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Lua Azul - blog de lua azul

Viajando pelo mundo dos livros... "O Livro do Destino" de Brad Meltzer - Capítulo 4

por lua azul

O Capítulozinho de hoje já é um bocado maior do que o de ontem e como tal, também já vem acrescentar mais alguma coisinha a esta nova história que por aqui tenho vino a disponibilizar nestes últimos tempos; agora ao que parece, o expresidente dos Estados Unidos que assume o cargo de chefe perante o nosso narrador pode sempre ter estado a par de que Boile afinal nunca morreu durante o atentado ainda que tivesse optado por jamais revelar isso a outro alguém. Por aqui também poderemos ver as grandes diferenças existentes entre as formas de reagir perante o público quando alguém exerce um cargo importante como o de Presidente dos Estados Unidos da América e depois mais tarde quando já não é a essa mesma pessoa que compete tal responsabilidade, mas fica então o quarto capítulo propriamemte dito nas linhas que se seguem para que possam constatar tudo isto por via das vossas próprias leituras!

4

Faz tempo que ele fugiu.
Meia hora mais tarde, depois da pergunta final na sessão de Perguntas e
Respostas para o Presidente ("O senhor sente falta da Casa Branca?"), estou
sentado na parte de trás da limusine, tentando descobrir qual é o humor do
presidente.
"O público era bom", diz Manning. O que significa que era insípido.
"Concordo", digo a ele.
E isto significa: eu compreendo. Os discursos no exterior são sempre
desagradáveis — a audiência não compreende metade das piadas, e Manning
fica com pena de si mesmo porque o país inteiro já não para com a sua chegada.
No assento da frente, dois de nossos rapazes do Serviço Secreto estão
completamente silenciosos, nem mesmo sussurram em seus rádios. Isto significa
que estão nervosos.
De volta ao Centro das Artes, eu relatei o fato de que tinha visto alguém perto
dos camarins. Quando pediram uma descrição, eu contei tudo que vi, embora
não revelasse a cor dos olhos nem que se parecia com Boyle. Oh, sim, era o
nosso chefe morto, da equipe de assessoria, que enterramos oito anos atrás. Há
um limite tênue entre ser cuidadoso e parecer um maluco.
Quando o nosso automóvel dá uma guinada para estacionar diante do Palácio
dos Cavalos Dourados — o hotel mais luxuoso e decorado com temas de cavalos
da Ásia —, três manobristas diferentes abrem a porta da limusine. "Bem-vindo
de volta, senhor presidente."
Muito acostumado a hospedar pessoas VIPs, o palácio tem dezoito elevadores
e dezessete escadarias diversas para se entrar sorrateiramente. Da última vez que
estivemos aqui, usamos pelo menos a metade delas. Hoje, pedi ao Serviço para
nos conduzir direto pela porta da frente.
"Ele está aqui... Ele está aqui.", vozes simultâneas gritaram quando
alcançamos o saguão. Um bando de turistas americanos já aponta para ele,
procurando canetas em seus pertences. Nós tínhamos sido percebidos, o que era
o objetivo. Os rapazes do Serviço Secreto olham para mim. Eu olho para
Manning. A decisão é sua, embora eu já saiba a resposta.
O presidente concorda ligeiramente, fingindo que está fazendo um favor, eu
percebo um sorriso dissimulado. Cada vez que um ex-presidente viaja ao
estrangeiro, a CIA coloca um breve informe oficial à imprensa, o que deixa o

"ex" se sentir como se estivesse no centro das coisas. É por isso que todos os "ex"
gostam de fazer viagens ao exterior. Mas, quando você está numa terra distante e
lhe faz falta a adrenalina da atenção, não há nada melhor, para um aumento
súbito na taxa de açúcar, do que um breve encontro com fãs adoradores.
Como o Mar Vermelho diante de Moisés, os agentes dão um passo para o
lado, deixando um caminho desimpedido até o presidente através do chão de
mármore. Eu puxo uma dúzia de fotos feitas em papel brilhante e um marcador
Sharpie da minha maleta de truques e os estendo para Manning. Ele precisava
disso. Bem-vindo ao lar, chefe.
"O senhor pode dedicá-la a Bobby-boy! Apenas isto — Bobby-boy?, pergunta
um homem com óculos grandes.
"Então, de onde você é?" Indaga Manning, fazendo o que melhor sabe fazer.
Se eu quisesse, poderia permanecer ao lado do presidente e ajudar o Serviço
a manter uma fila ordenada. Em vez disso, dou um passo atrás, deslizo para fora
da multidão e dirijo-me para o balcão em frente, onde está a recepcionista do
hotel, bem embaixo da enorme cúpula dourada com cavalos correndo pintados à
mão.
Desde o instante em que Boyle desaparecera isto estava me atormentando.
Não sei direito como ele entrou nos bastidores, mas se ele estava tentando se
aproximar do presidente, só havia um outro lugar onde pudesse tentar.
"Como posso ajudá-lo hoje, senhor?", pergunta uma bela asiática em inglês
impecável. Para seu crédito, ela olha de relance para minhas cicatrizes, mas não
se demora.
"Estou com o presidente Manning", digo, esperando suborná-la.
"É claro que está, senhor Holloway."
Eu sabia que deixáramos um mísero cartão de visitas, mas ainda assim estava
impressionado.
"Como podemos ajudá-lo?" pergunta ela.
"De fato, eu estou tentando localizar um dos amigos do presidente. Ele
deveria nos encontrar hoje à noite, eu gostaria de saber se já chegou ao hotel... o
último nome é Boyle"
Digitando em seu teclado, ela nem se detém no nome dele.
Os hotéis dispendiosos da Malásia são bons, mas não chegam a ser
excepcionais.
"Sinto muito, senhor, mas não temos ninguém com o nome Boyle?
Não me sinto surpreso. "E Eric Weiss”?, pergunto. Era o nome falso de Boyle
nos nossos dias de Casa Branca, quando ele não queria que os repórteres nos
localizassem em hotéis.
"Eric Weiss?", repete ela.
Eu aceno que sim. Trata-se do verdadeiro nome de Houdini — essa era uma
brincadeira tola de Boyle, que colecionava cartazes de antigos mágicos. Mas

voltar de entre os mortos?
Até mesmo Eric Weiss não conseguiria realizar esse truque.
"Sinto muito, não temos nenhum Eric Weiss", diz ela.
Dou uma olhada para o presidente. Ele ainda tem pelo menos mais três
turistas para dar autógrafo.
"Na verdade, será que poderia tentar mais um nome: o último nome é
Stewart, o primeiro é Carl"
"Carl Stewart", repete ela, digitando no teclado. É um tiro de longo alcance,
sem dúvida — o primeiro nome e o do meio do pai do presidente, e o nome em
código para hotéis que usávamos para o presidente quando comecei a trabalhar
na Casa Branca... logo antes de Boyle ser...
"Carl Stewart", diz orgulhosamente a funcionária do hotel.
"Nós o temos aqui."
Sinto o sangue desaparecer do meu rosto. Aquele nome em código era dado
ao presidente durante as antigas viagens como um meio de esconder em que
quarto ele estava.
Ninguém conhecia aquele nome em código. Nem mesmo a primeira-dama.
"Ele está aqui?"
Ela olha de soslaio para a tela. "Mas, de acordo com o que temos aqui, ele
saiu cerca de uma hora atrás. Sinto muito, senhor — parece que acaba de perdê-
lo."
"Você tem seu endereço? Ele pagou com cartão de crédito?"
Minha pergunta sai antes que eu possa recuperar-me.
"Quero dizer... nós... estávamos querendo pagar a conta dele", acrescento,
falando mais devagar. "Você sabe... o... convite do presidente."
Ela olha direto para mim. Agora deve achar que eu sou maluco. Ainda assim,
ela verifica a tela. "Sinto muito de novo, senhor. Parece que ele pagou em
dinheiro."
"E o endereço de sua residência? Só quero ter certeza de que estamos falando
do mesmo Carl Stewart", acrescento uma risada para deixá-la à vontade. É
quando percebo que os malásios não gostam de ser ridicularizados.
"Senhor, as informações pessoais de nossos hóspedes..."
"Não é para mim, é para ele" Aponto para o ex-presidente dos Estados
Unidos e seus três guarda-costas armados. Isto sim é um danado de um trunfo.
A funcionária força um sorriso sem graça. Ela olha por sobre o ombro. Não
há ninguém ao redor. Lendo na tela, ela diz: "O senhor Stewart mora em... 3965
Via Las Brisas, Palm Beach, Flórida".
Minhas pernas ficam dormentes. Agarro o balcão de mármore para não cair.
Não se trata de uma palavra cifrada.
É o endereço da residência particular do presidente Manning. Só alguém da
família o tem. Ou velhos amigos.

"Senhor, está bem?", pergunta a funcionária, percebendo minha aparência.
"Sim... perfeito", digo, forçando um pouco de animação em minha voz. Isso
não faz com que eu me sinta melhor. Minha cabeça gira rapidamente, mal
consigo ficar em pé. Boyle... ou quem quer que ele fosse... ele não estivera
apenas naquele camarim... ele esteve aqui na noite anterior. Esperando por nós.
Pelo que sei, ele teria esperado pelo presidente se eu não o tivesse visto primeiro.
Relembro o momento nos bastidores durante o discurso. O tinido do metal
quando ele bateu na mesa de café. O olhar de pânico em seu rosto. Até agora eu
supunha que, quando o vi, ele estava entrando no local. Mas agora... ele estando
aqui desde a noite passada... e usando aquele nome em código de dez anos atrás...
Boyle não é um idiota. Com todos os nomes falsos que podia escolher, não usaria
aquele nome para se esconder. Só o usaria para que alguém pudesse encontrá-lo.
Giro o caleidoscópio e um novo cenário aparece.
Certamente, Boyle não podia estar entrando naquele momento. Mas ele podia
muito bem ter sido convidado. O problema é que, considerando que as únicas
pessoas nessa viagem são eu e os três agentes secretos que nunca trabalharam na
Casa Branca, há uma única pessoa que resta que reconheceria aquele antigo
nome em código. Uma pessoa que poderia ter sabido que Boyle estava vindo... e
que o convidou para entrar.
Olho para o presidente exatamente quando ele termina seu autógrafo final.
Há um amplo sorriso em seu rosto.
Uma lancetada de dor se faz sentir na parte de trás de meu pescoço. Minhas
mãos começam a tremer. Como poderia... como ele poderia fazer aquilo? Dez
passos adiante, ele coloca o braço ao redor de uma mulher malásia e posa para
uma foto, sorrindo mais ainda. Quando o flash explode, a dor em meu pescoço
aperta como um laço. Eu aperto os olhos esforçando-me para encontrar o lago
do acampamento de verão... ávido por um ponto focal. Mas tudo o que vejo é
Boyle. Sua cabeça raspada. O sotaque falso para me desnortear. Até os soluços
de sua filha, para quem peço desculpas cada vez que a vejo sofrer durante as
reuniões pelo aniversário da morte de seu pai.
Durante oito anos, sua morte tinha sido a única ferida que nunca cicatrizara,
supurando com o tempo e com meu isolamento. A culpa... tudo o que causei...
Oh, Senhor, se ele está verdadeiramente vivo...
Abro os olhos e percebo que estão cheios de lágrimas.
Enxugo-as rapidamente, eu nem consigo olhar para Manning.
O que quer que Boyle estivera fazendo por aqui, eu tenho de descobrir que
diabos está acontecendo. Na Casa Branca tínhamos acesso ao exército. Não
temos o exército agora.
Mas isso não significa que não tenha meus próprios recursos.
Tiro o meu telefone via satélite e disco o número que sei de cor. O sol devia
estar começando a aparecer em Washington.

Acostumado com emergências, ele atende ao primeiro toque. O identificador
de chamadas lhe permite saber que sou eu.
"Deixe-me adivinhar, você está com problemas", responde Dreidel.
"Trata-se de um bem sério", digo a ele.
"Ele envolve nosso patrão?"
"Não se trata sempre dele?" Dreidel é o meu amigo mais próximo da Casa
Branca, e, mais importante ainda, ele conhece Manning melhor do que ninguém.
Pelo seu silêncio fica claro que ele compreende. "Agora você tem um segundo?
Eu preciso de ajuda."
"Para você, meu amigo, qualquer coisa..."