Curiosamente ou nnão, a parte mistério do pequeno livrinho que ando a tentar escrever já desde o mês de Dezembro do ano passado surge-nos no seguimento daquele pequeno excertozinho que já por aqui vos tinha disponibilizado logo no primeiro post do meu blog. Para aqueles que já não se recordam desta minha publicação e para tantos outros que podem estar hoje pela primeira vez a ler estas minhas aventuras pelo mundo da escrita que de vez em quando decido partilhar convosco através do lerparaver, deixo então as palavrinhas mágicas que a tia da protagonista deste meu livro proferiu breves instantes antes de ter começado a apresentar-nos, tendo por base um pequeno diálogo que entretanto desenvolve com esta última, o essensial daquilo que será o factor mistério em torno do qual se irá desenrolar grande parte desta narrativa que ando a tentar contar-vos através do meu pequeno livrinho quase em vias de ficar finalmente terminado:
Inês dirigindo-se à sobrinha Carlota: "É a mais pura das verdades, querida sobrinha! Por mais que até nos esforcemos em delinear planos para as nossas próprias vidas e algumas vezes também para as dos outros, há sempre qualquer força que eu ainda não consegui entender muito bem de onde é que virá e relativamente a ela, somente me resta a certeza absoluta de que nos consegue transcender em absoluto. É então através de todos os contratempos que de vez em quando se lembra de colocar no nosso caminho que nos alerta precisamente para esta realidade que Ricardo Reis nos descreve através deste pequeno excerto que por aqui colocaste deste seu lindíssimo poema que eu pessoalmente adoro do fundo do meu coração, de facto não adiantamos nada com certos comportamentos ou atitudes que adoptamos perante os outros ou até mesmo somente para connosco próprios, acabando no fim de contas a nossa vida por terminar exactamente como a do mais comum dos humanos termina: Não regressando jamais nem deixando qualquer recordação nossa que seja àqueles que ainda por cá ficam a pensar que a gozam, mas que no fundo acabarão também eles por ser esquecidos no futuro por tantas outras gerações vindouras à semelhança daquilo que previamente já tinha acontecido no nosso caso! - Disse Inês não denotando no entanto quaisquer sinais de mágoa na sua vóz à medida que ia reflectindo na presença da sobrinha sobre este pequeno excerto do poema que esta última retirara de um livro de literatura portuguesa que Teresa lhe oferecera muito recentemente - Eternos no verdadeiro sentido da palavra são somente aqueles que nos conseguem deixar verdadeiras relíquias do seu património através da escrita, da pintura e de tantas outras artes e hoje parecemos estar aqui perante um desses exemplos enquanto vamos reflectindo com a ajuda uma da outra sobre estas palavras que Fernando Pessoa tão inteligentemente nos vem dedicar através da vóz do seu heterónimo Ricardo Reis e mesmo esses... Quem é que nos garante que daqui a um ou dois séculos não caíram também já no esquecimento da generalidade da população sendo substituídos por tantos outros autores, pintores ou adeptos convictos de tantas outras artes que entretanto foram aparecendo e levantando a sua vóz bem mais alto do que todos estes que agora veneramos? Por esta razão que já julgo ser mais do que óbvia e por muitas mais hoje não posso deixar de concordar de forma alguma com estas palavras com que sem querer vieste alterar por completo a forma como comecei a encarar este meu dia logo que acordei penso que para aí uma hora depois de ter conseguido pegar finalmente no sono: Nunca devemos tentar alterar por nós próprios o curso natural que a nossa vida ou até mesmo a dos outros pretende seguir seja de que forma for, somente Deus, o destino ou qualquer outra força que nos transcende e pura e simplesmente desconhecemos é que têm esse poder e depois se formos a ver bem as coisas de acordo com este poema de Ricardo Reis, não é também assim que os rios habitualmente procedem como forma de conseguirem finalmente chegar ao mar? Passando sempre sossegada e silenciosamente pelo seu curso sem se deixarem no entanto prender por nada nem por ninguém? Então porque é que nós humanos teimamos sempre em querer reagir de forma bem diferente daquela que eles adoptam permitindo que os nossos amores, ódios, paixões, invejas, entre tantos outros sentimentos falem bem mais alto que a nossa própria vóz, impedindo-nos deste modo de sorrirmos perante a vida somente porque sim, porque nos demos ao luxo de nos posicionarmos perante ela quase como se de um verdadeiro rio nos tratássemos, passando por todas as adversidades que eventualmente até possa vir a colocar no nosso caminho tão sossegada e silenciosamente quanto possível? Não seríamos todos bem mais felizes se optássemos por esta via em detrimento de tantas outras que mais nada conseguem acarretar para cima dos nossos ombros a não ser pensamentos e sentimentos negativos que normalmente até costumamos dirigir àqueles que nos são mais próximos e não tanto a outras pessoas que mal conhecemos? Eu pelo menos acho que sim e não poderia concordar mais com Ricardo Reis quando nos vem dizer através deste seu poema que quanto mais silenciosa e sossegadamente passármos pela nossa própria vida, tanto menos os outros sofrem no momento em que partírmos para outro mundo porque pura e simplesmente não guardam memórias significativas relativamente à nossa pessoa que os movam e cheguem mesmo a arder-lhes no coração ou até a magoá-los de um certo modo!".
É então a partir daqui que o tal "factor mistério" da minha historinha como ainda há pouco o apelidei se começa a desenrolar, fica então o diálogo que Carlota desenvolve com a tia no dia que se segue à celebração do seu 18º aniversário a comprovar isso mesmo e de resto... Só posso mesmo prometer-vos que as minhas publicações relacionadas com o primeiro livrinho que tentarei editar futuramente não se irão ficar por aqui, pois espero ir-vos presenteando sempre que me for possível com mais alguns excertozinhos directamente retirados desta obra ainda em vias de desenvolvimento apesar de já se encontrar a passos largos do final! Termino então com o diálogo de Inês e Carlota, acho que isto sempre será uma boa forma de vos dar um pouquinho mais de descanso no que se refere à leitura tantas vezes meio assustadora que vos tenho proporcionado nestes últimos tempos ao disponibilizar-vos por aqui os seis primeiros capítulos do livro "O Aprendiz do Mago" de Joseph Delaney.
"- Bem, que inspiradas que nós estamos hoje! Nem parece que acordaste cedíssimo como me revelaste há bocado e se bem conheço a família que temos, quase que apostava que os meus pais e secalhar até mesmo a Aline e os teus três irmãozinhos homens só te devem ter deixado pregar olho muito mais tarde que a meia-noite ainda que eu tenha adormecido mesmo sem que antes tivesse descido para partir o meu bolo de aniversário na vossa companhia e dos restantes convidados! - Disse Carlota optando no entanto por não confessar à tia que agira propositadamente quando decidira que não iria comparecer ao momento para o qual Luísa tinha previsto que o seu bolo de aniversário fosse partido na presença dos convidados como forma de castigar a mãe por deliberar praticamente tudo o que à sua vida dizia respeito sem a consultar previamente a propósito dessas decisões. Inês, que já demonstrara alguns vestígios de seriedade no seu rosto logo a partir do primeiro instante em que entrara no quarto da sobrinha, não conseguiu conter muito mais tal estado de espírito perante estas palavras que a mesma acabara de pronunciar. As lágrimas começaram assim a escorregar-lhe pelos olhos desde logo, pois finalmente entendia que precisava forçosamente de desabafar com alguém acerca de algo que lhe acontecera muito recentemente e aquele parecia ser o momento certo para o poder fazer. A história do súbito desaparecimento de Lisa da festa que assinalava o 18º aniversário de Carlota incomodava-a agora mais do que nunca visto que passara a noite praticamente inteira acordada a pensar no enorme erro que havia cometido quando decidiu participar do plano que a irmã Luísa e o namorado de Aline previamente tinham delineado como forma de castigar a jovem por algo que nem sequer tinha feito e ela suspeitava mesmo que Marco, se realmente o fizera, também não partilhara na sua presença tal facto que desta forma lhe era completamente desconhecido. O seu maior receio consistia então naquele momento em encontrar um modo algo suave de acordo com o qual pudesse tentar expôr tudo isto perante a sobrinha sem que ela no entanto a condenasse por ter cometido uma brutalidade daquelas que certamente iria estragar pelo menos parte da vida da melhor amiga se esta teimasse como sempre disse pretender fazer em seguir para a frente com aquela espécie de aventura em que se viu forçada a mergulhar de cabeça, mas corajosa como era, logo optou por por dar início à história da melhor forma que conseguiu. Para começar, posicionou a sobrinha no pedido que Luísa lhe fizera durante a hora de almoço da véspera para que a acompanhasse até à fábrica da família no sentido de se reunir com ela, com Tó e com o marido a analisar alguma papelada de última hora com a qual se haviam deparado durante a manhã quando se reuniram também com os pais de Marta, Teresa e Ana Maria, levando-a isto ao passo seguinte de toda esta história que deveria ser bem mais complicado de abordar na presença da condessazinha de Gouveia tendo em conta que era amiga de Lisa e tudo aquilo acabava por envolver decisivamente o namorado desta última de forma bastante negativa. De acordo com as palavras de Inês, Luísa havia-lhe solicitado que estivesse presente naquela reunião, mas os motivos que a haviam levado a fazê-lo no fim de contas em nada pareciam ter a ver com a verificação da forma como as contas relativas à fábrica tinham evoluído nos últimos tempos como certamente Carlota se convencera que talvez pudesse acontecer, ou não tivesse a sua mãe feito alusão aos vastíssimos conhecimentos que a tia detinha no domínio das matemáticas logo depois de lhe ter endereçado este pedido. Muito pelo contrário, o que Luísa pretendia com a presença da irmã naquela reunião era tão pura e simplesmente que ela se concentrasse ao máximo nos números, sim, mas para elaborar uma listagem tão pormenorizada quanto possível de todos os materiais existentes no laboratório da fabrica que ainda não haviam sido utilizados. Entre frascos de álcool, enchofre, fragânsias, óleos essensiais, corantes, conservantes e tantos outros produtos químicos normalmente manuziados por parte dos funcionários por forma a poderem produzir os cosméticos que se encontravam na base de todos os negócios porque os condes de Gouveia eram responsáveis, Inês fizera então uma descoberta aterrorizante sobre a qual pretendia falar agora face à presença da sobrinha, sendo no entanto interrompida pelas seguintes palavras de espanto que esta acabou por proferir uito antes de ela pensar sequer na melhor maneira de lhe explicar os verdadeiros porquês que se escondiam por de trás o pedido que a irmã lhe fizera para ir com ela até à fabrica no decurso daquela tarde: - Que horror! Tiveste que contar aquilo tudo? Mas a que propósito, se nem sequer estamos em altura de balanços e nos encontramos ainda em pleno Verão a quase seis meses de um novo ano se iniciar? Aqui Inês estacou sem saber muito bem o que é que haveria de dizer. O momento decisivo parecia então ter chegado e agora não havia mesmo por onde se pudesse escapar! Quer quisesse ou não fazê-lo, já não havia margem de manobra para grandes escolhas, tendo assim optado por expôr perante a sobrinha de forma tão leve quanto possível as gravíssimas suspeitas que Tó, os dois condes de Gouveia e as suas esposas alimentavam relativamente ao namorado da sua melhor amiga e se prendiam com o desaparecimento de uma grande quantidade de produtos químicos do seio da fábrica que normalmente eram utilizados ao nível da produção dos cosméticos que mais tarde viriam a ser excoados para venda por parte da mesma. Segundo informações apuradas por via da análise detalhada que os pais e os tios de Carlota fizeram na companhia de Tó a toda aquela papelada que os levara a reunir-se em torno de uma mesa precisamente durante a manhã do dia em que a condessasinha de Gouveia assinalara o seu 18º aniversário, era exactamente há dois meses que tudo levava a crer que com a mesma quantidade de produtos adquiridos junto dos fornecedores já há alguns anos, se produzia muito menos cosméticos agora do que sempre havia acontecido até então. Face a esta evidência, Inês, sentindo que não poderia de forma alguma calar o seu desabafo, esforçou-se ao máximo por conseguir expôr tal realidade perante a sobrinha do modo mais subtil que julgava poder adoptar numa situação tão complicada como esta, questionando-a única e exclusivamente a respeito daquela tão evidente correspondência que parecia existir entre os inícios do mês de Junho quando Marco começara a trabalhar para a família Gouveia e o desaparecimento dos produtos químicos. Perguntou-lhe desta forma se assim de repente, não se conseguia lembrar de alguém que talvez até lhe pudesse ser algo próximo e havia começado a trabalhar com o seu pai algures durante o mês de Junho daquele preciso ano e a condessazinha de Gouveia, como era mais do que óbvio, não pôde deixar de pensar em Marco logo de imediato. Dois meses era nem mais nem menos do que o intervalo de tempo que separava o momento em que o namorado de Lisa começara a trabalhar como armazenista na fábrica dos Gouveia do dia em que ela assinalara as suas dezoito primaveras, mas não... Não podia nem queria de forma alguma acreditar que isto lhe estivesse a acontecer! Era verdade que não conhecia Marco a 100% visto que ele também só tinha começado a namorar com Lisa há pouco mais de seis meses e tinham sido raríssimas as ocasiões em que se haviam encontrado os três quanto mais não fosse para irem tomar algum café, mas daí até tentar convencer-se a si própria de que o jovem poderia afinal de contas não passar de um ladrão de produtos químicos vá-se lá saber a que propósito e talvez até tivesse sido isso que o levara a aproximar-se da sua melhor amiga como forma de um dia mais tarde se poder vir a infiltrar também dentro da fábrica de cosméticos que os condes de Gouveia dirigiam! Não, tudo isto era mau de mais tanto para ela e para a sua família que sempre tinham acreditado nas boas intensões daquele funcionário e por isso o acolheram como tantos outros dentro da fábrica após ter concluído os estudos, quanto para Lisa se estes seus pensamentos mais negativos que de repente começou a delinear em relação a Marco correspondessem mesmo à realidade. A sua melhor amiga não merecia de forma nenhuma que algum rapaz, por mais bonito, charmoso e apaixonante que até pudesse ser, se aproximasse dela tendo como única e exclusiva finalidade para o fazer o encurtamento das distâncias que até então ainda o separavam da família Gouveia que era nem mais, nem menos do que a detentora de uma fábrica de cosméticos que certamente não lhe era totalmente desconhecida somente pelo nome tendo em conta que residia a escassos vinte quilómetros do local onde a mesma ia executando diariamente as suas funções. mas ao mesmo tempo... Como é que Marco poderia saber que Lisa e ela se conheciam sendo aliás as melhores amigas já desde que ambas tinham dez anos e residiam exactamente na mesma rua onde ainda agora se erguia o palácio de Luísa e Rafael? Não era nada disso certamente, ou pelo menos a jovem queria acreditar que não. Lisa confidenciara-lhe ainda há pouco que tinha conhecido Marco por mera obra do acaso enquanto dançavam uma música mais romântica num baile de máscaras do qual participaram alguns dias antes do Carnaval na escola de profissional agrícola que o jovem frequentava e para onde ela acabara por ser atraída por Rute e pelo seu namorado Diogo, dois amigos com quem partilhara toda a sua infância também ao lado de Carlota e que tinham optado por frequentar o ensino secundário precisamente neste mesmo estabelecimento de ensino um pouco mais centralizado no domínio da agricultura. Depoisdaí até se apaixonarem um pelo outro... Foi quase instantâneo, pelo menos em conformidade com as palavras de Lisa, ainda que só tivessem voltado a conversar sobre isso cerca de um mês mais tarde quando se voltaram a encontrar novamente por acaso exactamente naquela mesma escola, quando Lisa para lá tinha ido passar uma das suas tardes livres de Quarta-feira a estudar para os exames nacionais do 12º ano com a ajuda de Rute, que sem qualquer margem para dúvidas era bem mais entendida no mundo das ciências naturais do que ela, sendo-lhe portanto indispensáveis os seus conhecimentos para que pudesse obter a melhor nota possível no exame de Geologia. Não devia então ser nada daquilo em que Carlota pensara inicialmente porque se fosse, Marco não teria esperado que a adolescente por quem dizia ter-se apaixonado verdadeiramente logo à primeira vista regressasse à escola profissional agrícola onde ele estudava por forma a encontrar-se com Rute ou até mesmo com Diogo e tê-la-ia procurado de imediato poucos dias depois de terem dançado juntos durante aquele baile de máscaras que se realizara na época do Carnaval! Um mês era, de acordo com toda a pureza e inocência com que os seus pensamentos entretanto se iam começando a desenhar uns atrás dos outros, tempo a mais para que alguém pudesse suportar a enorme distância que se intrepunha entre si e qualquer outra pessoa com a qual pretendia chegar à fala nem que fosse somente mais uma vez como forma de poder sacear com algum apoio da sua parte um certo desejo ou ambição que transportava ao nível do seu ser; portanto Lisa certamente não se tinha deixado enganar por Marco e ela também não tinha nada que estar para ali a inventar filmes de terror no seio dos quais a melhor amiga e o namorado eram as personagens principais até porque bem mais do que isso, interessava-lhe tentar perceber o que é que se tinha passado na sequência de todas aquelas suspeitas que recaíam sobre o jovem e se relacionavam com o desaparecimento de algumas quantidades excessívas de produtos químicos da fábrica por que a sua família era responsável. Na sua opinião, o súbito desaparecimento da melhor amiga mais ou menos a meio da cerimónia que assinalava o seu 18º aniversário estava certamente interligado a toda essa história e daí que tenha dispensado todo e qualquer recurso que até poderia ter feito em termos de meias palavras perante a tia quando quase de um momento para o outro, começou a bombarde´-la com todas as ideias e questões que lhe foram surgindo em mente no seguimento da revelação que ela lhe fizera ao dizer que era precisamente sobre Marco que Luísa, o cunhado Rafael e os pais de Teresa, Marta e Ana Maria depositavam toda e qualquer culpa relativa ao desaparecimento de certos produtos químicos do seio da fábrica nos últimos dois meses. - Mas não pode haver para aí um engano qualquer? Não serão antes os fornecedores que por algum motivo, nos começaram a enviar menos mercadorias para a produção e os meus pais nem sequer deram por isso de tão confiantes que sempre têm estado relativamente a eles? Vais ver que se calhar até foi isso! Os meus pais e os meus tios não devem ter reparado nas grandes discrepâncias existentes entre as quantidades de produtos que os fornecedores antigamente depositavam nas nossas mãos e as que agora nos enviam ainda que ontem de manhã se tivessem reunido para analisar alguma papelada relativa às contas da fábrica como normalmente costumam fazer sempre que se conseguem juntar os quatro aqui pelo palácio e os armazenistas... Olha, sei lá! Se calhar até já se tinham apercebido de que nestes últimos dois meses a fábrica andava a receber muito menos produtos do que por exemplo no princípio do ano, mas talvez tivessem pensado que era mesmo suposto que isso estivesse a acontecer! Afinal de contas podiam ter sido os meus pais, não é? Podiam ter solicitado aos fornecedores que reduzissem as encomendas que normalmente nos costumavam enviar como forma de diminuirem os seus gastos com o negócio por via de qualquer outra coisa que não os forçasse a despedir ninguém numa fase como esta em que uma enorme crise económica parece começar a abater-se um pouco por toda a Europa! - Disse Carlota expondo assim perante a tia a sua vertente mais pura e inocente por via da qual conseguia cativar e conquistar todos aqueles que a rodeavam. - Oh, minha querida! Era tão bom que todo o mundo funcionasse assim como tu o pintas! Sem maldade alguma e quase como se de um verdadeiro conto para crianças se tratasse, terminando sempre com um final feliz! O pior é que infelizmente nem tudo funciona dessa forma e eu não poderia ter ficado mais surpreendida ontem à tarde quando o teu pai e o Tó me passaram para as mãos algumas das facturas que tinham estado a analisar durante a manhã na companhia dos teus tios e da tua mãe: Eram elas a mais clara evidência de que realmente algo de imensamente estranho se anda a passar lá pela fábrica nestes últimos dois meses pois revelam que as quantidades de mercadoria que vocês por lá recebem em termos de encomendas é exactamente a mesma que sempre foi pelo menos desde há um ano e meio atrás. Só que enquanto que até aos finais do mês de Maio conseguimos constatar através de outros documentos que os cosméticos que por lá se produzem se servem somente de produtos químicos que chegaram até vós logo no início desse mês e ninguém precisa de ir mexer nas outras caixas que normalmente recebem quinze dias mais tarde, isso em Junho e Julho já não se verifica e muito pelo contrário, já é com recurso a ambas as carradas destes bens que vos são tão essensiais que toda a produção tem sido feita! Além disso, os funcionários que consultámos durante todo o dia garantem-nos que têm produzido exactamente a mesma quantidade de cosméticos que produziam em Maio e depois vêm também as minhas contas, não é? Ainda ontem tive acesso a todas as facturas que o teu pai recebeu em mãos logo no início deste mês após os fornecedores terem deixado lá pela fábrica os produtos químicos de que vimos falando logo desde que iniciámos a nossa conversazinha e queres saber o que é que me aconteceu quando fui contar as embalagens para o laboratório no sentido de tentar perceber se o número das que por lá se encontravam correspondia àquele que as facturas indicavam que tinham sido a quantidade recebida? - Interrogou Inês. - Quase que apostava que também tu comprovaste que havia embalagens em falta que certamente iam muito para além da quantidade que esses tais documentos vos indicam como sendo o gasto que se faz em circunstâncias ditas normais quando um determinado mês ainda só conta com dez dias de existência, é isso? Mas seja como for, nada vos garante que tenha sido o Marco a desviar todos esses produtos de lá da fábrica ainda que isso venha acontecendo precisamente desde que ele começou a trabalhar para nós! Terem começado logo a associá-lo a todo o mal que acontece lá pela fábrica somente por causa de ser o mais recente membro da equipa de armazenistas que contratámos, pelo menos a meu ver, revela uma certa deselegância da nossa parte e não. Desculpem, mas eu desse joguinho não posso nem quero participar de forma nenhuma a menos que tenha mesmo que o fazer partindo para as últimas consequências no sentido de tentar perceber quem é que poderá esconder-se por de trás de todos esses roubos atirando depois todas as culpas para cima do pobre do Marco! - Disse Carlota pegando no telemóvel que tinha pousado sobre a banca de cabeceira de modo a poder contactar o namorado da melhor amiga mesmo sem que previamente tivesse perguntado a Inês se ele já teria ou não conhecimento de todas aquelas suspeitas que pareciam pairar no ar a seu respeito. - Não, não faças isso! - pediu a tia que de imediato se apercebera daquilo que ela poderia ter em mente e iria certamente fazer a seguir se ninguém a travasse - No sítio onde está, o Marco não te vai poder atender de certeza e a Lisa, se era para ela que pretendias ligar, bem, querida sobrinha, quanto a isso nem sei o que é que te hei-de dizer! É tudo tão complicado! E depois aquela sensação de culpa que carrego dentro de mim por ter colaborado com a tua mãe em toda esta história mesmo que também eu esteja como tu e tente acreditar acima de tudo que o Marco não participou em nada disto e deve haver qualquer outra pessoa escondida por de trás de todos estes furtos... Ai Lotinha, isto é algo que eu não desejo a ninguém e nem mesmo ao pior dos meus inimigos como se costuma dizer lá por Portugal! É um sofrimento tão grande que toda esta culpa me vem causando já desde ontem à noite! A cada uma destas palavras que a tia ia proferindo na sua presença, Carlota sentia-se sempre mais e mais assustada com aquilo que poderia estar a acontecer à sua volta sem que ela no entanto tivesse conseguido tomar conhecimento de nada há já muito mais tempo no sentido de poder impedir que as coisas para o lado de Lisa e de Marco se desenrolassem por via de um rumo que ela entretanto não pôde deixar de ir delineando em mente mesmo que Inês ainda não lhe tivesse contado toda aquela história tim-tim por tim-tim como certamente pretendia fazer também como forma de desabafo. Sabia no entanto que o que por aí vinha não podia ser coisa boa uma vez que havia contado com a mão de Luísa lá por trás, sendo que da mãe, ela só poderia esperar mesmo o pior sobretudo em casos como aqueles em que havia negócios envolvidos lá pelo meio. Desde sempre a condessazinha de Gouveia preservava na sua memória a dolorosa lembrança de que a sua progenitora havia despedido uma empregada daquele mesmo palácio onde vivia quando descobrira que ela aproveitava alguns alimentos que já estavam quase fora da validade para levar para casa e não ter que estar a gastar dinheiro pelo menos ao nível da aquisição de tais produtos e o que acontecera a seguir à pobre desgraçada... Nem queria pensar! Correu mundos e fundos no sentido de tentar encontrar um novo emprego em Paris ou então ali pelos arredores, mas a mãozinha da Dona Luísa Gouveia já se tinha adiantado às suas e em menos de nada a notícia já andava espalhada por todo o lado: Aquela mulher não era de confiança e portanto quem quisesse contratá-la para desenvolver qualquer actividade que fosse, teria que ser muito cuidadoso em relação a ela e tentar aperceber-se diariamente, se isso fosse possível, se não estaria a sair do local onde se tinha conseguido empregar com algo que não lhe pertencesse por direito dentro da sua mala. Tendo tudo isto em vista, Carlota também não poderia esperar que pelo menos o destino de Marco tivesse sido diferente do desta mulher. Mas então e Lisa? Como e por que motivo é que ela de repente também acabara por se ver envolvida nesta história se nunca tinha desempenhado qualquer função ao nível da fábrica e Carlota tinha a certeza quase absoluta que mesmo que Marco tivesse roubado alguma coisa de lá de dentro como os seus pais, Tó e os tios suspeitavam, ela não tinha qualquer conhecimento de nada disso ou caso contrário teria-lhe logo contado tudo desde o início como verdadeira amiga que era de toda a família? Nada daquilo fazia sentido absolutamente nenhum aos seus olhos e se por breves instantes ainda chegou a fazer, foi somente para se questionar a um único propósito: Se era mesmo verdade que tinha sido Marco o responsável por todos aqueles furtos e a melhor amiga de alguma forma também acabara por se aperceber de tudo isso sem que no entanto lhe tivesse contado nada a ela ou a qualquer outro dos seus familiares, porque é que não teria ainda colocado um ponto final na sua relação com o namorado por ter lesado o negócio destas pessoas que lhe eram tão queridas e desde a sua infância sempre a tinham acolhido como uma verdadeira filha ou até como uma irmã dentro do palácio? Foi perante todas essas questões que a jovem, não conseguindo manter-se sossegada no seu canto como pretendia fazer logo desde o início, teve que interromper uma eventual linha de raciocínio que a tia talvez até pudesse estar a seguir solicitando-lhe que esboçasse tudo cá para fora de uma vez por todas visto que ela por dentro já mal era capaz de conter a ansiedade. Lisa já tinha sido aliciada por Dina a abandonar a sala de jogos do palácio há cerca de dez horas e desde então, a condessazinha de Gouveia não mais recebera da sua parte qualquer notícia que fosse ainda que tivesse a certeza quase absoluta de que ela deveria estar munida com o telemóvel por perto uma vez que era muito raro largá-lo; agora só se lhe impunha mesmo saber tão urgentemente quanto possível o que é que lhe teria acontecido até porque poderia estar em perigo independentemente de se encontrar sob o domínio de Luísa e dos familiares do futuro cunhado ou de ser Marco a exercer um certo controle sobre ela como ainda chegou a ponderar! Explicou então tudo isto a Inês e esta, sentindo que também já estava a exagerar um pouco na onda de suspanse com a qual começara a desenhar toda aquela história aos olhos da sobrinha, logo decidiu transpôr tudo cá para fora sem grandes rodeios ou floreados, acabando mais tarde por denotar certas melhorias também ao nível do seu próprio estado de espírito actual. Surpreendentemente ou não, Carlota ouvira até ao fim todos os desabafos que durante a noite a haviam atormentado até um ponto quase extremo e agora conseguia finalmente desenrolar na presença de alguém como se de um verdadeiro novelo de lã se tratassem. Mas bem mais importante do que tudo isso, soube-lhe quase pela vida como tantas vezes já ouvira dizer relativamente aos mais diversificados contextos o facto de a sobrinha não ter tecido qualquer tipo de críticas no final relativamente ao seu comportamento, tendo antes pelo contrário concordado com cada um dos pontos de vista que ela por ali lhe expusera quando lhe contou, recorrendo às seguintes palavras, o que é que tinha acontecido a Lisa e a Marco no decurso da noite em que ela assinalara o seu 18º aniversário.
- Então foi mais ou menos assim que tudo aconteceu, querida sobrinha: Depois de eu ter confirmado perante o Tó e os teus pais que realmente já tinham sido gastas muitas mais caixas de produtos químicos do que era suposto acontecer logo aos primeiros dez dias de um mês considerado normal e em breve os funcionários já deveriam ter que começar a mexer na nova remessa que ainda estava para chegar dali a quatro ou cinco dias como nunca antes tinha acontecido a não ser naqueles últimos três meses, o teu pai deu ordens ao teu cunhado para que analisasse as três mais recentes escalas relativas a turnos no sentido de tentar perceber quem seria o armazenista que no dia em que as encomendas chegavam estava de serviço logo por volta das seis da manhã para as poder receber e começar a arrumar. A sorte ou o azar, eu acho que prespicaz e sábia como és, já deves ter percebido que acabou sempre por recair sobre o Marco e o que é que o teu pai pensou logo de imediato? Que as horas extra que o namoradinho da tua amiga tinha que cumprir quando equiparado aos restantes colegas nesses dias emque era ele o destacado para receber as encomendas no seio da fábrica eram tempo mais do que suficiente para que pudesse desviar todos os produtos químicos que desejasse e bem entendesse até porque os demais armazenistas ou produtores de cosméticos e pessoal administrativo só começavam a chegar por volta das oito e meia, portanto só podia mesmo ser ele quem se escondia por de trás de toda esta sabotagem que, acrescento mais, de acordo com as palavras do teu pai, devia ser efectuada no preciso dia em que as encomendas entravam no armazém. - Pois claro que os roubos tinham que ser feitos logo nesse dia! - Disse Carlota servindo-se de um tom algo hirónico que a tia ainda não lhe conhecia apesar de sempre ter acompanhado bem de perto o seu crescimento logo desde que nascera - É o que dá mais geito! Os outros armazenistas ou então tantos funcionários que por lá temos e trabalham ao nível da produção ou até mesmo nos escritórios são uns verdadeiros santinhos que não fazem mal nenhum a nada nem a ninguém, até porque se fizessem, coitadinhos! Já há que séculos que teriam sido expulsos de lá da fábrica e ninguém lhes daria sequer oportunidade de se poderem defender como julgo que deve ter acontecido agora neste caso do Marco! O que realmente importa e sempre importou na opinião dos meus pais e do Tó diz respeito ao número de anos com que um determinado funcionário já conta quando vamos a pensar em termos de serviços dispensados junto da nossa fábrica, ora se o Marco ainda só está por lá a trabalhar há pouco mais de dois meses, sobre quem é que haveriam de cair as culpas todas? Sobre ele, claro! Até que não haja uma nova contratação posterior àquela que lhe fizeram logo no início de Junho, será sempre ele e mais ninguém o bode expiatório para toda e qualquer situação um pouco mais constrangedora que possa ocorrer ali por dentro, isto como é óbvio, se os meus pais não o despediram já e não estiver agora qualquer outra pessoa a ocupar este seu lugar enquanto o mais recente funcionário da empresa! -Ora nem mais: Acho que "acertaste na muche" correspondente ao ponto exacto do qual eu já te queria falar logo desde o início. Mas antes de começar, deixa-me somente salientar que o Marco foi despedido sim, mas penso que talvez não seja tanto aos teus pais que deverás atribuir a culpa disto tudo! O Tó é mil vezes pior do que eles os dois juntos no que respeita a negócios familiares, acreditas que mesmo depois de eu ter tentado chamar a atenção dos três para o facto de não haver qualquer prova que nos garanta que foi mesmo o namoradinho da tua amiga e não qualquer outra pessoa a desviar todos aqueles produtos de lá da fábrica, ele se eu me discuidasse muito quase que me mandava calar e tudo? Para o teu futuro cunhado é garantia mais do que suficiente que foi o Marco a roubar todos aqueles produtos o simples facto de ter comprovado que era ele quem estava no armazém a proceder à recepção das encomendas tanto no que se refere aos inícios do mês de Junho, quanto no que já diz respeito a Julho e também agora a Agosto e tentar convencê-lo do contrário... Eu bem tentei, acredita! Ainda lhes puxei as orelhas aos três explicando-lhes que os desvios podiam não ter sido feitos logo no preciso dia em que as encomendas chegaram lá à fábrica e muito pelo contrário, se calhar o verdadeiro culpado que sublinhei mais de mil vezes que poderia afinal de contas nem ser o Marco talvez aproveitasse qualquer instantezinho que tivesse durante o seu dia de trabalho para transportar os produtos para dentro do seu carro sem que no entanto os demais colegas se apercebessem de nada, mas achas que adiantei alguma coisa? Já tinham aquela ideia que na minha opinião chega mesmo a tornar-se algo retógrada infiltrada em mente e pronto, acaba por ser exactamente como tu dizes: A culpa recai sempre sobre o mais novo trabalhador da casa e o Marco infelizmente neste caso foi quem teve a pouca sorte de se encontrar nessa situação! Depois ainda por cima joga totalmente contra si a mais do que dolorosa evidência de isto tudo só ter começado a acontecer desde o preciso momento em que ele começou a trabalhar para os teus pais, para os teus tios e para aquele patife do Tó! Assim foi só mesmo juntar o útil ao agradável como se costuma dizer e acabou por ser despedido sem sequer se poder defender, mas queres ainda pior? De hoje em diante terá que se submeter a ser castigado por algo que certamente não fez ou caso contrário, será denunciado por furto perante as autoridades! O castigo foi o nosso tão amabilíssimo Tó quem lhe o atribuiu. Acreditas que o pôs a trabalhar a custo zero numa das explorações agrícolas do futuro sogro da Aline e as funções que lhe caberão daqui para a frente se relacionam com a apanha do figo de baixo destas temperaturas altíssimas que se fazem sentir lá por fora? Pelo menos podia ter o bom senso de o pôr a trabalhar somente lá mais para o final da tarde e início de noite como eu ainda lhe cheguei a sugerir. Mas quem manda é ele e somente ele... - Disse Inês demonstrando-se verdadeiramente desiludida com as atitudes que o namorado de Aline havia adoptado durante a tarde do dia anterior face ao desaparecimento de alguns produtos químicos do seio da fábrica de cosméticos pela qual também ele era responsável no decurso daqueles últimos dois meses. O rumo que a vida de Marco havia tomado após o despedimento da fábrica de cosméticos que os seus pais e os seus tios dirigiam Carlota ficou assim a conhecê-lo por via destas palavras que a tia acabara de proferir na sua presença. "Mas então e Lisa?", interrogava-se mentalmente sem que no entanto conseguisse transferir para a oralidade qualquer palavra de tão abismada que se sentia com os comportamentos que Tó havia adoptado perante toda esta situação em que de repente o namorado da melhor amiga acabou por se ver envolvido. Despedir uma pessoa da fábrica que dirigia fazendo parceria com os futuros sogros e com mais dois tios da mulher com quem pretendia casar-se quando o seu filho nascesse e a família decidisse baptizá-lo praticamente só porque sim? A irmã que lhe desculpasse este seu pensamento, mas aquele não era o Tó que ela conhecia! E depois ter que pensar no castigo que ele atribuira a Marco como alternativa para que não tivesse que o denunciar às autoridades... Era tudo mau de mais para que pudesse ser verdade! Então o pobre rapaz que somente tinha terminado um curso profissional numa escola agrícola há pouco mais de dois meses não se veria logo que ainda nem por sombras deveria estar preparado para se submeter assim às altíssimas temperaturas que já se vinham fazendo sentir desde meados do mês de Julho não tendo no entanto baixado mais do que um ou dois graus com a chegada de Agosto? E a apanha dos figos? É certo que Marco não teria que se servir de escadas ou escadotes para subir até ao nível das figueiras porque tinha altura mais do que suficiente para que mesmo a partir do chão, pudesse varejá-las no sentido de fazer cair de lá de cima aquele fruto tão ambicionado pela família de Tó que normalmente se servia dele para o embalar sob a forma de passas e vendê-lo depois a alguns comerciantes e intermediários de frutos secos que também já há algum tempo que tinham como hábito adquiri-los anualmente junto destes produtores, mas como é que as costas do jovem não se sentiriam ao fim de um novo dia de trabalho? As tarefas que lhe cabiam certamente deveriam ser das mais duras que era possível executar ao nível da colheita do figo ou não se tratasse tudo aquilo de um tolo castigo que Tó decidira atribuir-lhe sem ter sequer a certeza absoluta de que era ele o verdadeiro culpado de todos os desvios de produtos químicos que naqueles últimos dois meses se andavam a verificar na fábrica de cosméticos pela qual o seu futuro sogro era o máximo responsável, portanto Carlota não pôde deixar de voltar alguns aninhos atrás no tempo no sentido de se ir recordar que ela própria já tinha visitado uma destas propriedades agrícolas que a família do namorado da irmã tinha na sua posse e não gostara nada do que vira por lá: Por mera coinsidência foi também durante o mês de Agosto quando os homens e mulheres que os futuros sogros da irmã tinham ao seu serviço se empenhavam na apanha do figo que visitara um desses espaços e sem qualquer margem para dúvidas, aquilo que mais a escandalizou foi o facto de não haver plásticos por de baixo das figueiras para onde os frutos pudessem cair em vez de ficarem estatelados no chão após terem sido varejados. Isso significava então que aquelas pessoas teriam que fazer um esforço físico imenso baixando-se no sentido de irem apanhando os figos do chão para dentro dos cestos e levantando-se depois logo de seguida no sentido de retomarem as suas funções ao nível do varejo das figueiras, "quanto trabalho não poupariam os responsáveis por aquela e tantas outras propriedades agrícolas aos seus funcionários se pudessem estender qualquer pano que fosse, plástico ou não, por de baixo daquelas edificações?", pensava Carlota. "Pelo menos assim, quando entendessem que já deveriam proceder de tal forma, os trabalhadores só teriam que enrolar os panos de modo a protejerem os figos e depois talvez tivessem realmente que fazer algum esforço, mas seria bem diferente e somente corresponderia ao facto de terem que carregar algumas quantidades daquele produto sobre os seus braços até chegarem a um determinado local no qual poderiam então encontrar os cestos onde depositariam depois os frutos em causa!". Agora terem que trabalhar em conformidade com aquelas condições que para ela eram tudo menos dignas... A família de Tó que em breve seria também a da sua irmã que a perdoasse se entendesse que o deveria fazer, mas ela jamais poderia encarar tudo aquilo com bons olhos e ainda muito menos agora que o namorado da sua melhor amiga também trabalhava numa das propriedades agrícolas pelas quais eram eles os principais responsáveis! Quanto a esta última, a condessazinha de Gouveia de momento só queria mesmo alimentar a esperança quase vã que preservava só para consigo mesma de que tivesse sido bem diferente do de Marco o destino que lhe fora atribuído nas suas costas durante a reunião que na noite do dia anterior havia decorrido na sala principal do palácio envolvendo os seus pais, os pais de Teresa, Marta e Ana Maria, Tó, Inês e ao que parece, também os progenitores da melhor amiga de acordo com as informações que conseguira recolher juntto de Dina quando esta se encontrava a lavar a loiça do jantar com o qual a sua família decidiu assinalar aquele que já era o seu 18º aniversário; foi precisamente nesse sentido de tentar perceber o que é que se estava a passar com a namorada do novo empregado dos futuros sogros de Aline que questionou a tia sobre o local para onde a tinha transportado há algumas horas atrás na companhia de Francisco, revelando-lhe em seguida que este último já lhe havia falado naquela viagem que os três tinham realizado a bordo do seu Opel Corsa, mas não quisera nem por nada dizer-lhe onde é que tinham ido. - Coitado! Ficou tão horrorizado com tudo o que estava a acontecer à sua volta, muito provavelmente foi para que não te assustasses com aquilo que tinha para te contar que nunca te chegou a dizer nada ainda que de algum modo tenha acabado por te tocar nesse assunto! - Disse Inês fazendo desta forma com que a sobrinha se fosse sentindo cada vez mais inquieta com o que poderia estar a acontecer à melhor amiga já desde a noite anterior sem que ela no entanto se tivesse esforçado por ir falar com a tia logo a partir do primeiro instante em que Francisco lhe revelara que a tinha ido levar no carro desta última a qualquer lugar que por enquanto ela ainda desconhecia por completo. - Não, tu não me digas que... - exclamou Carlota que rapidamente perdeu o fôlego para proferir mais uma única palavrinha que fosse de tão horrorizada que ficara com a imagem mental com a qual de repente se começou a deparar e lhe mostrava a melhor amiga a trabalhar ao nível da apanha do figo tal como parecia estar a acontecer com o namorado. - É isso mesmo, querida: Se estás a pensar que a Lisa está neste momento a fazer companhia ao Marco enquanto este dá o seu importante contributo ao nível da apanha do figo tão essensial para que a família do Tó consiga amealhar mais uns dinheirinhos dentro dos seus cofres e também nas contas bancárias, então devo revelar-te que é isso mesmo que está a acontecer. Mas podes ficar tranquíla que o trabalho dela é bem diferente do que ele desempenha e de certa forma acaba por ficar um pouco mais protegida destas altas temperaturas que ultimamente se têm sentido lá por fora e de todo e qualquer mal que lhe pudesse advir da colheita deste fruto que imagino que a estas horas o pobre do Marco já nem deve poder ver na frente e o dia ainda mal se iniciou! - Tentou gracejar Inês. - Meu Deus! Como é que isto tudo foi acontecer nas minhas costas e eu nem por um segundinho que fosse consegui suspeitar de nada por forma a tentar pelo menos evitar todo este pesadelo? - Interrogava-se Carlota diante da tia - E a Lisa? Se nem por sombras esteve ligada à fábrica nem enquanto o Marco lá trabalhou, nem tão pouco antes quando ainda nem sequer o conhecia, porque razão foi também ela maçacrada com este castigo que aquele patife do Tó como ainda há pouco lhe chamaste (e muito bem) decidiu aplicar ao pobre do rapaz? Ah, claro: A minha mãe! Como é que eu não me lembrei disso antes? Começaste a abrir-me o teu livrinho dos segredos a respeito de toda esta história dizendo que estavas arrependidíssima de teres colaborado com ela em mais um dos tantos disparates que vai fazendo pela sua vida fora e foi por causa da Lisa que te arrependeste, não foi? Porque também tu acreditas que ela está inocente no meio desta história toda e o Marco, se eventualmente ocultou mesmo alguma coisa de lá da fábrica como os meus pais, o Tó e os meus tios parecem crer tão firmemente que aconteceu, nunca lhe deve ter dito nada a esse respeito ou caso contrário, nós teríamos descoberto tudo logo desde o início pela boca dela, mas então porque razão é que a submeteste a tal castigo? E não, não adianta dizeres-me que te deixaste levar pelas falinhas mansas da minha mãe e quase sem querer, ela acabou por te convencer da sua própria verdade que praticamente só os seus olhos é que conseguem aceitar por muito que nós todos aqui pelo palácio a tentemos despertar para a realidade que é capaz de se revelar sempre tão diferente do mundinho sem fundamento absolutamente nenhum onde ela vive. Conheço-te suficientemente bem para saber que jamais o farias em circunstâncias como esta quando nem mesmo tu acreditas que o Marco e muito menos a Lisa podem ter tido algum envolvimento no desaparecimento desses tais produtos químicos que todos vocês ontem à tarde constataram que estavam em falta lá pela fábrica e portanto só mesmo uma única questão me ocorre para te fazer neste momento. Foi ela que decidiu tudo por ti e pura e simplesmente tiveste que cumprir as suas ordens, não foi? É o que sempre faz com todos aqueles que a rodeiam! Não tinha no entanto sido Luísa mas sim a melhor amiga de Carlota que havia convencido Inês a submetê-la ao tão afamado castigo de que a condessazinha de Gouveia falava quando expressou todo o seu espanto pelo facto de a tia ter colaborado com a sua mãe neste plano que consistia em permitir que a namorada de Marco lhe fosse fazer companhia de um certo modo que ela ainda desconhecia por completo ao nível da apanha do figo que estava a ser levada a cabo num dos campos agrícolas por que os pais de Tó eram responsáveis; no fundo a ideia tinha partido realmente da primeira, tendo no entanto sido a segunda quem jogou a cartada final deste jogo tomando uma decisão algo arriscada para si própria e daí que os seus progenitores também tenham sido chamados àquela reunião que decorrera na sala principal do palácio na noite do dia anterior. O que Luísa pretendia de facto e daí que tenha pensado em pedir a Dina que de alguma forma atraísse a melhor amiga da filha mais nova para esta mesma reunião era solicitar-lhe tão somente que pelo menos uma ou duas vezes por semana continuasse a visitar o namorado na propriedade de exploração agrícola da família de Tó para onde ela, o marido e o futuro genro o tinham mandado ir trabalhar há cerca de duas horas atrás. Pretemdia com tudo isto que a jovem fosse os seus olhos dentro daquele espaço e tentasse descobrir, no seu lugar e no de toda a sua família, se tinha sido realmente ele quem ocultara da fábrica de cosméticos por que era uma das responsáveis todos aqueles produtos químicos que agora pareciam estar por lá em falta já desde há dois meses. Lisa é que decidira tudo o resto a partir daí de acordo com as palavras de Inês, tendo sido então ela quem pediu à mãe da melhor amiga que em vez de ir somente passar alguns dias na companhia de Marco a título de visita àquela exploração agrícola na qual ele agora parecia ter começado a trabalhar como lhe estava a ser sugerido, fizessem algo bem melhor e mais eficáz que na sua opinião iria surpreender tudo e todos se alguém dentro daquela sala concordasse com uma ideia meio tresloucada de que acabara de se lembrar. Seria a partir daí que a namorada de Marco conseguiria provar diante de toda a família de Carlota que este não tinha tido nada a ver com aqueles roubos de que somente estava a ouvir falar agora pela primeira vez e pareciam já andar a decorrer no seio da fábrica desde o preciso momento em que ele começou para lá a exercer funções enquanto armazenista, e de acordo com as palavras da irmã de Luísa perante a sobrinha mais nova, tudo consistiria no seguinte: Lisa embarcaria então com Marco naquela aventura a que Luísa e o seu marido, os tios da melhor amiga e Tó o haviam submetido quando decidiram encarregá-lo de alguns esforços que teria que levar a cabo enquanto estivesse a trabalhar para a família deste último ao nível da apanha do figo se todos dentro daquela sala concordassem consigo e o resultado que obteria através desta experiência, Somente o destino o poderia ditar esperando-se que isso sucedesse tão brevemente quanto possível, mas certamente que se revelaria inesperado e daria a conhecer a todos um Marco inocente sob o qual tinham recaído algumas culpas somente porque parecia ter estado no armazém da fábrica nos dias errados à hora errada como já era demasiadamente óbvio aos seus olhos apesar de só há pouco ter tomado conhecimento daquela história e ainda por cima quase com o mesmo impacto que alguém cai sobre a neve gélida e fica também congelado por dentro no caso de não usar trages adequados para enfrentar tal condição metereológica. - E a minha mãe, estando nas abinhas por ouvir isso, certamente que aceitou logo essa proposta que a maluca da Lisa enunciou na frente de vocês todos, obrigando-vos em seguida a aceitar também por muito que pelo menos tu, tentasses dissuadi-las às duas de tal plano que te deve parecer tão estapafúrdio como a mim me parece! - Disse Carlota. - Exacto. Percebes agora porque é que te venho dizendo logo desde o início desta nossa conversa que me sinto imensamente culpada por ter colaborado em mais um dos planinhos sujos que a tua mãe tantas vezes nos impõe desrespeitando assim a nossa própria vontade? - Perguntou Inês. Carlota compreendia tudo aquilo que a tia lhe pretendia transmitir perfeitamente. Melhor do que ninguém, ela conhecia a mulher praticamente sem escrúpulos que tinha como mãe e se havia alguma coisa que não conseguia perceber no meio de toda aquela história, era somente como é que os pais de Lisa, que sempre conhecera como sendo bem mais conscienciosos que os seus próprios progenitores e se calhar até mesmo que Tó e que os seus tios, haviam permitido que a filha enveredasse por tal caminho que no fundo tinha sido ela a escolher de uma certa forma, mas exigia da sua parte alguns esforços inconsebíveis ou não fosse a apanha do figo um trabalho demasiadamente minucioso em que todo o corpo do ser humano acaba por se ver envolvido, podendo mais tarde vir a ressentir-se com algumas dores e tantos outros danos dos quais não queria sequer lembrar-se! Inês já lhe tinha garantido no entanto que as tarefas por que Lisa se havia responsabilizado lá pela propriedade agrícola pertencente à família de Tó onde Marco presentemente se encontrava a trabalhar ao nível da apanha do figo eram bem mais suaves do que as dos restantes trabalhadores e não a expunham assim tanto como acontecia no caso destes às temperaturas bastante elevadas que naqueles inícios do mês de Agosto se faziam sentir lá pela rua e isso em certa medida tranquilizava-a, mas toda aquela história parecia-lhe cada vez mais inconsebível com o passar de cada segundo e cada minuto, advindo daí a enorme necessidade que sentia de confrontar a tia com mais algumas questões para as quais pretendia obter respostas tão rapidamente quanto possível e de preferência, sem quaisquer rodeios da parte desta. - Disseste que apesar de estar com o Marco lá nessa quinta da família do Tó e também ela ter que desempenhar algumas funções ao nível da apanha do figo, a Lisa está um pouco mais protegida do que ele sobretudo no que respeita a estas temperaturas altíssimas que nos últimos dias se têm feito sentir lá por fora... O que é que ela está então a fazer? E seja o que for, como é que os pais dela embarcaram nesta loucura que parece afinal de contas ter sido compartilhada entre ela e a minha mãe? - Questionou então a jovem. - Como sabes, a tua mãe não dá hipóteses seja a quem for de a contrapôr e os pais da Lisa também não foram excepção: Tal como já tinha feito anteriormente comigo, com os pais da Marta, da Ana Maria e da Teresa, com o Tó e com o teu pai, também foi ela quem praticamente os obrigou a aceitar a dura realidade de que pelo menos até aos finais do próximo mês de Setembro, a filha teria que ficar fora de casa porque iria colaborar com ela numa importantíssima missão de que acabara de a incumbir tendo no entanto que participar de certos serviços ao nível da apanha do figo para que a pudesse levar à vante. Explicou-lhes em seguida que tais trabalhos iriam decorrer numa das propriedades agrícolas por que os pais do Tó eram responsáveis, sendo que daí em diante acho que praticamente não preciso de dizer mais nada! Confiando bem mais do que eu e tu naquele patife do Tó porque como sabes também eles o conhecem a ele e aos seus progenitores já há imensos anos e pensam que são excelentes pessoas ao contrário daquilo que acontece connosco, os pais da Lisa não se intrepuseram de forma alguma face a este pedido que a tua mãe lhes fez para que deixassem a filha participar de toda esta missão de que fora incumbida e da qual lhes falara ainda que muito por alto, a única chamada de atenção que lhe fizeram foi somente para que a tua amiga não fosse submetida a trabalhos algo forçados e daí que tenha ficado decidido logo ali pela sala principal do palácio ontem à noite que a única tarefa por que ela ficará responsável se irá prender com o embalamento dos figos após estes terem sido apanhados do chão e colocados sobre os cestos de verga disponibilizados para os transportar até ao pequeno espacinho onde ela vai estar a executar estas funções protegida de toda e qualquer temperatura um pouco mais elevada que se possa fazer sentir! Depois o resto tu já sabes, coube-me a mim e ao Francisco a difícil tarefa de sermos nós a ir deixar a tua amiga àquele antro de uma escravidão quase profunda à qual os pais do teu futuro cunhado submetem os seus empregados sempre que desempenham alguma função para eles ao nível da vida agrícola e agora olha, estou assim como me vês: Arrependidíssima do que fiz e com o rosto replecto de olheiras à conta de uma noite toda ela passada sob a influência da insónia. Como é que eu não consegui, meu Deus? Contrapôr a tua mãe e até mesmo a própria Lisa pedindo-lhes que não seguissem com esta ideia estapafúrdia em diante porque isto certamente não as levará a lugar algum e nós no fundo sabemos lá... Eu quero ver se desvio este pensamento da minha cabeça tanto quanto possível, mas sabes que já me lembrei que os pais do Tó podem começar também a abusar da nossa menina e submetê-la exactamente às mesmas funções por que os restantes trabalhadores são responsáveis no que toca à apanha do figo? Bastando-lhes para isso que algum deles tenha que faltar num determinado dia e suas excelências ponderarem a hipótese de a pôrem a ela a substitui-lo? Ai meu Deus! Se eu ao menos conseguisse dormir nem que fosse só um bocadinho para ver se apagava estas lembranças da minha cabeça ainda que também tivesse que ser somente por breves instantes! - Ia suspirando Inês na presença da sobrinha. - - És tu e eu! Esta noite foi mesmo muito complicada também para mim porque devo ter acordado logo por volta das duas da manhã e desde então não mais voltei a pregar olho à conta deste desaparecimento da Lisa da minha festa de anos que agora pareço compreender finalmente porque é que ocorreu e depois aquela história do vestido que tu me ofereceste para estrear durante a cerimónia e eu acabei por não o fazer... Mas sabes como é: Qualquer jovem da minha idade tem sempre as suas preferências bem definidas em mente no que respeita ao seu calsado e vestuário, muitas vezes até mesmo no que se refere ao próprio penteado que usa mais frequentemente e eu acho que não sou de forma alguma a excepção a essa regra nem tão pouco pretendo vir a ser. Aquilo definitivamente não se adequava a um certo estilo que, ivoluntariamente ou não, já acabo por ter quase como que pré-definido ao nível do meu ser, e por isso mesmo decidi ir um pouco contra a tua vontade ao optar por vestir antes algumas roupinhas que já tinha ali pelo armário e pensei que nunca me desviariam assim tanto como aquele teu presente da forma de estar e de ser com a qual me apresento perante vocês todos no decorrer do nosso dia-a-dia! Enfim, o que te posso dizer é que à conta de tudo isto tive uma noite replecta de maus pensamentos como há muito já não tinha e nem fazes ideia... Da forma como todos eles me iam desfilando em mente uns atrás dos outros! Era tudo tão repentino e ao mesmo tempo, tão intenso! Acho que só muito de vez em quando é que lá ia conseguindo calar a sua vóz e deitá-los tanto quanto possível para de trás das costas graças a este vício enorme que tenho de ir sempre lendo e escrevendo alguma coisa por mais banais que até possam ser as palavras que me aparecem pela frente através da leitura e também aquelas que são da minha própria autoria e tanto gosto faço de as ir sempre registando nalguma das páginas do meu caderno! Agora estou como tu e acho que o que mais desejava neste momento era poder adormecer e acordar somente quando Setembro terminasse e com ele fosse também dada como finda a apanha do figo lá por essa exploração agrícola para onde a Lisa e o Marco foram trabalhar quase como se de verdadeiros escravos se tratassem muito por influência dos meus pais, dos meus tios e daquele bandido do Tó. E só de me lembrar dessa peste... Acho que nem mesmo eu própria me consigo convencer que ele me conseguiu enganar assim tão bem como enganou ao fim destes anos todos que já temos de convivência comum com aquela pessoa insecrável que somente hoje descobri que habita por dentro do seu corpo muito por culpa tua e de toda esta conversa que ainda há pouco iniciámos. Sempre pensei que o Tó que eu conhecia jamais conseguiria esconder por de trás de si a máscara de um verdadeiro vilão tão típico das telenovelas e séries animadas às quais ainda hoje tenho tanto hábito de assistir apesar de já contar com dezoito aninhos e portanto já tme encontrar numa faixa etária mais do que suficiente para pretender alterar por completo e por minha própria vontade os meus gostos televisivos, mas afinal... Onde é que anda aquela pessoa bondosa que eu sempre teimei em querer ver por de trás do seu ser e agora de uma hora para a outra acabo de descobrir que na verdade se calhar nunca existiu? Ora aí está: Nunca existiu, portanto atitudes destas que adoptou perante o Marco e a Lisa já seriam de se esperar da sua parte, sobretudo por muitos daqueles que o conhecem verdadeiramente bem e acreditas que eu chego a desconfiar que a Aline talvez possa afinal de contas nem se enquadrar dentro dessa categoria? Coitada da minha irmã! Grávida de um patife daqueles e se calhar nem sequer desconfia da espécie de "Diabo em figura de gente" que se esconde por de trás de toda a sua personalidade! A avó Florinda bem nos avisava logo desde pequeninas: Homens que parecem verdadeiros príncipes aos nossos olhos quando nos cruzamos com eles pela primeira vez, na verdade não o são e muito pelo contrário, aquilo que depois acabam por nos demonstrar mais tarde ou mais cedo é que representam a imagem do lobo na pele de um cordeiro ou então o Diabo numa dimensão mais humanizada! Mas sabes, tia? Independentemente de todas estas descobertas que me induziste em mente relativamente ao Tó através desta nossa conversa, acho que deve ter sido bom para as duas este bocadinho que passámos aqui pelo quarto a "pôr a escrita em dia" como tantas vezes se costuma dizer lá por Portugal. Da tua parte, penso que te deve ter saído um peso enorme de cima somente pelo simples facto de teres conseguido desabafar com alguém ao fim de tantas horas que passaste sem permitir que todas essas más recordações que guardas da noite de ontem falassem bem mais alto do que tu e se libertassem cá para fora e da minha... Também devo confessar que me sinto agora bem mais tranquíla do que estava antes de ter conversado contigo; pelo menos já tomei conhecimento do verdadeiro paradeiro da Lisa neste momento por muito que até me possa sentir desagradada com o mesmo e quanto ao vestido que me ofereceste...".
Muito mais haveria a contar sobre este vestido de que Carlota por aqui nos fala, mas por hoje ficamo-nos por aqui. Espero que este pequeno excertozinho tenha sido do vosso agrado, eu depois vou então dando mais novidades acerca da nossa condessazinha Carlota de Gouveia e da sua tia Inês assim que me for possível.
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