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Lua Azul - blog de lua azul

Viajando pelo mundo dos livros... "O Livro do Destino" de Brad Meltzer - Capítulo 17

por lua azul

Uma conversa nada amistosa entre Wes e os agentes do FBI O'shea e Miká, é into que o 17º capítulo do "Livro do Destino" nos vem dar a conhecer. Afinal de contas, e em conformidade com estes dois agentes, Boile tinha mesmo todos os motivos do mundo e mais alguns para forjar a sua própria morte e o presidente Maning... Ao que parece, talvez tenha realmente sido seu cúmplice logo desde o início como Wes já chegou a desconfiar em qualquer outro capítulozinho desta história! Cúnplice nos crimes, cúmplice no que respeita a esta morte forjada a que já vi,mos por aqui a asistir logo desde o início de toda esta trama... Para Wes é que parece não ser mesmo nada fácil ter que falar sobre nada disto como nos vem mostrar o 17º capítulo desta obra! E então numa situação como esta em que os agentes do FBI parecem também suspeitar do seu envolvimento nos crimes de Boile... Deixo assim mais este capítulozinho do livro por aqui para que possam ir acompanhando a história a pouco e pouco e nestas últimas semanas, de forma imensamente espaçada até porque me tenho "apreguiçado" mesmo muito no que respeita a novas publicações aqui pelo blogue. (Risos).

17

“Talvez fosse melhor irmos lá fora", sugere O’Shea, olhando para mim de cima no restaurante. Ele tem um nariz torto, o que mostra que não teme levar um soco. Tenta escondê-lo com óculos escuros, mas algumas coisas são difíceis de ocultar. Do momento que ele mostrou a insígnia do FBI, as pessoas voltaram-se para olhar.
"Sim... isto seria bom", replico, levantando tranqüilamente de mi¬nha poltrona e seguindo-o para a aléia ao ar livre que conduz para a área ia piscina exterior. Se planejo manter as coisas quietas, a última coisa que preciso é ser visto junto com um agente do FBI num local público.
Rodeada por palmeiras de todos os lados, a piscina é um cenário de privacidade — neste horário matinal, todas as espreguiçadeiras estão vazias —, mas, por alguma razão, O'Shea não diminui o passo. Apenas depois de pas¬sarmos por muitas plantas grandes colocadas em vasos é que me dou conta de para onde ele estava olhando: dois camaradas em uma pequena cabana de madeira dobrando toalhas e arrumando as coisas para o dia. O'Shea con¬tinua a caminhar. Seja lá o que ele queira, ele o quer em particular.
"Olhe, você pode me dizer para onde nós...?"
"Como foi sua viagem para a Malásia?" Quando ele faz a pergunta, eu estou olhando para a parte de trás de sua cabeça. Ele nem se volta para ver minha reação.
"Hum... foi boa."
"E o presidente gostou?"
"Não sei por que não gostaria", digo, aborrecido.
"Algo digno de nota aconteceu?", pergunta O'Shea, dirigindo-se para um curto caminho coberto de água. Uma onda cai com estrépito, ao longe, mas é apenas quando uma cascata de areia enche meus sapatos que eu percebo que estamos em uma praia particular atrás da piscina. Espre-guiçadeiras vazias, cabines de salva-vidas vazias. A praia vazia estende-se por quilômetros.
Quando passamos por uma cabana pequena, que é usada para alu¬gar equipamentos para praticar snorkel, um homem com cabelos castanhos bem penteados sai dela e me bate nas costas. Ele tem uma pequena incisão na extremidade superior de sua orelha esquerda, onde falta um pedaço.
"Diga olá para meu parceiro, Micah", diz O'Shea.
Volto-me para o hotel, mas por causa da parede de palmeiras eu só posso distinguir alguns terraços nos andares superiores do hotel. Não há vivalma à vista. Nesse mesmo instante percebo que Micah diminuiu o passo, de modo que se encontra ligeiramente atrás de mim.
"Talvez você queira se sentar", acrescenta O'Shea, apontando para uma das espreguiçadeiras.
"Levará apenas um segundo", diz Micah, atrás de mim.
Girando, eu começo a me dirigir para o caminho de volta. "Na ver¬dade, eu deveria..."
"Vimos o relatório que você enviou para o Serviço, Wes. Nós sabe¬mos quem você viu na Malásia."
Eu paro de repente, quase tropeçando na areia. Enquanto recupero o equilíbrio, me volto e os encaro. O'Shea e Micah têm o oceano atrás de si. As ondas arrebentam, soando implacáveis. A sutileza não é o ponto forte deles.
"Do que vocês estão falando?", pergunto.
"Do relatório", diz O'Shea. "Um camarada com cinqüenta e poucos anos com a altura de Boyle, o peso de Boyle, a cabeça raspada de Boyle, embora por alguma razão você tenha deixado de fora a cor de seus olhos — e o fato de que você achava que fosse ele."
"Ouça, eu não sei o que eu vi naquela noite..."
"Tudo bem, Wes", diz Micah com uma qualidade musical em sua voz. "Boyle estava na Malásia. Você não está louco."
Muitas pessoas ficariam aliviadas. Mas eu estive muito tempo em contato com policiais para conhecer seus truques e tramóias. O que estão usando chama-se entonação modulada. Inventada para afetar subcons¬cientemente um estado de espírito de uma pessoa, ela se baseia no fato de que a pessoa tende a devolver o mesmo o tom que lhe é dirigido. Quando alguém grita, gritamos de volta. Se sussurra, sussurramos também. Em geral eles usam esse método para fortalecer uma testemunha que está deprimida, ou para fazer baixar o tom de uma pessoa arrogante. Micah acaba de cantar para mim, esperando que eu cante de volta. Há apenas um problema. Os agentes do FBI não cantam — e eu também não. Se eles estão usando jogos mentais, há algo que não estão dizendo.
"Boyle está realmente vivo?", pergunto, recusando-me a admitir qualquer coisa.
O'Shea me estuda com cuidado. Pela primeira vez está olhando para minhas cicatrizes. "Eu sei que esse assunto é pessoal para você..." "Não se trata disso", lanço de volta.
"Wes, não estamos aqui para atacar", diz Micah suavemente. "E basta de truques de voz! Apenas digam que diabos está acon¬tecendo!"
O vento sopra na praia, desalinhando os cabelos bem penteados de Micah. O'Shea desloca seu peso, desconfortável na areia e bem ciente de que apertou o botão errado. Não são somente os ternos que chamam i atenção sobre eles. Os dois agentes trocam um olhar. O'Shea faz um Leve aceno. "Boyle alguma vez mencionou um grupo chamado Os Três?" Pergunta Micah por fim.
Sacudo a cabeça, não.
"E O Romano?"
"Trata-se também de um grupo?"
"É uma pessoa", diz O'Shea, observando a minha reação.
"E eu deveria conhecê-lo?", pergunto.
Pela segunda vez os agentes trocam um olhar. O'Shea pisca os olhos sob o sol da manhã, quando este queima permeando as nuvens. "Você faz idéia de há quanto tempo estamos caçando Boyle?", pergunta O'Shea. “Você acha que tudo começou com a sua 'morte' milagrosa? Nós o caçávamos antes na Casa Branca, esperando apenas que ele cometesse algum erro. E depois, quando ele cometeu... puf... foi a maior jogada do mundo, escapa livre da prisão."
"Então, quando atiraram nele..."
"... nos sentimos roubados. Assim como o resto da América. Até encerramos o caso e arquivamos as pastas de papéis. Três anos depois ele cometeu seu primeiro erro e foi descoberto na Espanha por algum ex¬patriado que tinha bastante informação política para reconhecê-lo. Para nossa sorte, ele nos telefona, mas, antes mesmo que pudéssemos verificar o assunto, o carro da testemunha explode na frente de sua casa. Trabalho profissional também — Semtex-H com um interruptor acionado por leve pressão. Sorte nossa de novo, ninguém fica ferido, mas a mensagem é en¬viada. A testemunha decide que nunca viu nada."
"E vocês acham que Boyle conhece Semtex-H, isto é... ele é um contabilista."
"O que significa que ele sabe como pagar pessoas e manipulá-las e manter seus dedos afastados de tudo, qualquer que seja a coisa que toca."
"Mas ele..."
"... ganha sua vida oprimindo pessoas. É isto o que ele faz, Wes. Era o que fazia na Casa Branca... e com nossos agentes... e especialmente com o Serviço."
Percebendo a confusão em meu rosto, ele acrescenta: "Ora, você deve ter imaginado isto. Os doze minutos na ambulância... o sangue do tipo dele... Por que você acha que Manning e o Serviço o ajuda¬ram? Por benevolência em seus corações? Ele é um cupim, Wes — de¬senterrando o que é vulnerável, depois explorando sua fraqueza. Você entende o que estou dizendo? Ele floresce em cima de fraqueza. Todas as fraquezas".
A maneira pela qual me estuda... a maneira pela qual seus olhos azuis brilhantes se prendem aos meus... "Espere, você está dizendo que eu...?"
"Nós examinamos seu arquivo, Wes", acrescenta O'Shea, tirando uma pasta dobrada de papéis de dentro de sua jaqueta. "Sete meses com o doutor Collins White, que é, como está dito aqui, especialista em ocorrên¬cias críticas. Soa muito técnico."
"Onde você conseguiu isto?" pergunto.
"E o diagnóstico: desordem de pânico e estado mórbido em decor¬rência de stress pós-traumático..."
"Isso foi seis anos atrás!", digo a eles.
"... provocando comportamento compulsivo que implica acender e apagar luzes, fechar e abrir portas..." "Isto nem mesmo..."
"... e uma obsessão completamente desenvolvida com a necessidade de prece repetitiva", continuou O'Shea, indiferente. "Isto é verdade? Que essa foi a sua maneira de lidar com os disparos? Dizendo as mesmas pre¬ces repetidas vezes?" Ele passa para a segunda página. "Você nem é religioso, não é mesmo? Esta é uma reação própria de Nico."
Para minha própria surpresa, meus olhos se erguem e minha gar¬ganta se contrai. Fazia muito tempo desde que alguém...
"Eu sei que é difícil para você, Wes", acrescenta O'Shea. "Mais difícil ainda do que a maneira como se pegou com Boyle. Mas, se ele tem algo sobre você, podemos ajudá-lo a se safar."
Ajudar-me a me safar? "Vocês pensam que eu...?"
"O que quer que ele tenha lhe oferecido, você só vai se queimar."
"Ele não me ofereceu nada", insisto.
"E por que vocês estavam brigando?"
"Brigando? O que você...?"
"A mesa de café quebrada? O vidro espalhado onde você acertou a mesa? Nós vimos o relatório", interrompe Micah, sua voz musical há muito desaparecida.
"Eu não sabia que ele estava ali!"
"Realmente?", pergunta Micah, com a voz mais rápida. "No meio de um discurso, em um país estrangeiro, você sai do lado do presidente — onde supostamente deveria estar..."
“Eu juro...”
"... e desaparece nos bastidores indo parar no único aposento onde por acaso Boyle está se escondendo..."
"Eu não sabia!" grito.
"Nós tínhamos agentes que estavam ali!", explode Micah. "Eles des¬cobriram o nome falso usado por Boyle no hotel! Quando eles entrevista¬ram os funcionários que estavam de serviço naquela noite, um deles pegou a sua foto, dizendo que você estivera procurando por ele! Agora, você quer começar tudo de novo, ou vai se afundar ainda mais? Apenas diga por que Manning enviou você em vez de alguém do Serviço para encontrá-lo."
É a segunda vez que eles confirmam que Manning e o Serviço estão envolvidos — e a primeira vez que percebo que eles não estão apenas atrás de mim. Grandes caçadores desejam uma grande caça. E por que agarrar um filhote quando você pode pegar o Leão?
"Nós sabemos que Manning tem sido bom com você..."
"Vocês não sabem nada sobre ele."
"De fato, sabemos", diz O'Shea. "Assim como conhecemos Boyle. Acredite-me, Wes, quando eles estavam no poder, você não viu a metade do que eles..."
"Eu estive com eles todos os dias!"
"Você esteve com eles durante os últimos oito meses, quando tudo com o que eles se preocupavam era a reeleição. Você acha que isso é a rea¬lidade? Apenas porque você sabe do que eles gostavam de comer em seus sanduíches de peru não significa que saiba do que eles eram capazes."
Se eu fosse Rogo, eu me atiraria para a frente e afundaria meu pu¬nho no maxilar dele. Em vez disso, enfio o pé na areia. Qualquer coisa para me ajudar a permanecer em pé. Pelo que eles estão dizendo, Man¬ning definitivamente tem alguma bela e obscura baixeza em suas mãos. Talvez eles estejam apenas pescando. Talvez seja verdade. De todo jeito, depois de tudo que Manning fez por mim... depois de me receber de volta e de estar todos esses anos ao meu lado... eu não vou morder aquela mão até eu mesmo saber dos fatos.
"Você já viu uma colisão de três carros?", pergunta Micah. "Você sabe qual é o carro que sofre maior dano? O que está no meio." Ele faz uma pausa apenas para permitir que eu absorva tudo. "Manning, você, Boyle. Em que carro você acha que está?"
Eu enfio mais ainda meu pé na areia. "Isto... isto não..."
"A propósito, onde você adquiriu esse bonito relógio?", interrompe Micah, apontando para o meu relógio de fabricação Franck Muller. "Essa é uma bugiganga de dez mil dólares."
"O que você está...? Foi um presente do presidente do Senegal", ex¬plico. Em casa, tenho pelo menos mais meia dúzia, inclusive um Vacheron Constantin de platina dado pelo príncipe saudita coroado. Quando es¬távamos no cargo público, eles eram presentes convenientes para serem dados ao pessoal da Casa Branca. Hoje, não há regras para dar presentes a um ex-presidente e sua equipe. Mas antes que eu pudesse lhe dizer...
"Senhor Holloway", chama uma voz atrás de mim.
Eu me volto a tempo de ver meu garçom do café-da-manhã. Ele está perto da área da piscina, segurando o meu cartão de crédito em sua mão.
"Perdão... eu não queria que esquecesse isto", grita ele, agora vindo para a praia em nossa direção.
O'Shea se vira para o oceano de modo que o garçom hão possa ou¬vir. "Concentre-se, Wes — você é, de fato, tão cegamente devotado? Sabe que eles mentiram para você. Você continua a acobertá-los e vai acabar sendo apenas alguém que precisará de um advogado."
"Aqui está, senhor", diz o garçom.
"Obrigado", digo, forçando um meio sorriso.
O'Shea e Micah estão longe de se mostrarem gentis. Pelos olhares furiosos que enviam em minha direção, eles ainda querem mais. O pro¬blema é que não tenho nada para lhes dar. Pelo menos, não ainda. E, até que eu tenha, não preciso negociar em troca de proteção.
"Espere... vou voltar com você", digo, girando na areia e ficando ao lado do garçom.
Anos atrás, eu costumava morder um pequeno calo na lateral do meu indicador. Quando entrei na Casa Branca, Dreidel me fez parar, di¬zendo que ficava mal como pano de fundo nas fotos do presidente. Pela primeira vez em uma década, comecei a mordiscar o calo.
"Eu o vejo em breve", grita O'Shea.
Não me dou ao trabalho de responder.
Quando alcançamos a área da piscina, há uma jovem família come¬çando cedo seu dia. O pai abre o jornal, a mãe abre um livro, e o menino de três anos, com um corte de cabelo em forma de tigela, está de quatro brincando com dois carros de caixa de fósforos, batendo um contra o outro, de frente, repetidas vezes.
Olho por sobre o ombro e dou uma espiada na praia. O'Shea e Micah já foram embora.
Eles estão certos sobre uma coisa: definitivamente preciso de um advogado. Felizmente, sei com precisão onde encontrar um.