Escrito por Ana Margalho em Coimbra
Fiéis convidados a ver o mundo com os olhos da fé
Sem luz e com os olhos vendados, mais de uma centena de pessoas visuais e invisuais assistiram a uma missa às escuras em S. João Baptista
Mais de uma centena de pessoas viveram, na noite de sábado, uma experiência «inesquecível» na igreja da nova paróquia de S. João Baptista. Durante cerca de uma hora, as luzes apagaram-se, os olhos estiveram vendados e, visuais e invisuais, puderam assistir à missa do padre Jorge Santos em igualdade de circunstâncias, numa iniciativa que pretendeu sensibilizar a população para a problemática da deficiência visual.
«A Igreja existe para levar a boa nova aos pobres e os pobres não são só os que não têm emprego, mas também os que não podem ver ou ouvir, que sofrem com uma limitação qualquer. Isso é pobreza», afirmou o pároco ao Diário de Coimbra, mostrando-se «muito satisfeito» com adesão à primeira Missa às Escuras que se realizou no pré-fabricado que tem servido de igreja em S. João Baptista.
Com a assistência mais ou menos dividida entre visuais e invisuais, durante a missa leram-se textos litúrgicos escritos em Braille, contando com a colaboração de elementos da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO). «Foi um bonito gesto de comunhão e de solidariedade», confirmou Jorge Santos, garantindo que, também ele, enquanto pároco, viveu uma «experiência diferente e enriquecedora» que vai querer repetir.
«Tentei que as minhas palavras fossem um incentivo aos invisuais para que ultrapassem obstáculos», continuou, mostrando-se convicto de que, no final, «eles se sentiram mais amparados e compreendidos». De acordo com o pároco, no fundo, a mensagem foi para todos os presentes, uma vez que, como afirmou, «todos temos limites».
A noite de sábado foi bem a prova disso. Durante aquela hora, visuais e invisuais tiveram as mesmas dificuldades e viveram a mesma experiência que, de acordo com Jorge Santos, foi essencialmente de «concentração plena» na mensagem transmitida durante toda a missa e, em especial, durante a homilia, onde o padre exortou todos os presentes a «verem o mundo com os olhos da fé».
Jorge Santos garante que esta foi a primeira de outras Missas às Escuras a realizar em S. João Baptista. Aliás, o pároco recordou que já anteriormente se havia realizado uma missa para surdos, com linguagem gestual que também será para repetir fazendo questão de lembrar a missa realizada no quartel dos Bombeiros Sapadores de Coimbra, «com mais de 500 pessoas», por altura do aniversário da morte de cinco bombeiros daquela corporação em Mortágua.
«No fundo, são iniciativas solidárias», continuou Jorge Santos, que continua a não ver necessidade de, para já, ver construída uma igreja de raiz para esta nova paróquia de Coimbra, nascida em Outubro e já com umas centenas de fiéis. «Primeiro queremos construir a Igreja de fiéis e depois é que construiremos a igreja, como espaço físico», argumentou, mostrando-se «satisfeito» pelo número de participantes na missa de sábado à noite.
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