Falar de Joaquim Guerrinha, recordar a sua vida e obra tem vindo a ser um lugar comum desde 2005: Para quem se liga "on-line" o site "Lerparaver" e o da Acapo têm sido a fonte informativa; em Braille, é a Poliedro e o Ponto e Som que dão essas referências; na imprensa, lê-se no Sineense, no Notícias de Sines, no Jornal "O Leme" (Santo André), no Litoral Alentejano (Santiago do Cacém), no Diário do Sul (Évora) e na Revista Memória Alentejana, pelo que o seu nome já não passa despercebido. Quem era então JOAQUIM GUERRINHA?
JOAQUIM GUERRINHA era alentejano Freguesia e Concelho de Sines. Cegou em criança e como Cego estudou na zona de Lisboa, no Instituto Branco Rodrigues, dos 7 aos 19 anos, para onde fora levado por seu padrinho de baptismo, natural de Santiago do Cacém.
Aos 22 anos, mesmo sem o suporte da Instituição onde crescera e fora educado, concluiu o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional de Música de Lisboa, com 19 valores e, de imediato, concorreu ao Prémio do Conservatório onde obteve o 1º lugar. Por estes factos foi noticiado na Imprensa da época que lhe atribuiu o perfil de Vencedor.
Iniciou uma carreira brilhante de MÚSICO-CONCERTISTA e foi amplamente aplaudido por portugueses e estrangeiros, pela sua virtuosidade geradora de emoção artística, tendo sido manchete em muitos jornais da época, no Continente e Ilhas. Em simultâneo, o seu percurso musical encontrou outra vertente: a de Pianista do Sexteto de Cegos da Emissora Nacional, cargo que exerceu durante 33 anos, dos 25 aos 58 anos de idade, com Audições semanais transmitidas pela Rádio, mas...sem direito a qualquer reforma.
Com igual força interior, lutou pela sua integração na Sociedade e pela de todos os deficientes visuais, assumindo em plenitude a Vida Associativa: dirigiu durante largos anos uma Associação de Cegos Associação de Beneficência "Louis Braille e, em 1951, quando tinha 38 anos, era um dos fundadores da Liga de Cegos João de Deus, com um cariz diferente, eminentemente cultural e, por isso, dependente do Ministério da Educação. Hoje, estas associações foram absorvidas pela ACAPO.
A instrução e a cultura foram uma bandeira que impôs para a sua vida o que, aliás, defendeu sempre, como sendo a única via para a emancipação da pessoa cega. Deu-se a conhecer ao mundo do seu tempo, sem restrições, para que, pelo seu exemplo, abrisse horizontes nas mentes desinformadas de então, sobre as potencialidades dos deficientes visuais. Actua em três vertentes simultâneas: Músico, Conferencista habitual em temáticas tiflológicas e autor de Artigos que levou ao prelo, de Ensaios, de Contos, de Poemas e de Cartas de Amor, perenes de emoção e de espiritualidade.
JOAQUIM GUERRINHA casou-se em Lisboa aos vinte e oito anos, com uma jovem madeirense e foi Pai de três filhos, todos nascidos na década de 40.
Do seu perfil psicológico ressaltava uma genuína bondade, um sorriso bonacheirão, um querer bem a toda a gente num amor incondicional Perdia-se pelos amigos dava-se inteiramente!
_____________________________________________________________
Passados quase trinta anos sobre o seu falecimento, Joaquim Guerrinha voltou a ser notícia:
No dia 21 de Janeiro de 2005, teve lugar em Lisboa, na Academia Portuguesa da História, o lançamento de um livro sobre a Vida e Obra de Joaquim Guerrinha, promessa adiada de sua filha Dalila de Jesus Guerrinha, que teve o mérito de ser a primeira Biografia sobre um Cego Português, no plano da Tiflologia. Foi com muito agrado que se registou o patrocínio de várias Câmaras e Juntas de Freguesia, nomeadamente a Câmara Municipal de Sines e a Junta de Freguesia de Sines.
Uma Luz na História
Joaquim Guerrinha
1913-1976
Um verdadeiro impulsionador da causa dos Cegos em Portugal
Os lançamentos repetiram-se em Lisboa, na Biblioteca Nacional, no Palácio Galveias, na Biblioteca Orlando Ribeiro e, até mesmo, numa Comunidade Portuguesa em Fall River, nos EUA. Também em Sines, no Centro de Artes, houve uma Apresentação do livro, a 8 de Abril de 2006, associando-se este evento à comemoração dos 30 anos da morte de Joaquim Guerrinha. Nesta sessão, nasceu a ideia de associar o nome do homenageado à toponímia de Sines, sonho esse que se concretizou nas festividades do dia 25 de Abril de 2008, numa linda cerimónia que recebeu a participação de muitos dos seus familiares. Na placa toponímica, as referências que melhor evidenciaram a sua Vida e Obra: Músico e Tiflólogo (ver fotos em anexo).
E chegados que somos a 1 de Fevereiro de 2013, cumpre recordar o Centenário de nascimento de JOAQUIM GUERRINHA. Era minha pretensão que, nesta data, pudesse ser dado o seu Nome ao Auditório do Centro de Artes de Sines, mas..."valores mais altos se alevantam" e...este novo ideal não acolheu a aprovação da C.M.S.
JOAQUIM GUERRINHA (1913-1976) cidadão de corpo inteiro, figura incontornável da Tiflologia em Portugal e músico distinto, talentoso para a Escrita - homem de letras e alma de poeta, conhecido pela sua inteligência e bondade, pelos seus ideais políticos e convicções esotéricas, soube conjugar todas estas facetas do seu perfil, usando-as como veículo para informar a Sociedade sobre as reais capacidades da pessoa cega e impor a sua integração nessa mesma sociedade, numa luta associativa que durou quarenta e dois anos.
Dalila de Jesus Guerrinha
- Partilhe no Facebook
- no Twitter
- 2553 leituras