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Ver ou não ver... - blog de Ângelo Pinho 3730

Deficiência e segurança

por Ângelo Pinho 3730

Comunicação sobre segurança
“olhos abertos”

Falar sobre segurança, é falar sobre nós próprios, é falar sobre as nossas vidas.

Nos tempos actuais, a questão da segurança nunca se colocou com tanta acuidade.

Permitam-me que vos leve a reflectir para outras dimensões em que a questão da segurança, ou melhor da insegurança com que nos deparamos no dia-a-dia , para além da que aqui, hoje, é tratada, se coloca em diversos contextos sociais da nossa vida.

Do ponto de vista objectivo, ela coloca-se-nos tanto na nossa vida privada como na vida social.

No mundo do Trabalho em primeiro lugar,e nas nossas casas. Na escola e nas actividades de lazer.

Nos Lares que acolhem os nossos idosos, crianças e jovens e nos próprios hospitais.

Nas ruas e nos recantos mais íntimos da nossa vida pessoal.

Todos os dias somos confrontados com notícias de violência, mortes, roubos, suicídios e homicídios, acidentes e catástrofes naturais.

Frequentemente, somos confrontados com atentados contra a vida das pessoas.

Por vezes colocamos, nós próprios, a nossa vida em causa!

A criminalidade aumenta e perdemos a confiança na Justiça.

A corrupção é evidente e perdemos a confiança nos nossos políticos.

Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

As fortunas aumentam, os ricos são cada vês menos e os pobres cada vez mais.

A população com alguma incapacidade ou deficiência encontram-se, de uma forma generalizada, entre as populações mais pobres, sobretudo pelas oportunidades que não tiveram na vida.

Este grupo de cidadãos, em conjunto com a população idosa são particularmente vulneráveis.

O número de pensionistas não pára de aumentar e a população está cada vez mais envelhecida.

O nosso futuro e a nossa segurança é determinado, em gande medida, pelo trabalho. No entanto a fila dos desempregados não para de crescer, engrossando assim, o número de pessoas que sobrevivem à custa de subsídios, de rendimentos provenientes de uma “economia paralela “, do roubo ou da apropriação indevida.

Somos cada vez menos a produzir riqueza.

Os valores morais e educacionais que garantiam a sustentação da família como pilar fundamental da sociedade, foram postos em causa e já não sabemos se somos mais família ou se esta deixou de existir. A coesão social está em causa.

Perante tal quadro, não temos a certeza de nada, não sabemos o que nos poderá acontecer amanhã, não confiamos nas nossas instituições , já não confiamos nas próprias pessoas.

Aliás, perdemos a confiança em nós próprios. Já não sabemos do que somos capazes de fazer quando a nossa sobrevivência está ou estiver em causa.

Dadas as características sociais da nossa sociedade, dada a sua imprevisibilidade , ninguém pode ter alguma segurança quanto ao futuro. Não temos qualquer segurança quanto ao nosso trabalho, não temos qualquer segurança quanto à nossa saúde. Não temos confiança nas nossas Escolas. O futuro dos nossos filhos angustia-nos porque não temos a certeza do que lhes pode acontecer.

Somos frequentemente traídos pelos nossos sentimentos.

Por tudo isto é que podemos dizer que vivemos num mundo em que a questão da segurança se coloca actualmente com grande pertinência.

Ela atravessa as nossas vidas, condiciona o nosso relacionamento e o que é mais grave, leva-nos a temer as pessoas e a suspeitar de nós próprios.

Estamos perante um forte sentimento de insegurança, por parte de todos nós, que nos causa sofrimento, que nos angustia e deprime.

Ficamos doentes.

Estamos doentes!

Agora que me tornei num homem cego, perante tal, costumo dizer que:

“Cada dia que começa é um desafio que me é colocado e cada dia que termina, um obstáculo ultrapassado”.

Somos também frequentemente traídos pelos nossos valores e comportamentos, mesmo quando estes são positivamente reconhecidos por todos.

O ocorrido com do nosso amigo comissário Duarte, aqui presente, é o exemplo real da insegurança presente nas nossa vidas e do que devemos fazer perante tanta adversidade.
Foi traído por uma ameaça de bomba e pela segurança de um pavilhão mal construído, mas também pela sua própria coragem. Traições que o levaram para uma cadeira de rodas, durante algum tempo, e o deixaram fisicamente debilitado.

Felizmente, tudo está a ser ultrapassado.

Mas como homem de coragem, ele continua a dar sentido à vida.

É isso que todos devemos fazer. Lutar. Sim, lutar. Lutar até à exaustão, acreditando que é possível mudar o mundo em que vivemos – uma responsabilidade de todos para com todos .
Obrigado Comissário Duarte.

Ângelo Pinho, 24 de Setembro de 2010
(Comunicação proferida no âmbito da apresentação do DVD “Olhos Abertos”, em Ovar. Uma parceria entre a Polícia SegurançaPública e a ACAPO)