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Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

Nona Lição de Áudio-descrição: O Mínimo que o Tradutor Visual Deve Saber Como Empregar em Suas Áudio-descrições

por Francisco Lima

Prezados,
Outro dia assisti a um filme com "audiodescrição", dessas que passam na Globo. Fiquei atônito! Mas, disso falarei em post próprio. Ocorre que as mínimas diretrizes esperadas para uma áudio-descrição não foram observadas, tendo o "audiodescritor" revelado o "assassino", já na primeira vez que ele apareceu, tendo descrito coisas que a imagem não mostrava etc. Coisa, assim, de padrão Globo de "áudio-descrição.
Na lição abaixo, trago alguns dos elementos que discutimos em nosso curso de áudio-descrição. Sei que não bastam as diretrizes, quer dizer, sei que não basta ler as diretrizes, é preciso que se as entenda e, sobretudo, que se as coloque em prática, todavia, elas aqui seguem para dar um norte aos caros leitores deste blog.
Obrigado por acompanharem,
Francisco Lima
Curso de Áudio-descrição Imagens que Falam
Princípios fundamentais

Diretrizes para Áudio-descrição e Código de Conduta Profissional para áudio-descritores baseados no Treinamento e Capacitação de Áudio-descritores e Formadores dos Estados Unidos 2007-2008.
União em Prol da Áudio-descrição
“Descreva o que você vê”
• Esta é a primeira regra da descrição: o que você vê é o que você descreve.

• Você vê aparências físicas e ações; não vê motivações, ou intenções.

• Nunca descreva o que você acha que vê.
“Descreva o que você vê”

• Nós vemos “Maria cerra os pulsos.” Não vemos “Maria está com raiva” – ou pior: “Maria está com raiva de João.”

Elementos-chave da trama

• Elementos-chave da trama como: pessoas, locais, ações, objetos, fontes sonoras incomuns (as não mencionadas no diálogo, nem auditivamente identificáveis pelo espectador) devem ser descritos.
Elementos-chave da trama

• Concentre-se no que for o mais significativo e menos óbvio do diálogo, ou de outra informação de áudio.

Menos é mais

• A áudio-descrição não é um comentário contínuo. Os espectadores devem ter a chance de ouvir as emoções, nas vozes dos atores e na tensão dos silêncios entre os personagens.
Descreva objetivamente

• Permita aos ouvintes formarem suas próprias opiniões e tirarem suas próprias conclusões. Não editorialize, não faça inferências, não explique, não analise, nem tente “ajudar” de, algum modo, os ouvintes.
Descreva objetivamente

• Use apenas adjetivos e advérbios que não ofereçam juízos de valor e que não sejam eles próprios sujeitos à interpretação.
Descreva objetivamente

• Ao descrever tamanhos, arredonde para o número mais próximo, de sorte a oferecer aos ouvintes números que sejam mais fáceis de ouvir e compreender.
Descreva objetivamente

• Não acrescente “em torno de” ou “aproximadamente” para qualificar as dimensões estimadas – isto apenas sobrecarrega o texto com excesso de palavras, o que dificulta a compreensão.

Descreva objetivamente

• Use a primeira pessoa quando o diretor houver criado um ponto de vista de “primeira pessoa” como um meio de incluir a audiência. Esta sensação é parte da experiência dos membros videntes da audiência, e deve ser compartilhada com os membros ouvintes.
Descreva objetivamente
• Diga:

• “Ela se volta para nós” em vez de “Ela se volta para a audiência.”

• “A luz do flash dele brilha em nossos olhos.”
Descreva objetivamente
• O mesmo se aplica à descrição de filmes e vídeos:

• “o tubarão nada em nossa direção,” não “o tubarão nada em direção à câmera”

• ou “nós nos movemos através da floresta” em vez de “a câmera se move através da floresta.”

Permita aos usuários ouvirem o diálogo
• Eles querem ouvir a apresentação primeiro, e a descrição depois. O diálogo está contando a história e tem de ser ouvido.

• Esta regra é quebrada apenas quando a confusão por omitir a áudio-descrição for maior do que manter a integridade do diálogo.
Censura

A censura é injusta com o material e com os ouvintes
Censura
• Áudio-descritores que censuram as informações por causa de seu próprio desconforto faltam com o seu público.

• Os áudio-descritores têm de transmitir as informações sobre nudez, atos sexuais, violência etc.

Censura
• Os ouvintes devem saber tudo o que está visualmente disponível às pessoas que enxergam.

• Se um áudio-descritor acreditar que descrever um certo material lhe fará sentir-se mal, ele não deve aceitar o trabalho.

Linguagem Consistente

• Use linguagem apropriada para os ouvintes.

• Programas infantis devem usar vocabulário adequado para aquela faixa etária.

Linguagem Consistente

• Faça todo esforço para pronunciar as palavras adequadamente – nomes de atores, diretores e nomes dos designers, nomes dos personagens, dos objetos e lugares.

Linguagem Consistente

• Uma vez que o áudio-descritor tenha estabelecido um nome para personagens, locais, objetos etc, deve sempre usar aquele mesmo nome.

Linguagem Consistente

• Nem todos os ouvintes entenderão gírias, coloquialismos, e termos regionais.

• Use-os somente dentro do contexto da apresentação.

Linguagem Consistente
• Use verbos vívidos.

• As pessoas frequentemente “andam”, mas elas também andam a furta-passo, cambaleiam, arrastam os pés, saracoteiam e vagueiam.

• Escolha a palavra que mais se adeque à ação.
Linguagem Consistente

• Use pronomes cuidadosamente. Se houver apenas uma mulher na cena, então o “ela” é adequado. Se houver mais de uma pessoa, nomes próprios serão mais claros.

Linguagem Consistente

• Na áudio-descrição em português, deve-se atentar, também, para o uso do pronome seu(s) e sua(s), a fim de evitar ambiguidades e imprecisões.

Linguagem Consistente

• Descreva as cores para ajudar pessoas com baixa visão a localizarem o que está sendo descrito e para compartilhar o “significado” emocional da cor na produção.
Linguagem Consistente

• Evite, contudo, palavras para cores não usuais: “azul ciânico”, “cerúleo”, “cor parda”, “castanho avermelhado”.

Etnicidade e nacionalidade

• Membros da audiência vidente não veem a raça de um personagem, etnicidade ou nacionalidade; em vez disso eles veem a cor da pele, e características faciais.
Etnicidade e nacionalidade

• Destarte, o áudio-descritor deve simplesmente descrever a cor da pele de cada pessoa e, se o tempo permitir, características faciais.

Descreva a partir da perspectiva dos ouvintes
• As surpresas devem, idealmente, vir ao mesmo tempo para todos os membros da audiência.
Descreva a partir da perspectiva dos ouvintes

• Se as aparências dos personagens ou ações, identidades ocultas, vestimentas, piadas visuais, efeitos sonoros etc. acontecerem como uma surpresa para a audiência vidente, não estrague a surpresa para os ouvintes da áudio-descrição, descrevendo-as e revelando antecipadamente informações.
Boas técnicas fazem a áudio-descrição
• Tenha certeza de que descreveu as entradas e saídas – quem e onde – especialmente quando não houver nada audível para indicar que alguém entrou ou saiu de cena.
Boas técnicas fazem a áudio-descrição

• Use o nome do personagem apenas quando a audiência vidente já o souber. Quando um personagem desconhecido aparecer, refira-se àquela pessoa por uma característica física usada na descrição inicial dele/dela até que o nome seja revelado.

Permita que o próprio material forneça as informações

• Se um personagem estiver prestes a chamar pelo nome um outro personagem que acabou de entrar, ou a referir-se a um local por nome, o áudio-descritor não precisa dar esta informação.
Permita que o próprio material forneça as informações

• Guie as pessoas com baixa visão dizendo a localização para a qual elas devem focalizar.

• Procure harmonizar a áudio-descrição ao ritmo, energia e volume do material.

Permita que o próprio material forneça as informações

• Permita que a apresentação dê o tom e ritmo da descrição, lembrando que a performance, não o áudio-descritor, deve ser o foco.

• A linguagem e transmissão para descrever uma cena de luta devem diferir daquela usada para descrever uma cena de amor.
Permita que o próprio material forneça as informações

• Numa exibição onde os personagens vigorosamente fumam cigarros para enfatizar a sua tensão, descreva a primeira ocorrência como “Maria e João acendem cigarros, inalam e exalam profundamente.”
Permita que o próprio material forneça as informações

• Em ocorrências posteriores, visto que os ouvintes já entendem o padrão do comportamento deles, diga simplesmente: “fumando novamente.”