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Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

Quando a imagem não vale nada sem as mil palavras (Perfil do Professor Francisco Lima)

por Francisco Lima

Prezados,
Partilho matéria sobre meu trabalho com acessibilidade comunicacional, no ensino de áudio-descrição, bem como, conto para vocês, por meio desta matéria, um pouco de quem é o Professor Francisco.
Espero que gostem.
Cordialmente,
Francisco Lima
Quando a imagem não vale nada sem as mil palavras
A cão-guia dorme aos pés do professor Francisco de Lima, de 48 anos, enquanto a aula de audiodescrição se desenrola numa manhã de sexta-feira. À frente da turma, ele seleciona os vídeos que serão exibidos no computador. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) é a primeira do país a oferecer a disciplina para estudantes de Rádio, TV e Internet.
Crédito Alcione Ferreira DPD.A Press Perfil para a revista Aurora com o professor Francisco Joséde Lima, ele da aula de educacao inclusiva e fundou o Centro de Estudos Inclusivos. Ele é cego e tem um cão-guia chamado Okra.
Okra fica deitada debaixo do birô. A cadela, da raça labrador, tem sete anos de idade e olhos mansos, caídos, que enxergam por quatro.
Sete alunos preenchem as cadeiras da sala espaçosa. O retroprojetor lança no quadro branco um episódio do desenho animado Zé Colmeia, que faz o professor rir, mesmo de costas para a projeção. Um dos estudantes, entre as falas dos personagens, descreve expressões, movimentos e elementos que surgem nas cenas. "A vividez é o que diferencia um tradutor visual do outro. O bom tradutor é aquele que consegue encontrar a palavra que acende a luz imagética na mente de quem não enxerga", explica. O trabalho exige sensibilidade: é preciso diferenciar nuances de cor e intensidade de movimentos. Por muito tempo, as imagens foram um universo desconhecido para as pessoas cegas, principalmente para as crianças. "Os pais, normalmente, têm preguiça de descrever objetos e isso prejudica a construção do vocabulário", avalia. "Antes, se os livros tinham muitas imagens, não eram transcritos em braille. O desenho e as pinturas, para as pessoas cegas, foram simplesmente negados".
A partir dos anos 2000, com a instituição da Lei nº 10.048, e principalmente após o decreto 5.296, de 2004, que a regulamenta, a acessibilidade começou a ser pensada de forma mais consistente. Não só nos segmentos de comunicação e arte, mas na tecnologia, na arquitetura e no urbanismo. Apesar de ainda estarmos muito longe do ideal, o panorama é otimista. "Estamos avançando muito no teatro, no cinema, na televisão, não só com audiodescrição, mas com libras e legendas também", diz a audiodescritora Graciela Pozzobon, do Rio de Janeiro, uma das pioneiras da técnica no país. E essas estratégias não são bondade dos realizadores. "As pessoas estão se dando conta de que, dessa forma, elas conseguem divulgar seus produtos para um público muito maior".
Rosângela Barqueiro, responsável pelas relações institucionais da Laramara - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, conheceu o professor Francisco de Lima quando ele buscava patrocinadores para a caneta que inventou para fazer desenhos em relevo, em 1998. "Chico é um protagonista na defesa dos direitos da pessoa com deficiência. Exerce uma liderança extremamente positiva e é uma referência mundial na luta por inclusão", afirma.
Crédito Alcione Ferreira DPD.A Press Perfil para a revista Aurora com o professor Francisco José de Lima, ele da aula de educacao inclusiva e fundou o Centro de Estudos Inclusivos. Ele é cego e tem um cão-guia chamado Okra.
Francisco de Lima é cego de nascença. Ainda na barriga da mãe, teve glaucoma congênito, uma doença que atinge o nervo óptico. Até então, não havia nenhum cego na família. "Tenho dois irmãos, com idade próxima, e minha infância foi bem normal, como a de qualquer outra criança". Cresceu na cidade de São Paulo, onde cursou toda a educação infantil no Instituto de Cegos Padre Chico. Fez graduação, mestrado e doutorado na área de psicologia e, em 2002, passou num concurso para lecionar no curso de pedagogia da UFPE, mas quase não conseguiu exercer.
"Ao me avaliar, a médica do trabalho disse que eu era incapaz de assumir uma turma. Tive de lembrar que havia sido selecionado no concurso e ameaçar processá-la", diz Francisco. Assim que assumiu o cargo, fundou o Centro de Estudos Inclusivos (CEI). "Faltava apoio ao estudante e ao funcionário com deficiência na universidade". O centro estuda o uso de tecnologias inclusivas, formas de assistência escolar e adequação física, além de oferecer consultoria a empresas que contratam pessoas com deficiência.
Em 2007, o professor foi para os Estados Unidos buscar a cadela Okra, treinada pela organização Leader Dogs For The Blind, em parceria com o Instituto Íris, de São Paulo. Antes de ela chegar, foram mais de 40 anos usando bengala. "Vi que era uma oportunidade de mostrar para as pessoas o que é um cão-guia, falar sobre o serviço que esse animal presta: a independência que traz é muito mais significativa do que uma bengala".
Andar com um cachorro ao lado, no entanto, causa conflitos em alguns ambientes. "Um taxista já brigou comigo, quis me bater, porque não queria levar Okra no carro". A cena se repete em shopping centers, mercados, clínicas médicas, espaços públicos. "Uma vez, eu fui dar uma palestra sobre acessibilidade na Assembleia Legislativa de Pernambuco, um espaço onde se espera o cumprimento das leis, e fui barrado na entrada pelo guarda".
A professora Rosângela Lima, que coordena o ensino de Libras na UFPE, bate à porta da sala de aula. Ela e Francisco estão casados há 15 anos. Têm dois filhos: Laura, 11, e Mateus, 16. O filho mais velho teve uma doença chamada retinopatia da prematuridade, que o fez cegar pela luz excessiva da incubadora. "Ele nos adotou quando fizemos uma visita à casa de adoção. Brincamos que foi amor à primeira vista".
saiba mais
Para ler no computador, o professor utiliza um programa que faz leitura de tela com um sintetizador de voz. O software NonVisual Desktop Access (NVDA) é gratuito, já foi traduzido para 35 línguas e não precisa ser instalado. Com um pendrive, a pessoa com deficiência visual pode acessá-lo em qualquer computador. Para fazer o download, acesse: www.nvda-project.org.
24%
Da população no Brasil declaram ser portadoras de alguma deficiência. O que equivale a 46 milhões de pessoas.
78%
Das pessoas com deficiência declaram ter algum problema na visão, segundo o IBGE/2010.
Camila Almeida (texto) / Alcione Ferreira (fotos)
Fonte: Revista Aurora
http://aurora.diariodepernambuco.com.br/2013/02/quando-a-imagem-nao-vale...

ps. a lei Federal mencionada na matéria é a de 10.098/00.