"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce."
Fernando Pessoa
Sonhei...
Que ia na rua solto
Como o pássaro para quem o céu foi feito.
Movia-me com a bengala branca,
Símbolo da paz e liberdade;
Ia adiante com fé na vida
E ria de felicidade.
Meu Deus
O que tenho sonhado
E como é preciso lutar,
Lutar com garras pelo sonho,
A razão pela qual aqui estou.
O meu coração anseia por mudar o meu destino
Ou em melhorá-lo se houver tempo.
Luto contra o sentimento
De que me prendo aos outros
Em vez de tentar por mim...
É possível descobrir nova vida,
Abrir portas que nem me dou conta
Ou que não indago.
Estou com a consciência adormecida,
Como o triste lago
Sem movimento nem onda.
Mas no meu sonho
A bengala branca era a minha bandeira
Que eu firmava sobre a montanha.
As pessoas nem notavam tanto
Pela minha deficiência;
Se abriam num espanto,
A consciência se erguia da esteira:
A força de vontade não era estranha.
Mas para o alcançar,
Para libertar as asas e voar,
Para conhecer-me melhor
E da forma mais positiva,
Tinha de perder o medo,
E de deixar as mágoas passadas e crer no futuro;
Viver cada dia
Com sabedoria e alegria.
Uma doçura
Ver-me a mim próprio livre,
Caminhando sem barreiras,
Sem perder as esperanças derradeiras,
Sem mais ilusões e desilusões.
Que no real, era possível
Com a bengala branca
Que pensava e sabia o que fazer.
Era hábil,
Estarrecia os descrentes
E deixava de ser uma simples coisa
Com reconhecimento.
Pois assim sonhei
E não foi a primeira vez.
Irei sonhando até ter alcançado
Essa paz e liberdade
Que me inspiram a vida.
É com sinceridade
Que vos peço,
A vocês que gozam de visão,
Para que sejam mais compreensivos
Com a minha liberdade.
Não me habituem ao cómodo,
Sendo vocês a minha bengala e algema.
Quero um trato com humanidade,
Passar também pelos riscos,
Aprender a enfrentar o novo,
Não mais me olharem condoídos,
Mas como um pássaro livre.
(10-04-09)
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