Está aqui

Lua Azul - blog de lua azul

Viajando pelo mundo dos livros... "O Livro do Destino" de Brad Meltzer - Capítulo 5

por lua azul

Hoje é somente o pequeno telefonemazinho que o nosso narrador iniciou ainda durante o quarto capítulo que por aqui disponibilizei ontem que vos trago. Não acrescenta muitas mais informações à nossa história tal como já se verificou no caso do capítulo 3, mas ainda assim, não poderia deixar de o partilhar de forma alguma até porque faz parte integrante desta obra e o objectivo deste meu espacinho aqui no lerparaver é mesmo ir disponibilizando livros na íntegra a todas as pessoas cegas ou com baixa visão que eventualmente possam sentir algumas dificuldades ao nível da realização de Downloads deste tipo de conteúdos. Fica então mais este pequeno excertozinho do "Livro do Destino" por hoje, depois publicarei muitas mais coisinhas alusivas a esta história à medida que os dias forem passando e assim que me for possível.

5

Paris, França

Com maionese?", perguntou com um forte sotaque francês a mulher magra,
de óculos com aros vermelhos e lentes bifocais.
Oui", respondeu Terrence O'Shea, acenando respeitosamente, mas
desapontado por ela ter perguntado.
Ele achava que seu francês era fluente — ou tão fluente quanto um
treinamento no FBI pudesse torná-lo —, mas o fato de ela ter perguntado em
inglês e se referido ao molho com alho, aïoli, como "maionese"... "Excusez-moi,
madame", disse O'Shea, "pourquoi m'avez vous demandé cela en anglais?" Por
que me fez a pergunta em inglês?
A mulher franziu os lábios e sorriu para os amplos traços suíços dele. Seu
cabelo fino e loiro, faces rosadas e olhos cor de avelã vinham da família de sua
mãe na Dinamarca, mas o nariz achatado e curvado era do lado escocês de seu
pai — tornado mais feio ainda por causa de uma operação de resgate malfeita
quando fora feito refém em seus dias de trabalho de campo. Enquanto a mulher
lhe entregava o pequeno invólucro de cartolina com batatas fritas encharcado de
maionese, ela explicou: "Je parle très mal le danois". Meu dinamarquês é terrível.
Percebendo o sorriso de O'Shea, ela acrescentou: "Vous venez de Danemark,
n'est-ce pas?" Você é da Dinamarca, não é?
"Oui", mentiu O'Shea, ficando bem contente por ela não o ter identificado
como americano. Naquele tempo, de novo, a mistura de raças fazia parte do
trabalho.
"J'ai l'oeuil pour les choses", acrescentou a mulher.
"J'ai l'oeuil pour les choses", repetiu O'Shea, deixando cair algumas moedas
no pote de vidro de gorjetas que ficava na extremidade do carrinho ambulante da
mulher que vendia salsichas e batatas fritas. Algumas vezes apenas se sabe.
Subindo pela rue Vavin, O'Shea sentiu o celular vibrar em seu bolso pela
terceira vez. Já havia convencido a mulher do carrinho ambulante de que ele não
era americano, e, mesmo que isso não importasse, não iria se desmascarar
interrompendo sua conversa e atendendo o telefone ao primeiro toque.
"Aqui é O'Shea", respondeu por fim.
"O que você está fazendo na França", perguntou a voz do outro lado da linha.
"Uma conferência da Interpol. Alguma bobagem sobre inteligência. Quatro

dias inteiros longe do buraco."
"Mais toda a maionese que você consegue comer."
Exatamente quando estava prestes a morder sua primeira batata frita imersa
em maionese, O'Shea parou. Sem outra palavra, ele pegou o invólucro de batatas
fritas e atirou-o dentro de um cesto de lixo ali perto e atravessou a rua.
Como um Legat — um Adido Jurídico — do FBI, O'Shea havia passado quase
uma década trabalhando com agentes da lei em sete países estrangeiros para
ajudar a deter crimes e terrorismo que poderiam prejudicar os Estados Unidos.
Na sua linha de trabalho, a melhor maneira de ser assassinado era se tornar óbvio
e previsível. Orgulhando-se por não ser nenhum dos dois, ele abotoou o longo
casaco preto que esvoaçava atrás de si como uma capa de mágico.
"Conte-me o que está acontecendo", disse O'Shea.
"Adivinhe quem está de volta?"
"Não faço ideia."
"Adivinhe..."
"Não sei... aquela moça do Cairo?"
"Deixe-me lhe dar uma pista: ele foi assassinado na pista de Daytona oito
anos atrás."
O'Shea parou de andar no meio da rua. Não por pânico. Ou surpresa. Fazia
tempo que ele estava nesse negócio para ficar aborrecido com más notícias. Era
melhor confirmar.
"Onde ficou sabendo?"
"De uma boa fonte."
"Boa, quanto?"
"Muito boa."
"Isto não é..."
"Tão boa como se nós mesmos tivéssemos conseguido a informação, o.k.?"
O'Shea conhecia aquele tom. "Onde o descobriram?" "Na Malásia, Kuala
Lumpur." "Nós temos um escritório ali..." "Ele já sumiu."
Não era surpresa, pensou O'Shea. Boyle era muito esperto para se demorar
num local. "Alguma ideia de por que ele caiu fora?"
"Diga-me você: isso foi na mesma noite em que o presidente Manning estava
lá para fazer um discurso."
Um Fiat vermelho buzinou, tentando afastar O'Shea do caminho. Acenando
para desculpar-se, O'Shea continuou em direção ao meio-fio. "Você acha que
Manning sabia que ele estava vindo?"
"Nem quero pensar a respeito. Você sabe quantas vidas ele está arriscando?"
"Eu lhe disse quando tentamos contratá-lo da primeira vez — este camarada
é um veneno. Nunca deveríamos tê-lo estimulado naqueles anos passados."
Observando o grande movimento do tráfego de Paris, O'Shea deixou o silêncio se
instalar. Do outro lado da rua, ele observou a mulher magra com os óculos

bifocais de aro vermelho distribuir outros pacotes de batatas fritas com aïoli para
várias pessoas. "Há mais alguém com ele?", perguntou por fim O'Shea.
"O assistente do presidente o viu — você sabe... aquele rapaz com o rosto..."
"Temos alguma ideia do que ele estava procurando?" "Essa é a questão, não é
mesmo?"
O'Shea parou para pensar a respeito. "E a questão da Índia na próxima
semana?"
"A Índia pode esperar."
"Então você quer que eu pegue um avião agora?"
"Diga adeus a Paris, meu caro. Está na hora de voltar para casa."