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A luta do ator Nivaldo Oliveira para vencer a deficiência visual

por Lerparaver

Um misto de sonho, persistência e coragem resume a personalidade de Nivaldo Oliveira dos Santos, 31 anos. Ele é deficiente visual desde os seis anos de idade e já passou por 28 cirurgias na tentativa de recuperar a visão. Para este cidadão não existem barreiras e sim conquistas. Ele é universitário, ator, pai, esposo e acima de tudo um amigo para todas as horas.

Como foi o processo da perda da visão?

Na época residia em Cuiabá, como todas as tardes saí para vender pão. No caminho, encontrei um amigo que me apresentou um brinquedo diferente, era um revólver de madeira, capaz de atirar bombinhas. Combinados a diversão para a noite, mas, não esperei até o momento para comprar as munições e quando fui brincar pela primeira vez ocorreu o inesperado: As bombinhas explodiram no meu rosto. O olho direito foi totalmente arrancado e o esquerdo ficou muito debilitado.

Foi complicado aprender a viver no escuro?

A adaptação foi difícil, mas como não aceito dificuldades enfrentei a deficiência e não a coloquei como um obstáculo em minha vida.

Houve algo especial que te deu forças?

A vontade de estudar nunca me deixou desistir. Desde que me lembro sonhava em aprender muito. Quando perdi minha mãe, aos 7 anos, fui morar em Campo Grande com minha avó. Ela achava que o estudo iria prejudicar o resto da visão que me restava. Em um dia conheci uma senhora que me abriu as portas para a escola. Foi o começo da minha realização pessoal. Meu filho é outra inspiração. Quero ser um exemplo para ele e quebrar o paradigma de que deficiente visual não é capaz de ser feliz por completo.

Qual a maior dificuldade do deficiente visual?

A mobilidade nas cidades. É muito difícil chegar em certos lugares. O mercado de trabalho é outra barreira. As pessoas reclamam de falta de qualificação. Eu sou acadêmico de Administração, porém não encontro estágio. Quando percebem que sou deficiente visual me descartam.

Como o teatro entrou em sua vida?

Foi por acaso. Estava no Instituto dos Cegos quando fiquei sabendo que existia a intenção de montar um grupo só de deficientes visuais. Essa foi a oportunidade que eu esperava, era um sonho de infância, que se realizava e foi melhor do que eu esperava. Hoje sou reconhecido nas ruas e me orgulho de atuar.

Como você analisa as pessoas que sentem pena da sua deficiência?

Primeiro recriminava, hoje entendo que elas não têm conhecimento da minha capacidade e deixo bem claro que não quero pena e sim companheirismo, amizades e parcerias.

Como é seu dia-a-dia em casa?

Como minha esposa também é deficiente visual, tudo deve permanecer no mesmo local sempre. Esse é o segredo para manter a ordem em casa. Somos como qualquer outra família: Fazemos nossa comida, organizamos a bagunça, lavamos a louça, preparamos o café e outras coisas.

Há algum desafio que ainda não superou?

Tem! Como sou estudante de administração, sonho em administrar uma empresa e não vou desistir nunca.

Fonte: http://www.correiodoestado.com.br

Nota: contributo, via e-mail, de Pedro Afonso.