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Verdadeiro Olhar - blog de Sérgio Gonçalves

BloNo. Telemóvel para cegos à espera de empresas interessadas

por Sérgio Gonçalves

BloNo. Telemóvel para cegos à espera de empresas interessadas

por Ana Rita Guerra, Projecto português foi feito com base em telemóveis com teclado HTC e no iPhone. Lançamento comercial requer investimento na ordem dos 150 a 200 mil euros

Projecto foi desenvolvido pelo Instituto Superior Técnico Projecto foi desenvolvido pelo Instituto Superior Técnico Fotogaleria Fotogaleria 1/1 Fotogaleria + fotogalería <../ifotogaleria/67204-44014-blono-telemovel-cegos--espera-empresas-interessadas>

É uma abordagem inovadora a nível mundial e está quase pronta para o mercado, mas a equipa de investigação do Instituto Superior Técnico (IST) que desenvolveu um telemóvel para cegos ainda não tem parceiros para o comercializar. O projecto, denominado BloNo (Bloco de Notas Electrónico para portadores de deficiência visual), já foi implementado com sucesso em telemóveis da asiática HTC (com teclado) e no iPhone (ecrã táctil). Agora, é preciso encontrar empresas interessadas na transferência da tecnologia.

"As pessoas que começaram a testar o aparelho nunca mais o largaram", garante ao /i/ o professor Joaquim Jorge, do departamento de Engenharia Informática do Técnico e um dos responsáveis pelo projecto. Há dez protótipos actualmente em uso, mas para fabricar o produto em grande escala será necessário conquistar o apoio de pelo menos uma operadora móvel e de uma fabricante de hardware. Algo que, no entender de Joaquim Jorge, requer custos na ordem dos 150 a 200 mil euros. O projecto em si, até agora, consumiu perto de 70 mil euros.

"Existe uma mais-valia essencial para pessoas com necessidades ao nível visual", reforça o professor, explicando que é por isso que o Técnico está a tentar transformar a investigação em produto - já que o trabalho da própria equipa termina quando a prova de conceito é feita. E isso já aconteceu: o IST está a publicar as suas conclusões internacionalmente, nos Estados Unidos, sendo consensual que se trata de um projecto pioneiro.

Ao contrário de outros modelos para cegos existentes no mercado, o telemóvel do IST não envolve teclas em braile, embora use este alfabeto.
A equipa concluiu que, para ser viável, o projecto tem de ser feito usando telemóveis normais; a diferença está no software. Com este, as teclas do modelo são usadas como "joystick", com um mapeamento em várias direcções . Quando o utilizador carrega na tecla numérica, recebe feedback auditivo - com a mais-valia de ter escrita inteligente, isto é, o software sugere em voz alta qual a palavra que o utilizador quer digitar.

Curiosamente, o Técnico descobriu que os telemóveis com ecrã táctil são muito mais apropriados. "O teclado é mais eficiente para quem vê, mas para quem não vê são preferíveis os tácteis", refere o professor Joaquim Jorge, revelando que os utilizadores levam metade do tempo a cumprir as tarefas quando se trata apenas de tocar no ecrã.

Joaquim Jorge calcula que o mercado português para este telemóvel seja de 20 mil utilizadores, dimensão que tem dificultado a transferência de tecnologia (fabricantes como a HTC precisam de encomendas de um milhão de unidades de cada vez). Mas se for considerado o potencial europeu, o caso muda de figura. "É fácil fazer a adaptação para línguas do alfabeto latino", afirma, sugerindo um potencial de vinte milhões de utilizadores na Europa.

"O custo de desenvolvimento só é grande porque se trata de um nicho", continua, sublinhando que é por isso que os telefones com teclados em braile são tão caros. O Técnico está a abordar as três operadoras móveis em Portugal, mas também tem mantido conversações com a ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) e a congénere espanhola. Não está ainda de parte uma candidatura ao QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) para financiar a transferência de tecnologia.

Pelo lado das operadoras, a Vodafone "considera a iniciativa de louvar", mas ressalva que a empresa já disponibiliza gratuitamente o software Vodafone Say, que converte o texto em voz. Optimus e TMN não fizeram comentários oficiais.

Sérgio Gonçalves