Restaurante Bem-me-quer Lisboa
O último a sair acende a luz
Bárbara Bettencourt
Mais do que uma diversão, mais do que uma forma de apurar os sentidos, comer às escuras pode servir de sensibilização para as dificuldades dos invisuais. A experiência tem lugar semanalmente no Restaurante Bem-me-quer, em Lisboa.
A escriba alerta os comensais para os riscos que a era do entretenimento representa para a comida sem malabarismos. Depois de ver o Avatar em 3D, andar sobre brasas, fazer rafting e paintball, uma vez degustadas as espumas fumegantes e gelificações futuristas da nouvelle cuisine, a perspectiva de comer num estabelecimento normal pode começar a parecer pouco excitante.
Neste contexto, a ideia de comer às escuras pode ser encarada como mais uma forma circense de atrair clientes em busca de adrenalina. A não ser, claro, que se mude a perspectiva. A intenção do Bem-me-quer é fazer os clientes experimentarem uma refeição como um invisual. Um autêntico exercício lúdico de apuramento dos sentidos, mas sobretudo uma forma de fazer com que a solidariedade passe de conceito mental a algo que se sente no corpo.
Vamos por partes. Primeiro entramos para uma antecâmara. À nossa frente está uma cortina preta. Explicam-nos que atrás tem uma sala completamente escura com as mesas postas. Seremos conduzidos pela Ana Serôdio que é invisual e vai servir-nos um menu de degustação com entrada, três sopas, três pratos e três sobremesas. Há que desligar os telemóveis. Aos seus lugares, a refeição vai começar.
Jantar com os sentidos
Chegar à mesa é a primeira aventura. Tacteia-se a cadeira, sente-se o posicionamento dos objectos, tenta fixar-se o lugar do copo com gestos cautelosos. Quando os pratos chegam começa a inevitável adivinha dos conteúdos: tem ervilhas e nozes. Não, são brócolos e avelãs. E isto serão uvas ou romãs? Aceitam-se apostas. Respigam-se as memórias dos sabores. Sem a visão podem ser surpreendentemente difíceis de identificar mesmo quando são familiares.
À medida que o tempo passa os sentidos parecem apurar-se. Texturas, temperaturas e sabores ganham amplitude e profundidade. Cuidado com o excesso de confiança, sobretudo se ensaiar um brinde no escuro. Há música ambiente mas as vozes ganham surpreendente detalhe. Ouvimos da mesa ao lado que a experiência é relaxante. Experimentamos fazer caretas e despentear o cabelo. Há uma euforia libertária no ar.
À saída é possível ver uma amostra do menu de degustação. Então era isto! Revelar a ementa seria fazer batota por isso dizemos apenas que o menu nunca tem carne nem peixe. De resto, o Bem-me-quer existe há 10 anos como restaurante vegetariano. Primeiro só aberto ao almoço. Mais recentemente também ao jantar.
Ideias luminosas
O conceito de jantares servidos às escuras por invisuais existe em cidades como Paris, Berlim e Londres. Paula Cascais teve a ideia depois de se deparar com dificuldades burocráticas para colocar uns vasos à porta do restaurante. Queria meter umas oliveiras à entrada e não estava a conseguir as autorizações. Às tantas percebi que ao ocupar o passeio dificultava a vida aos invisuais que passavam.
Daí ao projecto dos jantares no escuro foi um passo, que a parceria com a APEDV (Associação Promotora de Emprego de Deficientes Visuais) e a Cooking Lab ajudou a concretizar. O preço do menu sem luz é de 40 por pessoa se pago antecipadamente, ou 60 no próprio dia. Implica marcação prévia.
Outra iniciativa recente é o blind date, que associa o jantar às escuras ao speedating, um evento com o objectivo de conhecer pessoas. Às claras o espaço alberga ainda outras actividades, como workshops de chocolateria e vinho ou aulas de yoga, Pilates e massagens ayurvédicas.
Fonte RTP
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