Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. (Paulo Freire)
Quando achamos que estamos ensinando algo a alguém, alguma coisa está errada com nosso conhecimento. Quando estamos abertos a aprender a aprender, lançamos outras claridade no mundo que não é esta luz que nos fizeram conhecer. Toda busca de uma verdade absoluta atrasa nossa compreensão de nós com o mundo e nossa relação com o aprendizado do conhecimento adquirido. Não basta conhecer, o importante é transformar o conhecimento num exercício libertário, em atitude política e filosófica para que sua prática possa ser útil a vida. O melhor método de aprendizado será, portanto, sempre que houver condições para praticá-lo, aquele que garanta que todos os conhecimentos adquiridos, sejam precedidos e acompanhados pela vontade de adquiri-lo. A melhor motivação para aprender é a percepção do valor da coisa aprendida..
Há quase 4000 anos antes de Cristo, o filósofo Platão, através do mito da caverna, mostra uma situação na qual as pessoas estão isoladas dentro de uma caverna, desde a infância e que consequentemente passa a ser seu "mundinho". É nesse lugar que eles vão ter suas primeiras experiências de vida, só que de um modo , distorcido. Tudo o que é aprendido não passa de ilusão, de sombras. Nada é real! As correntes simbolizam uma situação onde o conhecimento verdadeiro é limitado. Depois de um tempo, um dos prisioneiros sai de dentro daquela caverna e passa a ver o quanto as coisas são diferentes e o quanto o mundo é intenso lá fora. É neste momento que se rompe o discurso da cegueira. Aos poucos o homem passa a reconher o quanto estava equivocado e passa a perceber através da luz do sol, a luz de outras claridades que o levará para o conhecimento das coisas. Quando ele retorna para a caverna para compartilhar as novidades com seus amigos ainda prisioneiros, eles não acreditam e pensam que ele estava louco e que tudo aquilo não passaria de uma mentira.
A descoberta do novo, do inusitado, do extraordinário, requer esforço e esse esforço tem um preço: sair do lugar seguro, da caverna onde nos encontramos. Pode até ser difícil expandir nossos conhecimentos, mas quando esse obstáculo é ultrapassado, as coisas se tornam muito mais nítidas.
Platão nos mostra que todos temos um mundo extenso para ser descoberto, e que ele está muito além daquilo que podemos ver. Há muitos livros para serem lidos, muitas culturas para serem estudadas, muitos lugares a serem vistos, muitos estilos de músicas a serem ouvidos... Cada conhecimento adquirido, sempre será fruto de nossas buscas e rupturas inteligentes junto com o outro. As maneiras pelas quais nos chegam o conhecimento precisam ser: redescobertas, contextualizadas, questionadas e experimentadas, para que possamos entender a dialética do saber, para que compreendamos com nossos olhos os passos que precisamos dar para estes caminhos.. A todo o momento nos deparamos com discursos, e neste momento histórico com as passeatas públicas, ou seja, as vezes mudamos as formas de análise, e discussão de temas, mas não conseguimos praticar nosso conhecimento
Recentemente aconteceu uma aula pública do projeto “teatro-encantear” com crianças de 10 a 14 no cep Basileu França, coordenado por mim. Os alunos experimentaram sair da caverna e diante de um público, começaram a exercer seus conhecimentos em processo de aula - educativo de teatro, exercendo uma política pedagógica que denomino como prática de um conhecimento coletivo. As vezes não conseguimos trazer para vida o que aprendemos em sala de aula e transformar esse conhecimento numa ação libertária. Como disse Heráclito "Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras." Este foi um dos objetivo dessa aula pública desenvolvida pelos os alunos do cep em artes Basileu França. A realização dessa atividade trouxe reflexões significativas, em que os pais e a comunidade puderam apreciar e contextualizar o processo, em um estado criativo da cidadania. É preciso se lançar na luz, ser claridade, convivemos com a cegueira o tempo todo, discursos fora da realidade da vida.
Mas o que seria uma aula pública? Creio que uma relação entre prática e teoria, numa experimentação poética, um estado criativo com conhecimento adquirido e constituindo caminhos, abrindo outros canais do saber com processo anterior e com processo em andamento. No momento da aula pública, todos se tornam sujeitos, abrindo seu canal de aprendizagem numa poética criativa do conhecimento. Transformando este conhecimento em qualidade, em atitudes permanente de cidadania. E nesta aula pública, família, amigos, comunidade aprendem a aprender. Quero parabenizar todos as crianças do projeto encantear do cep Basileu França que participaram do processo, se transformando em educadores-educando, artistas criadores.
Sair da caverna, do discurso da cegueira é poder caminhar com seu próprio conhecimento, se jogar no mundo e criar possiblidades de práticas educativas e a aula pública é um exemplo de construir uma ação libertária de aprendizagem. As passeatas, por exemplo, poderiam ser este espaço público do conhecimento, uma aula pública, utilizando as técnicas do teatro-público, talvez pudesse construir uma consciência ativa do conhecimento e a rua se transformaria na escola desse processo de apender a apender. Mas não basta está na rua, na sala de aula, COMO NO TEATRO É PRECISO QUEBRAR A QUARTA PAREDE DA ESCOLA, DA UNIVERSIDADE .
Infelizmente ainda vivemos nesta caverna, são as quatro paredes da sala de aula e outras formas de ensino. Tornar o espaço de aprendizado numa aula pública-libertária traz ao ser seu estado poético do saber, criando caminhos de fazer, apreciar, contextualizar e transformar, como disse Raul Seixas: “ eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
(Marlos Pedrosa, ator, diretor (DRT 326), escritor, professor de teatro do CEP Basileu França, no Instituto Ana Carole, orientador pesquisador do Centro de Pesquisa Teatro Ser CEP Basileu França e diretor dos brincatores
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