Em postagem que fizemos na www.rbtv.associadosdainclusao.com.br , seção Notícias, apresentamos artigo de um médico americano que é surdo, o qual não aceitou os muitos "nãos" que lhe disseram, tentando incapacitá-lo, quando a deficiência auditiva dele não o tornava incapaz, embora lhe trouxesse limites.
Em comentário que recebi, Fabiana traz a reflexão que abaixo transcrevo e que pode ser analogamente pensada para as pessoas com deficiência visual:
Será que as pessoas com deficiência visual precisam de uma escola especial para aprender? Precisam elas de uma classe especial? Precisam especialistas em cegos? E que especialidades teriam esses "Especialistas"?
Parece mais que se quer fazer indústria da deficiência, quando se pode aprender com todos, entre todos, mesmo porque, o Braille não é um bicho de 7 cabeças, apenas uma fonte de 6 pontos.
Fiquem com a reflexão dela, então.
"Olá, Francisco!
Li alguns textos da Revista Brasileira de Tradução Visual na www.associadosdainclusao.com.br . Parabéns a você e a todos/as que contribuem para a existência deste espaço de aprendizagem.
Concordo com você , quando afirma que não aceitar "NÃO" como resposta é dizer sim para as possibilidades. Nos últimos tempos, tenho visto muita gente boa fazer uso do discurso da filosofia inclusivista para emitir "NÃOS" que defendem, entre outros fatos, uma educação especializada em deficiências, não em pessoas.
Vou contar-lhe um fato vivenciado nessa semana: uma professora defendia, veementemente, diante dos/as colegas, em um encontro de formação continuada, que a luz de seus estudos efetivados ao longo dos últimos dois anos e meio, acreditava que estamos, felizmente, caminhando para a organização de salas com apenas alunos surdos, cujos professores também serão apenas profissionais com deficiência auditiva e que esta é a alternativa buscada pelos surdos de Pernambuco. A professora afirmou que seu discurso estava esteiado em pesquisa qualitativa, de campo, realizada em vários municípios, tendo como partícipes: pais, professores e pessoas com deficiência auditiva.
Seria a ciência, a produção de saberes acadêmicos a base para o não a escola inclusiva, como afirma a professora-pesquisadora?
Na ocasião, perguntei se ela realmente acreditava que as pessoas deveriam ser selecionadas para lecionarem em uma determinada escola e turma tendo como parâmetro a deficiência auditiva. E ainda, se a escola nesta perspectiva, polar a política educacional do estado, tinha a autonomia para materializar o que ela ( a professora) sinalizava a partir de seu discurso e propunha como alternativa para uma educação de qualidade.
A discussão, após horas de argumentação e contra-argumentação, foi acirradíssima e profissionais intérpretes de língua de sinais, que dividiam suas opiniões aprioristicamente, demonstraram compreensão acerca do fato de não podermos mais alimentar apartheid, que as pessoas não devem ser agrupadas, classificadas, percebidas apenas porque possuem uma deficiência.
Os professores das disciplinas curriculares emudeceram, confusos ainda, solicitaram um segundo momento para debate, estudo do tema, reflexão.
Penso, portanto, o quanto temos de dizer NÃO quando o assunto em tela são atitudes que se sustentam no discurso de que "é o melhor para a pessoa com deficiência".
Isto me faz lembrar de velho ditado judeu, citado num livro de Sanlo (1998) : If not me, who? If not now, when?
Se o momento é o agora, então, convidei meus colegas de trabalho para refletirmos sobre nossas contribuições para a existência de possibilidades educacional-inclusivistas para a pessoa com deficiência, primeiro na nossa sala de aula, em nosso plano de ensino, em nossa escola ...
Há dias que são mais difíceis, parece que a gente rema contra a correnteza. Mas como estou ciente de que é no cotidiano que nossa busca por uma sociedade mais justa é materializada em discurso e ação, prossigo, buscando ser ,em algumas situações, a zarabatana para o despertar da criticidade, da humanização e da mudança..."
Fabiana Tavares
-
Partilhe no Facebook
no Twitter
- 1940 leituras