A primeira referência ao designado "Livro do Destino" que o título desta obra cita desde logo surge-nos aqui pelo capítulo 15 associada à morte da mãe de Nico, o jovem que foi internado num hospital psiquiátrico após ter tentado disparar sobre o presidente Maning e que já ficámos a conhecer um pouquinho melhor no capítulo 6. O que por aqui se diz acerca do mesmo ainda não é suficientemente decisivo para podermos desde já retirar as nossas próprias conclusões acerca de uma eventual relação que jullgo que deve existir entre este livro e o atentado contra Maning que acabou por ter como consequência a morte de Boile que na verdade não passou de uma farsa, por isso certamente que ainda teremos que ler muito mais acerca de tudo isto até que por fim consígamos perceber se tudo isto estará ou não relacionado entre si na realidade. Hoje deixo-vos este 15º capítulo e também o 16º que disponibilizarei já a seguir, pode ser que por aí já existam mais alguns desenvolvimentos relativamente a toda esta história do "Livro do Destino" que parece ter estado muito associado à morte da mãe de Nico segundo aquilo que por aqui nos é revelado.
15
Hospital Psiquiátrico St. Elizabeths
Washington, D.C.
“O sino do café-da-manhã está tocando, Nico. Você quer rabanada ou omelete”? Perguntou a funcionária negra e bai-xa do refeitório, com odor de azedume e uma imitação de
diamante rosa colocada em seu dedo de unha pintada. "O que há para o jantar?", perguntou Nico.
"Você está ouvindo? Nós estamos no café-da-manhã. Rabanada ou omelete?"
Calçando os sapatos e ajoelhando-se diante de sua cama estreita, Meo olhou para a porta e estudou o carrinho de rodas com as bandejas abertas e com ranhuras. Tempos atrás ele tinha adquirido o direito de comer com os outros pacientes do lugar. Mas, depois do que aconteceu com sua mãe, todos aqueles anos antes, ele preferia que entregassem suas refeições no quarto. "Rabanada", disse Nico. "Agora, o que há para o jantar?"
Em toda parte do St. Elizabeths, chamavam Nico de NGI. Ele não era o único. Havia trinta e sete no total, todos viviam no pavilhão John Howard, uma construção de cinco andares em tijolos vermelhos que era o lar de Nico e de mais outros trinta e seis pacientes NGI, não condenados por motivo de insanidade.
Em comparação com as demais alas, os andares dos NGI eram sem¬pre mais tranqüilos. Como Nico ouviu um médico dizer: "Quando há vozes em sua cabeça, não há necessidade de falar com outra pessoa".
Ainda apoiado sobre um joelho, Nico deu um puxão no velcro de seu tênis (os laços haviam sido retirados havia muito tempo) e cuidadosa¬mente observou enquanto a mulher do refeitório carregava uma pequena bandeja rosa com rabanada para dentro do pequeno quarto de três por quatro metros e meio, decorado com uma mesa-de-cabeceira de madeira e uma cômoda pintada que nunca tinha nada além de uma Bíblia e um rosário antigo feito com contas de vidro vermelho. Os médicos se oferece¬ram para arrumar um sofá para Nico, até uma mesa de café. Alguma coisa para que ele se sentisse mais em casa. Nico recusou, mas nunca disse por quê. Ele queria seu quarto assim. Dessa maneira ele parecia seu quarto. O quarto de sua mãe. No hospital dela.
Balançando a cabeça, ele ainda podia imaginar o deteriorado quar¬to de hospital onde sua mãe permaneceu em silêncio durante quase três anos. Ele só tinha dez anos quando a doença de Alzheimer a atingiu... quando um gen defeituoso em seu cérebro atiçou a proteína CJD que, como resultado, a fez entrar rapidamente em coma. Quando o primeiro diagnóstico foi feito, ela nem se queixou — nem o jovem Nico perguntou por que Deus a estava levando embora. Ela sorriu, mesmo então, e com muito respeito lhe contou que era como estava escrito no Livro. O Livro do Destino. Sua cabeça balançava, mas sua voz era firme enquanto ela lhe dizia para nunca argumentar com ele. O Livro tinha de ser respeitado. Era preciso prestar atenção a ele. Deixar que ele o guiasse. Mas não era apenas respeito. Ela tirava força dele. Segurança. Sem dúvida, sua mãe sa¬bia. Ela não tinha medo. Como alguém poderia temer a vontade de Deus? Mas Nico ainda se lembrava de seu pai parado atrás dele, apertando seus ombros e forçando-o a rezar todos os dias para que Jesus trouxesse de volta sua mãe.
Durante as primeiras semanas, eles rezavam na capela do hospital. Depois de seis meses, visitavam-na todos os dias exceto no domingo, con¬vencidos de que suas preces dominicais seriam mais efetivas se fossem à igreja. Foi só três anos depois que Nico mudou suas preces. Ele o fez apenas uma única vez. Durante um dia gelado, com neve, no início do inverno, em Wisconsin. Ele não tinha desejado ir à missa naquele dia, não queria vestir suas belas calças e camisa de ir à igreja. Especialmente com aquelas lutas de bola de neve acontecendo lá fora. Assim, naquele domin¬go, quando abaixou a cabeça na igreja, em vez de rezar para Jesus trazer sua mãe de volta, rezou para ele levá-la. O Livro tinha de estar errado. Naquele dia, sua mãe morreu.
Olhando para a bandeja de plástico com a rabanada e ainda ajoe¬lhado ao lado de sua cama, Nico, pela terceira vez, perguntou: "O que há para o jantar?".
"É bolo de carne, está bem?", replicou a mulher do refeitório, olhan¬do ao redor. "Está feliz agora?"
"É claro que estou feliz", disse Nico, alisando o velcro com a ponta da mão e sorrindo consigo mesmo. Bolo de carne. Exatamente como a sua mãe supostamente tinha tido em sua última noite. Naquela em que morreu. Os Três haviam lhe dito isso. Assim como tinham falado sobre os Homens M... os Maçons...
O pai de Nico tinha sido um maçom — orgulhoso disto também. Até então, Nico podia sentir a fumaça adocicada de charuto que flutuava na porta quando seu pai voltava das reuniões na Loja.
Não era nada além de um clube social, Nico lhes contara. Tudo que os maçons faziam era vender bilhetes de rifas para levantar fundos para hospitais. Como o Shriners.
Os Três eram perseverantes, mesmo então. Eles lhe trouxeram ma¬pas — lhe contaram a história. Como os franco-maçons se desenvolve¬ram no mundo inteiro escondendo-se sob a fachada de caridade. Como eles tinham aperfeiçoado suas fraudes, contando às pessoas que haviam tido origem nas corporações de mestres pedreiros na Idade Média — uma organização inofensiva em que os membros podiam se reunir e compar¬tilhar segredos de negócios, de artesão para artesão. Mas Os Três sabiam a verdade: a arte dos maçons havia construído alguns dos lugares mais sagrados e mais famosos do mundo — desde o Templo do Rei Salomão até o Monumento de Washington —, mas os segredos que os maçons protegiam iam além de informações secretas sobre como construir arcadas e monumentos. Na noite anterior ao seu assassinato, Martin Luther King Jr. havia estado em um templo maçom em Memphis. "Eu posso não estar de novo aqui com vocês", dissera King naquela noite para seus seguidores. Como se ele soubesse que uma bala iria alcançá-lo no dia seguinte. E o fato de ele ter estado em um templo maçónico... não foi coincidência. Destino. Sempre o destino. Nos seus níveis mais elevados, a antiga meta dos maçons nunca se alterou.
Mesmo a Igreja se pôs contra os maçons no seu início, explicaram Os Três.
Era um ponto importante, mas Nico não era tolo. Na Idade Média, a Igreja se opunha a muitas coisas.
Os Três ainda assim não vacilaram. Em vez disso o atingiram com a verdade mais dura de todas: o que realmente tinha acontecido com sua mãe na noite em que morrera.
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