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Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

EDUCAÇÃO, ARTE E INCLUSÃO

por Francisco Lima

Prezados,
Embora o texto a seguir não aprofunde o que anuncia no título, a leitura dele enfatiza a importância dos termos e do uso dos conceitos corretamente aplicados.
Tenho batido nesta tecla, tanto ao falar das barreiras atitudinais, quanto ao discutir sobre a áudio-descrição, área que por ser nova e de aparente facilidade de produção tem levado a que muitos se aventure a produzir áudio-descrições, meramente pelo que ouviram falar ou pelo que passaram os olhos.
Não é incomum ver alguém que acha interessante, importante e até financeiramente compensador fazer a áudio-descrição, e, assim achando, passe a fazer, apartir do senso comum, sem nunca ter feito nenhum curso, ou ter apenas feito um de algumas horas. O problema aqui é piorado quando começam a ensinar a áudio-descrição, dizendo que basea sua "arte" em seu próprio estilo, na "audiodescrição" brasileira ou na consultoria de certos indivíduos, meramente porque são pessoas com deficiência. Vejam o post sobre História de Cego para melhor aquilatar esse ponto.
A coisa se agrava quando tais formadores tiram de suas "práticas", não de seus estudos, as "normas" que deverão reger ou servir de exemplo para outros "audiodescritores".
o resultado desse estado de coisas é a confusão que muitos apresentam ao não saber distinguir áudio-descrição de descrição; de consultor em áudio-descrição e usuário com deficiência; que não sabe que o mero conhecimento da nomenclatura técnica fílmica, fotográfica ou teatral, etc. não é técnica de áudio-descrição, portanto não deve ser usada na tradução visual: afinal, que mostra uma imagem, quando traduzida como "estou em plano americano"? que mostra a imagem, quando diz "close no rosto dela"? E o que a descrição permite ao usuário ver, quando a "audiodescrição" diz "a câmera passeia na floresta?
Todas essas questões são básicas e fosse a terminologia tradutória conhecida, efetivamente sabida e praticada pelos tais "audiodescritores", eu tenho certeza que eles fariam áudio-descrições empoderativas, efetivamente que traduziriam os eventos visuais em palavras. Logo, as descrições anteriores seriam banidas de suas práticas "audiodescritivas".
Dito isso, vejamos o que a autora do artigo abaixo diz do adequado uso dos conceitos,
Francisco lima

EDUCAÇÃO, ARTE E INCLUSÃO
Marli Bion, Professora, Especializada em Educação de Deficientes Visuais FADERS, em exercício na Biblioteca Pública do Estado SEDAC, Coordenadora do Setor Braille
http://www.faders.rs.gov.br/uploads/1334153532Contribuicoes_da_audiodesc...
Ao abordar qualquer assunto referente às deficiências, usar ou não termos técnicos corretamente não é uma mera questão semântica, ou sem importância, caso queiramos apresentar uma fala ou escrever de modo construtivo, com o “olhar inclusivo” e com cunho humanístico.
A terminologia correta é de suma importância, quando colocamos em pauta aspectos tradicionalmente eivados de preconceitos, estigmas e estereótipos, como é o caso das deficiências que abrangem 14,5% da população brasileira.
Os termos usados passam a ser incorretos quando os valores e conceitos vão sendo substituídos por outros, de acordo com cada sociedade e época correspondente. O maior problema decorrente do uso dos termos incorretos prende-se no fato de os conceitos obsoletos, as idéias equivocadas e as informações inexatas serem inadvertidamente reforçados e perpetuados. Daí a dificuldade do público leigo e profissionais alheios a estas questões, mudarem seus comportamentos, raciocínios e conhecimentos em relação às pessoas com deficiência.
As práticas discriminatórias devem ser abolidas, para que possamos construir uma verdadeira sociedade inclusiva. Os profissionais devem ser preparados não apenas para receber o indivíduo com deficiência, como “crisálida no casulo”, ou somente para cumprir uma determinação governamental contida em leis publicadas no Diário Oficial da União, dos Estados e Municípios, mas numa ação consciente com visibilidade nos Direitos Humanos, Democracia e Acessibilidade que são indissolúveis, porque representam o respeito, a reverência e a valorização da diversidade humana, com a qual, o indivíduo precisa interagir com eficiência, no trato com as pessoas deficientes. Para tanto, Romeu Kazume Sassaki destaca “A Deficiência na Era da Inclusão”, e em seu livro “Construindo uma Sociedade para Todos”, podemos constatar a importância da preparação de recursos humanos direcionados ao trabalho em questão, na medida em que implica não só na remoção de barreiras físicas, mas também culturais e comportamentais.
Apresentamos neste relato alguns termos inadequados, usados em relação às pessoas com deficiência, seguidos dos que devem ser corretamente aplicados.
1-Adolescente normal – referindo-se a um adolescente, criança ou adulto que não possua uma deficiência. Nota-se aqui, quando a desinformação e o preconceito a respeito de pessoas com deficiência eram bem acentuados. A sociedade acreditava na normalidade das pessoas sem deficiência. Reforçou-se a idéia de que era anormal a pessoa que tivesse uma deficiência. --Expressão correta adolescente, criança e adulto sem deficiência, ou adolescente, criança e adulto não-deficiente.
2-Aleijado, defeituoso, incapacitado, inválido – Estes termos eram usados até 1970. A partir do ano Internacional das Pessoas Deficientes começa o uso das expressões “Pessoa Deficiente”. Após, entra em uso a expressão “Pessoa Portadora de Deficiência”, depois o termo foi induzido para “Portadores de Deficiência”. Por volta da década de 90 entrou em uso a expressão “Pessoas com Deficiência”, que permanece até hoje.
3-“Apesar de deficiente ele é um ótimo aluno”. – Frase correta Ele tem deficiência e é um ótimo aluno.
4-“Aquela criança não é inteligente”. – “Todas as pessoas são inteligentes, segundo a Teoria das Inteligências Múltiplas”. Foi comprovada a existência de nove tipos de inteligência lógico-matemática, verbal-lingüística, interpessoal, intrapessoal, musical, naturalista, corporal-sinestésica e visual-espacial. (Gardner -2000); (Antunes-1998-1999). -Frase correta “Aquela criança é menos desenvolvida na inteligência musical, por exemplo”.
5 -Ceguinho – O diminutivo ceguinho denota que o cego não é tido como uma pessoa completa. – Termo correto cego, pessoa cega, pessoa com deficiência visual.
6 -Classe normal – termos corretos Classe regular, classe comum. Futuramente quando todas as escolas se tornarem inclusivas bastará o uso da palavra “classe”, sem adjetivá-la.
7 -Criança excepcional – O termo foi utilizado nas décadas de 50, 60 e 70 para designar pessoas com deficiência intelectual. Com os estudos especializados e práticas educacionais nas décadas de 80 e 90, a respeito das Altas Habilidades ou Talentos Extraordinários, o termo excepcionais passou a referir-se às pessoas com inteligência múltipla, acima da média, pessoas superdotadas ou com altas habilidades, gênios. No caso de pessoas com inteligência lógico-matemática abaixo da média, refere-se àquelas com deficiência intelectual nesta área.
8 -Deficientes físicos – Referindo-se a pessoas com qualquer tipo de deficiência. – Termo correto Pessoa com deficiência, sem especificar o tipo de deficiência.
9 -Ela é cega, mas mora sozinha – Nesta expressão está embutido o preconceito Todo o cego não é capaz de morar sozinho. – Frase correta Ela é cega e mora sozinha.
10 -Esta família carrega a cruz de ter um filho deficiente – Estigma embutido Filho deficiente é um peso morto para a família. --Frase correta Esta família tem um filho deficiente.
11-Infelizmente, meu primeiro filho é deficiente, mas o segundo é normal. – Frase correta Tenho dois filhos o primeiro tem deficiência e o segundo não tem.
12 -Portador de deficiência --Termo correto Pessoa com deficiência. No Brasil tornou-se comum entre 1986 e 1996 o uso do termo portador de deficiência. As pessoas com deficiência vêm lutando contra a expressão acima citada, justificando que não portam deficiência; a deficiência não é como coisas que portamos e, às vezes não portamos. Exemplo um documento ou uma bolsa. O termo “pessoa com deficiência e pessoas com deficiência, foi aprovado em debate mundial e são utilizados no texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovado em 13 de dezembro de 2006, pela Assembléia Geral da ONU”.
13 -Visão sub-normal – Grafia correta visão subnormal. Os termos corretos acima citados poderão servir para a construção de um bom relacionamento com as pessoas deficientes.
Seja na vivência, seja na convivência com estados existenciais a emoção se incorpora de um sentido mesmo de criatividade. Podemos afirmar que através da Arte as pessoas podem fortalecer um verdadeiro relacionamento humano, carregado de sentido ético, capaz de provocar socialmente a passagem para a emoção estética. Neste ponto enfatizamos a importância das Artes para as pessoas com deficiência, haja visto que a experiência da sensibilidade diante do artístico implica na valorização da presença do outro, que favorece a uma lógica de identificação do individual para o coletivo, ou seja, a acessibilidade com a visibilidade do caminho certo para a inclusão cultural.
Pode-se entender que todos os homens, com deficiência ou não são capazes de realizar operações construtivas de transformação da natureza em signos da cultura, que constitui um amplo vitral mítico para a humanidade. Todos os homens são capazes de conhecer e fazer, de produzir representações
realistas ou abstratas, através de modos resultantes de vários caminhos. São capazes de projetar a vida interior, penetrar em símbolos e mitos. A Arte não escolhe um único ponto de partida, e, nem pontos de partida selecionados. Ela é parte do que é possível para alcançar o impossível possível.
Uma Arte sem barreiras não pode existir como refém das utopias pessoais para concretizar-se no chão das relações sociais. Não se pode admirar a beleza do vôo sem libertar as asas de suas penas. Somente as penas não possibilitam o vôo. O vôo é função das asas e a asa é o ultrapensamento das penas.
A criação artística está socialmente presente em toda a cultura. É a vanguarda do desenvolvimento humano, social e individual. Pode constituir-se em instrumento de restauração de características humanas básicas como a iniciativa, a autonomia e a individualidade. Ela provoca ainda o despertar da consciência de não serem os homens escravos de ninguém e nem de preconceitos sociais, por isto, é a Arte de suma importância para a Educação de todos os homens. Como disse bem Schiller “É pela beleza que se vai à Liberdade”.