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Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

Tréplica à Professora de Oficina que se Diz Capaz de Ensinar Pessoas Cegas a Fazerem "audiodescrição por si só.

por Francisco Lima

Prezados,

Segue tréplica aos comentários da professora Eliana Franco sobre minhas críticas à proposta de oficina que promete ensinar pessoas cegas a "audiodescrever por si só.
Confiram abaixo.
Cordialmente,
Francisco Lima

Diz a Eliana Franco:
“Caros Participantes das Listas, a quem direciono esta mensagem em nome de uma colega e consultora de AD, Sr. Francisco Lima e Sra. Beatriz Lindenberg, coordenadora do Instituto Marlin Azul.”

Francisco lima - Acho que não entendi as palavras certas: será em nome de ou por meio de?
“...a quem direciono esta mensagem em nome de uma colega e consultora...” Seria em nome dessa colega e consultora, ou seria por meio dela? Não sei as palavras certas, talvez porque não fiz o curso que prometia ensinar pessoas cegas fazerem “audiodescrição por si sós.”

Eliana Franco - Peço licença aos participantes destes grupos virtuais, dos quais não participo, e aos seus moderadores, para me manifestar a respeito de um email do Sr. Francisco Lima, sobre o qual só tive conhecimento semana passada, através de membros do meu grupo de pesquisa TRAMAD, em reunião semanal.”

FL - Tem toda licença, Eliana. A liberdade de expressão é direito Constitucional e o defenderei, mesmo quando venderem a ideia de que é possível ensinar pessoas cegas a “audiodescrever por si sós”. E, uma curiosidade: se a reunião é semanal, apenas agora ficou sabendo de minhas críticas à proposta de uma oficina que ensina à pessoa cega fazer “audiodescrição por si sós?”

EF - “Sinto a obrigação de me manifestar, não pelo direito da resposta, nem mesmo para me justificar sobre minha formação ou meu trabalho, que estão disponíveis online, para quem quiser consultar. Mas me sinto na obrigação de me posicionar sobre acusações tão equivocadas, sarcásticas, desrespeitosas e infundadas a respeito da instituição que promoveu a oficina de audiodescrição, e que gentilmente me convidou a ministrá-la.”

FL - Sinta-se da forma que quiser, professora, mas minhas críticas foram e são ao fato de querer vender a ideia de que se pode ensinar pessoas cegas fazerem “audiodescrição por si sós”. E isso significa que não foi à instituição, até porque quem efetivamente dá o curso não é a instituição, mas a professora responsável. A instituição só acolhe o curso, neste caso, uma oficina que promete ensinar o cego a fazer “audiodescrição por si só”.

EF - “Em primeiro lugar, não entendo a indignação do Sr. Lima sobre uma oficina que tem como objetivo ensinar as pessoas com deficiência visual a audiodescrever.”

FL - Eliana, meia verdade é mentira por inteiro. A oficina prometida era a de ensinar as pessoas cegas fazerem “audiodescrição por si sós”. Com efeito, em minhas críticas à enganosa promessa de uma oficina como tal, eu mencionei que se a oficina tivesse como objetivo ensinar sobre áudio-descrição, sobre as técnicas de produção da áudio-descrição etc., isso estaria tudo bem. Mas, como a oficina prometia ensinar as pessoas cegas fazerem “audiodescrição por si sós”, eu critiquei e apontei que isso é uma falácia. Para fazer uma áudio-descrição deve-se áudio-descrever o que se vê e se uma pessoa não vê, ela não pode áudio-descrever. Prometer que se vai ensinar uma pessoa cega fazer “audiodescrição por si só” é, pois, uma grande e descarada mentira que merece ser apontada sim!

EF - “não Ora, se o Sr. Lima, que tem deficiência visual, se acha capaz de dar curso sobre o assunto, por que um cidadão com deficiência visual não poderia aprender a audiodescrição?”

FL - Não me acho capaz, sou formado por duas vezes em curso de formação nos Estados Unidos por reconhecido profissional da áudio-descrição. Sou doutor em psicofísica sensorial, com pesquisa na área do reconhecimento de imagens pela pessoa com deficiência visual e tradutor, entre outras habilidades. Mas isso não vem ao caso, pois até uma pessoa de formação educacional mediana sabe que não dá para uma pessoa cega ver uma imagem e a descrever a outra pessoa, cega ou não.
E, para quem se diz capaz de até ensinar uma pessoa cega a fazer “audiodescrição por si só”, a professora parece que não está bem informada sobre a história da áudio-descrição, não é?
Para refrescar a memória da professora, cujo currículo e trabalhos estão publicados na rede, Margaret Pfanstiehl, matriarca da áudio-descrição no mundo, maior difusora dessa técnica de tradução visual feita por quem vê, para proveito dos que não enxergam, além de outros, era pessoa com deficiência visual.
Nossa, que coisa, hein? Francisco não é o único com deficiência visual que se diz formador de áudio-descritores, não é? Há outros, professora! Há mesmo uma pessoa cega que, mesmo não tendo feito curso de áudio-descrição, digo de como produzir, de como aplicar as técnicas da tradução visual, de como empregar as diretrizes áudio-descritivas etc. se diz formadora de audio-descritores. E ela vai mais fundo: diz-se revisora do próprio roteiro. Talvez ela não tenha contado, mas tenha feito o curso com a senhora, aprendendo fazer “audiodescrição por si só”.

EF - “Ninguém nasce sabendo, como o Sr. Lima supõe de si mesmo. Para se tornar consultor de AD, a pessoa com deficiência visual deve fazer curso de audiodescrição sim, entender sua dinâmica, como qualquer vidente que quer se tornar um audiodescritor.”

FL - Ah, mas isso é bem diferente de fazer uma oficina que promete ensinar as pessoas cegas fazerem “audiodescrição por si só”, cara professora. Agora a senhora está falando de fazer curso de áudio-descrição (eu mesmo fiz 2 nos Estados Unidos, berço da a-d mundial). A senhora, de acordo com o cartaz áudio-descrito no blog ofereceu uma oficina para ensinar cegos a fazer “audiodescrição por si só”, maior avanço na área da tradução visual de todos os tempos e, provavelmente, maior avanço na área da oftalmologia também. Afinal, se a senhora pode ensinar uma pessoa cega fazer “audiodescrição por si só”, descrevendo o que não vê, imagina o que essa pessoa cega poderá fazer depois do curso, não é?

EF - “Em segundo lugar, não entendo porque o Sr. Lima não entrou em contato direto comigo, ou com a instituição, para saber mais sobre a oficina, uma vez que todos os contatos estavam disponíveis no release. O Sr. Lima tem meu email pessoal, mas preferiu lançar sua mensagem em listas nas quais não participo. Essa atitude, realmente, me faz duvidar das intenções de tal mensagem, que nada tem a ver com “esclarecimento,”mas sim com auto-promoção da forma mais antiética e desnecessária possível.”

FL - Existe uma “auto-promoção” antiética necessária professora? A senhora não entendeu? explico novamente, posto que a outra mensagem não fui claro, pelo visto.
Antiético é dizer que se vai ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”, quando se sabe que no máximo se lhes poderá ensinar as diretrizes da áudio-descrição, os princípios éticos do trabalho do áudio-descritor etc., mas nunca ensinar as pessoas cegas a fazerem “audio-descrição por si só”. Explico mais: auto-promoção é divulgar uma oficina com a informação que vai ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si só”, quando se sabe que para isso a pessoa cega precisaria enxergar, logo, vendendo gato por lebre, ludibriando aos candidatos, tanto quanto à instituição que inocentemente acolheu tal oficina que promete ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si só”. Conseguiu entender agora, professora?
“E, afirmar várias vezes que está falando do anúncio da oficina não lhe outorga o direito de esculachar o trabalho e a idoneidade de uma instituição.”
E isso não fiz, mesmo porque a instituição, se soubesse do engodo a que se estava prestando, associando seu nome a uma oficina que promete ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si só” não teriam feito tal associação.
Portanto, professora, se ficou este tempo todo para elaborar uma resposta, tentando desviar minhas críticas à sua proposta de uma oficina capaz de ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”, direcionando minha liberdade de expressão para uma afronta à instituição, foi muito fraca em sua tentativa. Minha crítica foi e é ao fato de a senhora, não a instituição, oferecer uma oficina, prometendo que ensinaria pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”, o que é impossível como a senhora deve saber. Não venha, pois, tentar jogar a instituição contra mim, pois essa atitude segue na mesma ética da oferta de uma oficina que promete ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”.

EF - “O Instituto Marlin Azul (IMA – www.marlinazul.org) é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), criada em 1999, com o intuito de “desenvolver as formas de expressão, os modos de criar e os processos de preservação do patrimônio cultural, além de promover, apoiar, produzir e patrocinar gestões direcionadas ao resgate cultural, artístico e educacional, democratizando o acesso aos bens culturais” (citação do site). Dentre seus projetos, está a oficina de filmes de animação do Núcleo Animazul (www.animazul.org.br), que aceitou o convite de outro projeto de fora da instituição, o Arte sem Limites, para ensinar pessoas sem deficiência e com deficiências variadas a fazer curtas-metragens de animação. Sim, filmes, e não “animação de plateia”, como o Sr. Lima se referiu tão desrespeitosamente ao projeto e a uma de suas integrantes, Marinéia Anatório, responsável pela ideia da audiodescrição para os curtas produzidos. Dessa ideia veio o convite para que eu ministrasse a oficina, em vista da minha formação e experiência na área, para a capacitação das pessoas do Instituto Marlin Azul, do Núcleo Animazul e do Projeto Arte sem Limites. Tudo, a meu ver, bastante coerente.”

FL - Sim, tudo que acima foi descrito é bastante coerente e por essa coerência a senhora deveria ter sido igualmente coerente, não oferecendo uma oficina, alegando ser capaz de ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si só”. Sua fala apenas confirma a razão de minha indignação: vender algo que não se pode cumprir, usando da pessoa com deficiência para a auto-promoção que não é minha, para a antiética que não é minha. A proposta da instituição, como acima descrita é louvável, mas a oferta de uma oficina que promete ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si só”, é reprovável, deplorável, inaceitável!

EF - “Se tivesse se informado bem antes de falar tanta baboseira, teria sabido que o curso foi dirigido a videntes também, que obviamente são indispensáveis no processo de elaboração de roteiro.”

FL - Como disse antes, professora formadora de cegos “audiodescritores por si mesmos”, meia verdade é mentira por inteiro!
Em minha mensagem anterior, a qual, por falar nisso, colo abaixo, para que tome as providências cabíveis, dizia que eu sabia que a senhora aceitaria pessoas videntes que tivessem ensino médio, como se as pessoas com deficiência não pudessem ter esse grau de formação educacional, ou mais alta.
Se a senhora quer argumentar pela defesa do indefensável, a saber, de uma oficina que promete ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”, faça-o sem deturpar minhas palavras, que públicas que foram proferidas, (como pública foi a chamada para o disparate de uma oficina que prometia ensinar cegos a fazerem “audiodescrição por si sós”) têm o caráter de ser honesto com a ética e o respeito ao consumidor. Afinal, não sou eu quem vendo que vou formar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”, mas informo que enquanto pessoa cega, vou ensinar as pessoas que enxergam a verem o que, embora enxergando, não viram em um dado evento visual/imagético. Digo que será um cego que vai ensinar quem enxerga a ver o que “eu mesmo não enxergo”. Obviamente, isso é apenas uma piada para quebrar gelo no curso que ministro, uma vez que eu ensino, pois só ensina, ou deveria ser assim, aquele que sabe para ensinar, o que e como ensinar.
E se a senhora assim desejar exemplo, mande-me uma áudio-descrição da lavra da senhora, alguma que considere perfeita. Agora, no contrapasso, mostre-me uma pessoa cega que, tendo feito sua oficina, esta ou outra, tenha aprendido a fazer “audiodescrição por si só”.

EF - “Contudo, a tônica da oficina “Audiodescrição por nós mesmos” foi inserir a pessoa com deficiência visual no processo de elaboração do roteiro, o que não acontece geralmente.”

FL - Minha querida professora, minha excelsa formadora de áudio-descritores cegos que fazem “audiodescrição por si sós”, há uma diferença enorme, “mais grandessíssimo do que enorme” entre uma pessoa com deficiência visual participar da construção de um roteiro e de fazer “audiodescrição por si só”, como promete a senhora ensinar às pessoas cegas, em sua divulgação da oficina. Se fosse isso o prometido, a participação na produção do roteiro, eu até poderia lhe sugerir alguma literatura, como daquele grande formador e áudio-descritor alemão de cuja fonte a senhora diz beber e com quem eu tive o prazer de estudar nos EUA, quando com ele dividi uma mesa redonda, por falar nisso.

EF - “Na maioria dos casos, o deficiente visual entra como revisor ou consultor de um roteiro previamente elaborado. É de extrema importância que ele saiba como a elaboração do roteiro acontece para poder ajudar com as prováveis lacunas ou ambiguidades.”

FL - Pois é, pois é, pois é! Se tivesse uma pessoa consultora para o cartaz, para a divulgação, ela não teria deixado essa ambiguidade: ensinar cegos a fazerem “audiodescrição por si sós”... Ensino impossível! Proposta ridícula!
Professora, as pessoas com deficiência visual, não “os deficientes visuais”, certo? Vamos lá, trabalhando há tantos anos com a pessoa com deficiência, já é hora de tratar essas pessoas, nós, as pessoas com deficiência, com respeito, tanto na nomenclatura, quanto na postura de oferta de oficina, neste caso, não dizendo que a senhora vai ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”, visto que isso é uma deslavada mentira, uma verdadeira afronta à inteligência das pessoas com deficiência.

EF - “Na maioria dos casos, o deficiente visual entra como revisor ou consultor de um roteiro previamente elaborado. É de extrema importância que ele saiba como a elaboração do roteiro acontece para poder ajudar com as prováveis lacunas ou ambiguidades.”

FL - Sim, é preciso que a pessoa com deficiência visual, ou não, que vai ser consultora deve saber sobre áudio-descrição, ter estudado, ter feito curso etc. Ser “cego” não é currículo e não basta para ser consultor em a-d ou em qualquer outra coisa. Sim, na maioria dos casos isso de a pessoa com deficiência visual não estar na produção do roteiro parece acontecer. Mas, parece mesmo ser o primeiro e único o caso de se ter uma oficina que promete ensinar as pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si só”. E, maravilhem-se os leitores, a senhora é quem tem essa capacidade “uniquíssima” de fazer pessoas cegas “audiodescreverem por si sós”, por si mesmas, independente e “sozinhamente”. E viva o empoderamento!

EF - “De todas as oficinas que dei, essa foi a que contou com o maior número de participantes com deficiência visual (50%), uma participante com Síndrome de Down, e outro com deficiência intelectual, além dos videntes sem deficiência. Tudo está documentado em vídeo e fotos. Essa também foi a oficina mais desafiadora e mais prazerosa que dei na vida, primeiro pelos participantes, depois pelo mérito da proposta que, diferentemente do Sr. Lima, achei da maior sensibilidade e coerência.”

FL - Querida professora sensível, Síndrome de Down é deficiência diversa ao conjunto das deficiências intelectuais? Será que a Convenção (aquela que citei em minha primeira missiva, lembra-se dela?) errou em apenas definir as deficiências como sendo física, mental (entendida as deficiências psicossociais), intelectual, sensorial e, obviamente, as múltiplas? Ou a senhora está criando uma nova deficiência?
Professora, de uma coisa não tenho dúvida, e tenho mesmo de concordar com a senhora. De fato, eu poderia apostar que seria assim:
“...foi a oficina mais desafiadora e mais prazerosa que dei”
Eu já enfrentei muitos desafios em minha vida, principalmente lutando contra a indústria da deficiência, isso de ganhar com a deficiência, a senhora entende, né? Mas, dou meu braço a torcer, desafiador mesmo é ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”...
Por favor, não pense que estou desconfiando da capacidade das pessoas cegas, longe de mim fazer isso. Já vi pessoas cegas pintarem o Bill Clinton, desenharem lentes para telescópios, dirigirem laboratórios de química, coordenarem os trabalhos do metrô de Nova Iorque, escalarem o maior pico do mundo, conduzirem pesquisa em biologia marinha, desenvolverem modelos matemáticos usados em realidade virtual e muito, muito mais coisas. Agora, apenas duas coisas me pareceram realmente desafiadoras e a maior delas, é claro, a senhora enfrentou: ensinou pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”. Bem, a outra, ou o outro desafio, nem tem mais graça, visto que parece banal perto do desafio da senhora. Mas, para que não fiquem nossos leitores curiosos, digo: Viver com um BPC.

EF - “Sim, existem gastos com essas oficinas, dos mais variados tipos, e os financiadores estão devidamente creditados no release da oficina. O resultado de tudo foi uma integração maravilhosa, que está se estendendo por todos os sábados em que os participantes se reúnem no instituto para finalizarem a tarefa que comecei. Os curtas com audiodescrição serão apresentados no Dia Internacional da Animação em Vitória, em outubro, com a presença de todos os envolvidos.”

FL - Professora, bem que a senhora poderia falar de inclusão, não mais de integração, não é? É de inclusão que as pessoas com deficiência querem, mas sobre isso, fica o desafio de estudar e praticar, digo, o desafio é para mim, é claro.
Sim, há gastos e nada mais honesto que citar os patrocinadores, falha que não ocorreu na divulgação do cartaz, é claro. Mas, é honesto divulgar uma oficina que promete ensinar as pessoas cegas fazerem “audiodescrição por si só”? Pena que a senhora afirmou que para a senhora a discussão está acabada. Bem que eu gostaria de ter mais subsídios sobre essa oficina, como ela consegue fazer pessoas cegas “audiodescreverem por si sós”, sem enxergarem o que estão descrevendo etc.

EF - “Encaminho cópia desta às listas de discussão que receberam o infeliz email, ao autor Sr. Francisco Lima, ao Sr. Milton que encaminhou o email, e à coordenadora do Instituto Marlin Azul, que está a par do conteúdo do email e que ficará livre para tomar qualquer atitude que achar necessária contra os abusos verbais exercidos pelo Sr. Lima. De minha parte, considero o assunto encerrado, e não pretendo responder a nenhuma outra mensagem que trate do ocorrido.”

FL - Ah, professora, por favor, repasse esta tréplica a todos que receberam sua réplica também.
Liberdade de expressão não é abuso, é liberdade. E por falar em liberdade, que bom que a senhora deixará livre a Coordenadora da Instituição, né? Seria uma indecência, uma prepotência, uma violência pretender o contrário.
Como disse antes, indignei-me/falei contra a promessa indecorosa de uma oficina mentirosa que prometia ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”, continuo indignado com a defesa dessa oficina, se ela for defendida com esse tom. Nada tenho contra a Instituição, pelo contrário, fica patente que ela foi enganada, uma vez que não podia saber que a promessa de uma oficina que se dizia capaz de ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós” não era possível.
Como hoje ela pode aquilatar, o que se ofereceu foi a formação para participar da construção do roteiro, como a senhora disse. E isso tem uma diferença muito grande, quando comparada com sua proposta de ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”.
Reafirmo, ficou enganada a instituição, ao ser levada a pensar que acolhia uma oficina capaz de ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição”, fato que a senhora sabia era impossível ensinar. A senhora sabia, não sabia?
Então, professora, não venha com vias coercitivas ou discursos subliminares de coação que, se alguém tem de temer a fala descomedida não é outro que aquele que prometeu ensinar pessoas cegas a fazerem audiodescrição por si sós, quando sabia de antemão que isso não seria possível.
Sou contra a indústria da deficiência e não tenho medo de ameaças, cara feias e futricas às escondidas.
A áudio-descrição tem um código de ética, exatamente para oferecer diretrizes de conduta, assim para o áudio-descritor como para os formadores.
Não ofereçamos cursos que não podemos cumprir. As pessoas com deficiência não precisam de ninguém que lhes use para “auto-promoção”, nem para vender-lhes cursos que prometam ensinar-lhes fazer “audiodescrição por si só”. Isso não é possível, essa promessa de ensino é uma mentira! É enganadora da instituição que a acolheu e é enganadora dos pretendentes que foram para a oficina, acreditando que aprenderiam fazer “audiodescriçao por si só”, como a professora prometia.

EF - “Finalmente, a todos os participantes das listas, agradeço pela atenção e paciência.
Eliana P. C. Franco

FL - Professora, a mim não precisa agradecer, pois paciência com a promessa dessa oficina não tive nenhuma.
A senhora tem bons trabalhos e não precisava vender gato por lebre, vender uma oficina que prometia ensinar pessoas cegas a fazerem “audiodescrição por si sós”.

Cordialmente,
Francisco Lima

Mensagem original que critica a proposta de oficina:
Oficina Inédita se Diz Capaz de Ensinar Cegos a Descrever Cenas de Filmes por Si Sós. Será o Fim dos Áudio-descritores?
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Submetido em Quarta, 22/08/2012 - 05:26 por Francisco Lima
Com o tema: audio-descrição
"Audiodescrição por Nós Mesmos"
Prezados,
Hoje venho falar de algo muito importante, muito sério e, certamente que vai desagradar a muitos, pelo menos à primeira vista, pelo menos, antes de pararem e refletirem no que significa o real sentido do que lerão.
Assim, a despeito do tanto que me desagrada tratar do que vou, não posso faltar aos meus princípios.
Sei, por outro lado, que desculpas virão; justificativas serão ditas, não necessariamente aqui ou a mim, mas certamente virão junto dos impropérios e os adjetivos a que estou acostumado a ouvir. Afinal, sou cego e as pessoas cegas, incrível que possa parecer, ouvem, leem, refletem sobre o que ouvem e leem. Ao refletirem, gostam ou desgostam. Ao gostarem, ou ao desgostarem, elas dizem do que gostaram do que ouviram ou leram também. Eu li, ouvi e desgostei. Agora falo e falo de minha indignação pelo que li e pelo que o discurso abrange.
Que eu respire fundo, então.
Certo que eu esperei um tempo para escrever este post, doutra forma, seria muito, digamos, muito menos... sutil!
Amigos,
A áudio-descrição é uma área em franco desenvolvimento no Brasil. Formadores de áudio-descrição, capacitados ou não, estão ganhando com a oferta de cursos aqui e acolá; áudio-descritores, formados para exercer essa função, ou que assim se intitularam, começam a ganhar com os trabalhos que estão fazendo; empresas que vendem equipamentos usados na áudio-descrição estão ganhando com a venda de equipamentos que antes eram usados para tradução simultânea; outras empresas estão ganhando com a publicidade de produtos com áudio-descrição; políticos estão ganhando, como sempre fazem, com a pessoa com deficiência e, até a pessoa com deficiência está ganhando com a áudio-descrição, uma vez que essas pessoas passam a ter acesso à informações que antes eram inacessíveis ou “inacessáveis”, como Diz Matoso, 2011.
Enfim, todos estão ganhando com a áudio-descrição: técnicos de áudio e vídeo; locutores; revisores; técnicos de filmagem etc., e tantas mais pessoas vão ganhar.
Então, então, não é necessário forçar a barra, fazer propaganda enganosa, vender gato por lebre, ludibriar.
Vejam, os colegas, a proposta que este anúncio faz em publicação disponível no http://www.blogdaaudiodescricao.com.br/2012/08/oficina-ensina-cegos-desc...
“sábado, 18 de agosto de 2012
Oficina vai ensinar cegos a descrever cenas de filmes”.
Letícia, Mimi, Flávio, áudio-descritores desta lista e do mundo, sinto muito mas o fim da carreira de vocês acaba de ser decretada!
Eu mesmo vou fazer esse curso. Vou aprender a “descrever cenas de filmes”. Agora eu não tenho mais que esperar que vocês façam a áudio-descrição daquele filme educativo, religioso, proibido para menores, que eu queria assistir e vocês nunca áudio-descrevem. Vou fazer o curso e, se eu aprender (vou estudar o máximo para que eu aprenda) farei, eu próprio, eu mesmo, eu mesminho, as “audiodescrições” que vocês não se incomodam em fazer.
Que meus santos me ajudem a conseguir uma vaga nesse curso, não posso perder a oportunidade de aprender a “descrever cenas de filmes” e me livrar desses áudio-descritores que só querem áudio-descrever a Turma da Mônica e não o Príncipe Safire.
Prometo, meus amigos que nem me precisam convencer do contrário, vou grafar ”audiodescrição” na forma que me ensinarem, vou concordar que áudio-descrição, quer dizer, audidescrição, se define pelo uso de cabine para tradução simultânea, vou fazer tudo certinho, pois, enquanto pessoa cega, jamais pensei que teria tão grande empoderamento na minha vida, como poder aprender a “descrever cenas de filmes” por mim só. Eu mesminho!
Desculpem-me a repetição, mas estou tão excitado com essa possibilidade que nem posso dormir, e nem é por conta da minha insônia diária, ou deveria dizer, noturna.
“Uma imagem pode valer mais que mil palavras. Mas as palavras certas podem descrever para uma pessoa com deficiência visual tudo o que um vidente consegue ver durante um filme.” Engraçado, parece que eu li algo muito parecido com isso em algum lugar mas.... passou, passou!
Um cego descrevendo sozinho as cenas do filme para que possa poder assistir ao filme com acessibilidade, ali, páh!
E isso é ainda muito mais que os grandes formadores de áudio-descritores do mundo jamais pensaram ser possível! Estou excitadíssimo com a possibilidade de poder fazer, por conta própria (será que quer dizer que eu quem vou pagar sozinho a conta?) a descrição de “tudo o que um vidente consegue ver durante um filme”.
Ai, gente, como quero aprender as tais “palavras certas”... Será que é pirim-pim-pim? ((“pirim-pim-pim, pirim-pim-pim, pirim-pim-pim!!!”)) Não é.
Não tem problema, vou fazer o curso, quer dizer, deixe-me usar as palavras certas, vou fazer a oficina "Audiodescrição por Nós Mesmos". que vai me ensinar a “descrever cenas de filmes” e, então eu, ceguinho da Silva, da Silva não, de Lima, vou poder aprender a usar “as palavras certas” e
Fazer, euzinho, a descrição das cenas dos filmes e, daí, o assistir com a tão desejada acessibilidade comunicacional pela qual tanto lutei.
Agora, estou com uma dúvida, meus amigos, Li em algum lugar, mas poderia estar escrito errado, é claro, mais provável ainda, eu quem entendi errado, não seria apenas a 932974901859
Vezes que já fiz isso. Erro que prometo não cometer depois de fazer a oficina "Audiodescrição por Nós Mesmos". E aprender como “audiodescrever” as cenas dos filmes, por mim mesmo.
Mas, deixem-me voltar à dúvida.
Li em algum lugar que a áudio-descrição é uma tradução dos eventos visuais em palavras. Que para se traduzir os eventos visuais é preciso que o áudio-descritor, uma pessoa que enxerga, descreve o que vê. Li que esse profissional deve observar a obra, vendo nela o que outros que enxergam não vêm, para a áudio-descrever fiel e fidedignamente, de modo conciso, claro, correto, específico e vívido, produzindo roteiros coesos e coerentes que devem ser locucionados de forma clara, sem sussurros, engasgos e afetada interpretação teatral, como se dá, por vezes, na dublagem, por exemplo. Li, também, que o áudio-descritor é um profissional que pesquisa, estuda, que observa a obra antes de a descrever, ou que faz isso em relação aos assuntos concernentes, quando vai fazer uma tradução simultânea, para a qual não teve acesso aos materiais.
Acho que li muitas coisas, pois li, também, que o áudio-descritor deve ser honesto com seu publico, não o subestimar, não superestimar; não o paternalizar, não o deixar sem o suporte de que necessita etc.
Por fim, li que o áudio-descritor descreve o que vê, não o que acha que viu, pensou que viu, deduziu que viu. Quando ele faz isso, digo, quando ele áudio-descreve o que acha que viu, áudio-descreve o que pensa que viu, chama-se de “interpretação”. Portanto, dizem os autores dos textos que li, interpretar é algo que se deve evitar, para não ser desonesto com o usuário da áudio-descrição. É, não tinha me dado conta, essa coisa de honestidade na áudio-descrição parece ser algo bem importante, ne?
Mas, mina dúvida depois disso tudo que li é se uma pessoa cega pode aprender a descrever por si só, ela vai a aprender a enxergar, então, não é?
Gente, isso não é maravilhoso? É uma revolução na acessibilidade comunicacional, é uma revolução na oftalmologia mundial, gente!
Descreva o que você vê, veja para descrever, uma pessoa cega fazendo a descrição de filmes por si só, isso é um milagre do Sul, como diz Boa Ventura... E que boa aventurança será poder “assistir a uma obra audiovisual por meio do detalhamento oral das cenas”, “detalhamento” este feito por mim, invejem os áudio-descritores!
Puxa, acho que já estou aprendendo a usar as tais palavras certas: “detalhamento oral das cenas”... Viu, eu, em minha insignificância, achava que um áudio-descritor fazia a tradução visual dos eventos imagéticos, não um “detalhamento oral das cenas”. Isso é muito mais que um cego pode esperar, gente. Naquele espacinho de tempo, os áudio-descritores apenas conseguem traduzir o que é essencial para o entendimento do que é visto, na oficina, o cego poderá, por si só, fazer o detalhamento oral das cenas, descrevendo tudo que o vidente vê durante o filme. É lindo! É fantástico, isso, deve estar na Globo!
Ah, e eu quero estar lá:
Homem sem visão, ou seja, Cego, sem cabelo, que não é magro, aprende a descrever, por si só cenas de filme.
Francisco Lima, 47, é um dos formandos da oficina que ensinou cegos a descrever cenas de filme, ou seja, todas as cenas que o vidente vê no filme. Antes, Francisco nem conseguia ver o filme, assistir ao filme era impossível, coitadinho, hoje, depois da oficina ele descreve, por si só, os filmes que quer, a hora que quer, pois descreve por si só todas as cenas dos filmes.
É, não ficou muito bom, né? Mas, depois que eu aprender as palavras certas, aprender fazer o detalhamento oral das cenas, depois que eu aprender a descrever por mim só tudo que o vidente vê num filme, ah, vocês verão que eu escreverei direitinho. Afinal, li que para ser áudio-descritor a não basta que a pessoa enxergue, que veja a obra, é necessário que ela domine a língua, ou seja, a gramática, a pronúncia, as técnicas de locução, as diretrizes para áudio-descrição e tudo mais em Alcatraz.
Mas, é lógico, estou me apegando ao que li e, meu avô já me dizia: “Chiquinho, não acredite em tudo que você lê, meu netinho ingênuo, pobre inocente ceguinho crédulo.”
Sabido, era esse vovô, vocês nem podem imaginar.
Agora, sabem do melhor disso tudo?
A oficina "Audiodescrição por Nós Mesmos". será gratuita.
Ninguém vai pagar nadinha! Eu pagaria o dobro que cobra certa formadora de áudio-descrição que nunca se formou no ramo e que dá curso à distância. Ah, pagaria mais que cobra a outra formadora de áudio-descritores, sim, aquela que, uma semana depois de assistir a um evento com áudio-descrição, onde ela própria era palestrante e não fizera a áudio-descrição dos slides e das imagens que fez uso na apresentação, anunciava que iria dar curso de “audiodescrição”. Eu que pagaria mais que pudesse cobrar, aquele audiodescritor que vem traduzindo a-ds de outros idiomas, em lugar de ele as fazer, não vou pagar nadinha pela oficina que promete ensinar cegos a descrever cenas de filme por si só.
Ah, meu coração, esta é felicidade que eu jamais pensei fosse possível sentir:
Poder descrever por mim só as cenas todinhas de um filme que vê o vidente.
Agora, invejem os áudio-descritores, vidente serei eu! Primeiro filme que descreverei será o Túnel do Tempo, ou Perdidos no Espaço, não sei. Vou descrever os dois!
“O projeto, proposto pela animadora Marinéia Anatório, integrante do Núcleo Animazul, foi selecionado em 2012 por meio de Edital Núcleo de Criação, promovido pelo Rede Cultura Jovem da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), com patrocínio do Instituto Sincades, e a parceria do Instituto Marlin Azul, do Projeto Arte sem Limites e do Instituto Galpão.”
Mais que bacana, gente, mais que louvável! o curso tem patrocínio, parabéns, pessoal! É disso que o Brasil precisa, precisamos de animadores que promovam a inclusão social da pessoa com deficiência.
É por isso que clamo a todos que se juntem àqueles animadores de televisão para arrecadar dinheiro para as pobres coitadas crianças com deficiência. Esse pessoal animador anima mesmo! Com apenas dez reais, não desanimam, conseguem mais recursos e promovem oficinas que ensinam cegos a descrever cenas de filmes: maravilhoso!
“A iniciativa prevê a pesquisa, capacitação e aplicação do recurso em dois curtas-metragens capixabas de animação: "As Curvas de Niemeyer", dirigido por 150 alunos de ensino fundamental da Rede Municipal de Educação de Vitória, e "Aventuras e Movimentos", dirigido por alunos do projeto Arte sem Limites. Além da audiodescrição de filmes para cegos, a oficina também produzirá a legendagem específica das obras para acesso de pessoas com deficiência auditiva.”
Vitória!!! Já estou começando ver... Eu sempre que pensei que o trabalho desse arquiteto, certamente o arquiteto que mais pensou na pessoa humana em seus projetos, construindo com acessibilidade, ergonomia e economia do dinheiro público, não tinha tantas curvas assim. É, percebo agora que em minha cegueira não via que as curvas do trabalho do arquiteto eram sutis para que a mobilidade de pessoas com deficiência física com deficiência visual pudessem ser a melhor.
Enquanto professor, devo parabenizar o trabalho que vai fazer pesquisa, capacitação e tudo mais, além de ensinar cegos descreverem cenas de filmes por si sós.
“O projeto quer promover o estudo e a utilização da audiodescrição na tradução de obras audiovisuais, peças de teatro, espetáculos circenses, entre outros eventos culturais que, na maior parte das vezes, estão despreparados para oferecer estas possibilidades de inclusão.”
É o que eu disse, gente, como estão despreparados para oferecer essas possibilidades de inclusão, é que se faz propício oferecer uma oficina que ensina cegos a descreverem cenas de filmes por si só. E que malabarismo terão de fazer para ensinar um cego descrever todas aquelas cenas de um filme: de 2, numa oficina só!
Ora, quem deixaria de patrocinar uma oficina dessas?
Pode dizer que eu mesmo patrocino, sei lá, faço um empréstimo no Banco Safra, pego uma graninha com o Cachoeira e arrumo o dinheirinho para que essa oficina possa ensinar cegos a descreverem cenas de filmes, em todo o Brasil, Só para me livrar dos áudio-descritores que não querem áudio-descrever aquele filme épico, “Garganta Profunda”. E nem venham fazer troça de mim, só porque falei de Cachoeira, garganta profunda etc. Isso não tem nada que ver com cascata ou bravata, ou seja, garganta.
“Inscrições gratuitas - A oficina será oferecida a alunos do Ponto de Cultura Animazul e do Arte Sem Limites, que reúne pessoas com deficiência visual, auditiva, cadeirantes, autistas. Mais quatro vagas serão abertas para quem tem mais de 18 anos, ensino médio completo e deseja aprender um pouco sobre a audiodescrição. Basta se inscrever através do site www.animazul.org.br
Agora vejo com clareza solar, meus caros. Nem comecei a fazer a oficina e já vejo...
A arte é sem limites, a imaginação é o âmago da coisa. Se eu tivesse tal imaginação, eu estaria rico! A coisa é óbvia: os Cegos “audiodescrevem filmes, os surdos fazem a legenda do que os atores disseram e cegos e surdos se livram, de uma só vez, de áudio-descritores e intérpretes, igual aquela piada do surdo, do cego e do cadeirante que morreram e, sendo beneficiados com a bondade divina, retornaram ao mundo terreno, “sem a deficiência que portavam” e os recursos assistivos de que faziam uso: o cego, lançou fora a bengala, o cadeirante, quer dizer, ex-cadeirante, lançou fora a cadeira de rodas, o ex-surdo.... poderíamos acrescentar que o ex-cego lançou fora a bengala, o cão guia e o áudio-descritor!
Bem feito, agora posso dizer mal desses áudio-descritores que ficam áudio-descrevendo espetáculos de circo, vídeo clipe da Luísa etc. e não áudio-descrevem o homem de aço.
Bem feito para vocês, agora vou aprender a “audiodescrever” filmes e não vou mais ter de aguentar a voz feia de vocês, descrevendo apenas o que o tempo permite, durante os espaços entre as falas, ou por sobre elas nos casos em que a falta da áudio-descrição traria mais prejuízo para compreensão que a perda de uma ou duas sílabas do que os personagem estão falando.
"Audiodescrição por Nós Mesmos" resultará na produção de um DVD com as duas animações capixabas com audiodescrição, com opção de legendas em português, permitindo a fruição de pessoas com deficiência visual, auditiva e intelectual. As cópias serão distribuídas gratuitamente para diversas instituições ligadas às deficiências.
Fonte: Pontão Animazul
Li que quando a gente está excitado com uma ideia, a gente fala muito e vejo, pelo tanto que escrevi, que isso é verdade. Meu vovozinho que perdoe-me se estou acreditando em algo que li e que não seja verdadeiro.
Amigos, se por força de mídia, se por querer ganhar edital se, por qualquer razão, um profissional da áudio-descrição, mormente um formador, fez tal proposição, ele não deveria ter agido assim. Um formador não pode escrever dessa forma. A liberdade de expressão é autorregulada pela ética, meus amigos.
Não podemos vender a ideia de que uma pessoa cega pode ser ensinada a áudio-descrever por si só.
Sejamos honestos e digamos que vamos ensinar ao sujeito com deficiência visual diretrizes da áudio-descrição, que vamos ensinar como podem se beneficiar da áudio-descrição, aprendendo como as escolhas tradutórias são feitas, como são pensadas e como elas são inseridas para que a pessoa com deficiência possa ter acesso às informações imagéticas.
Amigos, digamos não à indústria da deficiência!
Acho que vou criar o lema:
Say no to:
A indústria da deficiência. É, slogans que tenham partes em inglês parecem ser mais publicitário, que me permitam os colegas profissionais dessa área.
Não, não posso tolerar que as pessoas menos avisadas aprovem cursos com a falácia de que os cegos vão poder, por eles próprios, descreverem filmes; não posso deixar que o público pense que a áudio-descrição descreve tudo que o vidente vê num filme, isso é mentira!
Somos formadores de público, somos formadores de opinião, somos formadores de áudio-descritores. Se aos demais é permitido falar essas besteiras, a nós não é dada a oportunidade de cometer tão grande falácia.
Pessoas cegas não podem ser ensinadas a descrverem cenas de filmes.
Estou aberto a quem quer que seja a me ensinar fazer isso. Estou velho, muito ranzinza e já meio gagá, alguns podem completar. Mas, ainda sou capaz de aprender algo e estou disposto a aprender a descrever cenas de filme por mim só, por mim próprio.
Se não foi isso que se desejou dizer, bem, foi o que foi dito.
E se foi, foi intencionalmente. De outra forma já se teria modificada a propositura.
Deixem disso de querer usar a pessoa com deficiência como moeda.
Prestem bom serviço assistivo e ganhe por isso. Nada mais justo! Não venha vender promessas que não podem cumprir.
Existem pessoas que como eu, estamos dispostos a fazer valer o lema: Nada sobre nós, sem nós” e isso significa que ninguém vai ficar falando tão grande mentira, sem que nós possamos nos manifestar.
A proponente do curso, curso não da oficina e apoiadores não precisam mentir para fazer o que é importante que se faça, a instrução do público, mas sem dizer que vão ensinar as pessoas cegas a descrevem filmes por elas próprias.
Por fim, as barreiras atitudinais nesse texto são tão alarmantes que até a propositura de que “quatro vagas serão abertas para quem tem mais de 18 anos, ensino médio completo e deseja aprender um pouco sobre a audiodescrição” vem na desconsideração que as pessoas surdas, pessoas com deficiência visual ou com autismo que vão fazer o curso podem ser pessoas com essa educação formal.
Deficiência não é currículo, aprendam os oficineiros, por favor.
Mas, tudo isso que disse é que está errado, não se assustem os colegas ledores deste post mau humorado
Trata-se de uma oficina, pois nela se concertará a visão de quem fizer o curso e as pessoas que eram cegas irão ser capacitadas para descreverem cenas de filmes. Mas, aí, não serão mais pessoas cegas, serão pessoas!
E é por isso que prefiro áudio-descrição e os bons serviços dos profissionais que estão, cada vez mais aprimorando suas técnicas na tradução visual, trazendo acessibilidade comunicacional, participação social, conhecimento aos brasileiros com deficiência.
Observação:
Em que pese meu reconhecimento pelo trabalho da colega oficineira, descordei do que foi prometido e escolhi o modelo do sarcasmo, da sátira e do tom jocoso para mostrar minha indignação para com este título de oficina.
Que o conteúdo, porém, seja o da qualidade que a professora é capaz de oferecer e que os participantes possam beneficiar do conhecimento que está sendo patrocinado pelas instituições que acreditaram no projeto.
Cordialmente
Francisco Lima