Invisuais assinaram o Cartão do Cidadão
autor
Lurdes Marques
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Foi com orgulho, e muita satisfação que seis deficientes visuais deslocaram-se, na tarde de ontem, ao Registo Civil da Póvoa de Lanhoso, para obterem o Cartão do Cidadão.
O acto, que para alguns é irrelevante, para os invisuais constituiu uma grande conquista. Durante cerca de um ano, o Artur, a Margarida, a Fátima, o Max, o Joaquim e o Ricardo aprenderam a assinar o seu nome. Para uns, foi aprender algo novo pois a cegueira acompanha-os desde nascença, e, para outros, foi o reaprender algo que já não faziam há muitos anos, desde que começaram a perder a visão.
Tudo isto só foi possível graças ao trabalho desenvolvido pela Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga, sedeada na Póvoa de Lanhoso. Ali, os deficientes visuais recebem apoio em várias áreas e praticam diversas actividades, de onde se destaca o goalball e a natação adaptada.
Através de uma régua, designada por guia de assinatura a negro, os invisuais, sob orientação da técnica Sandra Vieira, aprenderam a assinar o seu nome.
O trabalho, desenvolvido ao longo de um ano, deu frutos e os invisuais conquistaram mais uma etapa na sua vida, derrubando, passa a passo, as barreiras que vão surgindo ao longo do seu caminho, numa tarefa árdua e por vezes inglória.
Ontem, foi um dia de ale gria, partilhada por todos os presentes. Pela primeira vez, tal como foi referido no local, o Registo Civil da Póvoa de Lanhoso recebeu invisuais a solicitar o Cartão do Cidadão. A tarefa, um pouco mais demorada que o normal, contou com a excelente colaboração das técnicas ao serviço naquela repartição.
No final, o rosto de todos espelhava o orgulho que sentiam.
Sentimos orgulho em assinar
Fátima Agapito, residente em Brunhais, na Póvoa de Lanhoso, foi uma das utentes da Associação de Apoio aos Deficientes Visuais que marcou presença no Registo Civil da Póvoa de Lanhoso. De há alguns anos para cá, devido à doença, foi perdendo a visão e teve agora que reaprender a assinar. Tinha a certeza que ia conseguir. Agora faço assinatura sem ver, só com o apoio da régua, disse.
É triste chegar a qualquer sítio e ter que colocar o dedo, confidenciou o Ricardo Rocha, que reside em S. Martinho de Sande, no concelho de Guimarães. Foi em 2004 que Ricardo começou a perder a visão. Uma doença de nascença, aliada a uma queda no trabalho, atiraram este jovem, de 34 anos, para a cegueira.
Nós sentimos um certo orgulho de chegar a qualquer lado e assinar, mesmo sendo cegos, disse o Ricardo Rocha que sonha um dia ter um cão-guia.
Fonte, jornal correio do minho.
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