Por que ser diferente é normal, por Lucio Carvalho *
Na última semana, uma notícia veiculada primeiramente no Jornal Nacional e depois no Jornal do Almoço trouxe luz a uma questão que, pelo menos de forma aparente, ainda não foi plenamente assimilada pela sociedade gaúcha: a de que as diferenças entre as pessoas não as hierarquizam sob nenhum aspecto. A manipulação dessa distinção entre o normal e o diferente já foi, na História, razão para que segmentos inteiros fossem segregados, perseguidos e até mesmo exterminados, como recente exposição inaugurada na Alemanha demonstrou, ao veicular as práticas nazistas em relação às pessoas com deficiência nos campos de extermínio da II Guerra Mundial. Na atualidade, é visível e gritante o tamanho absurdo da segregação quando tomamos conhecimento de que uma criança de um ano e meio de idade deixa de ser recebida por um estabelecimento de ensino em razão da sua peculiaridade enquanto ser humano. Foi o que aconteceu com a pequena Clara, que nasceu com a síndrome de Down e que teve sua matrícula recusada sob a alegação de uma possível falta de preparo e de condições pedagógicas adequadas por uma grande e tradicional escola de Porto Alegre.
Não bastasse isso, a notícia foi veiculada justamente na semana em que se comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down. Por todo o país, dezenas de eventos reunindo autoridades, cientistas, educadores, políticos e as próprias famílias, naquela que é a maior programação individual por país de acordo com a Down Syndrome International, demonstram o quanto ainda a sociedade de um modo geral e especificamente a gaúcha necessita refletir em relação aos preconceitos, ao comportamento social, ao respeito e observação às leis e tratados internacionais que abordam as pessoas com deficiência de um modo geral, no sentido de avançar na garantia de seus direitos e na promoção de condições dignas de vida a todos os cidadãos.
O que aconteceu com a pequena Clara, infelizmente, não é nenhuma novidade. Tampouco é novidade que nem todas as iniciativas de inclusão de crianças com deficiência na rede regular de ensino, em classes comuns, são totalmente bem-sucedidas. Isso se deve ao simples fato de que o componente humano e as relações sociais não obedecem a fórmulas de sucesso replicáveis automaticamente. É exatamente na capacidade de percepção dos contextos de aprendizagem e de uma intervenção que respeite as individualidades de todos, desde muito cedo, que reside a vantagem da inclusão. Não só os colegas das crianças com deficiência aprendem a conviver desde cedo com a alteridade e os valores da diversidade e da democracia, como a sociedade se prepara numa perspectiva humanizada para valores infelizmente em decadência, como o respeito, a tolerância e a solidariedade.
* Membro do Comitê de Comunicação da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down
Sérgio Gonçalves
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Comentários
Discriminação
Olá Sérgio !!
Infelizmente, ainda nos dias de hoje, continuam-se a disciminar os deficientes, apesar de toda a informação disponível ... !!
Mas algumas mentalidades têm mudado a um ritmo lento, porque mudar não é fácil ... !!
E talvez no futuro haja menos discriminação ou quase nenhuma ... !!
Até lá, teremos q lutar com unhas e dentes, para q sejamos tratados como pessoas normais, com apenas algumas diferenças, mas que isso não nos impeça de sermos tratados como normais ... !!
Como ??
Através de: campanhas de sensibilização, testemunhos, blogs e artigos sobre esses assuntos, reclamações, ...
inclusão
Penso que não existe inclusão. Há tentativas de incluir, mas a escola é preparada para um perfil específico de pessoa: branca, sem nenhum problema de aprendizagem, sem deficiência... Estamos ainda na dependência da sensibilidade dos diretores e professores. Sensibilidade é fundamental num ser humano, ninguém discute isso. Mas a educação é um direito garantido a todos pela constituição. Independe de sensibilidade nem boa vontade. É questão de direito. Apesar disso, acredito na educação, porque as pessoas não agem dessa forma por maldade, mas por ignorância. A sociedade civil organizada em associações, ONGs têm que continuar sua luta pela formação e informação das pessoas. É necessário desconstruir muitas concepções derivadas do senso comum, desmitificar muitas idéias. É necessário criar ações, estratégias que levem a sociedade a enxergar a pessoa, o ser humano, não o que lhe falta, sim porque as lógica da falta prevalece.
Penso que as Universidades, nos cursos de graduação dos cursos de licenciatura precisariam oferecer mais suporte técnico e conhecimento sobre a área. Vejo que é um semestre apenas de educação inclusiva ministrado por professores que tem apenas o conhecimento teórico.