A pessoa atingida pelo glaucoma está frequentemente perante dificuldades que se lhe colocam no seu dia-a-dia. Na verdade esta doença para além da redução da visão, quer em acuidade quer pela diminuição do campo visual, traz consigo um inumerável leque de sintomas oculares que funcionam como obstáculos de vulto a uma normal vida quotidiana. Um desses sintomas é a dificuldade de habituação perante a mudança de luminosidade. Isto é, de uma luminosidade forte para um ambiente de sombra ou, pelo contrário, da sombra para a luz intensa. Nestes casos o portador da doença necessitará de aguardar um pouco (um ou dois minutos ou mesmo um pouco mais) na zona de transição para que o sistema ocular se adapte à diferença de luminosidade.
Estas situações como muitas outras não são facilmente compreendidas, ou apreendidas, pelos nossos semelhantes que não tiveram a infelicidade de serem acometidos por esta doença.
Permitam-me que este propósito vos relate um episódio em que me vi envolvido numa estação de Metro.
Na tarde de um luminoso dia de Verão desci as escadas de acesso aos corredores da estação de Metro do Jardim Zoológico, em Lisboa. Como de costume, desci as escadas banhadas pela luz do Sol e quedei-me na sombra, junto à parede, no início do túnel de acesso à gare. A diferença de luminosidade sol/sombra impedia-me de prosseguir pois o túnel deparava-se-me totalmente escuro. Enquanto aguardava pacientemente a habituação a esta nova luminosidade comecei a ouvir as vozes dos muitos vendedores ambulantes que, em crescendo, insultavam alguém. Apercebi-me pouco depois perante a aproximação ameaçadora dos vendedores que esse alguém era eu. E pelos insultos que me eram dirigidos também me apercebi que os vendedores me confundiam com algum agente policial ou fiscal das actividades económicas. Tentei explicar a minha situação mas eles não queriam ouvir e, perante a sua agressividade e ódio, rendi-me à minha impotência e retirei-me apressadamente.
De algum modo tenho hoje, em boa parte, resolvido o problema da dificuldade da habituação à mudança de luminosidade com a utilização de óculos escuros.
Durante alguns anos foi-me dito pelo meu oftalmologista que os óculos escuros não eram recomendados para portadores de glaucoma. Porém, outros oftalmologistas com quem me tenho consultado nos últimos anos referem que, pelo contrário, os óculos com lentes escuras de boa qualidade constituem-se como importantes auxiliares para os glaucomatosos.
Deste modo, actualmente coloco os meus óculos escuros um pouco antes da aproximação à estação do Metro (ou de um restaurante, ou de uma loja ou outro local sombrio) e retiro-os já no seu interior. Ao sair, coloco de novo os óculos previamente antes de enfrentar a luminosidade mais intensa do exterior.
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Comentários
Pode ser o início
Olá, ótimo post.
Você vê só que coisa, eu perdi a visão aos 20 anos, mas acho que o glaucoma já vem progredindo desde os 12, porque foi mais ou menos nessa idade que a fotofobia, o lacrimejar, os olhos vermelhos e a dor de cabeça começaram... estranho que para a família isso não passava de uma mania adolescente de boné e óculos escuros... mais estranho é que foi nessa época que a minha visão começou a dar sinais de baixa nitidez que tentaram corrigir com lente... fazer o que né...
Bem, como diria um amigo meu, o jeito agora é cantar a bola para que outros não deixem a oportunidade passar, ou, nesse caso, que não cometam o mesmo erro.
Abraços.
Olá Michelle!
Olá Michelle!
Eu fiquei muito assustada quando os meus médicos me disseram que eu tinha a tensão ocular alta nos olhos. Só que na altura eu não percebi, fui comprar as gotas que ele me receitou, quando cheguei à farmácia, a pessoa que me atendeu disse-me que eram gotas para o glaucoma...! Fiquei aflita naquela hora, sem saber o que fazer, pois fui apanhada de surpresa!
Deitei as gotas nos olhos durante 2 meses, mas comecei a notar que me estavam a fazer muito mal. Comecei a andar de óculos escuros na rua, mesmo quando não havia sol, pois a claridade fazia-me confusão e usava óculos também em sítios onde havia muita luz artificial, como Shoppings...etc! Enfim...essas gotas só vieram piorar a minha situação. Deitei-as ao lixo, marquei uma consulta numa clínica perto da minha residência e o médico disse-me que a tensâo desceu demais. Ele não entende como me foram receitar umas gotas daquelas, assim, sem mais nem menos! Agora, no mês de Dezembro vou ao Porto novamente à clínica, para fazer novos exames. Já não basta ter nascido cega do olho direito e ainda agora ter glaucoma, Deus me livre, seria demais, né?
Beijos!
A pressão ocular elevada e o glaucoma
Olá Céu,
A pressão ocular elevada, só por si, não significa necessariamente que a pessoa tem glaucoma. A pressão ocular alta na medida em que pressiona o nervo óptico e dificulta a irrigação sanguinea das suas células constitui um factor de risco de glaucoma. No entanto, há milhares de pessoas, sobretudo a partir dos 40 anos, com pressão ocular elevada e não têm glaucoma. O que importa, isso sim, é que a pressão seja vigiada para não se elevar a níveis exagerados. Para isso o tratamento mais habitual é o do uso de colírios. Julgo que não há razão para ficar assustada mas sim atenta e vigiada por um especialista.
Saudações amigas
Médicos, vai entender
Olá, Céu.
Pois é, até encontrar uma médica que conseguisse um prognóstico que funcionasse comigo, já fui a muitos que pisaram na bola. Pelo o que eu pude observar dos proficionais com os quais consultei e pelo que já pesquisei na internet, não basta medicar o paciente simplesmente no primeiro diagnóstico da pressão alta, é preciso levar em conta o histórico [como transplante de córnea que eleva a pressão na maioria das vezes], também é importante fazer curvas [que são plotadas com várias aquisições] periodicamente para observar a mudança de pressão durante o dia.
Não duvido que a sua pressão tenha se elevado, ou que se eleve de vez enquando, mas sim por causa da sua baixa visão que obriga você forçar mais a vista boa, e não porque você está desenvolvendo um glaucoma.
Isso pra ser objetiva, é claro.
Agora, francamente, por causa da minha experiência de vida... eu não considero a medicina nem um pouco exata... pra ser mais franca ainda... trata-se muito mais de um processo de tentativa e erro como um jogo de azar do que uma ciência. O jeito é persistir em ficarmos bons e esperar que os processos se desenvolvam.
Abraços, menina radiante!