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- blog de Anacristina

eu apresento-me

por Anacristina

aqui vai uma pequena biografia minha. Viram-na na descrição do blog, mas gostaria de vos mostrar um pouco de minha história.

Tenho dezanove anos. Sou cega desde nascença, fui submetida a dez intervenções cirúrgicas. A última das quais a que me deixou com duas próteses, quando tinha doze anos.

A primeira intervenção cirúrgica foi aos quinze dias de vida. A minha doença é o glaucoma congénito. Aos oito anos de idade sou obrigada a ir para as urgências... em janeiro de 1998! como me lembro desses dias, que, como o episódio, eram enublados e tristes! Chorei com dores, com medo... quando me disseram que tinha uma infecção muito grave no olho direito.
E as experiências foram ruins. Desde quando a minha avó, por trás, mesmo que não falasse, tentava conter, talvez uma lágrima... até àquela minha impressão de sentir os médicos tirarem-me o pus. e porem aquelas gotas horríveis para que não doesse tanto... horrível!
mas aqui ainda não se decidiram a cortar o mal pela raíz. fazem-me um transplante à córnea. Então era ver o meu entusiasmo de menina de oito anos dizendo a toda a gente que ia levar uma córnea de outra menina e que ia ficar a ver... e a minha avó deixava-me sonhar... enfim, sonhar é bom!

Lá fui eu para o bloco operatório. E... em Março as coisas começam novamente a piorar. A infecção começa a aparecer outra vez. E... o pior castigo! proibiram-me de mexer nos gatos! porque pensavam que a infecção era causada pelo pêlo dos gatos... claro, os da minha família... e eu que adoro gatos...

E assim foi outra operação nesse mesmo ano em Maio. primeiramente os médicos disseram que eu tinha de andar com o olho tapado, para ver se a infecção passava. Pôr gotas de hora a hora. E outras maçadas...
Mas as coisas pioraram e viram que o meu corpo rejeitou a córnea. E cortaram a parte infeccionada. Perdi aquele ano escolar. E foi ao mesmo tempo uma boa experiência porque vi que os meus amigos estavam comigo.

As coisas continuaram, depois por uns tempos isto acalmou. Mas depois o olho esquerdo começou a ter a tensão muito alta. o próprio olho já estava bastante fora da órbita. E doía-me bastante. E começaram-me a preparar para o facto de o ter de extraír. Mas eu já não me importava! Queria, há muito, muito tempo, que cortassem o mal pela raíz. Eu sabia que ia, seria e serei sempre cega, porque estavam a conter aquilo que devia ser feito? Mas os meus familiares ainda tiveram esperança, talvez.

Mas tudo começou a tornar-se insopurtável. A dor, a falta de sono, o excesso de medicamentos... até que chegou o dia tão esperado. Não vou mentir que não tive medo, mas senti-me feliz. Os médicos... ainda hoje sorrio... tiveram receio em me dizer aquilo que estavam a pensar fazer. Foram impecáveis! E eu infrentei-os de uma vez, dizendo que eu sabia perfeitamente o que se ia passar, que odiava rodeios e que o que eu queria muito sinceramente era que aquele pesadelo acabasse. Penso que eles ficaram um pouco espantados pelo meu discurso, porque poucas pessoas, com doze anos os infrentavam daquela maneira... mas é o meu parecer. acho que me sinto um pouco orgulhosa por isso! e os meus amigos não me deixaram sozinha mais uma vez!
E... para muitos, o dia do azar, fui internada num dia 13, sexta-feira! 13 de Dezembro. E no dia 16 fui operada. Pouco a pouco, o facto de ter um olho muito maior que outro, a névoa que impressionava tanto os outros, começou a não existir. e eu fiquei feliz! muito feliz. claro, nos primeiros tempos não posso dizer isso! mas depois sentia-me muito bem. Já não era o "fantasma", como alguns me chamavam. Já era perfeita! E não me sinto nada arrependida de fazer acelerar as coisas... digo eu! se tomaram a iniciativa não foi por eu falar... foi porque viram que era necessário!

E aqui está uma pequena biografia minha. E aceito-me como sou. às vezes. olha... agora ponho-me a pensar... claro! tenho honra de ser Ana Cristina, de ser cega... porque por vezes vejo mais que os outros. Mas infelizmente as coisas para os outros não são assim... mas não vos enfado mais. Para a próxima falar-vos-ei de outras coisas menos deprimentes.

Comentários

Olá Ana !!
Tudo bem ??

Comigo está tudo ok !! looooool

Bom ... os blogs tão a evoluir imenso no lerparaver ... !! loool

Breve apresentação minha:
Chamo-me José Filipe, sou normovisual, tenho 36 anos, e tenho deficiencia fisico-motora.
Trabalho no Centro de Informática da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, onde desenvolvo aplicações pra net.
Sou Coordenador do núcleo de Santo Tirso da Fraternidade Cristã dos Doentes Crónicos e Deficientes Físicos
Sou secretário na ACOD - Associação Criar Oportunidades a Deficientes

A ACOD hoje tá de parabéns, e eu tb, pois hoje é inaugurada a nossa sede, logo pelas 18:30 em Santo Tirso !! looool

E pronto, se me quiseres conhecer melhor, é só dizeres ou contactares-me !! loooool

É bom conhecer pessoas de todo o tipo. Estou habituada a lidar com muitas pessoas com alguma deficiência desde surdos até deficientes profundos. É experiência boa, porque aprendemos com eles. Mas também é má porque quem for sensível sofre quando vê que o outro não se sabe explicar quando lhe dói algo, quando sabe que teve um acidente e ficou deficiente...
Sim, gostava de te conhecer melhor. Que, se não fosse pedir muito, me falasses de tuas experiências, de tuas dificuldades... do que tu quisesses.
Porque também é bom saber que há pessoas que também precisam da ajuda de outros deficientes.
Olha, a propósito de deficientes... a primeira vez que fui para o S. Manuel, ainda com cinco anos, apesar de muito traquina já tinha aquela sensibilidade.
E ainda hoje me pergunto como é que aquele rapaz entende tudo, não fala mas entende, sorri quando nos conhece... muito inteligente... até faz olhinos às raparigas!
Teve um acidente que o deixou paralisado. Não fala, mas entende perfeitamente aquilo que lhe dizem.... adora ouvir palavrões. é uma festa!
E, no entanto, há um dia que ele tem crises muito fortes de asma, de choro, grita... e vim a saber que toda a família dele morreu, menos o avô. Será que é a sua lembrança do dia do acidente?
Adora ver o avô. Está no lar quando o instituto fecha....
Por isso acho engraçado saber experiências de outros que são deficientes. Sejam cegos, deficientes motores... porque é diferente.

abraços

Ana

anacristina

ola, eu sou J Oliveira sou ambliope estou a iniciar o processo da escuridão, sao experiencias completamente diferentes o meu problema tambem é glaucoma perdi a visao do olho esquerdo aos 21 anos e o ano passado fiz 3 operações ao olho que via , e como sabes quando se tem o glaucoma as operações é so para tentar estabilizar as tensoes nunca para melhorar a visao e assim vamos perdendo campo visual, mas deixemos os nossos males para tras temos que valorizar aquilo que temos e ajudarmos uns aos outros porque eu acho que nos não somos deficientes mas sim diferentes
porque senão nao estavamos aqui a falar e tentar valorizarmo-nos cada vez mais . Gostaria de saber se és do porto já que falaste que andaste no Sao Manuel ? e se precisares de algo pois informa se estiver ao meu alcance pois te informarei até breve

Olá, agradeço por escreveres o comentário no meu blog. Como dizes, não nos devemos desvalorizar.
Estou no instituto de S. Manuel desde os cinco anos, mas a minha terra não é no Porto, mas em Vale de Cambra.
Agradeço pela disponibilidade. Sem dúvida, está a ser uma experiência totalmente nova ter-me inscrito no lerparaver. Pelo menos assim me parece, porque finalmente conheço pessoas que sabem valorizar, que vivem coisas idênticas... e não é por inveja, mas até me sinto feliz por isso.

Um abraço

Ana

anacristina