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Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

Quinta Lição de Áudio-descrição: Uma Centena de Dicas Para Fazer Uma Áudio-descrição Com Qualidade

por Francisco Lima

Prezados,
Ainda partilhando trechos que uso em minhas aulas de formação de áudio-descritores, trago para vocês valiosas diretrizes para a construção de áudio-descrições empoderativas.
Bons estudos,
Francisco Lima
Curso de Áudio-descrição Imagens que Falam
Lições basilares para a formação do áudio-descritor empoderativo
Revista Brasileira de Tradução Visual, v. 11, 2012.

Áudio-descrição
• Técnica de tradução visual: gênero tradutório entre linguagens e não interlingual.
Gregory Frazier
• “O tradutor não deve se tornar o centro das atenções ao traduzir um evento visual”

• O áudio-descritor deve estar presente para o que a obra exige ser traduzida, e invisível para que a obra possa ser apreciada em si mesma. (LIMA, 2011c)
Gregory Frazier
• “Para a efetivação da boa áudio-descrição, o áudio-descritor deve ter conhecimento linguístico que lhe permita ser objetivo ao traduzir um evento visual, não devendo ele apegar-se ao supérfluo, concentrando-se em elementos/detalhes que agregam tom, cor e movimento à “história”.

Gregory Frazier
• O áudio-descritor deve evitar interpretações ou julgamentos sobre o que está ocorrendo na “história”

• Os elementos que impulsionam a história devem ser descritos. No teatro, por exemplo, deve-se descrever o cenário, o figurino, os efeitos de iluminação etc.

Gregory Frazier
• Frazier (1995) afirma que é melhor evitar chamar a atenção para a arte do cinema, a saber, não fazer referência à câmera, aos movimentos de câmera ou a outros elementos técnicos do registro fílmico, fotográfico etc.
Margareth e Cody Pfanstiehl
• Alertam para a necessidade de haver capacitação do áudio-descritor. Segundo eles, esse profissional não nasce feito, precisa tornar-se.

• Alguns dos aspectos listados pelos Pfanstiehls para a capacitação do áudio-descritor incluem as habilidades de fala e a capacidade de perceber e descrever os elementos visuais marcantes de uma dada cena.

Margareth e Cody Pfanstiehl
• Entretanto, um áudio-descritor precisa bem mais do que apenas ser capaz de ver e descrever uma imagem ou um outro evento visual qualquer.
Margareth e Cody Pfanstiehl
• Os Pfanstiehl ensinam que os áudio-descritores devem ser capazes de:

– discutir a promoção do programa,
– preparar notas técnicas do programa,
– usar o equipamento da áudio-descrição etc.

Margareth e Cody Pfanstiehl
• Margaret Pfanstiehl (1995) ensina que durante o treinamento/formação o áudio-descritor deve ser colocado em contato com várias situações de tradução visual, por exemplo, ser levado a assistir a segmentos diversos de vídeos e fazer áudio-descrições. Estas deverão ser comparadas com as de seus colegas aprendizes – uns debatendo/criticando as traduções dos outros.

• Ela esclarece então, que os aprendizes deverão fazer semelhante exercício de tradução com segmentos áudio-descritos por áudio-descritores mais experientes
Margareth e Cody Pfanstiehl
• O áudio-descritor deve áudio-descrever o que vê; que ele deve ser uma lente de câmera fiel, isto é, o que chega aos olhos do áudio-descritor deve sair-lhe pela boca, sem qualquer interpretação ou valoração, corroborando com a perspectiva formadora de Frazier
Margareth e Cody Pfanstiehl
• “Menos é mais”.

• A áudio-descrição deve ser clara e concisa, sucinta e vívida, correta e específica.

• 3C+EV (LIMA, 2011)
Margareth e Cody Pfanstiehl
• Enfatizando que o tradutor visual não pode interpretar pelo usuário, mas dar a este a correta e específica descrição que o empodere a entender o evento visual, dizem a seus alunos que eles devem evitar áudio-descrições como: "Ele está chateado" ou "Ela está triste." Em lugar disso, que descrevam a ação: "Ele está apertando o punho" ou "Ela está tremendo". Os Pfanstiehls (1995) pedem que os áudio-descritores deem as “evidências” dos eventos, não que os interpretem, infiram sobre eles ou os resumam e generalizem.
Jesse Minkert
• Diretrizes/orientações fundamentais para a tradução visual:

• Diga o que você vê;
• Não diga o que você não vê;
• Vá do geral para o específico;
• Não ofusque o trabalho dos atores;
• Seja claro;
Jesse Minkert
• Use frases e não palavras isoladas;
• Descreva a ação que indica a emoção (em lugar de meramente nomear a emoção);
• Identifique os personagens pela aparência, e não por tipo ou estereótipo;
• Não apresente informações antes de o evento as apresentar.

Jesse Minkert
• A "interpretação" são "atalhos informacionais” que devem ser evitados.

• Ele adverte que, mesmo o áudio-descritor tendo uma quantidade limitada de tempo para inserir uma descrição, deve evitar a “tentação de usar um atalho verbal”, visto que os atalhos verbais são, por natureza, interpretativos.
Jesse Minkert
• Características de áudio-descritores em potencial:
• Fazer a escolha concisa e correta das palavras;
• Fazer a escolha do que vai ser descrito (fazer a descrição de ações importantes);
• Não fazer interpretações;
• Não descrever por sobre as falas;
Jesse Minkert
• Fazer locução clara e com registro linguístico fácil de se entender;
• Descrever, nem muito, nem pouco (áudio-descrever comedidamente);
• Identificar quem são os personagens;
• Colocar a entoação de voz adequada.

Joel Snyder
• Foi um dos primeiros a salientar a necessidade de incluir, nas diretrizes para a áudio-descrição, preocupações como a de que o áudio-descritor deve verificar se os diretores, atores e demais operadores do teatro sabem o que é áudio-descrição, como ela se dá no teatro (também nos eventos fílmicos), como ela é importante para a acessibilidade do público com deficiência, etc.
Joel Snyder
• A áudio-descrição é direito do público com deficiência e que, havendo a acessibilidade comunicacional no espetáculo, no filme ou no show, o ganho será econômico (aumentar-se-á o público), será legal (os consumidores com deficiência desses eventos serão respeitados no seu direito à acessibilidade comunicacional), e terá função social (se estará promovendo a inclusão social de pessoas com deficiência aos bens culturais, de educação e lazer que esses eventos representam).
Joel Snyder
• A áudio-descrição deve ser feita com base no entendimento de que na plateia pode haver pessoas com baixa visão também, sendo importante áudio-descrever cores, localizar os elementos na tela, na pintura etc.

• Logo, a áudio-descrição não pode ser feita, exclusivamente pensando na pessoa cega, mas nas pessoas com deficiência visual em geral, nas pessoas que estão temporariamente impedidas de ver (independentemente da razão desse impedimento) etc.
Joel Snyder
• Snyder ensina que a entoação serve ao áudio-descritor como uma ferramenta áudio-descritiva, por vezes, economizando ao tradutor visual palavras que poderão ser usadas para trazer mais áudio-descrição ou, apenas, abrir espaço para melhor apreciação da obra. Aqui, remete ele à diretriz “menos é mais” e ao fato de que o silêncio também precisa ser experienciado pelo espectador com deficiência visual, usuário da áudio-descrição.
Joel Snyder
• Indicadores verbais para os cortes de cena devem ser utilizados com atenção e comedimento, logo, o uso repetitivo de, por exemplo, agora, é inadequado, e pode invariavelmente ser substituído por informações áudio-descritivas mais úteis e relevantes.

• A prática leva à profissionalidade.
Francisco Lima
• “O áudio-descritor é a ponte entre a imagem inacessível à pessoa com deficiência visual e a informação acessível pela audição ou leitura das palavras que traduzem o evento visual.”

• Por isso, para Lima, o papel do áudio-descritor não é fazer a leitura da obra, é propiciar ao cliente da áudio-descrição que faça essa leitura.

Francisco Lima
• Para que o tradutor visual possa dar as condições de modo que seu cliente chegue, com autonomia e independência, às conclusões sobre a obra que acessou tátil ou auditivamente, por meio da áudio-descrição, aquele profissional deverá estudar criteriosamente a obra a ser áudio-descrita; pesquisá-la profundamente, e traduzi-la honesta e fielmente, sem censurá-la e sem alterar-lhe o sentido ou intenção.
Traço de União
• A somatória dos termos áudio e descrição não é mero resultado da adição dessas palavras grafadas juntas, mas a construção de um novo conceito em que prosódia e grafia mantidas expressam um gênero tradutório em que o princípio não é outro que o empoderamento da pessoa com deficiência na tomada de decisão, na apreciação do evento visual, no acesso com igualdade de oportunidade aos eventos imagéticos, sejam eles estáticos, sejam dinâmicos
Áudio-descrição
• Com a áudio-descrição, pessoas cegas passam a descobrir o quanto não viam de um filme, cujo conteúdo entendessem; o quanto não conheciam de uma rua que costumeiramente percorriam; ou o quanto não sabiam de algo ou alguém que conheciam pelo tato.
Peculiaridade do sistema háptico
• Grandes configurações ou configurações pequenas demais não são percebidas pelo sistema háptico, sendo aí, uma das situações em que a áudio-descrição vem suprir lacunas provocadas pela ausência da visão ou pela limitação do sentido do tato.
Reconhecimento de imagens
• Há três entendimentos sobre o reconhecimento de imagens pela pessoa cega:
• A impossibilidade de a pessoa cega compreender eventos visuais;
• As pessoas com deficiência visual apenas compreenderiam, em parte, os eventos visuais, sem a profundidade ou detalhamento de uma pessoa vidente;
• Dadas as condições adequadas, o treino necessário e o tempo adequado, a pessoa com deficiência pode fazer uso dos eventos imagéticos, sejam eles traduzidos hapticamente, sejam traduzidos em palavras, por meio da áudio-descrição.
Notas Proêmias
• Orientações áudio-descritivas globais que antecedem, mas não antecipam informações; que apresentam, mas não revelam a obra; e que instruem a áudio-descrição, sem contudo adiantar aos usuários, aquilo que não está disponível aos espectadores videntes
Locução
• O locutor da áudio-descrição é aquele que oraliza o roteiro áudio-descritivo. O áudio-descritor é aquele que produz o roteiro áudio-descritivo. Este pode ser locucionado pelo próprio áudio-descritor ou por um locutor
Áudio-descrição no teatro
• No teatro, o locutor da áudio-descrição deve ser um áudio-descritor, pois, ainda que se tenha um roteiro, este é apenas um caminho que deverá o áudio-descritor seguir, não “O” caminho. Muitas vezes, num espetáculo, o locutor da áudio-descrição será chamado a áudio-descrever situações repentinas, não previstas no roteiro.
Áudio-descrição
Áudio-descrever é mais do que dizer o que se vê (diretriz de ouro da áudio-descrição), é traduzir o que se vê e o que é necessário para o empoderamento do usuário.
Censura
• Um áudio-descritor pode deixar de áudio-descrever uma dada cena ou detalhe por conta de uma censura despercebida ou até mesmo proposital. E se este último caso acontecer, se o áudio-descritor desejar omitir algo que a obra requer que seja áudio-descrita, ele deve abrir mão de fazer o trabalho. É antiético censurar uma áudio-descrição por conta de valores religiosos, morais etc do áudio-descritor.
Não descreva o que não vê
• “Não descreva o que você não vê”, ou não descreva pela negativa, isto é, não descreva elementos inexistentes na imagem.

• “Na sala, um homem sem cabelos, sem bigode e sem dentes digita num computador sem teclado”. Seria melhor traduzido como: “na sala, um homem careca, banguela, digita num computador touch screen.”
Adversativa
• Atenção não se deve fazer uso de adversativas.

• 01:05:10 - Corisco agarra a senhora por trás. Depois a vira de frente. Apesar de ser gorda, ele a abraça e a levanta. (Corisco e Dadá)
• 00:03:05- A maioria são jovens que enxergam, mas além de Sergei, vemos outros jovens cegos que correm com o braço no ombro de algum colega vidente, Sergei corre sozinho. (Assim Vivemos, Ver e Crer)
• 00:25:14 – Uma mão de lasanha ataca a empregada, mas ela consegue fugir. (Lasanha Assassina)
Pronome Possessivo “Seu(a)”
• Atenção ao uso do pronome possessivo “seu”, que, além de invariavelmente constituir inserção de palavra desnecessária, por vezes leva ambiguidade à aúdio-descrição.

• 00:26:44- Na lavanderia, a mulher do médico molha uma ponta de um pano e o leva até o ladrão e seu marido. (Ensaio sobre a cegueira)
Pronome Pessoal “Nós”
• Atenção também ao uso do pronome pessoal “nós”.

• É diretriz básica que o tradutor deve traduzir em terceira pessoa, ou em primeira, quando na tradução lingual interpreta a fala do emissor da mensagem.

A áudio-descrição é um trabalho intelectual do tradutor visual, e como tal, é livre expressão do trabalho do áudio-descritor. (LIMA, 2011)