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Lua Azul - blog de lua azul

Viajando pelo mundo dos livros... "O Livro do Destino" de Brad Meltzer - Capítulo 16

por lua azul

O 16º capítulo da nossa historinha, afinal de contas, parece que não vem acrescentar mais nada ao que nos foi contado no 15º relativamente à morte da mãe de Nico e muito pelo contrário, apresenta-nos uma nova personagem que me parece que vai conseguir revelar muitos segredos acerca de toda a comitiva que acompanhava Maning na altura em que ainda era ele o presidente dos Estados Unidos da América. Lisbeth é colunista de um jornal e presentemente encontra-se numa fase de grande crise relativamente aos conteúdos que em mente para publicar, mas eis que um telefonema de repente interrompe o seu dia e parece que irá inverter completamente esta situação. Fica então este 16º capítulo para que possam comprovar tudo isto que já por aqui disse e eventualmente retirar mais algumas conclusões, quanto a mim, acho que a suposta morte de Boile vai apareer publicada nas páginas dos jornais mais dia menos dia como se costuma dizer ou então talvez seja a aventurinha de Dreidel com a amiga que tinha dentro do seu quarto de hotel algures no 11º capítulo deste livro que muito brevemente será exposta em "Praça Pública" por Lisbeth. O 17º capítulo talvez já nos possa trazer novidades acerca de tudo isto, mas por enquanto deixo-vos com o 16º até à minha próxima publicação que espero poder fazer em breve.

16

“Mas não pode dizer a ninguém o que lhe contei", sussurrou a mulher pelo receptor.
Colocando uma mecha ruiva atrás da orelha, Lisbeth pegou o pequeno gravador em sua escrivaninha, verificou se ele estava ligado ao telefone, e apertou Gravar. "Você tem minha palavra", prometeu Lisbeth. "Nosso segredo."
Como repórter do Palm Beach Post, Lisbeth sabia muito bem que a lei da Flórida considerava ilegal gravar conversas particulares a menos que a pessoa que estivesse gravando pedisse antes permissão para a ou¬tra parte. Mas, como colunista de mexericos para a seção Por Baixo do Pano — a mais popular do Post —, Lisbeth também sabia que, a partir do momento em que pedisse permissão, sua fonte congelaria e silencia¬ria. Além disso, ela tinha de obter a citação correta. Também deveria ter provas para quando os advogados do jornal lhe apresentassem a costu¬meira acusação de calúnia. Era por essa mesma razão que ela tinha uma mini-geladeira com vinho e cerveja no canto de seu minúsculo cubículo bege, e uma vasilha com amendoins no canto de sua escrivaninha. Quer fossem seus companheiros repórteres, que vinham para conversar, quer um estranho no telefone, ela sempre seguia a regra sagrada que havia aprendido quando foi encarregada da coluna seis anos antes: Sempre os mantenha falando.
"Então, sobre sua história, senhora...?"
"Só a estou passando adiante", insistiu a mulher. "De graça."
Fazendo uma anotação para si mesma, Lisbeth escreveu a palavra Profissional? em sua agenda em espiral. Muitas pessoas se deixam cair na armadilha da fama.
"Repito, você não ouviu de mim...", continuou a mulher.
"Eu prometo, senhora..."
"... e também não vou cair no seu pequeno truque uma segunda vez", disse a mulher.
Lisbeth riscou a interrogação, deixando apenas Profissional.
Excitada pelo desafio, Lisbeth começou a girar o cordão de seu te¬lefone como se fosse uma corda de pular. Quando a corda ganhou velo¬cidade, as folhas de papel afixadas na parede do lado direito de seu cubí¬culo começaram a esvoaçar. Quando Lisbeth tinha dezessete anos, a loja de roupas de seu pai fechou, levando a família à falência. Mas, quando o jornal local em Battle Creek, Michigan, relatou a história, o repórter sabichão que a escreveu intercalou as palavras supostas fracas vendas, insi¬nuando uma certa insinceridade por parte de seu pai. Em resposta, Lisbeth escreveu um artigo dando sua opinião a respeito para seu jornal na escola. O jornal local pegou o artigo e o publicou com um pedido de desculpas. Depois o Detroit News reproduziu do jornal de Battle Creek. Em segui-la a esses fatos todos, ela recebeu setenta e duas respostas de leitores de :odo o Michigan. Aquelas setenta e duas cartas eram as que enchiam cada centímetro das paredes de seu cubículo, um lembrete diário do poder da escrita — e um lembrete permanente de que as melhores histórias são aquelas que você nunca vê publicadas.
"Não obstante", disse a mulher, "eu só achei que você gostaria de saber que, embora não vá ser anunciado antes do final da tarde, Alexander John, o filho mais velho dos tradicionais John da Filadélfia, é claro, receberá uma Chave de Ouro na entrega dos prêmios da Academia Nacional de Artes."
Lisbeth estava escrevendo as palavras Academia Nac quando levan¬tou a caneta da página. "Que idade tem Alexander?"
"É claro — dezessete — fará dezessete em 9 de setembro."
"Então... esse é um prêmio de escola secundária?"
"E nacional — não apenas de âmbito estadual. Chave de Ouro."
Lisbeth coçou o pescoço sardento. Ela estava ligeiramente acima do peso, o que tentava compensar com o impacto dos óculos verde-limão que um balconista esbelto prometera serem capazes de reduzir-lhe não só uns quilinhos como alguns dos seus trinta e um anos. Enquanto conti¬nuava a se coçar, uma mecha de cabelo ruivo saiu de trás da orelha e ficou balançando na frente do seu rosto. "Senhora, de alguma maneira está relacionada com o jovem Alexander?"
"O quê? Claro que não", insistiu a mulher.
"Tem certeza?"
"Você está sugerindo...? Jovem, este prêmio é uma honra que é..." "Ou é funcionária da família do jovem Alexander?" A mulher fez uma pausa. "Não em tempo integral, é claro, mas..." Lisbeth pressionou o botão de Parar no seu gravador e colocou a cane¬ta de novo sobre a escrivaninha. Apenas em Palm Beach uma mãe emprega¬ria um jornalista para abrir caminho à força para a obra de arte sem sentido de um estudante secundário. "É um prêmio nacional", murmurou Lisbeth para si mesma, arrancando a página de seu bloco de notas. Mas, quando ela o amarrotou, mesmo assim não desligou o telefone. Regra Sagrada Número 2: Uma fonte de baixa qualidade hoje pode ser muito boa amanhã. Regra Sagrada Número 3: Ver Regra Sagrada Número 2. "Se eu tiver espaço, segu¬ramente vou tentar encaixar a notícia", disse Lisbeth. "No entanto, estamos com o espaço tomado." Essa era uma mentira maior do que o efeito adelgaçador e remoçador de seus óculos verde-limão. Mas, quando Lisbeth desli¬gou o telefone e jogou o papel amassado no lixo, não pôde deixar de perceber a grade de três colunas praticamente vazias em sua tela de computador.
Cinqüenta centímetros. Cerca de oito mil palavras. Era o que pre¬cisava a cada dia para completar sua coluna Por Baixo do Pano. Além das fotos, é claro. Até agora, ela tinha doze centímetros sobre a filha de gente da alta sociedade local que iria se casar com um jogador profissional de bilhar (uma notícia B+, pensou Lisbeth consigo mesma) e dez centíme¬tros sobre uma competição, de uma semana atrás, de palavrões entre um adolescente e o chefe do Departamento de Veículos Motorizados (no me¬lhor dos casos, uma notícia C-). Olhando a bola de papel amassado em sua lata de lixo de plástico, Lisbeth relanceou os olhos de novo para sua tela quase vazia. Não, disse para si mesma. Ainda é muito cedo para se desesperar. Ela ainda nem tinha obtido...
"Correio!", gritou uma voz, enquanto uma mão aparecia na parte de cima do cubículo balançando uma pilha de envelopes. Levantando o olhar, Lisbeth sabia que, se pegasse aquele monte de envelopes, ela apenas o colocaria de lado, então esperou que a mão... e seu dono... virasse o can¬to. "Bom dia, Vincent", disse ela, mesmo antes que ele aparecesse.
"Diga que você tem algo de bom hoje", disse Vincent, seu bigode salpicado de branco e preto contorcendo-se como uma lagarta em seu lábio. Ele lançou a pilha de correspondência sobre a escrivaninha abarro¬tada de Lisbeth. Somente quando a pilha se espalhou como uma sanfona aberta à sua frente é que Lisbeth percebeu o rasgão em cada envelope.
"Você abriu minha correspondência?" perguntou ela.
"Sou seu editor. Esta é minha tarefa."
"Sua tarefa é abrir minhas cartas?"
"Não, minha tarefa é assegurar-me de que sua coluna seja a melhor possível. E quando ela é, e quando cada pessoa nesta cidade está sussurrando com o vizinho sobre qualquer escândalo que você tão inteligentemente desenterra, nós recebemos cerca de vinte ou trinta cartas por dia, além dos habituais press-releases e convites. Sabe quantas você conseguiu nesta manhã? Seis. E isto incluindo os convites." Inclinando-se sobre o ombro dela e lendo a coluna quase vazia de Lisbeth na tela de seu computador, Vincent acrescentou: "Você escreveu DMV errado".
Lisbeth olhou de soslaio para a tela.
"Fiz você olhar", disse Vincent, rindo com sua pequena risada ressen¬tida. Com sua camisa pólo vermelha e azul e seus suspensórios que eram imitações de outros dispendiosos e uma gravata de laço combinada, Vin¬cent se vestia como um ricaço de Palm Beach com um salário de editor.
Aborrecida, Lisbeth puxou o suspensório esquerdo como se fosse o prdão de um arco e deixou-o estalar contra o peito de Vincent.
"Oh... isso... isso realmente doeu", resmungou ele, esfregando o peito. Eu estava fazendo uma observação."
"Realmente? E era para quê? Para que eu encontrasse mais histórias sobre masturbação em banheiras aquecidas?"
"Ouça, senhorita, aquela foi uma história engraçada."
"Engraçada?. Não quero histórias engraçadas. Eu as quero boas!'
"Como o quê? Como as da sua fonte altamente secreta que sussurrou em seu ouvido todas aquelas promessas e depois sumiu da face da Terra? Qual era o seu nome? Lily?"
"Íris." Quando Lisbeth pronunciou o nome, pôde sentir o sangue avermelhar as suas orelhas. Quatro meses antes, uma mulher que se identificou apenas como Íris telefonou para Lisbeth na linha principal do escritó¬rio. Através da instabilidade na voz de Íris, Lisbeth podia ouvir as lágrimas. E pela hesitação... ela sabia que a outra sentia medo. Durante vinte minu¬tos, íris lhe contou sua história; sobre como, anos antes, ela costumava fazer massagens Thai num balneário local... que foi ali que conheceu o homem mamado Byron... e a sensação de encontrar um dos homens mais podero¬sos de Palm Beach. Mas o que chamou a atenção de Lisbeth foi a descrição vívida de Íris de como, em várias ocasiões, ele a atacara fisicamente, che¬gando a quebrar sua clavícula e o maxilar. Para Lisbeth, aquela era uma história que tinha importância. E era por isso que todas aquelas cartas esta¬vam em sua parede. Mas quando ela perguntou qual era o verdadeiro nome de Byron — e o de Íris, para aquela matéria —, a linha ficou silenciosa.
"Ela estava apenas sacudindo você, ha-ha", disse Vincent.
"Talvez ela estivesse com medo."
"Ou apenas quisesse um pouco de atenção."
"Ou talvez esteja casada agora, e portanto temerosa de que seu ma¬rido a abandone no momento que descobrir que sua amada esposa já foi uma garota de balneário. Pense, Vincent. As fontes só silenciam quando têm algo a perder."
"Você quer dizer seu emprego? Ou sua carreira? Ou sua coluna de mexericos supostamente bastante lida?"
Lisbeth o perfurou com um olhar frio e penetrante. Vincent fez o mesmo com ela.
"Seis", disse ele, quando se voltou para ir embora. "Seis cartas na¬quela pilha."
"Não me importo se for apenas uma."
"Sim, você se importa. Você é uma grande escritora, mas uma po¬bre mentirosa, doçura."
Dessa vez, Lisbeth ficou em silêncio.
"A propósito", acrescentou Vincent, "se alguém telefonar a respeito de um prêmio de arte para a família John... não seja tão esnobe. Pense Página Seis. Bons nomes tradicionais são bons nomes tradicionais."
"Mas se a história é uma droga..."
"Odeio dizer isso a você, garota", gritou Vincent, já na metade do corredor, "mas não há prêmio Pulitzer para mexerico."
Sozinha, em seu cubículo, Lisbeth estudou as colunas vazias em sua tela, e depois olhou para a folha de papel amassado em sua lata de lixo. Inclinou-se debaixo da escrivaninha para retirá-la do lixo, quando o tele¬fone tocou. Com o barulho, ela apressou-se em levantar, batendo a cabeça contra o canto da escrivaninha.
"Aaahh" gritou, esfregando a cabeça com raiva enquanto pegava o telefone. "Por Baixo do Pano. Fala Lisbeth."
"Olá, eu... hum... Eu trabalho no Four Seasons", começou uma voz masculina. "É a esse lugar que se telefona para...?"
"Apenas se a informação for boa", disse Lisbeth, ainda esfregando a cabeça, mas também ciente do que ele estava perguntando. Era o trato que ela fazia com todos os empregados dos hotéis locais. Cem pratas por qualquer informação que ela usasse na coluna.
"Bem... hum... Eu estava servindo a mesa de alguns antigos funcio¬nários do presidente Manning", ele disse. "E eu não sei se eles estão entre as celebridades, mas, se você estiver interessada..."
"Sim, estou definitivamente interessada." Ela pressionou o botão Gravar e pegou uma caneta. Mesmo nos seus melhores dias, não havia um nome mais ousado do que Manning. "Esses são exatamente os tipos de pessoas sobre os quais gostamos de escrever."