qual o presidente está trabalhando... sobre os anos de serviço de Boyle, desde a Casa Branca até o dia em que levou os tiros na pista de corrida..."
"Se você quiser, nós temos as notícias de jornais... você sabe, com Boyle... e aquele jovem que foi ferido no rosto..."
Quando John Hinckley tentou matar Ronald Reagan, ele atingiu o presidente, James Brady, o agente do Serviço Secreto Tim McCarthy e o oficial de polícia Thomas Delahanty. Todos conhecemos James Brady. McCarthy e Delahanty tornaram-se responsáveis por Atividades Insignificantes. Exatamente como eu.
"Então, em quanto tempo você acha que pode reunir tudo isso?", pergunto.
Ela ofega ligeiramente no telefone. Foi a coisa mais próxima de um riso que conseguiu. "Deixe-me ver... catorze, quinze, dezesseis... você está provavelmente procurando algo em torno de trinta e cinco centímetros lineares — ou cerca... vamos dizer... de trinta e seis mil páginas."
"Trinta e seis mil páginas", repito, a minha própria voz baixando. O palheiro ficando trinta e cinco centímetros mais alto.
"Se você me contar um pouco mais sobre o que está procurando, provavelmente posso ajudá-lo a reduzir um pouco a busca..."
"De fato, há um par de coisas que estamos tentando conseguir o mais rápido possível. O presidente disse que havia outros pesquisadores trabalhando com a biblioteca. Você pode nos dizer que arquivos eles reti¬raram de maneira a não haver coincidência?"
"Certamente, mas... quando se trata de pedidos de outras pessoas, não podemos..."
"Kara... é Kara, não é?" pergunto, roubando um jeito de falar de Manning. "Kara, isto é para o presidente..." "Eu percebo, mas as regras..."
"Eu aprecio as regras. Realmente aprecio. Mas essas são pessoas que trabalham com o presidente. Estamos todos do mesmo lado, Kara", acres¬cento, tentando não suplicar. "E se você não encontrar o que estou pedin¬do, então eu serei a pessoa que não conseguiu a lista para o presidente. Por favor, diga que você sabe o que isto significa. Eu preciso desse trabalho, Kara... mais do que pode imaginar."
Há uma longa pausa do outro lado da linha, mas, como qualquer bibliotecária, Kara é pragmática. Eu a ouço digitando do outro lado. "Quais são seus nomes?" pergunta ela.
"O último nome é Weiss, o primeiro Eric", digo, começando mais uma vez com o nome de Houdini que Boyle usava como código.
Há um clique alto quando ela bate na tecla Enter. Verifico minha porta pela terceira vez. Tudo em ordem.
"Temos dois Eric Weiss. Um fez pesquisa no primeiro ano em que abrimos. O outro fez uma requisição cerca de um ano e meio atrás, em¬bora pareça ser uma informação pedida por uma criança que queria saber qual era o filme preferido do presidente..."
"Todos os homens do presidente", dizemos simultaneamente.
Ela ri de novo aquele riso arquejante. "Não acho que seja o seu pes¬quisador", acrescenta ela, finalmente mais calorosa.
"E o outro Weiss?"
"Como eu disse, ele é do primeiro ano em que abrimos... o endere¬ço para correspondência é em Valência, Espanha..."
"É este!" deixo escapar, recuperando-me rapidamente.
"Certamente, parece que é", diz Kara. "Ele fez alguns pedidos seme¬lhantes... alguns dos arquivos de Boyle... o programa do presidente no dia do tiroteio... A coisa estranha é que, de acordo com as anotações aqui, ele pagou pelas cópias — que foram caras, quase seiscentos dólares —, mas, quando elas foram enviadas, o pacote voltou para nós. De acordo com o registro, não havia ninguém morando naquele endereço."
Como uma foto na sala escura, as beiradas da foto lentamente ficam visíveis e culminam em um panorama. O FBI havia dito que Boyle fora localizado na Espanha. Se esta fora sua primeira requisição para a biblio¬teca, e depois ele fugira, talvez estivesse preocupado que algumas pessoas já tivessem descoberto seu nome... "Tente Carl Stewart", digo, mudando para o nome em código que Boyle usara no hotel da Malásia.
"Carl Stewart", repete Kara, digitando. "Sim... aqui vamos..."
"Você o conseguiu?"
"Como não conseguiria? Quase duzentas requisições durante os úl¬timos três anos. Ele requisitou mais de doze mil páginas..."
"É... ele está se esmerando para incluir todos os detalhes", digo a ela, com cuidado para não perder o foco. "E só para ter certeza de que é ele mesmo, qual é o último endereço que você tem dele?"
"Em Londres... Está aos cuidados do correio em 92A Balham High Road. E o código de endereçamento postal é SW12 9AF."
"É este mesmo", digo, anotando-o, embora eu saiba que é o equiva¬lente inglês de número de caixa postal. E, assim, insondável.
Antes que eu consiga dizer outra palavra, a porta do meu escritório se abre. "Ele está no closet", anuncia Claudia, referindo-se ao presidente. Eu temia isto. Closet era o seu código para banheiro — a última parada de Manning antes de sair para um evento. Se ele está realmente pronto — e ele sempre está —, esse é o aviso de que só tenho dois minutos.
"Então, você gostaria que eu lhe enviasse apenas uma lista do que mais ele requisitou?", pergunta a bibliotecária pelo telefone.
"Wes, você ouviu o que eu disse?", acrescenta Claudia.
Eu levanto um dedo para a chefe de equipe. "Sim, se você puder me enviar a lista, isto seria perfeito", digo para Kara. Claudia bate em seu relógio e eu aceno para ela. "E se eu puder lhe pedir um último favor — o último documento que ele recebeu, quando lhe foi enviado?"
"Vamos ver... aqui diz quinze, então cerca de dez dias atrás", replica Kara.
Sento-me ereto, e a foto no quarto escuro começa a mostrar de¬talhes novos em folha. Desde que a biblioteca abriu, Boyle tem estado retirando documentos e pesquisando nos arquivos. Dez dias atrás requi¬sitou o último — depois subitamente abandonou seu esconderijo. Eu não tenho muita informação, mas fica claro que conseguir aquele arquivo é a única maneira que ele tem de sair das sombras para a luz.
"O Serviço está se mobilizando", diz Claudia, olhando para o corre¬dor e observando os agentes se reunirem na porta da frente do escritório.
Eu fico em pé e estendo o cordão do telefone até a cadeira onde o meu paletó está pendurado. Deslizando meu braço nele, pergunto para a bibliotecária: "Quanto tempo você levará para me enviar uma cópia do último documento que ele recebeu?"
"Vamos ver, ele saiu na semana passada, então ainda deve estar na mesa de Shelly... Espere aí, deixe-me verificar." Há uma breve pausa na linha.
Olho para Claudia. Não temos muitas regras, mas uma delas é nun¬ca deixar o presidente esperando. "Não se preocupe... estou indo."
Ela olha por sobre seu ombro e lá para baixo. "Estou falando sério, Wes", ameaça. "Com quem você está falando?"
"Com a biblioteca. Apenas tentando obter a lista final dos chefes que estarão no evento hoje à noite."
No nosso escritório, quando o presidente se sente abandonado, com saudades de sua antiga vida, nós o surpreendemos telefonando para seus "ex": o ex-primeiro-ministro britânico, o ex-primeiro-ministro ca¬nadense, até para o ex-presidente francês. Mas a ajuda de que preciso está muito mais próxima que essa.
"Eu a consegui bem aqui. É apenas uma página", interrompe a bi¬bliotecária. "Qual é o seu número de fax?"
Dizendo o número, eu luto para enfiar o outro braço na manga. As cabeças de metal do presidente e da primeira-dama balançam em minha lapela. "E você vai enviá-la agora?"
"Quando você quiser... é..."
Agora.
Desligo o telefone, agarro minha maleta de truques, e saio como uma flecha pela porta. "Apenas me diga quando Manning estiver chegan¬do", digo para Claudia, enquanto passo por ela e corro para a sala de cópias diretamente ao lado do meu escritório.
"Wes, isto não é engraçado", diz ela, nitidamente aborrecida.
"Ele está chegando bem agora", minto, parado diante do nosso fax de segurança. Todo dia, às dezoito horas, o NID de Manning — o Diário Nacional de Inteligência — chega por fax de segurança no mesmo horá¬rio. Enviado pela CIA, o NID contém resumos, em um arranjo ordenado, de tópicos de inteligência delicados e que são o último cordão umbilical que todos os "ex" têm com a Casa Branca. Manning corre para pegá-lo como um gato atraído por um petisco.
"Wes, vá para a porta. Eu vou cuidar do fax."
Eu so...
"Eu disse vá para a porta. Agora."
Volto-me para encarar Claudia no exato momento em que o fax co¬meça a aparecer. Seus lábios de fumante se enrugam, e ela parece furiosa — mais furiosa do que alguém deveria ficar acerca de um breve e tolo fax.
"Está bem", gaguejo. "Eu o peguei."
"Diabos, Wes..."
Antes que ela acabe a frase, o celular vibra no meu bolso. "Dê-me apenas um segundo", digo para Claudia, enquanto verifico a identidade de quem está chamando. Pessoa não reconhecida. Não são muitas pessoas que têm esse número.
"Fala Wes", respondo.
"Não reaja. Apenas sorria e aja como se eu fosse um velho amigo", uma voz granulosa no receptor. Eu a reconheço instantaneamente.
Boyle.